Gêmeos no Divã escrita por Lady Black Swan


Capítulo 9
5° Consulta - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Olá para todos, hoje eu apareci um pouco (só um pouco?) mais tarde, não é?
Mas pelo menos ainda é domingo, então eu não atrasei. =^.^=



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Os irmãos Montenegro entraram logo depois do casal Douglas ter saído.

—Desculpe tê-los feito esperar meninos. — Dra. Frank disse apoiando o rosto na mão.

Eles encolheram os ombros.

—Sem estresse doutora. — disse o primeiro.

—É. Nós nos distraímos com uma revista aí fora. — disse o segundo.

—Ayume não veio com vocês hoje? — perguntou vendo-os sentarem-se no divã.

Ambos balançaram a cabeça e responderam:

—Hoje ela foi com a Verônica montar acampamento na frente daquele hotel, e depois de amanhã elas vão aquele evento do qual não passamos mais nem perto.

—E por fala em Verônica... — ela percebeu seu pacientes ficarem imediatamente tensos — Vocês dizem que já a superaram, mas tem evitado falar sobre ela comigo.

—Doutora isso é... — começou o primeiro.

—Completamente ilógico. — finalizou o segundo.

A Dra. Frank Lorret não se deu por vencida:

—Ah é? — uma pausa — Pois, sempre que o assunto é “Verônica” vocês saem por alguma tangente, já até chegaram ao ponto de me falar do evento tão traumático de vocês dois. Na verdade a minha teoria é de que vocês só me falaram dela naquela segunda consulta para que não parecesse que estavam fugindo desse assunto, embora estivessem.  — Os gêmeos nada responderam — Eu estou certa, não estou?

Os gêmeos suspiraram juntos, assim como tudo o mais o que faziam.

—A verdade é que não gostamos de tocar nesse assunto doutora. — admitiram.

—Por quê? — a doutora inquiriu.

—Porque não gostamos de lembrar no que quase nos transformamos por causa dela.  — o segundo respondeu recostando-se ao divã.

Agora sim eles estavam chegando a algum lugar.

—E no que vocês quase se transformaram por causa dela?

O primeiro irmão curvou-se para frente, colocando os cotovelos sobre os joelhos, e a cabeça entre as mãos.

—Em irmãos normais.

Respondeu como se essa fosse a pior das maldições, surpreendendo a Dra. Frank com seu tom soturno.

Ele começou a falar:

♠. ♣. ♥. ♦

Antes de voltarmos ao tópico “Verônica” doutora, eu quero falar de mais um último capitulo de Ayume, não é que nós estejamos fugindo do assunto de novo — ok, talvez um pouco —, mas é que depois de todos aqueles meses ignorando a Ayume nós meio que achamos que devemos isso a ela.

E também, de certa forma, esse último capitulo em especial teve significado para nosso próximo encontro com Verônica, depois a senhora entenderá por que.

Já fazia uma semana desde o evento traumático, nós tínhamos tingido os cabelos de volta à nossas cores originais e nos forçado a apagar de nossas mentes tudo o que tivesse a ver com aquele dia, faltava pouco menos de um mês para o primeiro de nós conhecermos Verônica — embora na época não soubéssemos disso — era madrugada e estávamos dormindo em nosso quarto.

Como já mencionamos antes, sempre que um de nós acorda primeiro é obrigação dele acordar o outro.

Vinicius foi quem acordou primeiro nessa ocasião, porque ele ouviu que havia alguém batendo na janela acima da cama em que ele dormia, mas dessa vez ele não me acordou.

Na verdade eu acordei assim meio sem saber se estava sonhando ou não, porque tinha a impressão de estar ouvindo vozes — talvez ainda não tenhamos mencionado, mas nós dois temos o sono extremamente leve — só que isso não era possível, só nós dois dormíamos ali, e Maya não costumava entrar em nosso quarto, então se Vinicius não estava falando comigo, com quem ele estava falando? Achei muito estranho, até porque meu irmão não tem o hábito de ficar falando sozinho.

Foi meio que ainda preso à névoa de sono que eu comecei a registrar os que as vozes estavam cochichando na escuridão:

—... Entrar! — dizia uma voz de garota — Está frio aqui fora.

E meu irmão respondeu num cochicho:

—Mas como assim você fugiu de casa?!

—Eu já disse que vou explicar Vinicius. — a voz de garota, que agora eu começava a reconhecer como sendo a voz de Ayume, cochichou de volta — Mas me ajuda a entrar primeiro, estou congelando aqui!

E ela estava tremendo, eu sei disso porque vi depois quando me sentei, e acho que foi nessa hora que meu irmão percebeu isso, porque de repente ficou alarmado:

—Ah ta! Ta! Desculpe! Dê-me aqui a sua mochila.

Embora eu ouvisse as palavras eu ainda não estava compreendendo o significado delas.

Eu me sentei sonolento, coçando a cabeça e cruzando as pernas, com os olhos inchados de sono.

—O que ta acontecendo? — perguntei com a voz enrolada de sono, e olhei para Ayume tremendo em nossa janela. — Oi Ayume... Ayume?!

De repente eu estava muito acordado.

—Ela fugiu de casa. — Vinicius me informou.

—O que? Por quê?

Ayume apertou os dedos no batente da janela, os dentes estavam batendo um nos outros.

—Eu fujo o tempo todo, duas ou três vezes por mês! — revelou-nos — Agora me deixem entrar de uma vez!

Só posso dizer que a raiva e a urgência em sua voz me fez imediatamente pular para a outra cama e juntamente com meu irmão puxá-la para dentro.

—Ok. — nós dois dissemos, agora com os três sentados na cama — Ok. Agora... O que está fazendo aqui Ayume?

Nossa amiga virou-se para fechar a janela e começou a falar:

—Lá em casa, eu divido o quarto com meus três irmãos, só que eles são muito implicantes, e nunca respeitam minhas coisas, por isso nós sempre brigamos e eu fujo de casa. — Ela fez uma pausa, mas parecia estar se recusando a se virar e nos encarar, aquela era a primeira vez que ela nos dizia qualquer coisa sobre sua família — Geralmente eu passo a noite na casa da minha prima, mas da última vez eu acabei entregando-a sem querer, porque ela tinha saído escondida para uma festa, então eu queria saber...

Nós puxamos Ayume contra nós e a abraçamos.

—Se pode dormir aqui conosco? — perguntamos lentamente — Claro que pode pequena Ayume.

Só posso dizer uma coisa doutora: nosso objetivo foi alcançado, Ayume ficou toda vermelha.

—N-na verdade! — ela desvencilhou-se rapidamente de nós e foi para o canto mais afastado da cama, o que significa que ela não foi muito longe — Eu tava pensando mesmo era em dormir no quarto da Maya.

Nós a encaramos.

—Por quê?

—Porque...

—Nós é que somos seus melhores amigos, não ela. — reclamamos.

Se somos ciumentos? Sim, mas é preciso entender que Ayume é a primeira amiga que temos.

—É. — Ayume concordou — Mas vocês são garotos, não posso dormir no mesmo quarto que vocês.

Ainda a estávamos encarando.

—E por que não?

—Eu acabei de dizer o porquê! — ela exasperou-se — Vocês são garotos!

—E daí? Seus irmãos também. — afirmei.

—E você acabou de dizer que dorme no mesmo quarto que eles.

—Ai meu Deus! — ela impacientou-se. — Vocês não são meus irmãos, meninos!

Ela levantou-se da cama para sair do quarto, mas nós fomo rápidos o suficientes para pegá-la e derrubá-la de volta na cama.

—Ayume, você não pode estar pensando que faríamos alguma coisa com você. — dissemos.

Novamente ela ficou vermelha.

—Não, é que...

—Afinal, para nós você é praticamente um menino. — a interrompi soltando-a.

—Com certeza. — meu irmão concordou também a soltando — Sem dúvida, Ayume nós podemos te garantir que preferimos... Um pouco mais de curvas.

—Coisa que você não tem. — acrescentei.

Ayume sentou-se irritada em nossa cama.

—Tá bem! — cedeu — Eu durmo aqui!

Sabe doutora, ás vezes é muito fácil manipular Ayume... Hum, aposto que ela pensa o mesmo de nós.

Secretamente nós fizemos um pequeno “toca aqui” em comemoração.

—Agora... — Ayume olhou a volta, só havia duas camas, e agora nós éramos três. — Onde é que eu durmo?

Nós nos entreolhamos, e depois olhamos para as costas dela.

—Levanta. — mandamos.

Enquanto ela assistia, um de nós foi pegar um lençol extra e trancou a porta na volta — só para o caso dela mudar de ideia no meio da noite — e o outro começava a tirar o colchão de uma das camas, depois o um voltou para tirar o colchão da outra cama, e nós juntamos os dois no chão no centro do quarto, onde jogamos todos os nossos travesseiros, e os nossos lençóis.

Ayume observou aquilo.

—Então... Nós três vamos dormir juntos?

Cruzamos os braços atrás da cabeça.

—Ainda está pensando que faríamos algo com você Ayume? — perguntei.

—Vamos ter que te explicar de novo que para nós você é praticamente um menino? — Vinicius perguntou.

—Não.  — Ayume começou a desabotoar a bermuda e tirar a camisa, ela estava usando um conjunto de baby doll por baixo — Só estava pensando no que meus irmãos fariam com vocês se descobrissem.

—Você não disse que seus irmãos vivem implicando com você e por isso estão sempre brigando? — perguntamos.

Ela subiu nos colchões e sentou-se no meio.

—É, mas mesmo assim todos os três sempre tiveram a mania de me cercar e nunca deixar qualquer garoto se aproximar de mim, o JJ está sempre carregando uma pistola de água que ele carrega a qualquer momento, embora estejam sempre dizendo que não precisam se preocupar tanto porque eu tenho quase um corpo de menino, como vocês acabam de ressaltar, na verdade... Esse ano é a primeira vez que eu faço amizade com garotos.

Nós ouvimos aquilo em silêncio e nos sentamos um de cada lado dela.

—Então... — Vinicius começou.

 —Você nunca foi próxima de nenhum garoto? — completei.

Ayume bocejou — devia estar começando a ficar com sono — e escolheu os ombros.

—No fundamental eu estudava numa escola que tinha fundamental e médio, e meus irmãos geralmente apareciam do nada na sala durante a aula, este ano estou um pouco mais livre porque Santiago está muito ocupado na faculdade e Guilherme no cursinho pré-vestibular, JJ devia estar me vigiando, mas eu bati o pé pra mudar de escola.

—E isso significa... — comecei.

—Que nós fomos os primeiros garotos que você beijou. — Vinicius completou.

É engraçado como é fácil fazer a Ayume ficar vermelha, mesmo ela sendo tão próxima de nós.

—T-talvez, mas isso não vem ao caso! — ela respondeu e rapidamente deitou-se e cobriu-se até acima da cabeça com o lençol.

Nós sorrimos entre nós e nos deitamos, achamos muito legal que Ayume tenha pensado em nós quando não pôde ir para casa da prima — apesar de que foi muito perigoso, e nós a repreendemos por horas por isso depois — e também que tenha nos falado dos irmãos, Santiago, Guilherme e JJ, e isso até nos explicou porque ela nunca nos deixou conhecer sua família.

Claro, nós entendemos, mas não aceitamos.

Quando acordamos Vinicius era o travesseiro de Ayume, e ela era o meu.

O bom é que não estávamos tão doloridos quanto achávamos que íamos estar.

E melhor: era domingo, não tínhamos aula.

Ayume foi a primeira que acordou.

—Murilo. — ela chamou — Murilo sai de cima. Eu quero levantar.

—Hum... — eu fiz — Que travesseiro mais magrelo e ossudo... — ela me deu uma cotovelada no ombro e eu saí de cima dela me virando para o outro lado — Parece até que dormi em cima de um saco de ossos.

—Você dormiu em cima de mim. — ela sentou-se — Ai minhas costelas.

—Suas costelas e quanto ao meu braço? — Vinicius reclamou acordando também — Você dormiu em cima dele, tudo bem que você é bem leve, mas agora ele está dormente, e você me chutou umas duas vezes, e da primeira quase acertou naquela área mais sensível.

Virei-me de volta, olhei para Ayume, ela estava olhando para o colchão.

—Você também me chutou uma vez no estômago. — contei.

—Desculpe... Hum, aos dois.

—Tudo bem. — respondemos — Podemos dizer que dos três você foi a que teve menos danos.

—Acho que sim.

Nós nos sentamos.

—Está com fome? — perguntamos.

Ela colocou a mão sobre a barriga.

—Um pouco. — admitiu.

—Então... — esfregamos o rosto — Vamos lá para a cozinha.

Antes de sair Ayume pegou o celular para ver se não havia mensagens ou ligações perdidas, havia apenas uma ligação, mesmo já passando um pouco das nove, mas ela nos disse que sua família provavelmente ainda devia estar pensando que ela estava na casa da prima.

A verdade foi que Ayume deu sorte porque naquele dia mamãe não estava em casa e só chegaria à noite, ela havia pegado o carro e viajado sexta-feira de manhã, para ir ajudar tia Carla — sua irmã mais nova — no hospital porque ela tinha tido outro bebê, enquanto o marido estava viajando, e ele faz muito isso porque é da marinha.

Eu realmente acho que já está na hora da tia Carla e seu marido pararem de ter filhos, porque só aquele já foi o quinto.

Papai estava na cozinha queimando ovos quando entramos, sabe geralmente ele até que se vira bem na cozinha, mas aos domingos de manha ele é tão sonolento que é quase um completo inútil, bem, pelo menos ele se esforça quando mamãe não está, e o que ele faz para o café da manhã é comestível... Ou quase.

—Bom dia pai. — Vinicius cumprimentou.

Ele nem se virou, estava tentando desgrudar os ovos da frigideira.

—Bom dia Vinicius.

—Eu sou o Murilo pai. — Vinicius bocejou sentando-se. — E o café está transbordando.

—Droga! — papai largou imediatamente a espátula e a frigideira e tirou o café do fogo.

—Bom dia pai. — cumprimentei.

—Ai! — fez papai quando se queimou no fogão. — Bom dia Vinicius.

—Eu sou o Murilo pai. — o corrigi também me sentando.

Deixamos uma cadeira entre nós para Ayume se sentar.

Ela hesitou um pouco antes de entrar, achamos que estava com vergonha de entrar, embora não tenha tido vergonha de bater em nossa janela de madrugada pedindo um lugar para dormir.

Finalmente ela entrou.

—Hã... Bom dia senhor Montenegro.

—Bom dia Ayume... Ayume?! — papai quase deixou os pratos caírem no chão — O que está fazendo aqui?!

—Ela dormiu aqui. — nós respondemos.

—Aqui? Vocês querem dizer aqui em casa? — papai arregalou os olhos.

—É. — respondemos calmamente.

—Mas aqui onde? — ele começou a balançar o dedo apontando de mim para meu irmão — Com vocês?

—Claro.

—E-eu queria dormir com Maya, mas eles... — Ayume tentou explicar.

—Quando foi que você chegou aqui Ayume? — ele a interrompeu — Por onde entrou?

—Eu cheguei perto das duas da manhã. — Ayume tossiu para disfarçar.

—E entrou pela janela. — nós acrescentamos.

—Meu Deus! — fez papai. — Seus pais sabem que você está aqui?!

Se Ayume chegou ali pelas duas da manhã e entrou pela janela, é meio obvio que os pais dela não sabiam que ela estava ali, mas tudo bem, porque como já dissemos, nosso pai é lento aos domingos.

—Bom dia... Papai. — Maya bocejou atrás de nós. — E meninos.

Quando nos viramos Maya estava parada no batente da porta da cozinha usando pijama e arrastando seu sapo de pelúcia, assim como em todo sábado e domingo de manhã.

Só que só tem um detalhe doutora: durante toda a semana Maya tem que acordar às 6h para ir para escola, aos sábados ela acorda lá pelas 7h ou 8h para ver desenho, mas aos domingos ela só acorda em torno de 9h40min e 10h, então é claro que ficamos surpresos em vê-la ali quase meia hora antes de seu horário habitual de acordar.

E para isso só havia uma explicação plausível: Sua idolatria por Ayume era tão grande que com seu sexto sentido ela sentiu que Ayume estava ali e acordou mais cedo, só para não perder a chance de vê-la, na verdade quando pensamos desse jeito é até surpreendente que ela não tenha acordado no meio da noite para ir dormir conosco.

—Bom dia Maya. — papai respondeu, distraindo-se momentaneamente de Ayume.

—Maya olha quem está aqui. — dissemos.

Maya estava esfregando o olho quando Ayume virou-se.

—Quem é?... Ayume? — ela piscou, como se não soubesse se ainda estava sonhando ou não.

—Oi Maya.

—Ayume! — na mesma hora ela largou o sapo de pelúcia e pulou de braços abertos no colo de Ayume.

Sabe doutora, Ayume tem sete anos a mais que Maya, e é também mais alta que ela uns quinze ou vinte centímetros — e isso sendo extremamente positivo — mas as duas têm praticamente quase o mesmo peso, nós sabemos, já carregamos as duas, então eu acho que Maya devia tomar mais cuidado em sair pulando assim do nada em cima de Ayume.

—Oi Maya. — Ayume repetiu — Bom dia.

—O que você está fazendo aqui?! — Maya perguntou animada, e sem largá-la.

—Eu... Dormir aqui. — nossa amiga respondeu meio sem jeito.

Esperamos Maya começar a disparar com suas perguntas, mas ela não disse mais nada, finalmente nosso pai se manifestou:

—Maya. — ele pigarreou — Você não vai perguntar por que Ayume dormiu aqui?

—Ou onde ela dormiu? — Meu irmão e eu completamos.

Maya balançou a cabeça, acomodando-se melhor no colo de Ayume.

—Não.

—Por que não? — perguntamos.

—Porque é normal que namorados durmam na casa um do outro às vezes, pelo menos foi isso que vi na televisão.

Papai se engasgou.

—Maya o que você anda assistindo na...?!

—E também. — Maya não parecia tê-lo ouvido — Ela deve ter dormido com vocês, porque não dormiu comigo, e sei que vocês não a deixariam dormir no sofá... Não é verdade, irmãos?

—Claro. — concordamos.

—Mas eu não sou namorada deles! — Ayume manifestou-se com as orelhas já vermelhas — Sou amiga!

Como sempre, Maya pareceu chateada com isso.

—Então por que dormiu aqui?

—Às vezes amigos também dormem na casa uns dos outros. — assegurou Ayume.

—Ah. — fez Maya tristonha.

—Então Ayume. — papai voltou a falar — O que você quer comer? Temos ovos, pão, queijo e presunto, eu fiz café, mas se você preferir tem Nescau também, porque as crianças odeiam café, e também tem suco na geladeira.

Já reparou que seus pais sempre tratam melhor os seus amigos quando estão de visita do que vocês mesmos?

—Hã... Pão com ovo e Nescau está bom. — Ayume respondeu.

—Claro. — ele concordou, mas ficou ali parado, e quando viu que nós também não nos mexíamos pigarreou.

—Ah tá! — nós nos levantamos.

Viu só o que eu disse?

Enquanto eu fui fazer o Nescau, Vinicius foi cortar os pães e colocar os ovos neles.

—Então Ayume. — disse papai se sentando em frente à Ayume enquanto nós nos movíamos pela cozinha — Já que você está aqui, pode me dizer quem é quem entre os dois?

—Vinicius está usando camisa e Murilo não. — ela respondeu de prontidão.

Como já dissemos antes doutora, essa habilidade de Ayume de nos diferenciar tão facilmente é irritante e fascinante ao mesmo tempo.

Papai levou em torno de quinze minutos para convencer Maya a sair do colo de Ayume e deixá-la comer em paz, a briga só foi maior porque nem eu nem meu irmão quisemos abrir mão dos lugares ao lado de Ayume, no fim papai teve que ceder seu próprio lugar para Maya e o sapo de pelúcia dela.

Ainda estávamos comendo quando o celular de Ayume começou a tocar em cima da mesa.

—Desculpe. — ela disse antes de respirar fundo e atender: — Alô?

Talvez o som do celular estivesse muito alto, ou a mãe dela estivesse gritando realmente para valer, porque meu irmão e eu pudemos ouvir tudo o que a mãe de Ayume disse do outro lado da linha:

—Ayume Guinevere Oliveira Félix. — ela parecia irritada. — Onde você está?!

Aquela foi a primeira e última vez que ouvimos o nome completo de Ayume até agora.

Ficamos meio decepcionados em saber que ela não tem nenhum nome japonês, tipo Lee... Não espera, esse ai é Chinês, né? E... Guinevere? Sério?

Ela trincou os dentes.

—Mãe. Meu segundo nome nunca deve ser dito em voz alta. Nunca. A senhora sabe disso.

—Onde você está? — a Sra. Félix repetiu.

Ayume suspirou e passou a mão pelos cabelos.

—Estou na casa de uma amiga, ok?

Na casa de uma amiga? Como assim? Ela estava na nossa casa, e nós éramos seus melhores amigos, mesmo que seus irmãos sejam muito ciumentos, por que ela não disse aquilo à mãe dela? Tudo bem que ela também é amiga de Maya, mas aquilo nos deixou, pra dizer o mínimo, bem magoados.

—Ok? Não, não está nada ok! — sua mãe respondeu. — Tem idéia do quanto você nos preocupou? Seu pai não sabe que você sumiu porque saiu cedo para o ateliê, mas seus irmãos estão loucos aqui, eles já estavam querendo ligar para a policia porque acham que você foi seqüestrada, Santiago pegou o carro para sair para te procurar com JJ, Guilherme pegou a bicicleta e saiu também.

—A culpa foi deles. — Ayume defendeu-se — Eles...!

—Apenas volte para casa, antes que um deles vá a policia mandar fazer um retrato falado e pedir por cães farejadores. — sua mãe a cortou — Onde você está? Santiago está rodando por aí de carro então vou pedir para ele ir te buscar com JJ.

—Não precisa. — ela dispensou — Ligue para eles e avise que eu já estou voltando.

Ayume desligou, guardou o celular e se levantou.

—Você já vai Ayume? — Maya perguntou tristonha.

Provavelmente ela já estava se imaginando passando o dia com Ayume.

—Sim. — Ayume respondeu — Desculpem pelo incomodo.

—Não foi incomodo nenhum, você pode voltar quando quiser. — Vinicius e eu afirmamos — Vamos levá-la para casa, pai empresta as chaves do carro.

—Engraçadinhos. — ele respondeu — Porque a menos que vocês tenham mentido a idade quando os adotamos, vocês ainda tem quinze anos, portanto não têm idade para dirigir... Mas eu posso dar o dinheiro para o ônibus.

—Não precisa. — Ayume recusou — Eu realmente posso voltar sozinha.

—O que? — fez Vinicius.

—Ayume, nós queremos te levar. — afirmei.

—Não. — ela foi definitiva. — Eu volto sozinha.

Ayume nunca nos deixou ir a casa dela, ou mesmo saber onde ela mora, ela nos disse que tem três irmãos e nos falou o nome deles, mas nunca o vimos, nem mesmo em fotos.

É triste pensar que ela é nossa melhor amiga e não nos deixar nos envolver em sua vida.

Mas deixando isso de lado, e mudando totalmente de assunto, nós realmente não entendemos como esse negócio de fofoca na escola funciona, porque de alguma forma a noticia de que Ayume havia passado a noite de sábado para domingo em nossa casa acabou se espalhando pelos corredores da escola.

E foi nessa época que Ayume começou a aparecer machucada, e também foi nessa época que ela parou de nos dar selinhos sempre que nos via, e também passou a nos proibir de abraçá-la e beijá-la.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a todos que estão acompanhando, e sintam-se a vontade para comentar, comentários grandes ou pequenos, com criticas ou não, com ou sem duvidas e teorias, ok?
Eu prometo que leio e respondo todos com muito carinho. :)



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