Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 10
5° Consulta - parte 2


Notas iniciais do capítulo

A partir daqui as coisas seguem uma ordem mais linear, então para quem ficou meio confuso nos capítulos passados eu sugiro que leiam as partes dos monólogos dos capitulos na seguinte ordem: cap 01, cap 05, cap 02, cap 06, cap 07, cap 08, cap 09, cap 03, cap 04 e, por fim, cap 10



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Há! Como é que se diz mesmo irmão? Olho por olho e dente por dente?

Eu te deixei para falar do evento e agora você me deixa para falar de Verônica, mas tudo bem, eu admito que realmente fosse importante falar desse último capitulo de Ayume antes dela começar a aparecer constantemente machucada na escola, até porque foi numa dessas vezes em que ela se machucou que nós tivemos nosso segundo encontro com Verônica, dessa vez juntos.

Pra falar a verdade doutora, Verônica é a única pessoa no mundo que pode dizer que conheceu cada um de nós separadamente, quer dizer, ás vezes pode surgir alguém que primeiramente conheceu apenas um de nós, mas com certeza, num segundo encontro com esse alguém nós dois estávamos juntos, e com Verônica não foi assim, ela conheceu-nos separadamente, uma chance em um milhão.

Eu acho até que ela devia tentar apostar na loteria.

Então, naquele dia era hora do almoço e nós estávamos indo ao refeitório para nos encontrar com Ayume, — não que ela comesse, mas ela sempre se dispunha a sentar conosco e ler suas historinhas monocromáticas enquanto lanchávamos — quando vimos o aglomerado de alunos no corredor.

Nos entre olhamos.

—Você acha...? — Murilo me perguntou.

—Acho. — respondi — Mas espero que não.

—Eu também.

Nós corremos e demos um jeito de nos meter entre os alunos, e tal como esperávamos — e temíamos — Ayume era a causa de todo aquele rebuliço: ela estava sentada no chão, encostada a parede pressionando uma camisa xadrez contra a lateral da testa enquanto um filete de sangue escorria por sua bochecha.

—Desculpa, estou sujando sua camisa toda com sangue. — a vimos se desculpar com o garoto sentado ao seu lado enquanto tentávamos passar por aquele bando de curiosos desocupados.

Já dizia a banda Opinião Pública naquela música “Ele só pensava nela”: “a mórbida curiosidade que as pessoas têm”...

—Não tem problema! — dizia o garoto — Me deixa te ajudar a levantar!

O garoto era o mesmo que sempre andava com ela quando não estava sendo “seqüestrada” por nós, acho que o nome dele era Renato, mas não havia nem sinal das duas garotas que também sempre andavam com ela.

—Pequena Ayume! — chamamos, meio que já empurrando as pessoas para conseguir passar — Pequena Ayume!

Ayume ergueu o rosto para nós, ainda pressionando a camisa xadrez contra a testa.

—Meninos parem de me chamar de “pequena Ayume” é constrangedor. — ela nos disse com toda a calma do mundo, como se sua testa não estivesse sangrando nem nada do tipo, enquanto os alunos a sua volta começavam a se dispersar, perdendo completamente o interesse.

Mas como é que poderíamos evitar chamá-la assim? Ayume é pequena mesmo.

E deixando isso de lado, como alguém pode ficar tão calma quando está sangrando?!

—O que aconteceu?! — perguntamos exasperados, finalmente a alcançando e nos ajoelhando em frente a ela.

—Eu caí. — Ayume suspirou.

Sabe doutora, Ayume nunca foi a garota mais graciosa do mundo, mas ela também não era nenhuma destrambelhada, então é claro que foi muito estranho quando ela, de repente, começou a cair e se machucar quase todo dia na escola, assim como foi estranho que, de repente, ela começasse a nos afastar, o que só se intensificou depois da noite que ela passou em nossa casa, só que na época fomos tão idiotas que não percebemos que essas duas coisas poderiam estar ligadas.

—Você está sangrando! — afirmamos.

—Muito obrigado pela constatação Capitães Óbvio. — o tal baixinho, vulgo Renato (eu acho), girou os olhos.

Já deu pra perceber que ele não gosta muito da gente não é? Bem, só posso dizer que o sentimento é recíproco.

—Nos deixa ver! — pedi agarrando o pulso que segurava a camisa xadrez.

—O que? Não! — ela tentou me afastar.

—Não seja teimosa pequena Ayume! — Murilo exclamou segurando o pulso com o qual Ayume tentava me afastar — Só estamos preocupados!

Ela relutou, mas como éramos dois contra uma, nós conseguimos afastar a camisa xadrez de sua testa e ver o ferimento.

Era horrível doutora, parte da lateral direita da testa de Ayume, logo acima da sobrancelha, estava sem pele e ensangüentada, e o pior: o ferimento se parecia com um mapa da Austrália.

E não era só isso, seu antebraço esquerdo estava todo ralado, e parte da palma da mão direita também.

—Meu Deus essa queda foi feia! — dissemos — Como você caiu?!

—Uma garota...! — Renato começou a falar.

—Esbarrou em mim. — Ayume o interrompeu — Eu tropecei e caí.

—E ela nem parou para te ajudar?! — meu irmão indignou-se.

—Ela nem reparou.

—Você tem que ir para a enfermaria! — afirmei.

É, isso aí, a nossa escola tem até enfermaria — um dos pequenos detalhes que justificam o absurdo das mensalidades.

—O que? Não! — ela recusou-se.

—Já tentei levá-la, ma ela se recusa. — Renato suspirou.

—Não importa se ela se recusa ou não, porque ela vai!

Afirmamos nos levantando, eu já carregando Ayume — E caramba! Como essa menina é leve! —, coisa que ela não aceitou facilmente.

—Vinicius me larga! — ela debateu-se, deixando cair a camisa xadrez manchada de sangue — Eu posso andar Vinicius!

Ignorando os protestos da pequena Ayume em meus braços, meu irmão voltou-se para Renato.

—Baixinho, onde é que estão as coisas dela? — quis saber, e só pra esclarecer, Renato e Ayume tinham quase a mesma altura, ele sendo uns cinco ou sete centímetros mais altos, dez no máximo, por isso é justo que o chamemos de baixinho — No estado em que está, Ayume não pode mais assistir aula.

—Claro que posso! — Ayume só sabia protestar — É só botar um esparadrapo e pronto!

—Vamos colocar esparadrapo na sua boca se você não ficar quieta! — afirmamos seriamente — Você está ferida e vai para casa.

—Eu vou mostrar onde ela deixou a mochila. — Renato nos disse — Mas só porque é culpa de vocês que ela esteja ferida, então também é responsabilidade de vocês cuidarem dela agora.

Devíamos ter prestado mais atenção a parte de que “era nossa culpa Ayume estar ferida”, mas nós o ignoramos totalmente.

—Eu a levo para a enfermaria e você vai pegar a mochila dela. — Combinei com Murilo.

—Certo, nos encontramos lá. — meu irmão concordou.

A enfermeira estava terminando o curativo de Ayume, e Murilo tinha acabado de trazer sua mochila quando Verônica chegou.

Três batidas na porta anunciaram sua chegada.

—Entre. — respondeu a enfermeira.

Ela colocou sua cabeça cheia de cabelos loiros não naturais para dentro.

—Eu ouvi que minha prima tinha caído e sido mandada para cá. — ela disse.

—Oi Verônica. — Ayume suspirou. — Eu estou bem.

—Como assim bem? — Verônica já foi entrando — O que aconteceu com você?

—Uma garota esbarrou nela, daí ela tropeçou e caiu. — meu irmão respondeu no lugar de Ayume. — A coisa ficou bem feia, mas a tal garota nem parou para ajudá-la.

Só aí foi que ela o percebeu sentado num canto da sala, olhando alguns panfletos muito estranhos tipo “Então você gosta de vomitar”, “Acho que estou grávida” e “Eu tomo bomba para ficar bombado”.

E pensar que é nisso que a escola gasta o dinheiro dos nossos pais...

Ela piscou.

—Murilo Montenegro. — disse — Foi você que a trouxe para cá?

—Na verdade fui eu. — afirmei sentado no outro lado da sala. —Meu irmão trouxe as coisas dela.

Verônica virou-se e deparou-se surpresa comigo com um termômetro na boca e brincando de medir minha própria pressão — É estranho como a enfermeira lá da escola é liberal, ou então ela só estava muito ocupada cuidando de Ayume.

Ela recuou alguns passos olhando de mim para meu irmão, que agora nos levantávamos.

—Vocês são...?

—Sim, nós somos gêmeos idênticos. — respondemos, e antes que ela perguntasse já fomos respondendo todas as perguntas que geralmente nos fazem quando nos conhecem: — Sim, nós dormimos no mesmo quarto, sim, nós trocamos de lugar um com outro, não, um não sente o que o outro sente, sim, se um ficar doente o outro também fica, e desculpe, não sabemos quem é o mais velho porque somos adotados.

Isso fez Verônica ficar sem fala, que é o que normalmente acontece.

Ayume suspirou, a enfermeira tinha acabado de finalizar seu curativo.

—Verônica, esses são meus amigos, os gêmeos Vinicius e Murilo Montenegro... Meninos, por favor, digam “olá” como pessoas normais.

De forma sincronizada nós sorrimos e erguemos a mão direita.

—Olá Verônica. — dissemos.

Ayume resmungou algo como “Acho que isso é o máximo que vou conseguir” e Verônica levou a mão á cabeça parecendo meio zonza. Uma reação que já vimos bastante, diga-se de passagem.

—Acho que acabei de entrar em um episódio de “Além da Imaginação”. — disse — Qual dos dois é Murilo e qual é Vinicius?

—Eu sou Murilo e ele é Vinicius. — respondemos.

—O que? — ela balançou a cabeça — Não, espera, quem é quem de verdade?

—Cabe a nós saber e a você adivinhar. — demos nossa resposta de sempre.

Acho que Verônica ia perguntar de novo, mas aí Ayume balançou a cabeça e disse:

—Desista Verônica, isso é uma coisa que eles não contam nem para os pais deles, você precisa descobrir sozinha. — ela levantou-se — Obrigada por ter vindo, mas eu já tenho meu passe para ir para casa, então tchau.

—Não, espera! —Verônica ergueu as mãos, estava segurando um celular — Me deixa ligar para o Santiago ou o Guilherme e aí um deles vem te buscar.

—Não Verônica, não ligue para nenhum dos meus irmãos, por favor. — Ayume pediu.

—Então, pelo menos, para a tia ou para o tio?

—Nem pensar, eles vão avisar meus irmãos, e se eles aparecerem por aqui o circo vai estar armado. — Ayume fez um “X” com os braços.

—Hum... Certo. — Verônica concordou — Mas me deixe te levar até a parada.

—Não. — Ayume pegou a mochila e levantou-se — Eu posso ir sozinha.

—Poder pode. — dissemos nos aproximando — Mas não vai.

Só que Ayume ameaçou contar para toda a escola as mínimas diferenças que havia entre nós — muitas das quais nem nós mesmos percebemos segundo ela — e ensinar a todos como ela fazia para nos diferenciar, e então ninguém nunca mais nos confundiria, não que realmente acreditássemos que alguém pudesse simplesmente “aprender” essa hablidade sobrenatural de Auyme, mas achamos melhor não arricar, por isso meu irmão e eu, mais Verônica, só pudemos acompanhá-la até o portão.

Aquela garota bem que podia aceitar um pouquinho de ajuda de vez em quando.

Depois que a japa sumiu de vista Verônica cruzou os braços e suspirou.

—Aquela Ayume... Acho que ela já está cansada de ser protegida o tempo todo.

Nós a olhamos.

—Como assim?

—Vocês conhecem os irmãos dela?

—Não.

—Se conhecessem entenderiam, aqueles três realmente exageram... Na verdade, eles só deixaram Ayume ficar em uma escola diferente da escola de JJ, porque eu estava vindo estudar aqui, e minha presença “protegeria” ela dos garotos.

—Como assim?

—Ora, não é obvio? — Verônica cruzou os braços acima da cabeça, de uma maneira sensual e piscou para nós — Enquanto eu estiver ao lado de Ayume, que garoto vai olhar para ela? Ou melhor, que garoto vai pelo menos reparar que ela está ali?

Embora na hora nós não tenhamos dito nada sobre isso, nós realmente achamos que os irmãos de Ayume têm razão, afinal que cara é que vai reparar nela, pequena e tábua do jeito que é, enquanto ela estiver ao lado de sua prima loira e atraente?

Verônica descruzou os braços, colocou uma das mãos na cintura e voltou a suspirar.

—Mas é claro que eles não fazem idéia de que nós mal nos vemos na escola.

♠. ♣. ♥. ♦

Doutora Frank cruzou as pernas.

—E, como se diz, foi assim que tudo começou.

—Basicamente. — os gêmeos responderam.

Ela passou a mão pelo queixo.

—Sobre os três irmãos de Ayume, vocês os conheceram?

—Nunca. — respondeu Vinicius.

—Ayume nunca nos deixou ver nem fotos deles... Ou de qualquer outro parente seu. — Murilo completou. — E, segundo Verônica, ela também nunca falou de nós em casa, além de tê-la proibido de falar também, é como se não existíssemos.

—E vocês perguntaram o porquê?

—Ela diz que não quer que os irmãos dela cismem conosco e nos afastem dela. — Vinicius suspirou.

—Mas mesmo assim não ia custar nada nos mostrar uma foto. — lamentou Murilo.

—E por que vocês não tentam conversar com ela? — Doutora Frank incentivou — Tentem fazê-la convidá-los para a casa dela, convencê-la de que ela é importante demais para que alguém possa afastá-los dela.

Mas os gêmeos balançaram a cabeça de forma desanimada.

—Depois da forma como nos afastamos dela por causa de Verônica, nós achamos bem difícil que ela acredite em nós agora...

Os relógios digitais em seus pulsos apitaram, anunciando o fim da sessão, os gêmeos levantaram-se.

—Mesmo assim tentem. — Dra. Frank os incentivou mais uma vez — Então... Na mesma hora e no mesmo dia semana que vem?

Os rapazes assentiram e acenaram se dirigindo a porta.

—A gente marca com o Adam na saída. — prometeram.


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Notas finais do capítulo

Pois é gente, agora meu computador se foi de vez (de novo ¬¬') e não tenho mais nem onde escrever, porque não posso ficar usando o computador do meu irmão por tanto tempo assim, mas por sorte eu ainda tenho capítulos o bastante para não atrasar nos próximos meses.
Ma não se esqueça de que podem se sentir a vontade para fazer comentários grandes ou pequenos, com criticas ou não, com ou sem duvidas e teorias, ok?
Eu prometo que leio e respondo todos com muito carinho, mas, claro, com o minimo de spoilers possíveis hahaha



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