Sete vezes por noite em Baker Street escrita por Nana Castro


Capítulo 5
Aquela Frase


Notas iniciais do capítulo

Espero que estejam curtindo! Aqui vai mais um capítulo! XD



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Eu tentava e tentava, mas não havia meios de fazer Sherlock passar mais tempo em meu apartamento do que no flat dele. Eu não gostava muito de lá, era tudo tão escuro e sinistro, cheio de pedaços de corpos e imagens esquisitas. Mas eu queria ficar com Sherlock, então fingia que não ligava. Quando ele entrava no banho, ou em transe, eu começava a arrumar algumas coisas. Naquele dia, ele havia corrido para atender um chamado de Lestrade, aquele amigo dele na Scotland Yard. Eu ia embora, mas ele me pediu que ficasse, que seria rápido. Eu fiquei e aproveitei o tempo sozinha para ajeitar o flat. Mexendo aqui e ali, acabei abrindo uma gaveta que nunca tinha aberto antes. Dentro dela, havia um telefone e umas fotos de uma mulher. Deslumbrante. Senti uma pontada no peito. Era o ciúme despontando em mim. Eu tentei fechar a gaveta e deixar aquilo de lado, mas a curiosidade falou mais alto. Apertei o botão de ligar. Nada aconteceu. Aquele telefone não poderia ser de Sherlock, não parecia com ele. Olhei as fotos mais de perto. Tinha endereço de um web site. Peguei o meu telefone e verifiquei o endereço. Não existia mais. Eu sabia que não deveria deixar o ciúme me tomar, mas eu ainda não sabia muito sobre Sherlock e só de pensar que eu estava sendo só uma aventura, eu sentia o sangue ferver nas veias.

Quando Sherlock chegou, me encontrou sentada na poltrona dele, com o telefone na mão. Ele parou perto da porta, já sabendo que havia algo errado:

– Sherl, que telefone é esse? - Perguntei

Vi Sherlock corar. Esperei pela resposta. Não veio. Mostrei as fotos. Nada. Ele estava sem palavras. Se Sherlock tinha um ponto de pressão, como meu chefe gostava de me lembrar, jogando alguns aspectos da minha vida na minha cara, eu acabara de encontrar:

– Ninguém importante, Janine.

– Não? Por que você guarda tudo isso então? – Eu disse, abanando as fotos violentamente. - E essa demora toda pra me responder? Sabe, eu ando aprendendo umas coisinhas com você e suas deduções. Se não fosse importante…

– Evidências de um caso. Só isso.

– Não. Essa gaveta tem um monte de coisas que não são de caso algum. Isso é pessoal, Sherlock. É. Me diz, quem é essa?

– E o que você estava fazendo abrindo as minhas gavetas?

Eu tentava manter meu tom de voz baixo e contido, mas estava se tornando difícil:

– Não tente virar o jogo, Sherlock. Responda as minhas perguntas!

– Você realmente não devia... Poderia ser alguma coisa bem pior e…

– Sherlock.

Ele respirou fundo, vendo que eu não cederia facilmente. Eu sentia que estava reagindo exageradamente àquilo. Eu não tinha nada que querer saber dos antigos “casos” de Sherlock. Mas eu gostava de pensar que poderia ser a primeira mulher da vida dele. Isso me dava certo deleite e fazia com que a longa espera pelas demonstrações de afeto dele valesse a pena. Pois bem, eu não era. Finalmente, Sherlock respondeu:

– A “Mulher”.

– Mulher?

O nome ressoou na minha cabeça, como uma lembrança antiga.

– É só isso que posso dizer. – Finalizou Sherlock.

Então ele veio em minha direção e, de uma vez, tirou o telefone e as fotos das minhas mãos, jogando tudo dentro da gaveta e fechando-a com força.

– É alguma ex ou algo assim? Perguntei. O tom de voz começando a se alterar.

A expressão de Sherlock ficou mais grave. Percebi que ele não queria falar sobre aquilo, mas eu não conseguia me conter. Ele passou a mão na testa, apertou os olhos. A voz um pouco alterada quando falou:

– Janine… não foi nada. Não tivemos nada. Foi...

– Platônico. – Completei.

– Sim… Não. Janine…

– Eu é que não vou saber! – Disse, andando de um lado para o outro, na esperança de que o movimento me fizesse mais tranquila.

– Ela… se aproveitou… Moriarty.

O movimento não adiantou. Sentei-me na primeira cadeira que vi, ficando de costas para Sherlock. Ele estava visivelmente abalado pelas minhas perguntas. Ele nunca se abalava com nada! Eu devia ter tocado num ponto realmente dolorido, mas não poderia parar. Não agora. Iria até o final.

Fez-se silêncio por alguns instantes, até que o quebrei novamente, a voz agora quase um sussurro:

– Você não sabe nem por onde começar, Sherlock.

Eu estava pronta para ouvir qualquer desculpa. E pronta para ir embora também. Estava meio enjoada. Se a moça fosse tão bonita pessoalmente quanto nas fotos… Eu estava perdendo o foco. Estava completamente apaixonada por Sherlock Holmes e isso estava mais do que claro. Odiaria descobrir ali, daquela forma, que o jogo estava perdido mesmo antes de começar:

– Sherlock, eu entendo se você…

– Não, você não entende. - Ele me cortou. - Essa mulher não importa. De verdade. Como eu tentei dizer e você não deixou, ela foi só um caso. Um dos bons.

– “Um dos bons.”- Repeti, no mesmo tom que o dele. Naquele momento me lembrei porque se apaixonar era tão chato. Ciúme vinha no pacote e não era legal:

– Você continua não entendendo. Deixe-me terminar! - Sherlock falou, aproximando-se de mim e pousando uma das mãos no encosto da cadeira. Era como se ele não pudesse dizer as palavras olhando nos meus olhos. Manteve-se firme às minhas costas:

– Essa mulher… ela quase me desbancou. Quase ganhou de mim. – Senti sua mão deixar o encosto da cadeira, seus passos movendo o assoalho. Ele andava no meio da sala - Mas no fim tudo deu certo e eu resolvi o maldito caso. Eu guardo isso como uma lembrança de que não sou imbatível. Pronto, satisfeita?

Senti meu rosto ficando vermelho e vermelho, mas não me virei para olhá-lo. Não estava completamente convencida do que ele dissera, mas estava com vergonha e criava coragem para pedir desculpas, dizer que tinha exagerado. Mas, mal tive tempo de pensar e Sherlock falava novamente:

– E também tem outra coisa. – Fez uma pausa maior do que o normal. Respirou. - Não falei nada sobre isso porque te amo e não queria te magoar ou coisa parecida, porque eu acho que é isso que acontece. E, pelo visto, as pessoas costumam se magoar da mesma forma se você conta e se você não conta. Eu realmente não entendo as pessoas.

A sequência de palavras saiu numa velocidade tão grande que quase a tornou incompreensível, mas eu tinha quase certeza de ter ouvido um “te amo” no meio daquilo tudo. Virei-me de uma vez e olhei para ele, surpresa:

– O que você disse?

Sherlock se preparou para falar tudo de novo. Eu levantei rapidamente, me coloquei na frente dele e com a mão tapei a sua boca, fazendo-o parar. Percebi então a surpresa nos seus olhos, como se não entendesse o que eu estava fazendo. Retirei minha mão e, imediatamente, Sherlock perguntou:

– OK. Qual parte?

– No começo… - Eu disse.

– “E também tem outra coisa...”.

– Depois disso, Sherl!

A cor voltou às bochechas de Sherlock. Eu comecei a sorrir. Ele meio que sorriu de volta. Então repetiu:

– Eu te amo?

A essa altura, meu sorriso já estava de orelha a orelha. Cutuquei mais um pouco, já passando meu braço em volta da cintura de Sherlock:

– Ama?

– Acho que sim. Eu não sei bem… - as mãos dele mexendo para todo lado, sem encontrar um lugar certo no meu corpo onde poderia coloca-las - Eu não entendo dessas coisas. Eu sei da química e...

O abracei forte. Ele me segurou com um braço só e me deu uma tapinha nas costas. Eu ainda ria. Sherlock falou:

– Isso que aconteceu agora sempre faz parte desse negócio de namorar? Porque é realmente esquisito. Dá muito trabalho.

– Eu também te amo, Sherlock.

Quando consegui soltá-lo, pedi desculpas e prometi tentar, mas só tentar, não ficar tão enciumada. Mais uma vez Sherlock havia se aberto para mim. Estar com ele era como dar passos de bebê. Uma conquista por vez. E por pouco eu não estragara tudo.

O flat acabara por ficar razoavelmente arrumado e eu esperava que assim ficasse até minha próxima visita. Algum tempo depois fui para casa, desejando muito ficar. Passos de bebê. Precisava me conter e ir devagar. Eu sabia que, em breve, passar tempo longe de Sherlock se tornaria cada vez mais complicado e a vontade de tê-lo por inteiro seria insuportável.


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Notas finais do capítulo

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