Ever Dream escrita por Christine


Capítulo 6
Capítulo 6




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Muitos anos antes, quando Arthur Weasley dissera que o nascimento de seus filhos havia sido, ao mesmo tempo, pura alegria e terrível tortura, Ron não levara muito a sério as palavras de seu pai e muito menos chegara a achar que eram literais.

Agora, ele sabia que eram extremamente literais.

Um pequeno choramingo infantil bem ao seu lado o sobressaltou. Virou a cabeça bem a tempo de ver um pequeno bebê de cabelos muito negros ser ninado e lentamente começar a pegar no sono novamente, fechando os olhinhos azulados.

"Desculpe, mas não consegui ninguém para ficar com ele hoje."

Ron levantou os olhos do menino adormecido e encarou Simas, que se desculpara usando um tom educado demais, de quem não tem ainda certeza da consistência do território que está avançando.

"Não tem importância" – respondeu, desviando o olhar para observar de novo a criança e sentindo uma pontada de nervosismo.

"Pelo menos tem um lado positivo" – comentou Harry, sentado do seu outro lado – "Você pode finalmente conhecer o seu afilhado."

Simas deu um pequeno sorriso enquanto ajeitava David nos braços.

"Eu já havia lembrado de quando ele nasceu" – contou Ron, dando outro olhar de soslaio para o bebê e sentindo novamente a pontada de nervosismo – "E uma vez que vocês dois estavam como uns retardados porque David havia rido pela primeira vez."

Harry sorriu enquanto fitava sonhadoramente a parede.

"Isso não tem muito tempo. Depois disso, ele já conseguiu sentar. E acho que daqui a pouco ele engatinha." – comentou, orgulhoso, os olhos brilhando – "Ele aprende coisas novas todos os dias. É fantástico."

"Imagino."

Harry continuou sorrindo, mas não falou mais nada. Ron correu os olhos pela pequena multidão que se acumulava na sala de sua casa: além de Harry, Simas e David, seus pais, Molly e Arthur, sua irmã Ginny e o noivo, Neville, Gui e Fleur estavam ali, alguns inclusive parecendo de excelente humor para pessoas que haviam sido acordadas bruscamente às sete horas da manhã de um domingo. Conversavam em voz baixa e se revezavam para acalmar e dar apoio moral ao quase papai. Não que estivesse funcionando muito.

Desde que havia sido bruscamente expulso do próprio quarto por três medibruxas assustadoramente obstinadas, deixando para trás um Draco Malfoy aos berros e xingamentos, ele não estava exatamente calmo. Na verdade, ele não estava nada calmo. Apesar de uma medibruxa mais tranqüila tê-lo explicado rapidamente que o procedimento que usariam era totalmente seguro e que Draco não sentiria nenhuma dor além da necessária, ele não se sentia nada esclarecido. Primeiro, porque considerando a quantidade de gritos de Draco na última hora, o tal procedimento seguro que elas estavam realizando não era muito agradável.

Segundo, porque sequer haviam lhe explicado que diabos de procedimento era aquele.

"Simas?"

O irlandês parou no meio do ato de ninar David e olhou para ele, meio surpreso.

"O quê?"

"Como foi que David nasceu, afinal?"

Simas pigarreou, um discreto sorriso no canto dos lábios, e voltou a ninar o filho.

"Magia" – respondeu por fim, simplesmente.

Ron ficou algum tempo esperando o resto da resposta, mas Simas parecia ter esquecido completamente da sua existência. Um pouco desconcertado, virou-se para Harry.

"Eu também já fiz essa pergunta muitas vezes e escutei exatamente essa mesma resposta" – disse Harry rapidamente, antes que Ron abrisse a boca – "Magia. Francamente, Simas..."

O outro deu os ombros.

"É verdade. Vocês não entenderiam se eu contasse detalhe por detalhe."

"Experimente."

"Odeio interromper a discussão entre o casal" – cortou Ron, irritado – ", mas eu realmente gostaria de saber como Draco está tendo o bebê agora. E, Simas, você é o único que já passou por situação parecida, portanto..."

"Isso realmente importa?"

Harry revirou os olhos para o teto e desistiu de argumentar, mas não Ron.

"Claro que sim!" – exclamou alto, despertando Neville de um cochilo ali perto.

Simas suspirou profundamente, tentando parecer enfastiado, mas o sorriso no canto dos lábios permanecia.

"Basicamente, é magia. Homens não podem simplesmente fazer uma criança passar pelo meio das pernas, como as mulheres fazem."

"Então..."

"É como se cortassem a barriga para tirar o bebê" – explicou Simas e vendo a palidez de Ron aumentar sensivelmente, apressou-se a continuar – "Mas, ao mesmo tempo, não é."

"Como diabos..."

"Eu falei que você não ia entender, não disse?" – comentou Simas, vitorioso.

Ron deixou-se cair no sofá, ainda mais nervoso com as imagens mentais de facas sujas de sangue.

"É melhor eu perguntar para Draco depois que... que..." – não conseguiu completar a frase.

O bebê nascer. Um filho. Meu e dele.

Engoliu em seco, desejando que o tempo passasse mais depressa. Sentiu uma mão no seu ombro.

"Não se preocupe, cara" – animou-o Harry, dando um sorriso encorajador – "Eu também fiquei assim, mas no final tudo fica bem. Vai dar certo."

Enquanto tentava pensar em algo para responder, Ron lembrou-se de repente de algo que desconfiava desde o sonho com Nott.

"Harry, eu lembrei de quando me atiraram pela janela. E quem foi."

O rosto de Harry pareceu escurecer ao mesmo tempo que o sorriso sumia.

"Quem foi?"

"Nott. Aquele sonserino da época de Hogwarts" – esclareceu Ron, ao mesmo tempo que sentia uma onda de raiva – "Mas isso não importa agora."

"Não?"

"Não. O que importa é que eu tenho certeza que alguém me salvou usando um feitiço de desaceleração. E eu também tenho certeza que foi você."

Harry não respondeu nada imediatamente. Ficou calado por um bom tempo.

"Sim, foi eu." – disse, por fim.

Ron sentiu uma enorme gratidão e, ao mesmo tempo, culpa. Harry já salvara sua vida mais de uma vez, e ele ainda desconfiava que ele poderia traí-lo.

Que espécie de amigo era, afinal?

"Obrigado" – ouviu-se dizendo depois de um tempo.

Harry sacudiu os ombros, mantendo o olhar cuidadosamente neutro.

"Aposto que você teria feito a mesma coisa."

Ron abaixou os olhos, xingando-se mentalmente por ser tão estúpido.

"E outra coisa" – continuou – "quanto à aquela coisa envolvendo você e Draco, eu..."

"Não precisa pedir desculpas."

Ron levantou o olhar, percebendo que Harry estava sendo sincero. Sua voz não tinha vestígios de raiva nem mágoa.

"É verdade" – insistiu ele, tomando o olhar fixo de Ron como descrença – "Eu também ficaria confuso e desconfiado se acordasse um dia sem memória e casado com meu pior adversário, e ainda..." – baixou o tom para que ninguém ao redor ouvisse – "... ouvisse por um ex-colega de dormitório que meu melhor amigo tem um caso com ele e que é o pai do bebê que ele espera, e não eu."

Ron sorriu, sentindo-se quase tranqüilo, apesar da situação.

"Obrigado" – disse de novo – "Mas eu realmente lamento mui..."

"Eu já disse que não precisa pedir desculpas."

Ron calou-se. Harry encostou-se no sofá, aparentemente dando a conversa por encerrada.


 

Meia hora depois, quando Ron ouviu um choro de bebê, primeiro pensou que David tivesse despertado novamente. Mas quando olhou rapidamente para o lado, o bebê continuava profundamente adormecido.

Foi quando a vaga noção do que havia acontecido começou a ser considerada por sua mente. No início, ele pensou que poderia ser uma alucinação provocada pelo excesso de nervosismo. Só quando ele reparou que todos em volta estavam com expressões, ao mesmo tempo, surpresas e felizes, foi que a realidade o atingiu com toda a força.

Era estranho como uma sensação tão inquietante como a ansiedade possa ser varrida sem deixar rastros em segundos. Mas Ron não pensou nisso. Na verdade, ele sequer teve tempo para pensar em alguma coisa.

Ele nem havia começado direito a rir como um idiota quando se viu recebendo abraços, tapinhas no ombro, e, no caso específico de Fleur, um beijo na bochecha. Mas ele só sentiu os parabéns de forma vaga; agora ele só estava concentrado em uma coisa específica.

Entrar naquele quarto, com as medibruxas permitindo ou não.

Felizmente, uma invasão não foi necessária. Molly Weasley ficou um tempo bastante considerável dando os parabéns ao filho, abraçando, dizendo que ajudaria a cuidar do bebê, dando conselhos, e, por conseqüência, deixando Ron à beira de outro ataque de ansiedade, dessa vez por razões bem diferentes.

De repente, a porta do quarto se abriu e fechou rápido, e uma medibruxa andou a passos rápidos para a sala. A pequena agitação ali rapidamente cessou.

"Pode entrar agora, senhor" – disse ela, sorrindo.

Ron não precisou de segunda ordem.


 

Mal havia posto os pés para dentro do quarto quando outra medibruxa apareceu do nada, bloqueando seu caminho.

"Primeiro" – começou ela, com voz severa e olhar intimidante – "algumas recomendações."

"Mas e..."

"Nada de mas. Primeiro, o senhor terá que ouvir algumas recomendações importantes. Depois poderá segurar seu bebê o quanto quiser."

"Mas Draco, como ele..."

A medibruxa lançou-lhe um olhar de congelar o sangue e prosseguiu como se não tivesse ouvido.

"Apenas sopas, águas e sucos durante uma semana, não interessa o quanto ele reclame. Repouso absoluto durante os primeiros dois dias e depois..."

Enquanto prestava uma relativa atenção ao que a medibruxa falava, Ron tentava obter alguma visão de Draco ou do bebê. Não demorou muito para ver o primeiro: estava deitado na cama, ainda mais pálido do que o habitual e parecia dormir. Não muito distante, a terceira medibruxa parecia cuidar de algo embrulhado em uma manta branca.

"... e não o deixe fazer esse tipo de gracinha, nem se precisar mantê-lo deitado à força. Ele está fraco. Ah, e antes que eu me esqueça... se eu souber que você se aproximou dele com alguma intenção libidinosa pelos próximos vinte dias, você estará castrado em menos de um instante."

Ron parou de variar o olhar entre Draco e o bebê e olhou para ela, entre assustado e surpreso. A medibruxa que estava segurando seu filho deu uma risadinha divertida enquanto vinha na direção dos dois.

"O que a Deborah quis dizer é que vocês não poderão ter relações sexuais pelas próximas três semanas." – lançou um olhar de censura bem-humorada à colega e colocou cuidadosamente o bebê nos braços de Ron – "Pronto. Pode vê-lo agora."

Ron segurou o bebê como se ele fosse feito de cristal e começou a sentir o coração batendo mais rápido, ao mesmo tempo em que uma estranha forma de insegurança tomava conta dele. Então, era assim a paternidade?

Começou a observar o rosto avermelhado do bebê e havia acabado de acariciar sua bochecha quando a criança abriu os olhos e olhou direto para ele.

Estremeceu, e, sem perceber, começou a sorrir bobamente.

Foi então que soube o que realmente era paternidade. Quando aquele pequeno ser humano olhou para ele, ele teve certeza que o protegeria até o dia que não existisse mais. E teve outra certeza, mais subconsciente e dolorosa, que se ele não conseguisse protegê-lo e o perdesse para a morte, seria como o fim para ele também.

E, mais forte do que tudo, soube que o amava, mesmo antes que ele tivesse nascido.

De repente, uma tossida fraca vinda da cama denunciou que Draco havia acordado. Levantou rapidamente os olhos só para encontrar as medibruxas ainda paradas na frente dele.

"Nós já vamos indo" – comunicou uma delas – "Já fizemos tudo o que poderíamos. Não acredito que vá haver qualquer complicação, mas, por via das dúvidas..."

"Qualquer coisa, vá para o St. Mungus e berre por Deborah Hewitt." – interrompeu a outra – "Estarei aqui ou mandarei alguém em dois tempos. Agora vamos, Louise."

Pela primeira vez, Ron viu algo parecido com um sorriso passar pelos lábios finos da medibruxa. Louise sacudiu a cabeça.

"Vamos. Andreza também já está pronta na sala. É só pegarmos as coisas." – e virando-se de novo para Ron, com um grande sorriso no rosto – "Parabéns pelo bebê. E agora vá ver seu esposo. Ele deve estar ansioso para segurar de novo a criança."

E, em menos de cinco segundos, estavam fora do quarto.

Na cama, Draco tossiu de novo.

"Eu realmente vou ter que pedir para você vim aqui com o meu bebê?" – perguntou, tentando sentar-se.

Ron sorriu. Pelo visto, ele estava bem, apenas um pouco cansado.

"Não seu bebê. Nosso." – lembrou-o, depois de atravessar o quarto e sentar-se na cama também.

Draco não respondeu, concentrado em receber o bebê em seus braços, que apareceu se acomodar muito bem naquele colo. Draco sorriu enquanto ajeitava a manta da criança. Ron pensou se ele estaria sentindo aquele estremecimento também.

"Ah, que pena" – comentou Draco de repente, quando tirou a mantinha da cabeça do bebê.

"O quê?"

"Tem cabelo ruivo" – respondeu Draco, um pouco decepcionado.

Ron esticou-se para ver melhor. De fato, o cabelo era avermelhado, de um tom muito parecido com o dele. Estufou o peito de orgulho.

"O que isso tem de mal?"

"Ele seria muito mais bonito loiro" – opinou Draco – "Além disso, ele tem sardas, está vendo? Sardas são feias."

Ron passou a mão no próprio rosto, decidido a não aceitar a provocação.

"Você sabe se é menino ou menina?" – perguntou, afastando a conversa das sardas.

Draco olhou para ele, surpreso.

"As medibruxas não contaram para você?"

Ron fez um sinal de negação com a cabeça. Draco sorriu e afastou a manta da parte de baixo do corpo do bebê.

"Parece" – comentou depois de alguns segundos – "que seis séculos apenas com meninos na minha família teve alguma influência."

Ron levantou os olhos e o encarou.

"Eu gostaria de ver sua cara se fosse menina." – baixou de novo os olhos para observar o menino, que agora olhava para ele, curioso – "Juro que gostaria."

"Pois é, mas Lovegood errou." – disse Draco, parecendo especialmente feliz.

Ron deu os ombros. O fato que era um menino não mudava muito o amor e o instinto de proteção que sentia por aquele bebê.

E, apesar de Draco não assumir em voz alta, Ron tinha absoluta certeza que ele achava a mesmíssima coisa.

"Precisamos discutir nomes" – lembrou.

"Eu já decidi" – declarou Draco.

Ron endireitou-se, achando graça.

"Você já escolheu, é?"

"Claro. Vai se chamar Alexander."

Ron pensou um pouco. Definitivamente, Alexander era um nome bem... bem... Malfoy.

"Não. Thomas. Ele combina com esse nome."

Draco balançou a cabeça.

"Nem pensar. Alexander."

"Thomas."

"Alexander."

"Thomas."

"Alexander."

"Thomas!"

"Fale baixo!" – ralhou Draco.

Ron respirou fundo, e de repente achou aquela discussão muito estúpida.

"Thomas Alexander?"

Draco pareceu pensar um pouco.

"Porque não Alexander Thomas?" – e antes que Ron falasse alguma coisa – "Não, não, não soa bem."

"Thomas então?"

Draco balançou a cabeça e respirou dramaticamente.

"Devo reconhecer que não é tão ruim assim."

"Megalomaníaco." – comentou Ron em voz baixa, voltando suas atenções para o pequeno Thomas.

Draco sorriu como se tivesse sido elogiado.


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