Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 7
Vitória




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– A 2 foi bem nessa rodada, mas está muito fácil. Vamos ver como a 7 vai se sair com essa clássica. Afinal, estamos no Japão.

O som que toca é a introdução de Ievan Polkka, da cantora holográfica japonesa Hatsune Miku. Eu sei a coreografia, mas ela não é nem um pouco glamourosa, o que me preocupa. Mesmo que a façamos perfeita, não tem como ficar impressionante. Mas preciso tentar. Liam e Kaline já estão olhando desesperados para mim, sem saber o que fazer.

Fiquem tranquilos. Eu sei a coreografia. Apenas a imitem.

Começo a mandar a coreografia de Ievan Polkka para eles. O modo como dançamos em sincronia é fofo, mas a música é mico total. As pessoas riem, e apenas algumas parecem impressionadas com nossa sincronia. Quando a música termina, Liam já está cheio de raiva. No microfone, Luca está rindo.

– Me desculpem, peguei pesado com vocês. A justiça será feita na próxima rodada, então é melhor que a 2 se prepare. Mas já estão com a segunda rodada a favor deles, agora a 7 vai ter que superar!

Enquanto a 2 comemora, Kaline tira os olhos raivosos do DJ e olha para mim, preocupada.

– O que vamos fazer?

– Fica fria, Kaline. Está tudo no esquema.

Olho para Luca, já com raiva da sacanagem que ele fez. Foi completamente injusto. Decido soprar em seu ouvido o que seria um belo presente para a 2.

– Divisão 2, - diz Luca, rindo - é hora de vocês se virarem com essa aqui!

Quando a música do Gummy Bear começa a tocar, percebo que meu plano funcionou. Antes mesmo que a 2 comece a dançar, todos em volta já estão rindo. Como das vezes anteriores, eles improvisam com um passo comum, mas que está no ritmo. Só que antes, a situação estava aceitável. Com a música do Gummy Bear, não tem jeito. Os infinites começam a vaiar, e eu me divirto com isso. Mas tenho muito o que fazer durante esta distração. Tenho que planejar a próxima dança. A primeira coisa que faço é soprar Timber Playback no ouvido de Luca. Lá de cima, ele parece considerar uma boa ideia. Corro para o pequeno palco que vi quando entrei no Festplace. Há apenas alguns instrumentos e equipamentos. Por sorte, encontro um violino. Ele não é como o do Jardim Musical, é feito de vidro branco e transparente. Todos os instrumentos que vejo são assim. Eles não parecem estar ligados a nada através de fios, mas eu não esperava que estivessem. Alguns suportes possuem pequenos aparelhos brancos que parecem ser microfones. Pego o violino, o arco e três microfones e volto. A música está quase acabando. Deixo o violino sobre a mesa e distribuo os microfones. Ainda estou ativando o microfone quando a música acaba. Durante a fala de Luca, ajeito o microfone no meu ouvido.

– Sensacional! – Ele gargalha. – Vocês são bons em pagar mico. Agora é a vez da 7 se virar.

A música começa, e eu ando lentamente para a frente. Passo a coreografia para eles pela mente. Começo a cantar e dançar, e eles fazem como eu. Na parte melódica, ficamos de lado, indo para frente e para trás num ritmo contagiante. Em seguida, Liam toma a frente cantando o rap, que alguns segundos atrás, eu tinha descoberto que ele sabia perfeitamente. Tanto ele quanto Kaline gostavam muito dessa música. No refrão seguinte, conforme o que eu passei pela mente, eles se uniram na frente. Kaline cantou o refrão e os dois fizeram a coreografia, enquanto eu fui buscar o violino. O refrão duplo me deu bastante tempo para me preparar e me posicionar atrás deles. No fim do refrão, eles abriram espaço para mim, e eu entrei tocando a melodia. As pessoas ficaram surpresas e aplaudiram. As caras dos meninos da Divisão 2 me deixaram com muita vontade de rir. Depois do meu solo, Liam voltou com o rap. Eu e Kaline fizemos juntas outro tipo de coreografia, um pouco mais atrás, uma de cada lado. Eu ainda estava com o violino. Na parte mais intensa do rap – sim, acredite, - eu e Kaline ficamos rebolando até o chão. Eu odeio dançar dessa forma, e percebi que Kaline também, mas gerou um efeito bem legal, principalmente com nossa sincronia. Em sua mente, Kaline se sentiu aliviada quando o refrão voltou. Dessa vez, nós duas cantamos juntas, e os três dançaram. Na segunda parte, eu sai de perto deles, e discretamente subi na mesa. Quando estava chegando na parte melódica, eles vieram para perto da mesa e dançaram como da primeira vez, só que mais intensamente, enquanto eu tocava. As pessoas estavam contagiadas. Quando terminamos, quase não dava para ouvir a voz de Luca, de tão agitado que estava o público.

– É inacreditável, senhoras e senhores. A Divisão 7 realmente se superou e fez todos esquecerem os Vocaloids! Sem dúvida nenhuma, são os vencedores! Oh, mas esperem! A Divisão 2 está pedindo uma revanche? - O quê? Olho rapidamente para os três, que parecem realmente indignados. Provavelmente acham injusto comparar Kesha e Pitbull com o Gummy Bear. – Dessa vez, para não haver nenhum tipo de injustiça, as duas divisões vão dançar a mesma música. E, para pegar a inspiração da Divisão 7... – Duas infinites apareceram com microfones como os nossos e entregaram para eles. Assim, a coisa ficaria feia. – Quero ver todo mundo cantando com playback!

– Pensei que essa palhaçada já tinha acabado – sussurra Liam, enquanto me ajuda a descer.

– Vamos finalizar com estilo – disse Kaline. – Temos que jogar na cara deles que somos realmente bons improvisadores. Amy, mande uma boa ideia para aquele DJ desgraçado.

– Não dá. – Digo, enquanto penetro nos pensamentos de Luca e descubro algumas coisas. - Ele já escolheu a música. Mas escolheu muito bem. Ainda temos algo que a 2 não tem.

A música Wake Me Up, do Avicii, começa a tocar. Como não há muito tempo entre a introdução e a parte cantada, a 2 é meio pega de surpresa. Eles demoram a identificar a música e a parte de entrada, e, sem jeito, eles começam a cantar atrasados. Enquanto isso, eu peço para Liam pegar uma cadeira. Colocamos a cadeira com as costas viradas para eles. Eu subo na cadeira, e Liam e Kaline se posicionam um de cada lado. No refrão, eles começam a bater palmas no ritmo da música, o que é uma boa jogada. As pessoas começam a fazer o mesmo. Os meninos andam pela pista, tentando fazer o público se concentrar na música e não neles. Christian canta enquanto os outros batem palmas. Ele começa a se preparar para uma coreografia qualquer que começa na parte melódica, mas quando ela chega, todos são pegos de surpresa.

Com a perna esquerda sobre o baixo respaldo da cadeira, começo a tocar. Em suas posições, bem próximos a mim, Kaline e Liam batem palmas, com as mãos direcionadas para fora. Quando a batida fica forte, Liam e Kaline começam, no mesmo instante a dançar uma coreografia elaborada, mas ao mesmo tempo fácil e contagiante. Basicamente, perna direita para frente, depois perna esquerda para trás, depois direita para a direita, e em seguida, esquerda para a esquerda. Na segunda parte forte, eu desço e danço com eles. Quando a parte cantada volta, é Kaline quem toma a frente com sua bela voz. Perto do refrão, ela começa a imaginar uma coreografia, e eu a transmito para Liam como da primeira vez. Percebo que a coreografia exigirá muito mais movimento, e deixo o violino e o arco na cadeira. No refrão, dançamos a coreografia de Kaline, que fica maravilhosa. Kaline toma conta da música e da coreografia até a volta da parte melódica. Há uma transição entre as duas, que é a repetição do último verso do refrão de forma mais melódica. É durante essa transição que eu pego o violino para fazer a parte final, que é executada como a primeira parte melódica. No final, estamos na mesma posição que começamos. Se é que isso é possível, as pessoas estão ainda mais agitadas, e eu, ainda mais feliz.

– E mais uma vez, a 7 prova ser melhor no improviso! – Diz Luca. - É, 2, vocês tentaram e tentaram, mas não teve jeito! A 7 é a grande vencedora!

– Alguém pode me explicar o que aconteceu naquela pista de dança? Amy?

– Não sei que consigo... Exatamente… Explicar, Kaline. Eu simplesmente descobri que posso ver o que estão pensando e passar para vocês o que eu penso.

– Ou o que consegue captar. Captou minha coreografia e passou para Liam.

– Isso.

Minha pele se arrepia com um sopro gelado de uma margarita.

– Você foi incrível, hein... Ganhamos graças a você.

– Para com isso, Liam. Não foi nada.

– Não teria sido nada se não fossem suas incríveis habilidades, professora Xavier.

– Que habilidades? Só descobri a telepatia.

– Nossa, “só” isso, - disse Kaline, pegando seu copo de margarita que tinha acabado de chegar no balcão - sem falar nas ideias geniais e da habilidade musical, tanto no canto como no violino.

– Parem com isso, os dois, estão me deixando sem graça. Já entendi o que acharam do duelo, mas ainda tenho algo martelando na cabeça... Como eu consegui me comunicar com vocês? E não é só isso. Mais cedo eu... Entrei na parede.

– Entrou na parede? – Perguntou Kaline, rindo. - Então você é um fantasma, é isso?

– Não é qualquer parede. Só os wallpapers. Eu entrei no wallpaper da Anne.

– Amy, o wallpaper da Anne é só um céu com nuvens que arrastam livros pra lá e pra cá.

– Não, Liam. É muito mais. Eu consegui colocar a Anne lá dentro, e nós voamos por todas aquelas nuvens... É muito maior do que parece.

– Amy, se eu não soubesse que as nossas bebidas são diferentes das dos humanos, eu diria que você bebeu demais.

– Sei que é difícil de acreditar, Kaline mas eu não estou aqui para discutir isso. Estou aqui para saber porque só eu consigo entrar nos wallpaper e me comunicar por telepatia.

Liam e Kaline tomam e sopram as margaritas enquanto tentam pensar em alguma explicação. Eu estou tão confusa que nem quero tomar nada. Depois de algum tempo apenas com o barulho da música – Summer, Calvin Harris – e dos sopros de bebida, Liam se manifesta.

– Primeira coisa. Essas duas habilidades são parecidas. Afinal, wallpapers são feitos de pensamento. Entrando neles, tudo o que você está fazendo é penetrar nossas mentes, como fez no duelo.

– Pensando por esse lado – diz Kaline, soprando – é mais fácil acreditar na história dos wallpapers. Começa a fazer sentido.

– Segunda coisa – continua Liam - Não me surpreende que você tenha habilidades a mais do que nós.

– Por que não? – Pergunto, franzindo o cenho.

– Porque você é a primeira infinite.

– Lá vem você com esse papo...

– Pense, Amy. Você foi a primeira a receber o soro fotossintético, e foi a única a aceita-lo sem os efeitos colaterais que causaram a morte de várias e várias pessoas. Para que a nossa população infinite fosse criada, o soro teve que ser modificado várias e várias vezes.

– Está querendo dizer... – Diz Kaline, largando o copo com bastante interesse. – Que o soro que transformou Amy em infinite não é o mesmo que nos transformou, e que por isso algumas coisas podem ser diferentes.

– Pode ser até que tenhamos essas habilidades escondidas, e que a grande habilidade diferenciada de Amy seja a capacidade de desenvolver a telepatia mais rápido.

– Nem sei se podemos chamar isso de telepatia – eu digo, enquanto penso no que eles acabaram de falar. Será que eu sou mesmo diferente? - Ainda há mais um ponto nisso tudo. Eu fiquei muito tempo no laboratório. Ninguém sabe o que aconteceu lá dentro, não sabiam nem que eu estava lá. Mas quem garante que não fizeram mais alguma experiência enquanto eu dormia?

– Além disso, - lembra Kaline – o simples fato de você ter hibernado por anos e anos pode ter feito com que você desenvolvesse essas habilidades.

– Estão vendo? – Disse Liam, pegando o copo no balcão. – O que não faltam são motivos para que Amanda Cole seja uma infinite diferente de todos nós. Ela é a primeira infinite, mas acham que isso não é nada demais. Eu sou, provavelmente, a única pessoa que viu que ela era diferente, desde o início.

Liam me acha diferente, desde o início. Esse comentário me deixa um pouco nervosa. Sei que ele está se referindo a um diferente bom, não só porque minhas habilidades não são repulsivas, mas também porque posso ver. Na mente dele, estão passando memórias boas, da primeira vez que ele me viu, de quando me salvou, de tudo o que aconteceu na nave. E ele esta olhando direto para mim.

– Pode parar de ler minha mente agora – diz ele, desviando os olhos. As memórias desaparecem, e eu me desligo.

– Desculpe – digo, embora esteja pensando se... – Está escondendo alguma coisa de mim?

– Todas as pessoas têm segredos, senhorita Cole – ele toma um gole de margarita. – É direito delas que eles não sejam revelados. – A frase soa com um caráter repreensivo para mim, mas o sopro de margarita que vem sobre mim logo depois faz com que um sorriso apareça em mim. – Você vai saber um dia, Amanda Cole. Por ora, leia isso.

Ele estica a cabeça um pouco para a frente. Ele quer que eu leia o que ele está pensando. E eu consigo ler.

“Vamos dançar”?

– Eu estava pensando nisso. Você vem, Kaline?

– Onde?

– Vamos dançar.

– Obrigada, já dancei demais por hoje. Podem ir.

Arrasto Liam para a pista de dança. Dançamos Treasure, do Bruno Mars, durante alguns minutos e eu não resisto. Mando um pensamento para ele.

“Tem coisas nos homens que não precisamos de telepatia para descobrir”.


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