POV Thalia

Merda. Era a palavra que eu tinha para descrever o momento. Por que raios o Nico tinha que escolher desafio? Ah, é, porque ele é um babaca orgulhoso e idiota. Que ódio!

"Então, Nico... Vai beijar logo ou a gente vai ter que esperar até amanhã?" Silena disse.

"Ei, não é justo! É o meu aniversário! Eu não tenho nem direito de escolha?" indignei-me.

"Não" todos responderam, em uníssono, fazendo-me bufar.

Nico aproximou-se de mim, apoiando-se nos punhos, e eu prendi alguns fios de cabelo por trás da minha orelha. Ele sorriu com o canto da boca. Eu mordi meu lábio inferior, e desviei meu olhar para minhas próprias mãos, que estavam pousadas sobre minhas pernas cruzadas. Droga, por que eu estava fazendo isso? Por que eu estava agindo como se eu quisesse beijar Nico DiAngelo?

Eu podia sentir o hálito quente de Nico tocando minha face agora. Voltei a olhar para Nico, e senti meu coração acelerar ao perceber o quão perto de mim ele estava. Ele estava com as mãos apoiadas no chão ao lado do meu corpo. Eu simplesmente não estava entendendo como ele estava causando essas reações em mim. Quer dizer, eu odiava Nico DiAngelo, não é?

Mas então Nico colou seus lábios nos meus, e eu não pude terminar meu pensamento. Na verdade, a partir do momento que Nico pediu passagem com a língua, não pude ter nenhum pensamento que não fosse sobre os lábios macios dele. Eu me senti completamente envolvida por aquele beijo. Mais do que isso, eu me senti segura.

Nico segurou minha cintura, e o toque de suas mãos contra meu corpo me fez voltar a realidade. Eu abri meus olhos. O que diabos eu estava fazendo? Todos estavam vendo nosso beijo! Eu não podia fazer isso, me afetar com um simples beijo de verdade ou desafio.

Parei de beijar Nico, e afastei suas mãos da minha cintura. Ele me deu um olhar estranho, um pouco perdido com a parada repentina, mas eu apenas me afastei um pouco dele e passei a observar atentamente o chão, como se o tapete da sala fosse a coisa mais interessante do mundo. Todo mundo permaneceu mudo.

"Er... vamos continuar?" Piper disse, tentando acabar com aquele silêncio estranho que tinha ficado no ar depois de Nico e eu nos separarmos. Todos concordaram.

Ela girou a garrafa e ela apontou para Will e Piper. O Will sempre foi meio sonso, então já era de se esperar que a pergunta ou o desafio também seriam.

"Desafio." Piper escolheu, depois de pensar um pouco.

"Eu te desafio... A andar só de calcinha e sutiã na rua!"

"Que desrespeito é esse?" Leo reclamou, se levantando "Ela continua sendo a minha namorada, Solace!"

"Tudo bem, então." respondeu, meio sem graça "Vamos mudar. Piper, eu te desafio a tomar... Cinco copos de vodca!"

Piper caminhou até a cozinha e apanhou uma garrafa e um copo, enquanto todos a observavam. Encheu o copo e virou. Um copo já tinha ido... Encheu outro copo até a borda, e tomou tudo e uma vez. Eu podia jurar que o rosto dela esverdeou. Piper parecia estar passando mal, mas continuou enchendo o copo, até tomar cinco.

"Ah não..." Piper meio que sussurrou quando esvaziou o ultimo copo, e saiu correndo para o banheiro, com Leo atrás dela.

Durante os minutos seguintes, tudo que pude escutar foram os sons de Piper vomitando. Annie foi até o banheiro para ver se eles queriam ligar para o pai de Piper, mas Piper pediu que ela não o fizesse, que depois que ela vomitasse ia melhorar. Então Annabeth voltou para a sala e disse que podíamos dormir lá se quiséssemos, e que não precisávamos nos preocupar com Piper.

Will ficou se sentindo mal por causa de Piper e foi embora, mas o resto de nós aceitou o convite de Annie. Ela ofereceu os quartos, mas no final só eu, ela, o Percy, os Stolls e a Katie quiseram usar.

Fui buscar um copo d'água na cozinha antes de subir. Vi Silena se deitando em um dos sofás, e Lolie deitada no outro. Nico deitou-se no tapete ao seu lado, e ela estendeu a mão para ele, que a segurou. Eles sorriram um para o outro, e ela acariciou os cabelos dele com a mão livre. Era por isso que eu não podia pensar em Nico DiAngelo desse jeito. Ele não gostava de mim, era óbvio. E Lolie era ótima, Eu nunca poderia fazer isso com ela. Com ele. Nunca poderia fazer isso comigo mesma.

Ainda olhando aquela cena, subi as escadas e fui para o quarto de hospedes de Annabeth. Não pude acreditar no que vi. Travis e Katie deitados na mesma cama, ela com a cabeça apoiada no peito dele, ele com um sorriso bobo no rosto, ambos adormecidos. Como isso foi acontecer nos cinco minutos que eu demorei pra subir?

Sai devagar do quarto, fazendo o maior esforço para não fazer barulho e ao mesmo tempo equilibrando um copo de água. Mas o infeliz do Connor teve que trombar em mim quando eu acabei de fechar a porta, fazendo com que eu quase derrubasse o copo. O desgraçado ainda ficou rindo da minha cara de susto.

"Bem... Eu aconselharia você a não entrar aí." eu falei, séria, quando ele parou de rir.

"Por que?" ele perguntou, com uma sobrancelha levantada.

"Seu irmão. Katie" eu disse, mas ele ainda parecia confuso. "Dormindo. Juntos. Na mesma cama."

"Esse é meu mano!" o tontão falou quando entendeu, com a maior cara de orgulho. "Então eu acho que vamos ter que dormir no mesmo quarto..."

"Hã? Por que?" eu questionei, não concordando muito com a ideia de ter que dividir o quarto com ele.

"Bem, digamos que Percy e Annabeth estão na mesma situação que o meu irmão e a Katie." respondeu Connor "Então a menos que você queira dormir no quarto dos pais da Annie, nós dois vamos ser colegas de quarto por uma noite! YEY!"

Eu bufei, pensando seriamente em voltar para o andar de baixo. Mas aí eu me lembrei de Nico e Lolie dormindo de mãos dadas, e achei que seria demais para suportar.

"O.K, então, mas NÃO TOQUE EM MIM." eu destaquei.

"Calma, Thalia, não é como se eu fosse te estuprar ou algo assim." Connor disse, enquanto ria.

Ele andou até o final do corredor e virou a esquerda. Eu o segui, e nós dois fomos em silencio até o quarto dos irmãos da Annie. Ele se jogou na cama da esquerda, e me restou a cama do lado da janela.

Eu tirei meus tênis, meu agasalho e meu colar. Joguei alguns carrinhos que estavam sobre a cama no chão, e deitei-me. Enquanto me aninhava em baixo dos cobertores com estampa de super-heróis, observei o mundo lá fora, tão calmo. Observei o vento acariciando os galhos das árvores, em uma espécie de ritmo constante. Tudo parecia tão certo e seguro. Pena que dentro de mim, tudo que existia era o caos.