Um calor infernal. Eu estava suando e sentindo meu estômago embrulhar. Olhei o relógio no painel do carro, 11:30. Eu teria que buscar Sophia primeiro.

Corri pra escolinha e hoje a Sophia estava terrivelmente manhosa, resultado de dois dias em que ela esteve com o Tobias mimando ela de todas as formas. Respirei fundo e dirigi até em casa.

Assim que cheguei Anna nos recebeu sorridente e estava fazendo almoço, eu estava morrendo de fome, mas eu não queria esperar, queria falar logo com o Tobias.

–Menina você precisa comer!

–Não vai dar tempo agora Anna – Respondi pegando um copo d’água. Anna torceu a boca e me estendeu uma maçã.

–Coma alguma coisa, você vai passar mal se ficar sem comer – Ela disse carinhosamente – Se não fizer por você, faça por ele – Ela desviou o olhar para a minha barriga. Que ótimo, todos já sabiam!

Peguei a maçã e coloquei na bolsa. Anna sorriu e eu dei um beijo em sua bochecha antes de sair.

Entrei no carro e dirigi até São Francisco novamente. Essas viagens diárias estavam cada vez mais cansativas. No começo eu não me importei tanto, queria continuar em Stanford, mas agora acho que a ideia de mudar de vez para São Francisco me parece mais atrativa.

Quando cheguei a Essence a recepcionista sorriu, todas ali já me conhecem.

–Boa tarde Sra. Eaton – Disse Lilian.

–Boa tarde Lilian, Tobias esta?

–Está sim. Zeke esta com ele.

–Estão em reunião?

–Creio que não.

–Avise que eu estou aqui, por favor.

–Só um minuto – Ela discou alguns números no telefone e começou a falar em seguida – Sr. Eaton, sua esposa está aqui... Ahh... Sim... Huum... Ok – Ela desligou e se virou para mim, um pouco sem graça – Ele me pediu que avisasse que ele esta em uma reunião e depois liga para a senhora.

Ele vai mesmo me fazer voltar embora? Ele escolheu um péssimo dia para fazer pirraça comigo!

–Obrigada! – Disse e respirei fundo. Olhei para o corredor a minha frente – Não se preocupe Lilian, daqui para frente é por minha conta e você não será responsabilizada – Lhe lancei um olhar de “Para o seu bem, não se meta”.

Andei até a sala do Tobias e abri a porta sem bater. Ele estava atrás da sua mesa e Zeke sentado a frente, os dois olharam para a porta assustados assim que eu entrei e a escancarei. Tobias me lançou um olhar de reprovação e depois coçou a nuca. Irritado, ótimo, era isso que eu queria!

–Oi Tris – Disse Zeke se levantando e andando até mim. Eu ainda estava segurando a porta aberta. Zeke parou a minha frente e me deu um beijo no rosto. Seu perfume entrou rasgando minhas narinas e meu estômago revirou na mesma hora. Quase vomitei em cima dele, me segurei ao máximo para não fazer isso.

–Oi Zeke – Forcei um sorriso e me afastei um pouco, prendendo a respiração – Como esta Shauna?

–Está bem, você sabe, a gravidez tem deixado ela instável, hora bem humorada, hora querendo me matar, mas eu vou levando – Ele sorriu.

–Eu sei como é – Sei mesmo, por que tudo o que eu queria naquele momento ela pendurar o Tobias naquela janela pelo pescoço. Olhei para ele e ele estava lendo algum documento em sua mesa, se fazendo de sonso.

–Você esta bem Tris? Está um pouco pálida – Perguntou Zeke me olhando sério.

–Estou bem, eu não almocei ainda, deve ser isso – Sorri.

–Se cuide então, e aproveite e leve esse cara para comer também, ele estava recusando almoço agora mesmo – Zeke disse e se virou para Tobias – Eu já vou indo, volto em 2 horas. Até mais Tris.

–Até Zeke, dê um beijo na Shau!

–Darei – Ele disse e saiu fechando a porta.

Esperei ele sair e andei até a janela, precisava respirar, o ar de poluição da cidade era melhor que o perfume do Zeke naquele momento. Apoiei meus dois braços na janela e respirei fundo algumas vezes, quando consegui estabilizar meu enjoo eu me virei ainda encostada na janela e encarei um Tobias sério.

–Você precisava mesmo invadir a minha sala?

–E você precisa mesmo agir como uma criança birrenta? – Ele bufou.

–Eu estou trabalhando Beatrice, diga logo o que você quer!

–O que eu quero? Eu quero muitas coisas Tobias. Um marido que seja menos egoísta em relação ao meu trabalho, que não faça bico e birra por tudo, que passe mais tempo com a família... – Ele riu – Mas nesse momento eu gostaria mesmo de saber por que você não me disse que sua mãe voltou a te procurar!

Ele ficou branco, sem cor. Depois começou a mexer em alguns papeis em sua mesa sem me olhar.

–Não sei do que você esta falando.

–Pare de se fazer de sonso comigo Tobias! Eu não sei por que você tem tanto problema para falar sobre isso comigo, sou sua esposa, qual é o problema em se abrir?

–Eu não quero falar sobre isso.

–Mais eu quero! Ela esteve na agência hoje, disse que tem tentando falar com você há dias e você tem ignorado, eu não enten... – Ia dizendo, mas ele me interrompeu.

–Eu não quero proximidade com ela, você consegue entender isso? – Disse aumentando a voz – Ela foi embora, eu vivi sem ela, passei pelos piores momentos e agora que eu estou bem ela volta como se nada tivesse acontecido? Fácil demais!

–Eu sei do que você passou, e não estou aqui pra te convencer a fazer nada, só queria entender por que você não confiou em mim, eu poderia ter te ajudado, nem que fosse pra ouvir você desabafar – Ele levantou a cabeça novamente.

–O que você queria? Que eu te contasse tudo de novo e começasse a chorar no seu colo? Eu só quero enterrar tudo isso, não quero saber dela, por isso não te contei, era irrelevante para mim!

–Tudo bem Tobias – Me afastei da janela e andei até a porta – Ela me pediu para te dizer que tem outro filho, um menino de 10 anos e ele quer te conhecer, ele quer conhecer a Sophia – Respirei fundo – Você pode não querer isso, mas eu deixarei ele conhecer a Sophia, não farei com ele o que fizeram com você, não vou isolar o garoto – Segurei a maçaneta e assim que abri a porta o enjoo voltou. Senti cheiro de perfume de novo e nem sei de onde veio dessa vez. Coloquei a mão na boca e corri para o banheiro. Droga, odeio vomitar!

Me ajoelhei na frente do vaso e vomitei até sentir que não havia mais uma gota de água no meu estômago. Tobias apareceu logo atrás de mim e segurou meus cabelos. Tentei afastar a mão dele, mas ele não recuou.

Quando comecei a me sentir melhor, me sentei no chão e ele se agachou na minha frente.

–Você está bem? – O olhei com raiva.

–Estou! Considerando que eu acabei de vomitar e que esse seu cheiro esta me embrulhando de novo. Eu diria que eu estou ótima! – Revirei os olhos e tentei me levantar. Ele sorriu. Forcei meus olhos a olhar para qualquer coisa, menos ele. O sorriso dele me amoleceria e eu não queria isso.

–Acho que você esta ótima mesmo, esta até sendo sarcástica – Ele me ajudou a levantar e eu lavei minha boca. Ele ficou encostado na porta, me olhando – Você está pálida, acho melhor ir almoçar – Torci meu nariz só de pensar em comida.

–Eu estou bem Tobias, é só um... – Eu precisava contar logo a ele, mas estava com raiva também, e se ele não gostasse da notícia?

–É só um...? – Questionou. Respirei fundo.

–É só um enjoo Tobias, é normal – Ele arqueou uma sobrancelha – Eu acho que você não vai gostar muito de saber – Disse saindo do banheiro, ele veio logo atrás. Peguei minha bolsa.

–Tente!

–Eu estou grávida, Tobias! – Me virei e saí da sala. Não esperei para ver a reação e a cara dele.

Antes de chegar a recepção dei de cara com a Claire, ela sorriu para mim e quando ia falar alguma coisa eu senti um puxão no meu braço.

–Tris! – Tobias me virou e eu tentei desviar o olhar – É sério? – Eu ri. Quem brincaria com uma coisa dessas? Ele me puxou de volta para a sala dele e bateu a porta depois que entrei – Fala Tris! É sério isso?

–Argh Tobias, que pergunta idiota! Por que eu inventaria? – Olhei para ele e não consegui decifrar seu olhar. Parecia confuso, talvez assustado, feliz? Ele coçou a nuca várias vezes com a outra mão na cintura.

–Por que não me contou antes?

–Por que eu descobri um dia antes do casamento da Chris – Ele arregalou os olhos – E depois você ficou com raiva por causa da minha viagem de trabalho...

–E você não pensou que eu deveria saber? Você como sempre decidindo as coisas sem me falar né?

–Estou contando agora! Como pode ver, minha barriga nem esta aparente ainda, não é como se eu fosse esperar o bebê nascer para te contar. Além disso, eu não tinha certeza se você ia gostar da notícia – Ele andou até mim e segurou meus dois braços.

–E por que você acha isso?

–Por que você não faz mais nada além de trabalhar e dormir! Talvez você esteja cansado dessa vida de casado e de ser pai – Ele me soltou e cruzou os braços respirando forte como se estivesse se controlando. Pude ver os braços dele marcando a camisa branca. Merda, hormônios, se acalmem!

–Eu não achei que você pensasse assim. Eu nunca estive cansado da nossa vida e eu amo a Sophia. E você, esta cansada Tris?

–Não tente virar o jogo Tobias! – Tentei desviar dele e sair novamente, mas ele me segurou de novo.

–Você não vai sair daqui sozinha – Ele alcançou as chaves e a carteira em cima da mesa e depois se virou para mim – Venha, vamos almoçar.

–Não estou com fome.

–Mas eu estou e você não vai ficar sem comer, nem meu filho vai – Ele me puxou pelo braço e passou uma mão pela minha cintura enquanto andávamos até a saída.

Claire e Lilian ficaram nos encarando sem entender.

–Eu não volto mais hoje Claire, avise o Zeke, por favor – Disse Tobias.

–Sim senhor – Ela disse.

O calor estava me matando novamente. Comecei a suar e Tobias ligou o ar condicionado do carro enquanto dirigia pela cidade. Ele parou na frente de um restaurante e desceu. Um manobrista abriu minha porta e me ajudou a sair. Tobias deu a volta e segurou meu braço até entrarmos.

–Não vou fugir, você já pode me soltar – Disse a ele.

–Não estou certo disso – Ele sorriu – Da última vez você fugiu de mim por quase 7 meses, lembra?

–Da última vez você ia ser pai de outra criança e eu não queria minha filha sendo petecada!

–Eu ia ser pai de um monte der espuma? – Perguntou assim que nos sentamos à mesa.

–Você acreditou nisso por um bom tempo, temos que dar esse crédito a Clarice.

–Não temos nada! Ela só conseguiu manter a farsa por que eu não toquei nela durante esse tempo.

–Por falta de iniciativa de quem? – Ele revirou os olhos – Dela, é claro! Se ela estivesse grávida de verdade, ela teria te atacado e você não teria negado! – O garçom chegou e trouxe o menu.

–Vão beber alguma coisa? – Perguntou o garçom parando ao nosso lado.

–Sim – Respondeu Tobias – Uma cerveja para mim e um suco de... ? – Ele me olhou.

–De maracujá – Tobias sorriu. O garçom anotou.

–Desejam pedir agora? – Tobias olhou o menu e depois olhou para mim.

–Escolhe o que você quer, amor – Ele disse amor? Olhei minhas opções. Um peixe, huum... Estava me dando água na boca – Eu vou querer essa lasanha a bolonhesa – Disse Tobias.

–Eu quero peixe e essa salada – Apontei para o garçom ver. Ele anotou tudo e saiu.

–Eu teria negado sim... – Disse Tobias apoiando os dois braços na mesa.

–Ãhh?

–Eu disse que teria negado sim, se a Clarice tivesse tentando algo – Eu comecei a rir – Ela tentou várias vezes, antes da “barriga” começar a crescer – Ele fez aspas com os dedos.

–Isso foi antes de você começar a subir pelas paredes? Ou foi enquanto você saia para noitadas com o Zeke? – Ele bufou.

–Você não me dá créditos não é mesmo?

–Não! – O garçom voltou com as nossas bebidas e eu tomei um gole do meu suco.

–Você já foi ao médico?

–Sim. Estou com quase 10 semanas agora – Ele sorriu – Tem certeza que você quer isso? – Ele ficou sério e me encarou.

–Claro que eu quero isso, não entendo esse seu pensamento, e isso até me ofende.

–Não é a minha intenção... É só que... Fiquei com medo de você não gostar.

–Tris, eu estou fazendo o que eu posso para ser bom no meu trabalho, sei que isso toma muito do meu tempo, mas eu quero ser bom o bastante no que eu faço – Ele segurou minha mão sobre a mesa.

–Eu entendo Tobias – Sorri – Você já é bom no que você faz. Essa nem é a área que você estudou e mesmo assim você aprendeu e tem cuidado de tudo muito bem – Suspirei – Só quero que você tenha consciência disso e não fique preocupado com a presença do seu pai – Ele se recostou na cadeira e suspirou.

Percebi que mencionar o pai dele o incomodou, por isso não toquei mais no assunto. Almoçamos e falamos do bebê e de como contar a Sophia. Decidimos esperar mais um pouco, quando minha barriga começasse a crescer e eu pudesse explicar a ela que ali dentro estava crescendo um irmãozinho ou uma irmãzinha para brincar com ela.

Depois do almoço Tobias quis voltar para casa e para a minha surpresa ele quis passar a tarde comigo e a Sophia assistindo desenhos no quarto dela.

A noite Anna fez um jantar caprichado, reclamando que não gostava da ideia de comermos em restaurante. Ela insiste que comida caseira é muito melhor, não pude discordar, a comida dela é mil vezes melhor mesmo. Ela estava tentando nos convencer de levar marmita todos os dias, Tobias se recusou, é claro. Eu por outro lado, até que considerei a ideia, mas depois ela mesma disse que não seria bom para o bebê comer comida do dia anterior. Percebi que eu seria muito mimada por ela.

Foi nesse momento que Tobias voltou a falar em vender a casa e se mudar para São Francisco. Senti uma pontada de tristeza, mas acho que seria melhor mesmo. Concordamos de procurar um corretor e tentar vender a nossa ou fazer uma permuta.

Depois do jantar Sophia dormiu, o que para mim foi um milagre, ela briga para dormir todos os dias. Tobias a colocou na cama enquanto eu respondia as inúmeras mensagens do meu celular. Christina era o topo, mas tinha mensagens da Susan também, me perguntando se eu estava bem, acabei me esquecendo de ligar para ela durante o dia.

Terminei de responder tudo ao mesmo tempo em que Tobias entrava no quarto e fechava a porta. Ele tirou a camiseta e eu comecei a esquentar, não consegui desviar o olhar. Malditos hormônios.

Ele sorriu e veio se deitar ao meu lado. Tentei disfarçar, mas ele não ia deixar essa passar, com certeza não ia.

–E esse rosto corado hein?

–É sono!

–É? Você já me viu sem camisa muitas vezes, e essas bochechas sempre coram – Ele sussurrou no meu ouvido.

–Deixa de ser convencido Tobias, tudo você acha que tem a ver com você – Ele riu e retirou o cobertor de cima de mim. Depois subiu a mão pela minha perna.

–E esse arrepio, é de sono também? – Fiquei sem fala. O filho da mãe sabe como me deixar sem fôlego. Engoli seco quando ele chegou a barra da minha camisola e começou a subir devagar, passando a mão quente pela minha pele até chegar aos meus seios – Já estão bem maiores – Disse acariciando-os. Eu já estava de olhos fechados a essa altura, absorta naquela sensação. Ele estava apoiado em um cotovelo, de lado para mim, me encarando.

–Abra os olhos Tris! – Abri os olhos e vi seu lindo rosto com a expressão mais safada que ele tinha – Tem certeza que esta com sono? – Ele estava me provocando. Desgraçado!

–Se você não calar essa boca e começar a agir eu vou te por para fora e vou me virar sozinha! – Ele deu uma gargalhada alta e se inclinou para beijar meu pescoço. Daquele momento em diante não vi mais nada, só senti.