Infinite escrita por Jéssica Sanz


Capítulo 6
Festplace




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– Você teve a melhor ideia de todas, Amy.

– Foi só o começo, você fez o trabalho duro.

– O que importa é que você está linda, agora.

Ouvimos um som de flauta. Deve ser o Liam. Meu coração começa a bater mais rápido. Anne corre para a cama e pega o livro. Vou para a porta e dou o comando de abrir. A porta desliza, revelando um belo Liam, com camisa de folhas aberta sobre a blusa de casca. Ele parece um pouco impressionado com meu visual diferente.

Estou com botas de salto alto e blusa de manga comprida feitas de casca. Minha calça e o crooped ombro caído são feitos de folhas. Mas acho que o que tem de mais diferente é o meu cabelo solto.

– Nossa – murmura ele, olhando para mim.

– O que foi? – Pergunto, colocando a teimosa mecha esquerda atrás da orelha.

– Você está...

– Linda, maravilhosa, deslumbrante! Não é mesmo, Liam?

– Boa noite, Anne. Não vai com a gente?

– Nah! Prefiro meus livros.

– Então tá. Vamos, Srta. Cole?

– Estou pronta, Sr. Henz.

– Tchau, Anne!

– Divirtam-se!

– O Festplace, o lugar para quem quer se divertir.

– Uau.

O Festplace é um lugar bastante agradável. Música eletrônica, focos de luz coloridos, um pequeno palco sem nenhuma atração no momento, bebidas à vontade e jogos suficientes para fazer o lugar parecer um cassino. Logo adiante, vemos Kaline jogando sinuca. Ela parece ser muito boa nisso, e com certeza não parece uma comandante.

Kaline usa um vestido de manga comprida única, feito de folhas. O cinto, a calça e a bota são feitos de casca. O belo cabelo cacheado está solto, e as mechas esquerdas estão presas para trás. Ela sorri para nós.

– Até que enfim, apareceram! – Diz ela, logo antes de uma bela tacada, que manda três bolas direto para as caçapas. As pessoas que estão jogando ou assistindo aplaudem. Enquanto aplaudimos, Kaline deixa o taco e vem até nós.

– Parece que alguém aqui tem talento para sinuca, além de comandar a melhor Divisão da Tropa.

– Amy! Que bom que você veio!

– Não perderia isso. Então aqui é o tal Festplace?

– Sim. Liam, que tal ir com a Amy pegar uma bebida enquanto eu termino meus assuntos aqui?

– Boa ideia. Vem, Amy.

Sigo Liam até o balcão de bebidas, embora eu tente explicar que não quero.

– Eu não bebo, Liam. Nem sei se tenho sistema digestório pra isso.

– Duas margueritas, por favor.

– Você ouviu eu falar que não bebo?

– É uma bela noite para uma estreia.

– Não vou beber isso, Liam.

– Me dê um motivo.

– Faz mal.

– Errado. Esses aqui não fazem, não são como os dos humanos.

– É ruim.

– Como sabe se não provou? Nunca vai ter certeza se não provar.

– Nosso sistema digestivo não é feito pra isso.

– Ah, sim, claro que a Nave Nyah disponibiliza algo que não podemos tomar! A bebida é feita de uma maneira especial, que nos permite toma-la e sentir seu sabor. É uma tecnologia desenvolvida. Anda, vai – nesse momento, o barman coloca as duas bebidas sobre o balcão. Liam pega as duas e me oferece uma delas. – Só um golinho.

Reviro os olhos e pego. Olho bem para a margarita, pensando se realmente devo toma-la.

– O que foi? – Pergunta Liam. – Tá com medo, é?

Fico com raiva dele. Como ele pode achar que eu tenho medo disso? Eu não tenho medo! Ah, ele está fazendo isso pra me provocar. Mas vai ter troco.

– Medo, eu? Ai, você ainda não aprendeu, Liam? Mesmo depois de eu ter entrado para a Divisão 7 sem sua permissão? Mesmo depois de eu não desistir sabendo que meus pais morreram? Liam Henz, você acha que sabe tudo sobre mim, mas não sabe nem um pouquinho.

Bato levemente meu copo de margarita no copo de um Liam boquiaberto. Em seguida, tomo o líquido, que deixa em minha boca um sabor maravilhoso, um doce perfeito, um toque azedo, uma sensação incrível. E quando eu pensava que tudo de bom já havia acontecido, me surpreendo completamente. O sabor, que começava a se extinguir em minha boca, retorna para ela de onde veio, mas não é uma sensação de vômito. Não é... Líquido. É uma sensação gostosa, levemente ardente, como um calorzinho morno. Não acredito, a bebida realmente está voltando. Em forma... gasosa. Minha boca se enche de vapor, e eu o sopro no rosto de Liam. Ele fecha os olhos para receber a brisa, e seu sorriso se transforma em uma gargalhada.

– Uau.

– Viu? – pergunta ele, ainda rindo. – Não precisa de sistema digestório.

– Porque não vamos digerir nada. Então qual é o sentido?

– Sabor. E, antes que comece a se preocupar com isso, senhorita esperta, já foram feitos estudos que comprovam que nossas bebidas não nos estragam. E ainda bem que você não provou a original.

– Original? Que original?

– Margarita humana. Não é tão boa quanto essa, e pode fazer mal.

– Entendi.

Liam toma um gole de sua margarita, e eu faço o mesmo. Segundos depois, sopramos a bebida em forma de vapor um no rosto do outro e rimos, quase sem notar a aproximação de Kaline.

– Adivinhem quem é campeã da sinuca de novo? – Ela cai na gargalhada e se debruça no balcão ao meu lado. – Mais uma margarita, por favor. – Ela olha para mim. – Já tinha tomado isso, Amy?

– Primeira vez. Mesmo.

– É, minha amiga, você perdeu muita coisa enquanto estava dormindo.

– Eu sei. Queria que tivessem implodido aquele laboratório antes. Mesmo que eu tenha passado parte da minha vida lá, desenvolvido o projeto do soro fotossintético, enfim... Foram muitas conquistas lá, muitas coisas que vivemos. Ele tinha um grande significado para mim. Mas agora... Não me serviria de nada se estivesse de pé.

– Christina Mendez teve uma ideia boa – diz Liam, entre uma soprada e outra. – Mas ela prolongou isso demais. O erro dela foi não ter programado a abertura da cápsula. Não foi só você que esteve perdendo o mundo, Amanda Cole. O mundo estava perdendo você.

Olho para a superfície branca do balcão, iluminada por leds interiores. Penso no que eles estão dizendo por alguns segundos. Sempre sinto vontade de culpar Christina Mendez por tudo, mas não consigo. Não sei por que, é como um instinto.

– Bom, - diz Kaline, animadamente soprando um pouco de Margarita. – Não viemos aqui para isso. Viemos nos divertir! Esqueceram?

– Então é o que vamos fazer – digo. – Kaline, nos guie.

– Por aqui.

Kaline nos leva para a pista de dança. O chão é feito de vidro, e sob ele podemos ver leds coloridos imersos em água, mesmo com o ambiente escuro que nos é propiciado. As luzes dançam sobre nós enquanto dançamos sobre elas. A música que está tocando não é elotrônica, o que eu acho estranho. Não é uma música japonesa, nem nova, já que eu conheço. É Titanium, do David Gueta.

– Essa música ainda existe?

– O que quer que façamos, bonitinha? – Diz Kaline, tomando um gole de margarita. – Não existem mais cantores, bandas, shows, nada disso. Nos viramos com o que temos, e com o pouco que produzimos aqui. – Ela sopra a bebida.

– As produções musicais da nave raramente aparecem no Festplace – explica Liam. - Elas são mais usadas para relaxar no quarto e coisas do gênero, mas são muito boas.

Ouço uma voz desconhecida e levemente autoritária. Um homem que vem por trás de Kaline. Ela revira os olhos e se vira para ele, enquanto ele fala.

– Olha só quem apareceu por aqui! Comandante Kaline Bogard, Divisão 7.

– Você não é o único comandante que tem direito à diversão, Christian.

– Obviamente não, mas me surpreende que você tenha se dado esse direito. Mas, já que está aqui para se divertir, vamos fazer algo realmente... divertido. Eu vi que você trouxe seus combatentes. Liam Henz, o senhor marrentinho. E Amanda Cole, a mais nove tripulante da Nave Nyah. Que tal um duelo?

Olho em volta. As pessoas começaram a nos cercar, esperando ansiosamente que algo extraordinário aconteça. Percebo que Kaline também olha ao redor, agora, a imagem dela e da Divisão está em jogo. Ela olha para o tal de Christian, e solta um fiapo de risada.

– Duelo? Na pista de dança do Festplace? O que exatamente está nos propondo, Christian Willow?

Christian olha para dois garotos atrás dele. O comandante parece ser um pouco mais velho que Kaline. Um dos garotos parece ser da idade dela, mas o outro é bem mais novo. O cabelo de Christian é comprido e repicado, sugerindo que ele quer parecer mais jovem do que realmente é. Um dos garotos tem o cabelo muito curto, e o cabelo do outro é encaracolado. As roupas de todos eles são joviais. O casaco de “moletom” de um deles, feito de folha, me chama a atenção. O outro, de cabelo encaracolado, parece usar uma camiseta de folha sobre uma blusa de casca de manga comprida.

– Não está bem óbvio para o lugar onde estamos? Apenas uma brincadeira amigável entre as pacíficas divisões 2 e 7. Ei, o que vocês acham? – Christian pergunta para as pessoas ao redor, e todos aplaudem, gritam e se animam. – Vamos lá, Kaline. Eu e meus meninos contra você e seus meninos.

Kaline olha para nós, ao som da agitação dos infinites. Eu dou de ombros, mas Liam acena com firmeza. Kaline olha para a frente.

– Nós topamos.

As pessoas aplaudem, e os grupos começam a se preparar. Nós deixamos os copos de margarita em uma mesa próxima Eu e Liam andamos juntos para trás.

– Quem é esse cara?

– Christian Willow, comandante da Divisão 2. Ele e Kaline fingem ser rivais, mas na verdade é outra coisa.

– Entendi.

– Não se preocupe, Amy. Isso não tem nenhum propósito ou valor. Ele não mentiu quando disse que é apenas uma brincadeira amigável, apesar de seu tom de voz sugerir algo diferente.

– Preparem-se para esmaga-los, combatentes – diz Kaline, se aproximando de nós, sem tirar os olhos raivosos do pessoal da 2.

As pessoas abriram um grande círculo na pista. De um lado, estávamos nós, e do outro, o pessoal da 2. Christian foi ao centro e começou a falar, com toda pompa.

– Então, pessoal, vai ser assim. O nosso DJ, Luca Vane, irá escolher algumas músicas. As Divisões revezarão suas vezes de dançar. Quem não souber improvisar bem, na coreografia, perde!

O público grita, empolgado. Kaline vai até o centro, onde Christian está. Ela estica o dedo, e uma pequena folha brota. Ela arranca a folhinha e a ergue no ar.

– Lisa ou áspera?

– Áspera! – Diz Christian. Kaline solta a folha, que cai aos poucos, conforme o ar permite. Todos se esticam para ver a folha no chão de vidro. A folha caiu com a face para baixo. A Divisão 2 comemora. – Isso! Será que isso quer dizer alguma coisa, comandante Kaline?

– Quem ri por último ri, melhor, meu caro.

Kaline volta para nós, rindo, assim como Christian.

– Vamos lá, galera! – Diz Luca, de seu posto acima de nós. – Vocês vão me ajudar a decidir o melhor de cada uma das três rodadas! Agora, é vez da Divisão 2. Improvisem essa!

Começa a tocar a música Happy, do Pharrel Williams. Os membros da 2 se entreolham. Christian começa a dançar de um jeito aleatório, para um lado e para o outro, e os companheiros imitam, desajeitados. Depois, eles começam a entrar em sintonia. As pessoas começam a gostar, aparentemente. Quando a música acaba, as pessoas aplaudem.

– Muito bem, Divisão 2! Vamos ver como a 7 reage a essa aqui.

Começa a tocar Am I Wrong, de Nico e Vinz. Kaline começa a mexer o corpo como se houvesse uma energia percorrendo seu corpo, eu e Liam tentamos imitá-la, mas cada um mantém sua originalidade. Nos movemos pelo espaço dançando do jeito que Kaline começou. Está aceitável, mas tenho certeza de que não conseguiremos ganhar desse jeito. Por algum motivo, penso que Kaline está pensando em um passo específico para o refrão. Primeiro, deixamos o pé esquerdo parado e damos um passo para o lado com o direito. Aí o pé volta e fazemos o mesmo com o esquerdo. Olho para Liam, e tento transmitir essa ideia. É uma tentativa boba, mas Liam olha para mim como se tivesse entendido. Mas é impossível que ele saiba o que fazer só com um olhar. Quando se a música se aproxima do refrão, nos posicionamos um ao lado do outro, Kaline um pouco à frente. O refrão chega, e nós três executamos o passo com perfeita sincronia, sendo aplaudidos por isso. Penso em mudar a posição noventa graus à direita no segundo Am I Wrong do refrão, e quando ele chega, Kaline e Liam parecem ter tido a mesma ideia.

Precisamos mudar mais do que isso. Começar a girar na hora exata em que o Feel do quinto verso é cantado, por causa da boa vibe da melodia que o segue. Tento transmitir esse pensamento para Liam e Kaline, e bem na hora do Feel, começamos a girar em nossos lugares, devagar, aproveitando o som. Nos viramos da mesma maneira até o fim da música, e no final somos aplaudidos.

– É isso aí, Divisão 7! Impressionaram, mas a 2 não foi nada mal. Tá difícil decidir, que tal mais uma rodada? Segura essa, Divisão 2!

O som que começa a tocar com certeza é de Wiggle, do Snoop Dogg. Eu odeio essa música. Os meninos se viram imitando seu comandante. Eles são bons em imitá-lo, o problema mesmo é a falta de criatividade de Christian Willow. Enquanto eles dançam, Kaline chega perto de nós e cochicha.

– Alguém sabe o que aconteceu?

– Acho que sei – digo, mas sei que não há tempo para explicar.

Acho que vocês podem me ouvir, então façam o que eu disser e podemos ganhar.

Transmito esse pensamento para eles, e os dois olham para mim, um pouco assustados. Mas parecem ter compreendido.


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