Ever Dream escrita por Christine


Capítulo 3
Capítulo 3




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"- Não... Malfoy, pare... não... pare com isso!"

"- Weasley, é você que está com as mãos na minha bunda."

Ron corou violentamente. Tirou as mãos dos quadris do outro.

"- Mas foi você que me beijou" – argumentou.

"- Você não reclamou, reclamou?" – lembrou-lhe Draco.

Ron desviou o olhar em derrota.

"- Nós não devíamos estar fazendo isso, em primeiro lugar." – disse, nervoso.

"- Não estou vendo algo mais divertido para fazermos."

Ron ainda estava vermelho enquanto arrumava a própria camisa e caminhava resolutamente para a porta do pequeno cômodo.

"- Ei, volte. Não terminamos ainda."

"- É perigoso demais" – argumentou Ron, virando-se para encarar um Draco Malfoy com cara de tédio e recentes roxos no pescoço – "Há gente a menos de dois metros da..."

"- Venha."

Ron deu as costas.

"- Não. De qualquer forma, isso já foi lon..."

"Venha."

O ruivo girou nos calcanhares, decidido a ter a última palavra. No segundo seguinte, sua boca caiu e ele fechou os olhos em movimentos curiosamente simultâneos.

"- Malfoy... o que você pensa que está... coloque essa roupa, seu..."

"- Ora, Weasley, abra os olhos. Não há nada que você nunca tenha visto aqui." – comentou Draco com um tom levemente zombeteiro, deixando cair a última peça de roupa no chão – "Vamos, venha." – Vendo que Ron não saia do lugar nem abria os olhos, Draco saltou da mesa onde estivera despreocupadamente sentado e puxou-o para junto dele. Ron soltou algo entre um xingamento e um gemido.

"- Pare de ser ridículo e tire essa roupa."

"- Não. Isso é errado!"

Draco rolou os olhos para o teto.

"- Pensei que já tivéssemos superado essa frase de negação."

"- Não! Quer dizer, eu..." – abriu um olho hesitantemente – "já... quer dizer..." – balançou a cabeça e afastou-se de Draco, dando uns bons três passos para trás e batendo na mesa – "... é muito... muito..."

"- Sim?" – Draco encostou-se de novo junto a ele e passou os braços ao redor de seu pescoço como se fosse beijá-lo.

Ron, que a essa altura já havia aberto os dois olhos, olhou nervosamente para o lado.

"- ... perigoso. É muito perigoso." – respirou fundo, tentando ignorar os leves beijos que o outro dava no seu pescoço – "Muito perigoso."

"- Pensei que vocês, grifinórios, não tivessem medo." – comentou Draco após uma leve pausa, agora brincando com os botões da camisa de Ron.

"- É muito perigoso" – repetiu Ron outra vez. Expirou fundo pela boca e virou-se para encarar um par de olhos cinzas. – "O que vão pensar se alguém entrar aqui e ver você nesse... nesse estado?"

"- Se você também estiver sem roupa? O óbvio." – respondeu Draco, baixando a voz a cada palavra, numa entonação de quem não admitia recusas. Deu uma risadinha zombeteira – "Mas para isso você precisaria colaborar, seu covarde."

Ron engoliu em seco e não conseguiu resistir à tentação de abaixar os olhos. Levantou-os rapidamente, agora com o ritmo cardíaco bem acelerado.

"- Eu não pos..."

Foi calado quando lábios finos e quentes se juntaram aos deles.

Definitivamente, Draco Malfoy não era alguém muito paciente.


 

Na sala, o relógio soou, marcando quatro horas. No sofá, Ron Weasley acordou sobressaltado, derrubando um Profeta Diário no chão. Olhou para os lados; Draco não estava lá. Ainda bem.

Droga, droga, droga!

Quando haviam lhe dito que lembraria dos anos anteriores por sonhos, ele definitivamente não esperava que fossem daquele... teor. Passou a mão na testa, só para constatar que estava suando em bicas.

Nos últimos dias, tivera vários sonhos – alguns eram cenas simples, do cotidiano, mas a grande maioria era com ele. Ainda não se lembrava como haviam acabado se casando; na verdade, sequer tivera uma recordação de Draco com barriga mais crescida. Em compensação, sobravam as cenas com... teor forte.

E o pior era pensar que, tirando a grande barriga e os quadris avantajados, o corpo do loiro não havia mudado muito sem roupa.

"- Pare de ser ridículo e tire essa roupa."

Ron corou. Desde quando Draco Malfoy era tão direto?

Como se adivinhasse o que ele estava pensando, Draco entrou na sala naquele exato momento, passando pelo campo de visão de Ron, que fechou os olhos instintivamente.

A imagem dele tirando a roupa ainda estava extremamente fresca na memória.

"- Ronald?"

Ron abriu os olhos hesitantemente. Draco se abaixou para encará-lo – ou melhor, tentou se abaixar o quando o ventre permitia.

"- Sim?" – a voz saiu mais fraca do que pretendia.

"- Por que você está com os olhos fechados?"

"- Eu estou com os olhos abertos agora."

"- Mas estavam fechados" – chiou Draco, impaciente.

Um breve silêncio.

"- Você teve uma alucinação" – afirmou Ron, olhando para o chão. Sequer considerou contar para Malfoy sua lembrança; algo lhe dizia que o outro teria um ataque de risos antes que ele terminasse de contar.

Draco franziu as sobrancelhas e lançou-lhe um olhar descrente, que Ron fingiu não captar.

"- Que seja" – fez um gesto com a mão, como se aquilo não fosse muito importante – "Bem, agora que você está acordado..." – continuou – "poderia me ajudar com o quarto do bebê. Já estou cansado de empurrar móveis e mais móveis."

Ron internamente agradeceu aos céus a mudança de assunto.

"- O quarto do bebê." – repetiu para si mesmo. Eu tenho um bebê. Malfoy vai ter um bebê. Nós vamos ter um bebê. Só então, naquele segundo, sua nova e bizarra realidade o atingiu por completo.

Malfoy vai ter um bebê. Meu bebê.

Meu Merlin, eu vou ser pai!

"- Ronald?"

O ruivo olhou tão rápido para Draco que estalou dolorosamente o pescoço.

"- Sim?"

"- Vai me ajudar a arrumar o quarto do bebê ou..."

"- Já estou indo" – respondeu Ron enquanto massageava o pescoço dolorido, para logo depois levantar e começar a ir para o quarto, ignorando o olhar ligeiramente sonhador de Draco focado nele, e que o acompanhou até que ele abrisse a porta do quarto do bebê, e...

"- VERDE?"

Ah, droga.

Quando Draco havia chegado ao quarto, Ron parecia estar prestes a ter um ataque.

"- O QUE DIABOS EU ESTAVA PENSANDO QUANDO..."

"- Não grite comigo" – ralhou Draco sem aumentar o tom de voz.

Ron respirou fundo e recomeçou a falar, dessa vez mais baixo.

"- O que diabos eu estava pensando quando deixei que pintasse o quarto do menino de... de..." – fechou e abriu de novo os olhos, na esperança de que as paredes verde-água mudassem de tom magicamente. – "... de verde! Quer dizer, você já está querendo que ele seja sonserino antes mesmo de..."

"- Não necessariamente é ele." – corrigiu-o Draco, empurrando um pequeno sofá para perto da parede.

Silêncio.

"- Você disse para mim que era men..."

"- Eu não disse que era um menino. Só tratei o bebê como ele." – tirou uma pequena pilha de almofadas que estava em cima da mesa e começou a arrumá-las dentro do berço – "Você não queria que eu o chamasse de coisa, queria?"

"- Mas como você não sabe se é menino ou menina? Quer dizer..."

"- Não conseguimos ver" – respondeu o outro simplesmente – "E quando poderíamos, o bebê já estava grande demais."

"- Por que não conseguiram ver o sexo do bebê" – perguntou Ron, não conseguindo resistir à curiosidade.

Draco não respondeu imediatamente. Demorou alguns segundos terminando de arrumar as almofadas no berço antes se esticar e virar para Ron:

"- Ele estava de pernas cruzadas." – explicou, com um sorriso contido no rosto.

Ron não conseguiu evitar rir. Um bebê de pernas cruzadas.

"- Então deve ser um menino tímido" – sugeriu.

"- Ou então uma menina recatada." – disse Draco, ainda com o sorriso contido no rosto. – "De qualquer forma, como não sabíamos se seria ele ou ela, resolvemos pintar o quarto de uma cor neutra. Verde não indica sexo de bebê, concorda?"

"- Mas poderia ser vermelho, não poderia?" – sugeriu Ron, esperançoso.

Draco lançou-lhe um olhar de congelar até os ossos antes de virar de novo para o berço.

"- Vermelho no quarto do bebê? Ridículo. E, além do mais" – acrescentou – " é a cor da Grifinória. Não quero influências ruins para o meu bebê."

Pausa. Ron pensou durante alguns segundos se ele estaria falando sério ou simplesmente sendo sarcástico. Não conseguiu chegar a uma conclusão.

"- Mas verde é a cor da Sonserina" – lembrou, decidindo enfim o que falar.

"- Não verde-água" – rebateu Draco na mesma hora, ainda de costas para ele. – "Mas se isso te incomoda tanto, vou mudar a cor depois que o bebê nascer. Azul se for um menino e rosa se for uma... menina." - pareceu pensar durante alguns segundos, antes de acrescentar – "O que eu duvido muito."

Ron apoiou-se na parede, espantado.

Era impressão dele ou Draco Malfoy acabara de ceder de forma espantosamente fácil?

"- Como assim, duvida muito?"

"- Duvido muito que será uma menina."

"- Por quê?"

"- Malfoys não geram meninas há seis séculos" – recitou Draco – "Só por isso."

"- Weasleys também não geravam meninas há muito tempo quando Ginny nasceu." – disse Ron.

Draco virou-se para ele, olhando-o de uma forma estranha, quase... impressionado.

"- Eu lembrava disso bem antes de dois anos atrás!"

"- Eu sei, eu sei. Só que você nunca tinha me contado isso." – virou-se de novo para o berço - "Falando em lembranças, você se recordou de mais alguma coisa depois da..."

Só de você sem roupa.

"- Não."

"- Nada?"

"- Nada. Deveria lembrar de alguma coisa?" – perguntou, num rompante, assaltado por uma suspeita repentina.

Se Ron estivesse do outro lado do quarto, teria visto o olhar decepcionado, quase melancólico, de Draco.

"- Não, nada. Nada." – repetiu em voz baixa para si mesmo.


 

Ron demorou apenas alguns dias para perceber que a rotina de Draco Malfoy era bizarramente comum, e que haviam algumas coisas que sempre se repetiam. Sempre.

A primeira era que ele nunca estava na cama quando Ron acordava. Na verdade, parecia que ele sequer dormia – suas olheiras estavam cada vez mais negras e profundas.

A segunda era que ele estava deliberadamente o evitando. Não fugia quando se encontravam no mesmo cômodo, mas fazia o possível para que isso não acontecesse.

E aquilo era definitivamente muito estranho. Ron pensava se o outro teria esse tipo de comportamento antes que ele perdesse a memória. Pelas suas recordações mais recentes, não tinha – na maioria das vezes ele falava algo provocativo, mas falava. Mas depois, dificilmente tinham uma conversa, exceto quando Draco o indagava sobre suas lembranças – nisso ele parecia estar bastante interessado. Na quinta indagação, Ron teve que confessar que, sim, se lembrara de algumas coisas – omitindo algumas partes um pouco mais picantes, claro. Nessa ocasião, Draco o ouvira com atenção e, quando mexeu a cabeça para encarar Ron melhor, algo indefinido no seu rosto pareceu indicar que estava mais feliz. E, por alguns singelos e estranhos instantes, Ron se sentiu um pouco mais animado. Essa atmosfera diferente de um pouco de animação e felicidade durou até alguns segundos depois, quando Harry e Simas entraram pela lareira, desabando no chão na frente deles.

Depois disso, Draco só permaneceu na sala tempo suficiente para que a compreensão que Simas Finnigan acabara de entrar na sua casa o atingisse; depois de cumprimentar polidamente Harry, desapareceu o mais rápido que sua barriga permitia pelo corredor que levava ao quarto.

De resto, tudo parecia um borrão de tempo que passara muito rápido. Horas depois, Ron só se lembraria direito de Harry indo atrás de Draco e lançando um olhar gelado a Simas quando o irlandês fez menção de acompanhá-lo, e, por conseqüência, deixando o esposo parado no meio da sala como se tivesse sido atingido por um raio.

Depois, a terrível e embaraçosa conversa, se é que se podia chamar de conversa um diálogo praticamente monossilábico de menos de cinco minutos. Harry e Draco sumiram misteriosamente durante esses minutos, e, enquanto Simas, de cabeça baixa e extremamente vermelho, pedia desculpas sobre seu comportamento na festa alguns dias antes, Ron não conseguiu evitar imaginar o que ambos estariam fazendo no seu quarto – e muito menos impedir sua mente de lhe dar sugestões maldosas.

Quando enfim os dois saíram pelo corredor, Ron estava compreensivelmente quase explodindo. E, quando Simas viu Harry, só houve apenas alguns segundos entre a fala "preciso ver David" e o sumiço dos dois pela lareira de novo.

E eles estavam sozinhos de novo, o clima de apenas quinze minutos antes completamente arruinado, Ron um pouco vermelho e Draco com o rosto ligeiramente sem cor. Quando o loiro se virou para ir embora do cômodo, como já fizera tantas vezes antes, Ron, pela primeira vez em dias, o impediu.

"- O que você e Harry estavam..."

Draco se virou para ele, encarando-o, e o olhar que Ron recebeu foi mais do que o suficiente para que se calasse.

"- O que você acha que estávamos fazendo?" – perguntou Malfoy, a voz neutra completamente diferente do olhar cortante.

Ron engoliu em seco sob o olhar de Draco, que franziu as sobrancelhas.

"- Eu sabia" – afirmou Draco, o rosto ficando vermelho como o de Ron, mas de raiva – "Não importa tudo o que eu falei, você continua acreditando em Fin..."

"- Eu não acredito em Simas! Eu só queria saber o que você Harry estavam fazendo no..."

"- Ele estava tentando me convencer a aceitar as desculpas de Finnigan." – respondeu Draco bruscamente. - "E eu não aceitei. Satisfeito agora?"

Virou-se para o outro lado para ir para o quarto, mas mudou de idéia no meio do caminho, exatamente quando Ron ia andando rápido para acompanhá-lo. Quase bateram de frente quando Draco se virou de novo. Ron prendeu a respiração.

"- Eu entendo que você seja um imbecil comigo." – começou Draco, pronunciando cada sílaba.

"- E não sou..."

"- Claro que é" – cortou Draco asperamente. Ron fechou a boca – "Você não acredita em mim e desconfia do seu melhor amigo. Não era assim que eu imaginava a amizade imaculada de vocês."

"- Mas..."

"- Mas, como eu dizia" – continuou Draco, ignorando Ron completamente – " eu entendo que você seja um imbecil comigo, porque, pelo o que você se lembra, eu era um babaca nojento com você."

Ron estava calado, decidido a não perder a guerra de olhares entre ele e Draco, que continuava a encará-lo fixamente.

"- Você deveria pensar no bebê. Deveria pensar que alguma coisa aconteceu, que..." – Draco olhou para o teto e respirou fundo, exasperado – "... que alguma coisa mudou para que ele esteja na minha barriga agora."

Virou-se num rompante e saiu andando pesadamente pelo corredor. Uma chave girou, trancando a porta do quarto. Ron permaneceu estático e silencioso no corredor, olhando para uma parede.

"... que alguma coisa mudou para que ele esteja na minha barriga agora."

"... que alguma coisa mudou."

"Alguma coisa mudou."

Instintivamente, sua mente voltou alguns dias no tempo.

"Nós só nos casamos porque eu estava esperando um filho."

Havia alguma coisa de diferente naquelas duas frases pronunciadas pela mesma boca.

Naquele exato momento, Ron soube que Draco Malfoy estava escondendo alguma coisa.


 

"- O que você está fazendo, Malfoy?"

O susto que Draco levou foi tamanho que deixou escorregar o frasco com a poção da mão, fazendo-a espatifar-se no chão.

Perguntou-se como diabos não ouvira a porta do banheiro ranger quando abrira. Mas já havia sido pego.

Ron o encarava, um olhar interrogador, e claramente queria uma resposta.

"- Malfoy, o que você estava..."

"- Não te interessa." – se abaixou e passou a mão sobre o que restara do frasco da poção, mesmo correndo o risco de se cortar. Perdida, completamente perdida. Sentiu a frustração crescer dentro de si. Sabia que não arranjaria outro frasco rapidamente, e quando arranjasse... já seria tarde demais.

Começou a ter raiva de si mesmo, de sua estupidez e da coisa que crescia dentro de si.

"- Malfoy?"

"- Me deixe em paz, Weasley."

Ron franziu a testa, os olhos indo do rosto de Draco para o frasco espatifado no chão.

"- Mas o que era is..."

"- Vá embora!"

Foi só então que Ron percebeu que ele estava quase chorando.

"- O que aconteceu com você?"

"- VÁ EMBORA!" – gritou Malfoy, e não poderia ser mais claro o desejo dele de ficar sozinho.

Ron o levantou do chão sem muito esforço. Draco tentou empurrá-lo, furioso, e Ron precisou abraçá-lo para tentar acalmá-lo.

O que, obviamente, não funcionou.

"- ME SOLTE!"

"- Só depois que você se acalmar!"

"- ME SOLTE, SEU..."

"- O que aconteceu?"

"- SAI, SAI, VÁ EMB..."

"- POR MERLIN, O QUE ACONTECEU?"

Draco conseguiu soltar uma das mãos e começou a socá-lo no peito.

"- Me solta, me solta, me sol..." – os pedidos começaram a ficar mais fracos, assim como os socos. A luta para se soltar começou a diminuir.

Então, sem aviso, ele desabou no chão, aos prantos. Ron, pego de surpresa, foi junto.

"- Eu não posso... não posso..." – balbuciou Draco entre soluços, se encolhendo junto a parede. Atônito com a cena, Ron se ajoelhou ao seu lado.

"- Não pode o que?"

"- Deixá-lo nascer... eu não posso... não pos..." – parou de falar. Pareceu se dar conta do que dissera a Ron, que estava paralisado dos pés à cabeça.

Depois de alguns segundos olhando em choque para Draco, Ron virou-se lentamente para o frasco de poção quebrado no chão.

"- Você ia tomar uma poção abortiva." – concluiu, falando devagar e respirando fundo no final. - "Porque não me contou que estava..."

"- Eu iria resolver o maldito problema sozinho, se você não tivesse..."

"- Ele é meu bebê também! Você iria tirá-lo e eu nunca saberia de nada!"

"- Exatamente." – confessou Draco numa fraca tentativa de ser cínico.

Ron teve vontade de esganá-lo.

"- Como você pode tentar fazer isso! Quer dizer, é um bebê! Está vivo!"

"- É só uma coisa de menos de cinco centímetros que não tem a menor noção de sua existência!" – exclamou Draco, levantando a cabeça e encarando Ron direto nos olhos.

"- Acontece que eu e você também já fomos assim, seu idiota!"

Draco passou a mão nos cabelos, parecendo perdido.

"- Eu não posso ter esse bebê." – falou rápido, voltando a lacrimejar e parecendo entrar em pânico – "Eu não posso, você não entende? Eu não sou casado. E você sabe do que pensam de pessoas que têm bebês ainda solteiras, elas ficam com a reputação destruída, com péssima..."

Sua voz foi baixando de tom até sumir completamente. Ele começou a tremer. Draco Malfoy estava com medo. Morrendo de medo, para ser mais preciso. Estava num estado tamanho de pânico que mal notou quando Ron o abraçou hesitantemente, puxando para perto de si. Abriu e fechou a boca várias vezes; parecia estar decidindo o que fazer – ou falar. Por fim, tomou uma decisão:

"- Você não vai estar solteiro quando tiver esse bebê."

Com a cabeça apoiada no ombro de Ron, Draco deu uma risadinha sem alegria.

"- Você vai fazer o que? Se casar comigo? Não seja tolo."

"- Eu vou, basta você aceitar."

Draco levantou sua cabeça do ombro de Ron e o encarou, incrédulo:

"- Por favor, diga que você não está falando sério."

"- É claro que eu estou!"

"- Não, não pode. Nós, casados? Seria um completo... completo..."

"- O que?"

"- Desastre" – classificou Draco, dizendo a palavra quase como se estivesse bufando.

Ron deu uma risadinha.

"- Poderíamos tentar."

"- Vai ser um desastre." – repetiu Draco – "Seria mais fácil se eu apenas..."

"- Eu não vou deixar você matar o meu filho."

Draco encarou-o irritado:

"- Desculpe-me lembrá-lo, mas ele está dentro de mim, consumindo minhas energias."

"- Nosso, então." – fez uma pausa – "Aceita ou não?"

"- Aceitar o que?"

"- A proposta de casamento que eu acabei de fazer."

Draco encarou o teto cuidadosamente.

"- Não vai dar certo. Se eu apenas... conseguir outro frasco da poção... não vai ser necessário um casamento."

"- Não." – disse Ron rispidamente, quase irritado – "É meu filho também, e eu não vou deixar você tirá-lo, entendeu? E também não vou deixar você sozinho."

"- E o heroísmo grifinório finalmente se manifesta." – comentou Draco.

Ron pensou em dar alguma resposta nada educada, mas em seguida lembrou-se o que estavam discutindo e desistiu. Optou por fingir que não havia ouvido.

"- Então, casa ou não?"

Draco voltou a olhar para o teto.

"- Não. Não vou me casar com alguém que me trata pelo sobrenome."

"- Só por isso?"

"- Claro que não! Só estou mostrando como a nossa pseudo-relação é..."

"- Draco."

O loiro baixou os olhos do teto e o encarou. Ron aproximou-se dele e beijou-o na bochecha, quase carinhosamente. Draco ficou sem ação durante alguns segundos.

"- De alguma forma estranha, eu acho que gosto de você."

"- Você não precisa me dizer isso só para..."

"- Não estou só dizendo para convencer você. É verdade."

E Draco sabia que era. Ficou em silêncio, pensando. Talvez os mais pensativos segundos de sua vida.

"- Eu aceito" – disse, enfim – "Nunca pensei que iria dizer isso, mas eu aceito me casar com você, Ronald Weasley."


 

Diferente das outras vezes, nas quais acordava repentinamente, daquela vez Ron soube o que havia acontecido antes mesmo de abrir os olhos.

Ele havia tido outro sonho, outra lembrança. Uma lembrança muito esclarecedora.

Virou a cabeça e encarou Draco, os cabelos loiros despenteados sobre o rosto e os olhos inchados e vermelhos, soluçando em pleno sono.

"- De alguma forma estranha, eu acho que gosto de você."

Pela segunda vez naquela dia, ele se lembrou de seu primeiro dia sem memória.

"- Nós não éramos... apaixonados ou qualquer coisa assim?"

"- Não."

Draco havia mentido.

E agora Ron queria saber porquê.


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