Sete vezes por noite em Baker Street escrita por Nana Castro


Capítulo 6
Outras Paixões


Notas iniciais do capítulo

Dessa vez tenho trilha sonora para vocês! E é das boas! XD

The Killers - Sweet Talk (https://www.youtube.com/watch?v=Z8gNjNTfQbg)
U2 - With or Without You (https://www.youtube.com/watch?v=XmSdTa9kaiQ)



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Cheguei a Baker Street numa noite chuvosa, sem avisar. Eu estava por perto e aquela chuva parecia que não ia ter fim. Londres, pensei. Toquei a campinha. Ninguém atendeu. Girei a maçaneta e a porta abriu com um rangido fino. Entrei. Afinal, estivera ali tantas vezes.

Ao subir as escadas, chamei por Sherlock. Sem resposta. Testei então mais uma maçaneta. Essa porta também estava aberta. Ao entrar, dei de cara com uma imagem que me deixou assustada. O apartamento estava revirado. A mesa de café estava tombada, vários papéis espalhados no chão. Olhei em volta pra ver se Sherlock estava ali. Ele estava. Deitado no sofá, com os olhos fechados, uma das mãos sobre o peito e a outra solta, tocando o chão. Aproximei-me apressadamente, ajoelhando ao lado dele, preocupada. Segurei a mão que pendia, afaguei seu rosto:

– Sherlock! Sherlock.

Ele virou o rosto para meu lado e abriu os olhos bem devagar. Abriu um sorriso mínimo, que logo voltou a se fechar.

Quando olhei para o chão, vi uma seringa e uma ampola:

– O que você fez? Perguntei.

Após alguns segundos mais afagos em seu rosto, Sherlock falou, o tom sombrio:

– Você não sabe... Como são as coisas aqui dentro. E apontou para sua têmpora com a mão que estava pousada no peito.

– Eu não sei mesmo. Mas isso era necessário? – Eu disse, a voz alterada pelo desespero.

– Existem momentos em que não sou capaz de para de pensar em certos assuntos. E essa tarde… essa manhã… durante toda essa semana… eu não fui capaz de parar de pensar... Parar de pensar em você. Eu... Isso estava me deixando louco. Eu não conseguia trabalhar…

– E não está podendo trabalhar assim também. Olha o seu estado. Eu vou te levar…

– Não. Já está… - Começou a dizer, puxando sua mão da minha, apoiando-se no cotovelo, tentando se levantar, mas sem sucesso. - Já está passando.

Ficou em silêncio e deixou a cabeça cair pesadamente para o lado.

Eu peguei a seringa e a ampola e coloquei sobre a mesa. Escorreguei do sofá para o chão, encostada ao lado dele. Coloquei minhas mãos sobre meu rosto e comecei a chorar. Meu primeiro instinto foi acabar tudo ali. O que eu menos precisava era de um viciado na minha vida. Considerei mesmo ir embora e não voltar. Mas ao pensar no jeito que o encontrei e no que já havíamos passados juntos em tão pouco tempo, não pude abandoná-lo. Eu já amava Sherlock Holmes. Ele já era um problema meu.

Levantei-me de uma vez, respirei fundo e comecei a arrumar tudo o que estava fora de lugar. Eu nunca vira nada fora do comum no flat, quer dizer… você entendeu, não é. Ele nunca havia feito nada perto de mim, sequer acendido um cigarro. Havia comentado sobre o vício uma vez, mas só. Sherlock devia manter aquilo bem guardado ou John havia escondido dele. Ele disse que John fazia isso com os cigarros. Sherlock devia estar realmente desesperado, pois o estado do flat era lamentável. E arrumando aqui e ali, comecei a perceber como eu estava mais do que envolvida em tudo aquilo. Ele tinha dito, com todas as palavras, que não conseguia parar de pensar em mim. Ele havia se drogado por minha causa? Eu queria entender como ele se sentia, mas era muito medrosa para perguntar. Eu queria que ele simplesmente viesse até mim e dissesse “Oi Janine, aqui está meu manual de instruções”. Provavelmente Sherlock sentia muito mais coisas do que deixava escapar. O que eu tinha visto era apenas a ponta do iceberg. E uma parte de mim, lá no fundo, achava a situação extremamente romântica. Ridículo, eu sei. Eu me senti muito culpada. Chacoalhei a cabeça para mandar esse pensamento um tanto perverso embora. Então parei por um minuto, em pé, com alguns papéis na mão e olhei para ele, que agora dormia. Seu peito subia e descia num movimento ritmado, quase sereno. Seria possível que… que eu tivesse quebrado a ordem que havia nos pensamentos de Sherlock? Tinha mil perguntas e nenhuma coragem para fazê-las. Eu havia atingido um estágio onde pensava que qualquer coisa poderia afastá-lo de mim. Eu, que minutos antes havia pensado em deixá-lo, sentia arrepios só de considerar ficar longe dele. Talvez eu também precisasse de alguma droga, mas não apelaria para algo tão pesado.

Terminei o que estava fazendo e fui ver o que havia na cozinha. Sherlock tendia a passar dias sem comer quando os casos complicados chegavam. Não havia nada lá. Abri todas as portas e só encontrei espaços vazios e coisas impróprias para o consumo. Acreditei que Sherlock não se alimentava mesmo há algum tempo. Ele teria que comer alguma coisa quando acordasse. Nem que fosse obrigado. Passei por ele, deixei um beijo em sua testa. Ele parecia tão frio. Saí e fiz algumas compras e com elas uma garrafa de vinho. A minha droga. Sentei-me à mesa, a garrafa na minha frente e o observei de longe até que começou a ficar inquieto, mexendo-se com mais frequência. Boas horas se passaram. Então finalmente abriu os olhos.

Senti um alivio imenso. Ele era agora, e definitivamente, um problema meu.


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Notas finais do capítulo

Oi, tudo bem? Eu sou a Nana e gostaria de saber o que você achou desse capítulo... ou da fic toda! Deixe seu recado! XD



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