Ever Dream escrita por Christine


Capítulo 4
Capítulo 4




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Anos depois, quando Ron se lembrasse daqueles dias, só uma palavra saltaria imediatamente da sua mente: silêncio. Sem discussões, desentendimentos ou caras feias. Só silêncio, apatia e um grande constrangimento, se eventualmente ele e Draco se encontrassem no mesmo recinto.

Depois de dois dias naquela atmosfera de mal-estar, Ron percebeu que se aquilo estava lhe fazendo mal, estava fazendo pior ainda para Draco. Se antes eram apenas as olheiras que denunciavam que ele não estava muito bem, agora era um conjunto de sintomas que entregavam que ele estava claramente doente. No entanto, nas raras vezes que Ron ousou perguntar se ele estava bem, a resposta que recebia era um raivoso"Eu estou bem", pronunciado num tom que faria muita gente sair correndo.

E então, numa tarde abafada e monótona, Ron percebeu que estava se importando com a saúde de Draco Malfoy. Ele estava preocupado com ele.

Descobrir isso em outros tempos seria mais do que perturbador, mas agora eles eram casados. Era até esperado que ele se preocupasse com o outro, principalmente com ele esperando um bebê. Certo?

Ron esperava fervorosamente que sim. Desde aquela lembrança, ele não andava muito seguro de si mesmo.

"- De alguma forma estranha, eu acho que gosto de você."

Com aquela atmosfera na casa, ele nem tentara perguntar nada ao outro. Sabia que, na melhor das hipóteses, ele o ignoraria completamente, surdo às interrogações de Ron. Afinal, ele estava incomodado pela mentira, e, além disso, desconfiado quanto aos motivos. Se perguntava porque diabos Draco mentiria, e sua mente lhe dava uma resposta não muito digna, envolvendo Draco, Harry e um bebê não-nascido. Depois de muitas auto-interrogações e muitas auto-respostas perturbadoras, por fim ele desistiu e começou a tentar passar os dias sem tentar pensar, a mente em branco. Não estava obtendo muito sucesso, mas, naquela altura do campeonato, era a única opção que tinha.

Quando Harry chegou na sua sala tropeçando e coberto de fuligem, ele estava deitado no sofá tentando manter a mente vazia, numa estranha concentração que fez que ele desse um pulo de quase um quilômetro quando deu pela presença do melhor amigo na sala.

"- Oi, Ron" – cumprimentou Harry, meio desconcertado pela reação do outro – "O que aconteceu para você estar... hum..."

"- Me assustei" – respondeu Ron num fio de voz, deslizando pelo sofá para sentar-se mais perto de Harry; o susto havia o levado a encolher-se numa das pontas do sofá – "Ahn... pode sentar, cara."

Harry, porém, continuou de pé, limpando a capa suja de fuligem.

"- Onde está Draco?" – perguntou ele polidamente.

"- Dormindo no quarto" – respondeu Ron, tão rápido que soou quase grosseiro. Sentiu algo raivoso no peito; demorou alguns segundos para perceber, desnorteado, que era ciúmes.

Harry ficou em silêncio por alguns instantes. Ele havia percebido a atitude defensiva de Ron.

"- Bem" – começou a falar, com todo o cuidado – "de qualquer forma, eu não vim até aqui para falar com ele. Vim saber como você está. Sabe, em relação à sua memória."

"- Melhor. Quer dizer, mais ou menos. É estranho."

Harry sentou-se no sofá ao lado dele.

"- Deve ser" – concordou, aparentando verdadeira solidariedade – "Mas você já deve ter melhorado da cabeça" – falou, apontando para os cabelos ruivos de Ron, livres de qualquer bandagem.

Ron concordou com um gesto desanimado. Houve um silêncio desconfortável antes que Harry pigarreasse e voltasse a falar:

"- As coisas estão indo bem entre você e..."

"- Não. Não estão." – interrompeu-o Ron, sabendo o que Harry perguntaria, com o tom de voz um pouco deprimido – "Não estão mesmo. Na verdade, estão uma completa merda." – concluiu, afundando no sofá.

Harry pareceu muito interessado na lareira, porque ficou com o olhar fixo lá por um bom tempo antes de falar.

"- Vocês brigaram?"

Ron franziu a testa, achando que briga era um termo mundano demais para classificar o que estava acontecendo ali há dias.

"- É, algo parecido com isso."

"- O que aconteceu?"

Ron respirou fundo antes de começar a falar.

"- Depois daquilo que aconteceu na festa com Simas, Draco começou a dizer que eu não confiava nele. Estava meio aborrecido comigo, mas as coisas até tinham melhorado antes de você e Simas viessem aqui e..." – sua voz falhou e ele teve que respirar fundo de novo para continuar – "... e depois brigamos de novo, ele falou que entendia porque eu era o imbecil com ele e algumas outras coisas que... bem, então ele não falou mais comigo. Estamos assim há uns quatro dias."

Harry não comentou nada. Ron deixou cair a cabeça no encosto do sofá e encarou o teto, trêmulo.

"- Ron, você acreditou em Simas? No que ele disse sobre..." - parou por alguns segundos, hesitante – "... sobre eu e Draco?"

Ron continuou a olhar para o teto, pensando na pergunta. E na melhor forma de respondê-la.

"- Não quero acreditar" – ouviu-se dizendo baixo. Depois de um tempo, olhou para Harry. Ele o encarava da forma mais neutra possível, mas muitos anos de convivência diziam claramente a Ron que Harry estava segurando bravamente a vontade de lhe dar um soco na cara.

Silêncio. Harry virou-se para a frente, mais uma vez encarando a lareira. Depois de um tempo, Ron percebeu que ele estava tremendo de raiva. Encolheu-se inconscientemente, de certa forma esperando que as coisas na sala começassem a explodir.

O que nunca aconteceu. Depois de alguns segundos, Harry parou de tremer e virou-se de novo para ele. Havia um incrível oximoro entre seus olhos condescentes e seu tom de voz levemente frio.

Ron começou a pensar que não havia sido apenas Draco Malfoy que mudara muito naqueles tempos.

"- Ron" – começou Harry lentamente – "o que vou dizer pode parecer estranho para você, levando em conta algumas coisas que Draco fez, mas, acredite-me, ele leva à sério grande parte de seus juramentos."

Ron permaneceu em silêncio, observando cuidadosamente os próprios pés.

"- Quando vocês se casaram, fizeram o juramento de ser fiéis um ao outro. E eu sei, Ron, eu tenho certeza que esse não é o tipo de juramento que Draco quebraria nem se fosse obrigado." – fez uma pausa – "Eu sei que você deve estar confuso pela situação, mas não duvide que Draco não é o tipo de pessoa que te passaria para trás numa forma covarde como essa."

Ron desviou o olhar dos pés e encarou Harry, que agora estava em pé, percebendo na mesma hora que ele não estava muito feliz com a situação. Sentiu-se de repente terrivelmente envergonhado por ter acreditado que eles dois poderiam...

"- Nem eu poderia fazer uma coisa dessas com você, Ron." – disse Harry num rompante, arrancando-o de seus pensamentos.

No segundo seguinte ele desaparecera pela lareira.


 

"- Senta, Draco."

Ele nem se dignou a responder. Continuou a andar de um lado para outro, como fazia já há horas, arrumando uma bagunça que aparentemente só existia em sua cabeça.

"- Draco..."

Ele lançou a Ron um olhar assassino, mas não falou nada. Continuou andando.

Ron suspirou.

"- Draco!"

"- O quê?" – ralhou ele.

"- Senta, ou..."

Draco se virou para ele e o encarou pela primeira vez em cinco dias.

"- Senão o quê?" – perguntou, desafiante.

Ron nem pestanejou.

"- Senão eu juro que te carrego até o sofá e te mantenho sentado nem que seja à força."

Draco ergueu uma das sobrancelhas. Parecia estar achando imensa graça. Somente quando Ron fez menção de levantar do sofá que estava sentado para cumprir sua promessa, ele teve alguma reação:

"- Está bem. Pode ficar sentado." – jogou uma edição velha de O Profeta Diário em cima da mesa e sentou-se, contrariado – "Mas só cinco minutos" – frisou, aborrecido.

Ron se aproximou resolutamente, não prestando mais atenção nas caretas de descontentamento de Draco. Era impressão dele ou o corpo do outro estava mudando?

"- Ronald?"

Ron concentrado em tentar perceber o que é que estava diferente no corpo de Draco, sobressaltou-se:

"- O quê?"

"- Porque você está olhando para mim?" – perguntou Draco, um pouco vermelho nas bochechas.

"- Ahn... eu..." – Ron começou a sentir que o rubor das faces do outro começava a passar para a sua própria – "... estava reparando que seu corpo estava... diferente."

Draco fez uma careta de irritação.

"- Obrigado por me lembrar o quanto eu engordei nas últimas semanas."

"- Não é isso, é mais... a barriga, acho."

As feições de Draco descontraíram-se um pouco.

"- Ah, isso. Deve ser porque está quase no final. Os medi-bruxos me falaram isso, que a barriga iria mudar um pouco de forma quase no fim. Acho que é para que o bebê fique na posição certa ou algo parecido."

"- Certo."

Draco começou a tamborilar os dedos na barriga distraidamente, e não falou mais nada. Quase do outro lado do sofá, Ron estava com uma sensação desconfortável.

Ele sabia que precisava falar alguma coisa. Aquele silêncio já o estava matando.

Pigarreou.

"- O bebê... você acha que é menino ou menina?"

Draco lançou-lhe um estranho olhar enviesado.

"- Já falei que não sabemos, o bebê estava..."

"- Eu não perguntei qual é, eu perguntei o que você acha."

Draco continuou a tamborilar os dedos, mas de uma forma mais rápida e nervosa.

"- No início" – começou bem lentamente – "eu achava que era um menino. Mas depois que a Lovegood fez aquela superstição das mãos e afirmou que com toda a certeza que ia ser uma menina eu..."

"- Espera" – interrompeu Ron – "Que superstição das mãos?"

"- Deve ser uma superstição trouxa" – respondeu Draco, torcendo o nariz – "Ela me falou para esticar a mão. Como eu estiquei a minha com a palma para cima, ela falou que seria uma menina. Se eu esticasse com a palma para baixo, seria um menino. Entendeu?"

"- Certo, mas..."- não conseguiu reprimir uma risada – "só porque a Luna falou para você que seria uma menina você mudou de idéia?"

"- Claro que não!" – exclamou Draco, voltando a corar – "Eu só comecei a pensar que talvez não fosse um menino! Que o fato que Malfoys só geram meninos há seis séculos não fosse uma garantia total que..."

"- Certo, certo, eu entendi." – disse Ron, ainda dando risadinhas.

Draco rolou os olhos de irritação.

"- E agora?"

"- Agora o quê?"

"- Você acha que é menino ou menina?"

Ele ficou em silêncio alguns instantes antes de responder.

"-Não sei" – disse, finalmente – "Realmente não sei."

"- E eu?"

Draco virou a cabeça e encarou-o de novo, com um ar meio vago.

"- E eu, achava que era menino ou menina?" – insistiu Ron.

Draco desviou o olhar do dele e começou a examinar as unhas, pensativo.

"- Você não se importava muito com esse tipo de coisa. Tinha aquele discurso de "se for saudável já vou estar satisfeito" – fez uma pausa – "Além disso, você dizia que... que já estava feliz de qualquer forma, o sexo da criança não iria mudar nada." – concluiu, a voz falhando um pouco nas últimas palavras.

Ron ainda ficou parado alguns segundos antes de dar quase um pulo no sofá para ficar ao lado do outro. Draco engoliu em seco.

"- Me desculpa. Eu fui um..."

"- Está tudo bem." – a voz saiu baixa e macia, sem qualquer vestígio de sarcasmo ou ironia.

Ron ficou em silêncio, não sabendo o que falar em seguida. Hesitante, pousou sua mão em cima da que ainda estava tamborilando na barriga.

Draco levantou a cabeça e o encarou tão rápido que ele pensou que o outro fosse gritar com ele ou algo parecido. Mas ele não fez nada disso. Apenas ficou parado, olhando-o, enquanto Ron tinha a singela impressão que estouravam fogos de artifício no seu estômago. O seu ritmo cardíaco aumentou depressa o suficiente para Ron ter certeza de que se poderia ouvir as batidas do seu coração do outro lado da sala. Pelo quanto que a mão de Draco tremia debaixo da dele, ele certamente não estava num melhor estado.

Foi Draco que interrompeu o contato, puxando a mão bruscamente e dizendo algo que soou a Ron como "ainda preciso arrumar algumas coisas", para logo depois estar bem longe dali, à procura de alguma gaveta poeirenta.

A sensação de fogos de artifício do estômogo não passou durante um longo tempo.


 

Draco tirou a camisa do pijama e começou a se observar atentamente no espelho. Escondido pela porta aberta de seu armário, Ron se divertia silenciosamente com a cena que era ele dar voltas para se examinar melhor, sem contar as caretas de descontentamento que ele fazia ocasionalmente.

"- Saia de trás dessa porta de armário, seu covarde." – disse Draco, olhando para trás – "Faça algo de produtivo ao invés de ficar apreciando minha beleza."

"- Eu não estou apreciando sua suposta beleza!" – declarou Ron, com um tom de protesto na voz – "Eu estou apenas me vestindo! A culpa não é minha se você resolveu ficar fazendo piruetas aí bem na minha frente!"

Draco murmurou algo que soava como "péssimo mentiroso".

"- Faça algo de útil."

"- Eu estou fazendo algo de útil" – disse Ron, saindo de trás da porta no meio de seu ato de colocar a camisa. – "Estou me arrumando para trabalhar. Alguém precisa sustentar um Malfoy preguiçoso e seus desejos loucos por chocolates suíços no meio da noite."

"- Você também consome os chocolates!" – defendeu-se prontamente Draco – "Estão faltando quatro bombons na caixa. E eu tenho certeza que o meu filho não saiu da minha barriga para ir comê-lo na surdina no meio da noite."

Novamente escondido pelo armário, Ron deu uma risadinha baixa. Draco virou-se de novo para o espelho e suspirou dramaticamente.

"- Eu estou engordando."

Ron saiu novamente de trás do armário, incrédulo:

"- Claro que você engordou! No estado que você está, o que estava esperando?"

Draco revirou os olhos de impaciência.

"- É claro que eu esperava engordar, mas não tanto."- voltou a se observar no espelho, franzindo a testa – "Eu estou estranho."

"- Eu não acho que você engordou muito..." – opinou Ron – "...mas, em compensação..."

Draco virou-se rápido para ele.

"- Em compensação o quê?"

"- Sua bunda está enorme" – falou Ron, dando um sorriso que era para ser inocente – "Não que eu recla..."

Sua frase foi cortada ao meio por uma escova voadora que quase o atingiu na cabeça.

"- Ei, eu só estava dando minha opinião!"

"- Honestamente, eu dispenso esse tipo de opinião" – sibilou Draco, virando-se de novo para frente do espelho. – "Francamente, às vezes você é tão in... Ron!"

Ron o puxou para longe do espelho e o encostou na parede.

"- Pensando bem, seu quadril não está tão largo assim" – disse ele quase suavemente.

Draco fechou a cara.

"- Ah, saia da minha frente. Vá para o trabalho ou qualquer coi..."

Ron encostou os lábios nos dele por alguns segundos, um beijo breve. Depois que se separaram, ele deu um breve sorriso. Draco o empurrou, aborrecido.

"- Vá fazer alguma coisa út..."

Ron o puxou e o beijou novamente, mais intensamente.

Não podia estar mais claro que seu interesse naquele momento não era exatamente fazer algo produtivo.


 

Quando estava acordando, Ron sentiu que havia alguém mexendo no seu cabelo. Mas foi apenas uma vaga impressão. Quando abriu os olhos, não havia mais ninguém.

Pelo menos ninguém na cama, que parecia estranhamente desarrumada. Draco estava praticamente dentro do armário, parecendo procurar febrilmente alguma coisa.

"- Draco, o que você está..."

"- Procurando alguma roupa que ainda sirva em mim" – respondeu Draco, apressado e nervoso.

"- Para mim as que você está vestindo estão ótimas."

Draco murmurou algo sem sentido e continuou procurando. Ron suspirou, cansado.

"- Pára com isso. Suas roupas estão ótimas."

Draco não respondeu. Ron foi forçado a tomar alguma atitude. Movimentou-se pela cama até estar perto o suficiente do armário que Draco estava praticamente colocando abaixo, e puxou-o com força por uma das pontas da camisa. O fato de que Draco não estava esperando por isso, combinado que, pelo seu estado atual, ele não estava exatamente um primor de equilíbrio, ajudaram bastante para que ele se desequilibrasse e metade de seu corpo caísse na cama, bem ao lado de Ron.

Passado o susto inicial, Draco ficou lívido de raiva.

"- Não achei nenhuma graça" – sibilou, pronunciando cada sílaba, como se quisesse que Ron entendesse bem.

"- Não era para achar graça" – informou-lhe Ron, rolando na cama de forma a encará-lo – "Era só para te derrubar mesmo."

Draco não respondeu, ficou olhando para o teto como se ele fosse interessantíssimo.

"- Teve algum sonho?" – perguntou, mudando completamente de assunto.

Ron franziu a testa.

"- Tive. Você me mandava fazer algo produtivo, eu falava que seu quadril estava grande e você me atirava uma escova. Meio sem sentido."

Draco mordeu o lábio inferior e deixou escapar um som estrangulado pela garganta, o que provavelmente era uma tentativa de impedir o riso.

"- E depois eu achei que alguém estava mexendo no meu cabelo." – virou-se de novo, agora ficando cara a cara com Draco – "Foi sonho ou você estava realmente mexendo no meu cabelo?"

Os vestígios de riso no rosto de Draco sumiram.

"- Eu não estava mexendo no seu cabelo" – afirmou, sem muita convicção.

Talvez tenha sido a forma como seus olhos se estreitaram quando disse isso, ou talvez tenha sido a língua que rapidamente umedeceu os lábios secos, mas, quase imediatamente após Draco ter dito essa frase, Ron teve absoluta certeza que ele estava mentido descaradamente.

"- Mentiroso" – afirmou depois de hesitar um pouco – " Você estava deitado na cama passando a mão no meu cabelo. Tanto que ela estava desarrumada."

Pelo modo que os olhos de Draco se arregalaram, Ron teve a confirmação de que estava indo pelo caminho certo.

"- E depois você se enfiou no armário para disfarçar. Estou mentindo?"

Draco não respondeu rapidamente. Aliás, nenhum dos dois fez qualquer coisa rapidamente. Draco estava enfrentando dificuldade para respirar pela parca distância que o separava de Ron agora - o outro havia se aproximado inconscientemente enquanto o encurralava em uma pequena mentira; Ron, por sua vez, estava hipnotizado demais pelos lábios finos para se concentrar em alguma outra coisa.

"- Você... está... delirando..." – respondeu Draco finalmente, utilizando um grande espaço entre suas palavras para respirar e soltando um grande suspiro no final. Ron sequer se mexeu – qualquer movimento agora seria perigoso demais.

Ficaram naquele impasse por mais alguns instantes até que as mãos de Draco afundaram no cabelo ruivo e trouxe Ron mais para perto, o beijando.

Quando as mãos deles haviam se encostado na sala, Ron não voltou ao seu estado normal por muito tempo. A sensação de fogos de artifício no estômago era intensa demais, sem contar que parecera que seu ritmo cardíaco ficara permanentemente acelerado. Mas agora, num beijo, tudo isso parecia crescer numa intensidade assustadora.

Mas, diferentemente de quando as mãos haviam se tocado, que havia sido quase um acidente, ele sabia o que iria acontecer se o beijasse. Ele desejara aquelas sensações e ficara hipnotizado por aqueles lábios desejosos. Apesar de, no final, o outro ter tomado a iniciativa, ele quisera.

As mãos de Draco não se detiveram acariciando os cabelos dele. Desceram pelas costas, puxando-o mais para si, grudando os lábios sedentos nos dele e aprofundando o beijo, como se desejasse aquilo há muito tempo. Ele não parecia ter a menor vontade de parar, e muito menos Ron. Eles continuariam até... até onde?

Ron não estava com muita vontade de saber. Quando se está beijando alguém que faz seu coração acelerar e faz seu estômago parecer cheio de fogos de artifício, você simplesmente não liga para esse tipo de coisa. Você não pensa – apenas sente. E assim foi, até o momento que os dois tiveram que parar para tomar ar. O fatídico momento que eles tiveram que parar para tomar ar.

Quando eles se separaram, a respiração de Draco estava acelerado, seus lábios estavam levemente inchados e seu olhar, inicialmente, estava quase exultante. Depois, em questão de segundos, algo pareceu passar pelos seus pensamentos e fez seu olhar começar a perder o brilho e seus lábios ficarem secos novamente. O fato que ele parecia estar murchando passou despercebido por Ron no início, mas depois que ele tirou uma mecha de cabelo loiro de cima da testa do outro, os olhos cinzentos pareceram endurecer.

"- Ronald..."

"- Sim..."

"- Sai de cima de mim."

Ron teve a sensação parecida com a de quem leva um balaço no estômago.

"- O quê?"

"- Sai de cima de mim, por favor."

Não era um pedido, era um ordem. Draco começou a empurrar Ron com as mãos. Ele cedeu e saiu de cima. Draco sentou-se.

"- O que aconte..."

"- Não foi nada."

Ron puxou Draco suavemente para si e conseguiu encará-lo por um momento, antes que ele se afastasse de novo. Os olhos prata haviam perdido sua dureza e agora pareciam quase derreter em angústia.

"- O que aconte..."

Antes que terminasse a pergunta, Draco levantou-se e saiu do quarto quase correndo, deixando Ron sozinho. Ele bufou, se sentindo completamente perdido.

Aparentemente ainda havia algumas coisas que ele desconhecia.


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