Laissez-aller escrita por Eckl


Capítulo 3
Marcelina


Notas iniciais do capítulo

Pois é. Desculpas por ter demorado tanto. Não planejei algumas coisas que aconteceram em minha vida, mas aqui está o capítulo. Esse é um pouco - muito - mais dramático. Esse saiu meio curto, mas é pelo fato de eu ainda estar ambientando e apresentando as personagens. Não esqueçam de dar uma passada no tumblr da fic, pois a partir de agora os capítulos vão sair primeiro lá. http://ecklsplace.tumblr.com/



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Era ainda fim de tarde quando Marcelina resolveu que voltar a seu quarto era o melhor a fazer. Quarto esse que se tornara sua fortaleza. Um cômodo aconchegante na grande casa dos Guerra. À porta branca, externamente, uma plaqueta segurada por adornos florais mostrando o nome da possuinte do local em tipografia cursiva adoravelmente esculpida em madeira e pintada em um tom claro de cor-de-rosa. O interior era adornado com duas poltronas brancas, uma espaçosa cama muito macia com lençóis azulados, uma estante, uma bancada com livros, um laptop e mais outras coisas de pouca relevância. Tudo sobre um carpete bastante felpudo que fazia massagem aos pés que ali andavam sem calçados. O enorme espaço na parede com muitas fotos de jovens sorridentes estava intocado há alguns meses, sem adição ou subtração de imagens.

Ali, Marcelina estava sempre sozinha e sozinha ela se sentia protegida. Dali só para a escola e alguns raros passeios com os amigos. Pouco comia e muito chorava. As covinhas que sempre se mostravam em suas bochechas quando um sorriso se brincava em seus lábios já eram raros turistas. Os ossos pareciam querer mostrar-se mais do que deveriam, o que conferia à garota um aspecto cadavérico que aumentava a cada dia. A pele perdera a cor e Marcelina a vontade de viver.

Há quase um ano ela morria aos pedacinhos. Há quase um ano seu primeiro amor partira. Kokimoto era o melhor amigo de Paulo desde muito crianças. Marcelina cresceu na presença do pequeno japonês. A amizade cúmplice desenvolveu uma semente que se mostrou ser amor no primeiro beijo. Marcelina era cada dia mais uma adolescente apaixonada com corações flutuantes rodeando sua cabeça e borboletas batendo as asas em seu estômago. Kokimoto correspondia cada ato de afeto à altura. Apesar de jovens, planos foram traçados por eles e até pelos pais. A união das famílias parecia algo aprazível demais. A menina amava seu pequeno samurai e ele a sua gatinha. Todavia, contos de fadas não existem e humanos têm tanto amores quanto vícios. E os de Koki eram muitos. Numa noite, uma mistura qualquer foi demais para o garoto e na manhã seguinte ele jazia morto em seu quarto ao som de Midnight Train to Georgia.

O colchão macio a afagou num abraço calmante e ela desejou dormir, mas a vida parecia não querer lhe conceder pedidos e a garota foi obrigada a fitar o teto enquanto lágrimas escorriam incessantes de seus olhos que apreciavam imagens distantes, de um passado que sabia o que significava um sorriso. Não precisou de muitos minutos para apelar para as pílulas que repousavam em suas embalagens no criado-mudo à esquerda de sua cama. Com a eficácia que só a química farmacêutica pode proporcionar, quinze exatos minutos depois, Marcelina adormeceu pesadamente. As imagens que ela viu enquanto dormia poderiam ter sido facilmente confundidas com sonhos felizes, reapresentações subconscientes de alegrias pretéritas, porém, para a menina, eram os mais dolorosos pesadelos, as lembranças que mais machucavam. E ela certamente recordaria de cada uma delas quando despertasse.

. . .

Depois de algumas tentativas sem sucesso no interfone, Alícia concluiu que Marcelina estaria sozinha em casa. Com a mente já trabalhando em hipóteses horríveis, ela usou a chave que Paulo lhe dera para entrar na residência dos Guerra. O hall de entrada estava escuro, assim como a sala de estar e ninguém respondeu quando a morena chamou alto. Com as teorias em sua cabeça ficando mais horrendas, ela subiu pelo caminho já bastante conhecido até o quarto de Marcelina. Tropeçou uma vez e xingou feio. “Por que essa casa tem de ser tão grande?” Toda a preocupação se esvaiu à certeza de que a amiga estava bem e apenas dormia. “Como um anjinho.” Alícia sentou-se na cama e acariciou o rosto pálido de Marcelina.

— Tão frágil. – Ela afastou uma mecha de cabelo da face da amiga. – E tão meiga. – As mãos de Alícia agora afagavam uma das de Marcelina.

Enquanto divagava em lembranças de quando eram crianças, de quando o sorriso da amiga era sempre bonito e constante e alegre e cheio de vida, ela percorreu com o indicador uma cicatriz que se apresentava hedionda num dos pulsos da outra.

— Como nós deixamos chegar a esse ponto? – O criado-mudo com inúmeras caixinhas de comprimidos fez Alícia sentir-se um pouco mais culpada. – Se eu tivesse te dado mais atenção... Se eu tivesse mais com você... As coisas poderiam ter ido por um caminho totalmente diferente, não? – Sentada no chão e se apoiando na cama, ela encostou a cabeça na de Marcelina. – Mas talvez não seja tarde demais. Eu tô aqui e vou estar sempre. – Como se a outra estivesse ouvindo e a encarando, Alícia disse aquelas palavras como uma promessa. E postou um beijo carinhoso nos lábios adormecidos para selá-la.

Devagar, ela pôs a cabeça de Marcelina a repousar em suas pernas e pôs a passar os dedos nas madeixas da que dormia, afagando-as. Cantarolou várias músicas enquanto devaneava, ignorou algumas várias chamadas telefônicas e acabou adormecendo ali mesmo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Muito dramática? Muito surreal? Pequei muito? Deem-me suas impressões para que eu continue com o trabalho e para que possa melhorar sempre. Alguma sugestão? Se sim, deixem nos comentários. Agradeço quem acompanha a fic. Aos que gostam dela, peço que, se for da vontade, comentem, favoritem, acompanhem. Contem a seus amigos, inimigos, tios, tias, primos, pessoas do seu bairro, de outros bairros, enfim, espalhem a fan fiction pra geral! Agradeço por terem lido! Não esqueçam que a partir de agora os capítulos saem primeiro no tumblr oficial. http://ecklsplace.tumblr.com/



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