A viagem de volta a São Francisco foi tranquila. Passei a maior parte do tempo dormindo.

Quando chegamos, Caleb estava a nossa espera no aeroporto, apenas ele sabia o horário do nosso voo. A princípio eu tinha dito a Anna que voltaria no fim da tarde, mas depois da minha discussão com Tobias, fiquei sem ânimo para ficar mais tempo em Nova Iorque, sem falar na saudade da Sophia. Por isso, resolvi voltar mais cedo, mas não avisei Tobias, ele não estava atendendo minhas ligações e eu achei melhor não enviar nenhuma mensagem.

Ficamos em silêncio durante todo o caminho até a minha casa e quando chegamos, Caleb desceu para pegar minhas coisas no porta-malas do carro.

–Você vai ficar bem? – Perguntou Susan.

–Vou sim Su – Respondi enquanto abria a porta do carro.

–Se precisar de alguma coisa me liga – Disse Caleb enquanto colocava minha mala no chão.

–Pode deixar – Disse e o abracei – Obrigada maninho. Te vejo amanhã Su – Terminei soprando um beijo para Susan dentro do carro. Ela sorriu em resposta.

–Ei – Gritou Susan quando eu estava perto da porta. Me virei para ouvir – Conte a ele!

Vi quando Caleb fez uma cara de confuso e revirei os olhos. Depois deu um tchauzinho de longe e me virei para entrar.

Assim que coloquei meus pés em casa eu senti o maravilhoso cheiro da comida da Anna. Meu estômago reagiu no mesmo instante. Roncou tão alto que eu poderia ter confundido com um arroto.

Deixei minha mala ao lado da porta e andei devagar até a cozinha. Anna estava de costas cortando alguns tomates. Dei duas batidas na porta do armário para chamar sua atenção, não queria assustá-la. Ela se virou e abriu um enorme sorriso a me ver.

–Menina! – Ela largou a faca e secou as mãos em um pano, depois veio de braços abertos me receber – Como senti sua falta! Como você esta?

–Estou bem Anna, foi tudo muito bom lá, mas não há nada melhor do que estar em casa de novo. E pelo visto eu cheguei bem a tempo para o almoço – Anna sorriu – E Sophia?

–Tobias a levou ao parque. Ela estava muito agitada hoje por que sabia que você ia voltar, então ele a levou para se distrair.

–Ahh entendi – Respondi – Eu vou tomar um banho e descansar um pouco até eles chegarem tudo bem?

–Vai sim menina. Eu pedi que eles não perdessem o horário do almoço, então daqui a pouco eles estarão aí. Pode deixar que eu te aviso assim que eles chegarem.

–Nem vai precisar Anna – Disse enquanto caminhava até as escadas – Sophia é um furacão, eu vou saber quando eles chegarem.

Anna ficou rindo e eu subi para o meu quarto. Tirei minha roupa e entrei no chuveiro. Eu estava cansada de novo, e com sono. Vivo com sono.

Fiquei uns bons 15 minutos no chuveiro e quando estava prestes a sair escutei a porta do meu quarto bater.

Desliguei o chuveiro e me enrolei na toalha. Quando saí do banheiro vi Tobias parado perto da sacada com as mãos enfiadas no bolso da frente, olhando para fora. Isso era sacanagem, ele sabe o quanto eu gosto disso?

–Oi – Eu disse, na tentativa de fazer ele se virar, apesar de saber que ele me viu ali. Ele não respondeu.

Ele ia continuar de cara virada para mim? Ok!

Fui até o closet e resolvi apelar. Escolhi uma roupa confortável e deixei a toalha cair enquanto vestia minha lingerie. Percebi que ele já havia se virado e estava me olhando.

Meu sutiã já estava começando a ficar apertado e meus seios bem maiores que o normal. Isso era o bônus de estar grávida, seios enormes que eu nunca tive.

Senti que Tobias ainda estava me olhando, então peguei um pouco do meu hidratante de morango e comecei a passar nas minhas pernas. Esperava que ele fizesse alguma piadinha, mas ele não disse nada.

Terminei e vesti o meu short, depois me virei e ele estava mesmo me olhando, mas, como é muito orgulhoso, ele ia disfarçar. Muito previsível! Ele não sabe que nesse jogo eu sou melhor que ele?

Peguei meu celular em cima da cama e vi duas ligações da Christina, tirei meu celular do modo avião e saí do quarto. Quando cheguei na sala, Anna estava tentando convencer Sophia de largar um algodão doce.

–Sophia?

–Mamãe! – Ela gritou, depois veio correndo me abraçar, as mãozinhas dela estavam melecadas de doce.

–Oi meu amor, senti muita saudade de você pequena - Disse abaixando para ficar na altura dela.

–Eu também mamãe! – Olhei a carinha dela, as bochechinhas rosadas e o cabelo preso no alto. Meu anjinho.

–E esse doce hein mocinha? – Ela escondeu as mãos com o doce nas costas – Sophia? Sabe que não deve comer doce antes de almoçar filha – Ela suspirou e me entregou o doce.

–O papai deixou!

–Ela queria comer doce, estava ansiosa, não é isso que vocês mulheres fazem quando estão nervosas? – Disse Tobias. Nem vi ele chegar atrás de mim.

Não disse nada, apenas me levantei, dei uma boa olhada feia para Tobias depois peguei a mão de Sophia para lavar e tirar o grude do doce.

Quando voltei a sala, Tobias estava largado no sofá assistindo algum programa esportivo e Anna estava arrumando a mesa para almoçarmos.

Depois do almoço meu sono bateu forte, mais forte do que antes. Mas eu queria recuperar meu tempo com a Sophia, então fui brincar com ela. Fiquei o resto da tarde brincando com ela, até que ela própria ficou cansada e adormeceu no tapete do quarto.

A coloquei na cama e fui até meu quarto descansar um pouco, deitei na minha cama e puxei meu edredom. Adormeci logo em seguida.

Não percebi, mas dormi direto, a noite toda. Acordei no dia seguinte me sentindo mole de tanto dormir, eram 06:00 e por milagre, Tobias ainda dormia do meu lado. Me levantei e tomei um banho, estava decidida a chegar mais cedo na agência.

Arrumei tudo, levei Sophia na escolinha e corri pra agência, cheguei junto com a Susan.

–Bom dia Tris! – Ela disse.

–Bom dia Su – Disse dando um beijo em seu rosto. Esse é o máximo que eu consigo como interação às 08:00 da manhã.

–Como foi lá? Tobias ainda está muito bravo?

–Ele esta me evitando, esta com um bico enorme ainda – Disse bufando ao lembrar.

Susan riu.

Fui para a minha sala e comecei a preparar a campanha de uma loja de roupas que nos contratou antes da viagem. É uma loja nova, pequena, mas acreditamos que esses pequenos trabalhos, um dia, nos dará grande abertura no mercado.

Fiquei tão entretida na pesquisa que eu estava fazendo que me assustei ao ouvir o telefone da minha mesa tocar. Era uma ligação interna.

–Tris?

–Oi Carli, pode falar.

–Tem uma senhora aqui e gostaria de falar com você.

–E qual é o nome dela?

–Ela não disse, só disse que é urgente! – Carli sussurrou. Respirei fundo. Quem poderia ser?

–Ok Carli, peça para ela entrar.

Desliguei a chamada e ajeitei minha papelada. Olhei meu celular e já estava quase no horário de almoço, senti meu estômago reclamar.

Carli deu duas batidas na porta e em seguida abriu. Ela sorriu para mim e depois abriu passagem para uma mulher entrar. Ela tinha longos cabelos castanhos, pele clara e olhos claros, não identifiquei se eram verdes ou um castanho muito claro. Ela era bonita.

–Bom dia – Ela disse sorrindo – Não queria te incomodar, mas eu preciso muito falar com você Beatrice.

Fiz um sinal com a mão para ela se sentar e me sentei também.

–Em que posso ajudar... – Fiz uma pausa para que ela dissesse seu nome, já que ela não quis revelar a Carli.

–Eu me chamo Evelyn – Ela fez uma pausa e pude perceber que ela estava me analisando – O Tobias nunca falou de mim?

Aquilo tava cada vez mais estranho. O que ela tem a ver com o Tobias?

–Não! Deveria? – Perguntei.

–Sim... Ou não. Não sei. Eu e ele não nos vemos tem muito tempo, eu tenho tentando falar com ele faz vários dias, mas ele tem me evitado, por isso vim falar com você.

–Desculpe, não estou entendendo.

–Eu sou a mãe do Tobias, Beatrice! – Mãe? Ele já me falou da mãe, me disse que ela o abandonou quando ele era criança, por causa das traições do Marcus – Eu fui embora de casa e Tobias nunca me perdoou por isso. Ele não entende os meus motivos e não aceita me encontrar para que eu explique a ele.

–Então... Foi com você que ele esteve falando nos últimos dias – Não foi uma pergunta, foi uma afirmação que fiz a mim mesma.

–Sim, eu soube que ele estava trabalhando com o Marcus e achei que era a oportunidade perfeita de falar com ele, de outra forma eu não teria conseguido, Marcus jamais me daria o contato do Tobias. Eu estou esperando essa oportunidade a muito tempo.

–O Tobias esta trabalhando com o Marcus a 4 anos, por que só agora você se aproximou? – Aquele interesse dela estava me deixando desconfiada.

–Eu estava fora do país. Depois que eu saí de casa, eu vivi um tempo sozinha e depois me casei, tentei levar o Tobias para morar comigo, mas ele não quis. Então me mudei para a Espanha, vivi lá até o ano passado, quando me divorciei e voltei para cá. Assim que cheguei eu contatei o detetive que encontrou Tobias para mim da primeira vez. Ele me disse que o Tobias havia se formado em Stanford e estava administrando a Essence junto com o pai. Tentei falar com o Marcus, mas ele se recusou a me ajudar. Então, consegui convencer a secretária do Tobias e ela me deu o número do celular dele.

–E o que o Tobias disse quando você o procurou?

–Ele não quer falar comigo. No começo desligou na minha cara, e conforme eu fui insistindo, ele foi falando comigo um pouco mais antes de desligar, mas ele se recusa a encontrar comigo. Ele não me deixou nem falar sobre o irmão.

–Irmão?

–Sim, Tobias tem um irmão. Como eu disse, me casei de novo, e eu tive um filho nesse casamento e ele tem hoje 10 anos. Se chama Thomas. Ele quer conhecer o Tobias.

–E você veio me procurar por que espera que eu te ajude com isso?

–Sim, eu esperava que você estivesse sabendo a meu respeito e que pudesse me ajudar a convencê-lo – Eu também esperava saber a respeito, mas Tobias não me disse nada, e pelo visto nem pretendia me contar. Evelyn continuava me olhando e esperando uma resposta.

–Eu... Eu preciso absorver tudo isso e preciso conversar com o Tobias – Ela se levantou e ajeitou a bolsa nos ombros.

–Tudo bem – Antes de sair ela hesitou – Se eu puder, gostaria de te pedir uma coisa – O que mais?

–Eu sei que ele tem motivos de sobra para não querer me ver, eu mereço isso. Mas o Thomas se sente sozinho e acho que ele merece conhecer o irmão, ele não tem culpa.

–Tobias também se sentiu sozinho, por anos – Apontei. Ela suspirou.

–Como eu te disse, eu mereço isso, mas o Thomas não. E mesmo que ele decida não aceitar a mim ou o irmão, eu gostaria de pedir a você que me permita conhecer a minha neta – Senti meu sangue esquentar, ela sabia sobre a Sophia – O detetive. Ele me disse que vocês tem uma filha – Ela sorriu.

Fiquei em silêncio, não queria julgá-la, mesmo que meu sangue estivesse fervendo naquele momento e eu sentisse raiva por saber tudo que o Tobias sofreu por não ter a mãe, por ter sido abandonado.

Ela estendeu um pedaço de papel e colocou em cima da minha mesa.

–Esse é o meu telefone celular e também esta anotado o nome do hotel onde estamos. Eu ainda não me estabeleci aqui na cidade, pretendo comprar um apartamento em breve. Só estou esperando sair o dinheiro da separação de bens.

Dito isso, ela saiu e eu fiquei ali, sentada, tentando entender o que tinha escutado daquela mulher e tentando entender o por que o Tobias não me disse nada.

Peguei minha bolsa e passei pela recepção, avisei Carli que não voltaria mais hoje e que depois ligaria para Susan. Odiava negligenciar meu trabalho, mas aquele assunto não poderia esperar.