Sete vezes por noite em Baker Street escrita por Nana Castro


Capítulo 4
Mr. e Mrs. H.


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez não tenho nenhuma música pra vocês... :(
Mas a história está ótima! prometo!



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Depois daquele dia na minha sala de estar, fui mais algumas vezes pra Baker Street. Eu chamava Sherlock pra ficar comigo em casa, mas ele sempre negava, dizendo que tinha coisas demais pra fazer em Baker Street. Eu percebia que não era só isso. O flat servia como um escudo. Sherlock enfraquecia fora do seu forte. Ás vezes eu me sentia como um supervilão, tentando corromper o herói. Mas, nesse caso, o herói já estava corrompido por outras paixões.

Numa tarde de sábado recebemos uma visita diferente. Eu havia acabado de chegar e Sherlock também. O encontrei na calçada, quase entrando em casa. Ele estava ridículo. Usava roupas que não eram comuns para ele, calça larga, blusa de moletom. Tinha olheiras fundas e não cheirava nada bem. Perguntei o que tinha acontecido. Ele deu uma resposta padrão, disse que estava disfarçado para um caso. Mas esse disfarce estava se tornando frequente e quando eu o encontrava desse jeito, podia perceber que havia muito mais do que ele me contava. Da porta de entrada ele foi diretamente para o banheiro. E demorou. Eu não queria incomodá-lo, então comecei a ler o blog de John, no laptop que estava sobre a mesa e estranhamente não tinha senha de bloqueio. Quando meus olhos passavam por uma postagem sobre uma “mulher”, a campainha tocou. Um grito ecoou do banheiro:

– Ah, não! Já? Janine, não se mova!

Mas ele mal havia terminado de falar, uma mulher abriu a porta. Era uma senhora simpática, com um grande sorriso. Logo atrás dela vinha um senhor alto, com a cabeça toda branca:

– Boa tarde! Cumprimentou a senhora. - Você é…

Então a porta do quarto se abriu e um Sherlock esbaforido chegou à sala:

– Mãe, pai…

Arregalando os olhos, espantada, me levantei da poltrona. Os pais de Sherlock.

– Essa é… Janine.

A Mrs. Holmes perguntou:

– Janine quem?

Sherlock parecia não saber de onde tirar as palavras:

– Janine... Minha... É... Namorada.

Foi a vez do casal fazer uma cara de surpresa. Olharam-se, comunicando-se sem palavras. Sherlock segurou minha mão, muito firme, como se pedisse apoio. Eu mesma estava surpresa. Não havíamos usado os títulos ainda. Ele nunca havia me chamado de namorada. Sorri para o casal de idosos, enquanto um silêncio constrangedor crescia. Mrs. Holmes o quebrou:

– Bem, isso é uma grande surpresa! Um de dois, já é alguma coisa! - Mr. Holmes, concordou com a cabeça. - Fico feliz em saber que Sherlock está com uma moça tão bonita como você.

–Obrigada... Mrs. Holmes? Sherlock acenou com a cabeça, aprovando. - Sim, Mrs. Holmes. Sherlock tem sido ótimo.

– É bom que seja mesmo, senão…

Eu não estava olhando para Sherlock, mas era quase possível ouvi-lo revirar os olhos. Mr. Holmes não dizia nada. Apenas observava. Então eu disse:

– Agora posso ver de onde Sherlock conseguiu esses belos olhos, Mr. Holmes.

O homem apenas sorriu.

– Sherlock - Começou Mrs. Holmes, - Passamos por aqui para te ver por uns minutos. Vamos para Oklahoma, passar uns dias num SPA por lá.

– Um SPA? Que coisa! Disse Sherlock, indiferente, soltando minha mão e sentando-se em sua poltrona.

– Mostre um pouco mais de interesse pelos seus pais Sherlock! Mrs. Holmes falou irritadamente. - Que impressão causará na moça?

– Ok. Tenham uma ótima viagem e descansem bastante! E, como se não conseguisse se controlar, disse baixinho - Mesmo estando aposentados e não tendo porque descansar tanto assim.

– Sabe… - Iniciou Mrs. Holmes, como se perguntasse meu nome.

– Janine.

– Sabe Janine, nem sempre foi assim.

Eu não sabia o que fazer a não ser ouvir. Olhei para Sherlock e ele estava de olhos fechados. Tentei então dizer:

– Mas este é o charme dele.

O casal riu. Mrs. Holmes continuou:

– De fato! Pois bem, já que você é a garota do nosso Sherlock, gostaria de ver uma foto dele quando criança?

Sherlock abriu os olhos de uma vez e se mexeu nervosamente na cadeira. Não aguentei ver aquela irritação nele e decidi provocar mais um pouco:

– Claro que sim!

Ela então tirou a carteira da bolsa colorida que levava, abriu e de lá retirou uma foto já gasta, com jeito de já ter sido mostrada várias vezes durante os anos. Sherlock então se levantou e foi olhar pela janela, se recusando a presenciar aquele ato. E naquela foto eu vi um garoto de uns cinco anos, com cabelos encaracolados caindo sobre as orelhas e olhos de um azul vivo. Nada muito diferente do Sherlock atual, a não ser pelos traços delicados de criança e do sorriso largo:

– Vocês não tem um avião para pegar? Disse Sherlock, sem se virar da janela.

Mr. Holmes o repreendeu, apenas pelo tom de voz:

– Sherlock!

– Desculpe. Mãe, pai… Vocês não estão atrasados?

– Já deixaremos vocês a sós. Um minuto! - Disse Mrs. Holmes

Ela então me puxou pelo braço, me levando na direção do quarto, mas não chegamos a entrar. Mr. Holmes ficou na sala, ao lado de Sherlock na janela.

– Menina, Sherlock pode ser bem difícil. Você sabe que ele teve alguns problemas, mas ele tem um coração enorme. Não demonstra, mas tem. O irmão, Mike… Mycroft, Ele é ainda mais difícil. Sherlock ás vezes se deixa levar. Então, tenha paciência. Aos poucos ele se abrirá pra você e com certeza você terá um espaço no palácio mental dele… como ele gosta de dizer.

Não pude fazer mais nada a não ser dizer obrigada. Mrs. Holmes me abraçou e foi em busca de Mr. Holmes. Agarrou Sherlock e o beijou nas bochechas. Ele corou e se escondeu olhando pela janela novamente. Fui com o casal até a porta, onde se despediram mais uma vez e saíram.

– O que foi isso? Disse eu, um tanto pasma, fechando a porta.

– Eu sei. Respondeu Sherlock, que continuava a olhar pela janela, as mãos atrás das costas.

Aproximei-me, parando ao lado dele. Segurei o seu rosto, fazendo-o olhar para mim. Ele encostou sua testa na minha e então o beijei. Como a mãe dele havia dito, ele se deixava levar. O abracei. Ele passou o braço por cima dos meus ombros e beijou o alto da minha cabeça. Assim vimos o casal de idosos desaparecer na esquina, dentro do táxi preto.


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Notas finais do capítulo

E aí? E aí? XD



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