Laissez-aller escrita por Eckl


Capítulo 11
Rubro


Notas iniciais do capítulo

ALERTA DE GATILHOS: Tentativa de suicídio, Violência física, Sangue, Uso de substâncias ilícitas, Manipulação psicológica.

Paulo e Carmem marcam um encontro num parque próximo da casa da garota, mas nem tudo sai como planejado, pois Adriano aparece por lá para alterar os planos. Laura e Bibi planejam para que Carmem se desiluda de vez com Paulo e enquanto Laura prossegue com o plano, Bibi tem outras ideias e vai bater um papo com Alícia.

A partir daqui, as tramas das personagens começam a se desenvolver de vez. Apertem os cintos e vamos que vamos!



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Problemas costumam perseguir adolescentes como cachorros perseguem gatos, todavia no caso de Paulo, é ele quem corre até os problemas. É como se as confusões em que ele se mete fossem um gigantesco imã que o atraem e ele vai com prazer. São muitas as desculpas que ele dá para explicar o motivo de se enrascar tanto, mas todas são sempre tão diferentes e tão mentirosas. São problemas com garotas, com os namorados de algumas dessas garotas, com os pais de outras dessas garotas, com brigas e arruaças e com drogas. Ele sempre dá um jeito de escapar e sempre encontra um jeito de ser acolhido por alguém.

Era manhã de sábado. Laura e Bibi maquinavam e maquinavam. E quando Laura maquina, não se pode esperar que saia algo de bom. Depois de alguns anos de bullying e rejeição, a outrora gordinha, romântica e amável garotinha crescera em uma adolescente vingativa, manipuladora, venenosa e maquiavélica, além de estar totalmente dentro do padrão estético ditado pela sociedade contemporânea. Bibi é uma adolescente sem muita personalidade e facilmente influenciável. Ambas gostam de ser conhecidas como the meanest bitches in the game.

— Já sabemos que eles irão se encontrar hoje a tarde no parque. Vou me certificar de que o meu Paulinho não esteja sóbrio e você se certifica de que o Adriano esteja lá também. O resto fica por conta do que quer que os garotos tenham usado e do calor do momento. – Laura rebobinava o plano enquanto caminhava pelo quarto com uma taça de suco de morango na mão. Bibi não tirava os olhos da tela do celular enquanto seus dedos se moviam freneticamente. – Entendeu, Bibi?

— Uhum.

Enfurecer Laura era mais fácil do que andar. Ela se aproximou da amiga, pôs a mão na tela do celular da ruiva, olhou-a nos olhos a uma distância quase ínfima e usou seu tom mais ameaçador. – Se você ferrar com meu plano, eu ferro com as quase nulas chances de você ficar com a imbecil Marcelina.

Okay, okay. I got it already.— A ruiva afirmou. Assim que Laura se afastou, ela voltou a digitar no aparelho.

— Então é melhor que você saia daqui agora e vá providenciar sua parte do plano. Te vejo depois. – A morena deixou a amiga lá em seu quarto para ir a algum lugar. Bibi levantou-se revirando os olhos e se apressou até a casa de outra garota. Tudo na vida da ruiva parecia não fazer sentido, tudo que ela desejava fazer ou ter parecia ser tomado por outra pessoa. Uma pessoa em específico.

Logo mais a tarde, Carmem chegou até um parque próximo de sua casa. A mensagem de Paulo pedindo um encontro ali deveria ter sido rejeitada, mas ignorar o garoto era algo que ela não conseguia fazer nem se quisesse. Para surpresa da menina, a presença de outro garoto para o qual ela não conseguia dizer não foi motivo de uma estranha quase perplexidade. Adriano estava, admiravelmente, sóbrio. Todavia aquilo não podia ser um bom sinal. Paulo e Adriano não se dão bem e atrito entre os dois era o que a garota menos queria naquela hora. Sem que ela quisesse, o loiro se aproximou sorridente.

— Carmem! Você por aqui?

— Sim. Eu moro aqui perto. Você sabe que eu adoro esse parque. – A garota respondeu com um meio sorriso amarelado.

— É, eu sei. – Adriano pareceu meio constrangido. Ele recebeu uma mensagem dizendo que Carmem estaria ali naquela tarde e resolveu ir a seu encontro. Ele não queria que o que aconteceu na festa de Davi se tornasse apenas um momento de grande raridade. – É que eu queria falar com você sobre uma coisa, sobre aquele dia na casa do Davi...

— Drico, você sabe como eu me sinto com relação a você. E com relação ao Paulo. Não quero magoar nenhum de vocês dois, porque eu ainda estou muito confusa e... Vamos esquecer aquele dia, por favor.

— Como assim? Eu não posso esquecer, Carmem. Eu não conseguiria nem que eu quisesse. Eu amo você. Não tem como esquecer a única vez que você me escolheu e não o Paulo.  – Adriano sorria nervosamente.

— Eu não sei o que dizer. Sinceramente, eu não sei. – Carmem parecia beirar a tristeza. Ela detesta não ter o controle da situação.

— Não diz nada então. – Sem pressa, o loiro envolveu Carmem pela cintura com um de seus braços, a puxou para perto e a beijou. Um beijo agradável e amável. Ela não conseguiu não corresponder e se deixou levar, esqueceu, por alguns momentos de que Paulo chegaria a qualquer instante. Ela foi lembrada desse detalhe da maneira mais brusca possível.

Paulo chegou ao parque alterado por inúmeras substâncias que até ele mesmo não sabia mais dizer quais. Varreu o lugar com o olhar até encontrar Carmem conversando com Adriano. – Maconheiro filho-da-puta. – Sussurrou para si mesmo quando viu ambos trocando um beijo. Acelerou o passo e acertou o loiro com um soco forte no queixo quando ele e a garota finalizaram o ato. O grito de susto de Carmem não afetou as ações do rapaz alterado e agora tomado de raiva e ciúme. Com mais um soco ele derrubou Adriano. Montou sobre o outro e desferiu vários outros socos. Adriano tentou se defender no começo, mas rapidamente perdeu as energias e recebeu pancadas fortes no rosto até que o sangue começou a ser exposto. Carmem gritava para Paulo parar, mas ele não deu atenção e desferiu mais alguns socos e algumas cotoveladas. Levantou-se e chutou o outro na barriga e nas costelas por algumas vezes.

— Para, Paulo, por favor, para. Você vai matar ele! – Carmem gritou. Dessa vez o agressor pareceu ouvir e se virou para ela. Ele tinha sangue nos punhos e alguns poucos respingos no rosto.

— Por que você estava beijando esse babaca? – Ele perguntou segurando um dos braços de Carmem. Uma pequena multidão de jovens se formou ao redor do que acontecia. Adriano estava no chão ensanguentado, tossindo e buscando ar.

Carmem livrou seu braço com força. Com lágrimas nos olhos, ela encarou Paulo com desgosto. Sua mão se chocou violentamente contra o rosto dele. – Sai daqui, Paulo! Sai daqui agora! Sai daqui e não aparece nunca mais na minha frente! – Ela chorava. – AGORA!

O rapaz pareceu assustado. Olhou de Carmem para Adriano e para as pessoas ali. Sua expressão de cólera mudou drasticamente para uma mais confusa. Então ele correu. Correu pra longe. Ela se ajoelhou perto de Adriano ainda chorando.

— Você está bem, Drico? Desculpa. É tudo minha culpa. Desculpa, Drico, por favor. – Ela chorava bastante enquanto se desculpava.

Uma garota que assistia por ali se aproximou para ajudar a levar o loiro para um pronto socorro nas redondezas. No caminho, ele ainda teve forças para fazer mais uma gracinha. – Você me escolheu de novo. A surra valeu a pena.

Na mesma tarde, a campainha do apartamento de Alícia foi tocada. A morena estava sozinha e correu para atender. Espantou-se ao ver pelo olho-mágico que era Bibi.  Abriu a porta e a ruiva parecia não estar ali para um bate-papo amigável entre duas conhecidas de longa data. Mil e muitas possibilidades se passaram pela cabeça de Alícia para tentar decifrar o motivo daquela visita, mas nenhuma pareceu plausível o suficiente. – Bibi, oi. O que você veio fazer aqui?

Hi. Quero falar com você. May I... Posso entrar? Vai ser rápido. – Assim que recebeu autorização, ela entrou. Em sua mente, apenas um pensamento se desenhava: “Vai ser rápido e inesquecível.”

A anfitriã ofereceu bebidas e petiscos, mas a visita recusou friamente. Ambas sentaram. Bibi estava tão séria que rapidamente a tensão no ambiente se tornou tão densa que podia quase ser tocada. Alícia começou a ficar constrangida. Algo dizia a ela que aquela conversa não seria das mais agradáveis e a expressão gelada da outra apenas corroborava com essa sensação. – Então... O que você quer falar?

— Eu tinha objetivos na vida, sabe. Eu tenho uma profissão dos sonhos, uma empresa dos sonhos, eu amo moda assim como você e acho que ambas também temos outro amor em comum. – A ruiva tirou a bolsa do ombro e a pôs sobre suas pernas. – Eu sempre quis trabalhar com moda, editorial, cultura pop, essas coisas. Eu sempre quis escrever para a Capricho e sempre achei que tinha talento pra tal carreira. Mas ai você foi lá e tirou isso de mim. – Ela abriu a bolsa e começou e começou a remexer em seu conteúdo. – Eu tinha um grupo de amigos que agora não gosta muito de mim. Mas eles te adoram. Eu gosto da Marcelina. – Ela tirou um estilete da bolsa. A expressão de Alícia mudou de constrangida para assustada. Ela tentou interromper algumas vezes, mas foi ignorada. – Mas parece que ela preferiu você. – Bibi arrancou as mangas de sua blusa e abriu o estilete. – Você tirou tudo que eu mais queria, Alícia. Tirou meu emprego dos sonhos, meus amigos e a garota que eu amo. Só faltou você tirar minha vida, que é a única coisa que me resta. Mas antes que você tente tirar isso também de mim, eu vim aqui pra te entregar.

Com uma expressão quase maníaca, Bibi cortou um de sues pulsos com o estilete e antes que Alícia conseguisse impedir, ela fez um corte no outro braço do pulso até a quase a parte superior do cotovelo. O sangue jorrou de ambos os braços e um sorriso assustador brotou nos lábios de Bibi. Alícia não conseguia acreditar no que estava acontecendo e o conseguiu foi apenas ficar olhando completamente assustada. Só conseguiu se mover quando a ruiva se aproximou e esfregou um dos braços ensanguentados em seu rosto. A morena gritou e empurrou a outra. Antes de desmaiar, Bibi riu maliciosamente.

De alguma maneira, Alícia teve forças para discar um número de emergência e levar Bibi até um hospital. A história, quando Alícia contou, pareceu tão absurda que ninguém quis acreditar. Eles preferiram achar que Bibi era apenas mais uma jovem com tendências suicidas.

Depois de correr muito, Paulo parou em uma rua quase deserta e sentou em uma calçada qualquer. Flashes do rosto de Adriano sendo socado pipocavam em sua mente e lágrimas brotavam em grande quantidade de seus olhos. A voz de Carmem em um tom de desprezo gritava em seus ouvidos e ele não sabia mais o que fazer ou onde estava ou mesmo quem era. Um carro parou a sua frente e a porta traseira se abriu. Laura saiu dele, se agachou perto dele, ergueu o rosto do rapaz para encara-lo olho no olho e o beijou rapidamente. – Vem comigo, Paulinho. Vem comigo que eu vou cuidar de você. – Ele pegou na mão dela e ambos entraram no táxi.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Deem-me suas impressões para que eu continue com o trabalho. Sugestão? Se sim, é só deixar nos comentários. Sério, eu fico muito feliz por ter pessoas lendo minha história. Muito obrigado mesmo, gente!


Não esqueçam de darem uma lidinha nas minhas outras fics. Deem uma olhadinha. Não custa nada. Estou escrevendo uma que envolve músicas e universos ficcionais. É minha proposta de fic interativa e preciso que pessoas comentem para que eu possa dar prosseguimento. Se chama "Universes & Songs". Deem uma olhadinha lá, sério. Por mim. por favorzinho, seus lindos! Ah! Atualizei também as outras fanfics. Deem uma lida! E não esqueçam da minha página no tumblr.

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