Secrets escrita por Mila Kawaii


Capítulo 6
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Pelo resto do trajeto até a escola não trocamos sequer uma palavra, ruas e mais ruas estavam diante de mim. Um cenário tão familiar, porém, este que eu pensei que nunca mais teria a chance de fazer parte. Estar ao redor deste mundo. As pessoas ao meu redor têm em seus rostos a expressão de felicidade como se nada a preocupassem nesta vida. Me pergunto se a frágil garota que eu era sonharia em um dia estar sozinha neste mundo, mal posso imaginar o fim disso tudo. Queria poder gritar chamando pelos meus pais, a criança aprisionada em meu corpo parece chorar diante a esta situação.

– Você está bem? - A voz do loiro ao meu lado parece invadir minha mente, vendo por fim meu rosto pálido, estamos a uma rua de sua escola, me possibilitando ver os altos muros ocultando a parte interna do colégio. Certamente estamos atrasados. Sua voz é doce, carregando consigo um tom de preocupação, puxando-me de volta a realidade. Esta que não é tão ruim ao seu lado.

– Sim, não se preocupe. Me pergunto o porque não vem de ônibus, não é tão perto assim de onde você mora. - Digo mudando rapidamente de assunto, não sei ao certo o quanto estamos caminhando, porém não tenha nada a dizer, já que esta caminhada se tornou tão agradável para mim. Relembro o momento em que senti como se mergulhasse em um outro momento de minha vida, seria realmente aquele garoto que me trouxe ao Nathaniel? A questão que permanece martelando em minha cabeça é o porque não consigo tira-lo de meus pensamentos. Isto parece me confundir, entretanto sei a importante de permanecer firme, mesmo que isto me tire do foco. A curiosidade...

– É sempre bom andar um pouco, me distrai de tudo.- de repente o vejo parar, cessando seus passos. O belo sorriso ainda permanece em seus lábios, chamando-me a atenção de imediato, me encanto com o brilho em seu rosto. Suas mãos se erguem em direção ao nada, porém isto faz com que ele possa sentir o vento, a calma brisa presente a nossa volta.

– Porém não costumo sair assim tão tarde de minha casa. - Nathaniel completa sua frase rindo ao ouvir minha resposta. – Como você já deve imaginar.

– Claro, o que seria de você sem sua pontualidade sr. representante?

– É estranho... – Ele diz parecendo achar graça da situação enquanto volta a caminhar, os portões da escola parecem se aproximar cada vez mais de mim.

– O que é estranho? – Pergunto-o tentando entender o que se passa em sua mente.

– Parece que a conheço a tanto tempo. – De certa forma faz sentindo, sinto como se pudesse confiar a ele a razão em que estou aqui. Da mesma forma que existem pessoas que causam-me medo, eu me sinto em paz ao lado do Nathaniel. – Somos tão íntimos...

– D-Digo, como amigos! – Ele completa rapidamente sua frase. Seu rosto cora e vejo sua mão esconder grande parte da sua face. Por mais que não possa ver, me limito a pensar em seu sorriso.

– Com medo Nath? - Pergunto-o. Isto se torna um tanto irônico, já que sou eu quem sinto minhas pernas bambas. Quem seria este homem? Um conhecido de meu pai... Tudo me parecia me levar tão fácil a ele. Algo no fundo parece gritar em receio que isto não me levasse a nada, caminho sem ao menos entender o propósito.

Respiro fundo decidindo-me não me prender a estes pensamentos.

Por fim entramos na escola, não havia mais nenhum aluno no pátio, este se encontrava vazio. O cenário era encantador, o belo colégio tinha seus corredores repletos de alunos. Sinto falta de meus amigos, as pessoas com quem poderia contar. Neste momento somente tenho o Nathaniel junto a mim, este que tem em seu rosto uma expressão de pânico. Isto não deixa de ser comico, vê-lo tão preocupado desta forma.

Me perco em meus pensamentos, relembrando os momentos em que passei em minha antiga escola, as pessoas que deixei para trás, são somente lembranças agora... perguntou se algum deles questionaria onde estou. Se estou bem... Se viriam até mim. Quantas mensagens estariam perdidas em meu celular? Ligações não atendidas.

Ocorreu-me que mal sei para onde ir. Estou apenas seguindo o Nathaniel como se refizesse seus passos. Isto fez com que eu me aproximasse mais de Nathaniel, e em um discreto movimento unisse nossas mãos. Porém antes que ele dissesse algo alguém o puxa distanciando-o de mim. Por pouco digo algo que não seria apropriado. Não o puxo de volta para mim...

– Nathaniel! Eu estava lhe procurando, por onde andou? Já tivemos a primeira aula... – Viro-me vendo uma garota aparentemente da classe do Nath. Seus cabelos são castanhos lisos, caídos ondulados sobre suas costas. A formalidade é visível em sua postura, não posso deixar de julgar sua presença como um tanto... irritante.

– Perdoe-me, aconteceram imprevistos. Não pude vir antes. Entretanto não vejo nenhum problema. – Percebo que ela franze sua testa olhando-o como se esperasse outra resposta. O som das vozes ao meu redor parece diminuir, as pessoas dirigem-se para suas classes. O dia está apenas começando. Um longo e belo dia.... Sorte deles.

– Isto é sobre seus pais? Aconteceu...

– Não. – Ele rapidamente a responde. Não preciso pensar muito para entender a relação dele com o Pai. Pude sentir a profunda distância entre os dois. A formalidade. Por mais que meu Pai não fosse um exemplo de presencia eu só tenho memorias boas ao seu lado... Penso nas que perdi para sempre. As que nunca iria ter.

– Um imprevisto agradável. – Sinto vontade de bater em mim mesma ao sentir meu rosto esquentar. Isto estava visível para todos, não apenas para mim. Fazendo com que se torne constrangedor. Posso afirmar que não foram estas palavras, ou seu tom de voz. Mas sim o brilho em seu olhar.

– Ah...

Enquanto Nathaniel prosseguia a conversa com a garota a sua frente, pude sentir como se alguém esbarrasse em mim. Seu corpo veio rapidamente de encontro ao meu por pouco não me fazendo perder o equilibro. Neste momento de apenas segundos pude ouvir um breve sussurro.

“ Me desculpe”

Olhei rapidamente para ver a pessoa, porém, esta não estava mais ao alcance de meus olhos. Diante ao mar de pessoas diante de mim, seria impossível dizer quem dirigiu a mim, um pedido de desculpas. Sua voz era doce, entretanto posso afirmar que não era de uma garota. Como se cantasse, acostumado a ser gentil em seus atos. Me lembro como se pudesse imaginar seus lábios dizendo tais palavras. Suspiro sem ao menos saber seu nome, este que eu chamaria ser hesitar até vê-lo olhar para mim.

– Agatha tudo bem? – Nathaniel está a minha frente vendo de perto a expressão que tenho em meu rosto, esta que muda percebendo por fim, sua aproximação.

– S-Sim. Obrigado. – Respondo-o dando um passo à frente. E neste simples ato sinto algo sobre meus pés, abaixo meu olhar, vendo algo como um pequeno caderninho. Um bloco de notas. Pergunto-me se foi esta pessoa que esbarrou em mim que o deixou cair. Porém já como esta é a única explicação fico tentada em abri-lo. Minha curiosidade cresce pelo dono daquela voz, entretanto após folheá-lo rapidamente sem ao menos poder ver claramente uma palavra se quer, fecho-o. Um bom motivo para o encontra-lo novamente, isto faz com que eu o guarde em segurança. A capa é bordada com o desenho de um anjo...

– Me desculpe! – Ele se afasta penso eu que posso ter deixado a entender que o vermelho em meu rosto fosse de raiva.

– O sinal já vai tocar.... –Diz a inútil... garota! Querendo que o clima se quebre. Penso que seria mais discreto ter tossido ao algo assim.

– Bem, esta é Agatha. – Nathaniel volta sua atenção para mim me apresentando a ela. Um sorriso aparece em seus lábios, e a respondo igualmente. - Agatha, Melody é do conselho de classe como eu. Uma velha amiga. – Amiga... isto soou perfeito para mim, porém vejo que sou a única que compartilha desta opinião. Seguro levemente o riso vendo a inocência no rosto do Nath. Por fim ele tem razão... sinto-me tão intima dele.

– É um prazer. – Digo por mais que a frase não fizesse sentindo para mim. O alto som do sinal deste colégio invade meus ouvidos. Alertando a nós a próxima aula. Não seria legal eu fazer o Nathaniel se prejudicar mais por mim.... Porém me perderia se caminhasse sem ele.

– Vamos Nathaniel! – Melody segura em sua mão o puxando para que fosse junto a ela. Se ele estivesse se despedido e seguido o rumo até a aula, não veria problema, porém Nathaniel a para explicando brevemente a situação. Dizendo-a que antes tem algo a fazer. E para que ela pudesse avisar um dos professores.

– Mas... você já perdeu a primeira aula. Se o diretor de encontrar pelos corredores...

– Não haverá problema, porque estou justamente o procurando. Não posso deixar Agatha agora. – Por mais que seu rosto mostrasse que ela esta visivelmente decepcionada sua cabeça balança em positivo sorrindo para que possa voltar ao caminho da sala. Se eu fosse ela não me aguentaria, porém, nenhuma pergunta é dita. Percebo que a amizade deles não passa disto. De palavras que ela decide guardar para ela. Céus, isto me deixa incomodada.

– Claro. Até mais! – Seu tom de voz animado é esquecido por nós. Se perdendo no vento. A escola agora parecia não haver ninguém no mesmo andar que nós.

– Ela me ajuda muito no grêmio. – Ele diz segundo comigo pelos corredores da escola.

– Percebi. – Murmuro não querendo continuar essa conversa. – Como é com os outros alunos?

Estamos finalmente indo até o próximo andar, escadas aguardam-me. Será que minhas pernas estariam firmes para isso?

– Normal. Mas temos alunos problemáticos. – Vejo Nathaniel suspirar. Algo o incomoda.

– Não me diga que tem alguém que não obedece ao representante! – Sorrio. Toda esta conversa... Fico feliz que esteja distraindo-me. Evitando que eu deixe o medo dominar-me. A curiosidade.

– Quem sou eu perto do filho do diretor?

– Espera... ele tem filho?? – Pergunto-o. Nada se encaixa.... Nada faz com que eu consiga chegar a uma conclusão. São tão poucas peças dadas a mim, pedaços de algo que tanto anseio em descobrir, ver com meus olhos. Tantas perguntas rodeando-me. Tantas respostas que não fazem sentidos para mim. Estas pessoas que me limito a saber tão pouco... seu cabelo... O vermelho nunca mais será o mesmo. Lembro-me de sentir como se algo como o fogo fosse refletido em meus olhos ao olhar para face daquele ruivo. Ser salva... não pude ao menos sussurrar algo em agradecimento. Isto incomoda-me. Porém algo me diz que o veria novamente. O nome da pessoa que está no neste momento a passos de mim, a portas em que terei que abrir, degraus que teria eu subir. Me pergunto ainda o porquê de tudo isto.

– Você não conhece mesmo o velho “amigo” de seu Pai. – Ouso estas palavras, porém, apenas como ecos de frases que não chegaram até mim. Que não fariam diferença.

Sinto o toque de sua mão sobre meu corpo, apertando levemente como na primeira vez em que vi ele. Encaro-o como se no fundo daquele belo dourado fosse encontrar algo, como se ele fosse minha esperança.

– Você me diz tão pouco... – Ouso sussurrar, algo como um desabafo. Mais cedo ou mais tarde eu ouviria isto.

– Queria eu ser poupada de certas coisas desta vida...

– Queria que as dividissem comigo.

– Você não entenderia. – Digo cortando-o.

– Eu apenas... – Não ouso o resto da sua fala. Seus lábios se fecham em um suspiro ao ouvir seu nome ser anunciado vindo do grande autofalante. Alguém o chama, e pelo seu tom de voz não parece nada feliz. Balanço minha cabeça após pensar em algo para completar sua frase. Pensar em algo impossível.

– Você precisa ir. Assista uma aula se for preciso Nath. Eu vou ficar aqui. Não sei muito bem mais depois te encontro no pátio... não quero problemas para você. – Digo sendo sincera em cada palavra.

– Ok. – Por mínimos segundos precisei piscar repetidamente para acreditar na sua fala. Seu tom de voz indiferente parecia arranhar ao ser dito. Entristeço-me ao pensar que além de tudo pude magoa-lo. Ao olhar mais uma vez ele não estava mais lá. Passos firmes e impacientes.

“ Me desculpe... “ – Penso.

Apenas o que me resta agora é esperar, sento-me em um dos degraus da escada que leva ao segundo andar. Não me incomodo em ter de parar justo tão perto, apenas penso o que eu ouviria naquele momento. Ou que ele desabafaria para mim... E se após dizer ele sorriria ou somente fosse permanecer sério.

O som de passos pode ser ouvido por mim, e a cada segundo mais alto. Vindo de encontro a mim, lembro-me que estou a atrapalhar a passagem e levando-me, me pondo de pé. O som por fim, cessa. E mesmo estando de costas posso afirmar que a pessoa está a menos de um passo... ao estender de um braço... o tocar de uma mão.

E antes mesmo que eu possa me virar algo tampa minha boca, impedindo minha fala. O grito que eu provavelmente daria eu me assustar desta forma. Estamos cara a cara. Olhando profundamente para ele, seus olhos ... o verde esmeralda que mostra-me a raiva em si, e o tão puro dourado, tão doce.


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Notas finais do capítulo

Ainda não descobrimos o grande "mistério" mas há alguém novo na area....



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