Dois mundos, Dois corações, Uma espécie escrita por Tomoyo-chan


Capítulo 2
Capítulo 2 - O bosque


Notas iniciais do capítulo

Olá, novamente! Como o prólogo é muito curtinho, resolvi postar o primeiro capítulo já! ^^
Pelos meus cálculos, tem só mais dois! Aguentem firme comigo, por favor! ;)
Boa leituraaaa~



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Hinata sabia do perigo que corria ao estar na floresta que dividia o Reino dos Anjos e o Reino dos Demônios, mas ela não podia evitar. Lá, sozinha, seus pensamentos não poderiam ser ouvidos por ninguém. A verdade, é que Hinata não concordava com todas as regras e nem com todas as impressões passadas para ela sobre os demônios. Então, todas as tardes, se sentava nas pedras próximas ao rio da floresta e refletia. Vez ou outra cantava uma música que não se lembrava de onde conhecera, mas só sabia uma parte:

Se essa rua, se essa rua fosse minha,

Eu mandava, eu mandava ladrilhar,

Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,

Para o meu, para o meu amor passar...

E era assim que passava as horas. Entretanto, um dia, quando cantou tal trecho, Hinata ouviu uma voz masculina, vinda do lado da floresta que pertencia ao Reino dos Demônios, continuando sua música.

Nessa rua, nessa rua tem um bosque,

Que se chama, que se chama solidão,

Dentro dele, dentro dele mora um anjo,

Que roubou, que roubou meu coração...

Hinata a princípio sentiu o medo percorrer por sua espinha, seus olhos perolados olhavam assustados para o demônio de cabelos vermelhos que aparecera do outro lado do rio. Mas ao olhar seus olhos verde água, Hinata se sentiu vendo a si própria. Aqueles olhos refletiam o mesmo conflito, as mesmas indecisões, os mesmos temores. Subitamente, se lembrou da última estrofe da música e ambos cantaram, olhando fixamente nos olhos um do outro, a terceira estrofe da canção:

Se eu roubei, se eu roubei seu coração,

Tu roubaste, tu roubaste o meu também,

Se eu roubei, se eu roubei seu coração,

É porque, é porque te quero bem!

Terminada a música, Hinata e Gaara apenas sustentaram o olhar. Hinata houvera se acalmado e Gaara conseguiu expressar seu primeiro sorriso. Primeiro, pois, conforme o “Manual de sobrevivência dos Anjos”, “Demônios não tem capacidade de sorrir com sinceridade, apenas sarcasticamente, pois eles não possuem em seu coração a pureza, nem os pensamentos bons” e isso era verdade, mas no momento em que viu aquele anjo, Gaara sentiu algo novo surgir em seu interior. Talvez porque a sua imagem confirmava o que pensara: que o “Manual de Sobrevivência dos Demônios” definia erroneamente o anjo como sendo uma “criatura egoísta e disposta a te matar a qualquer momento, sem motivo”. Aquilo que Gaara olhava estava longe de ter essas características. Seu sorriso sincero foi capaz também de dar a certeza a Hinata de que algo estava errado.

O silêncio somente foi quebrado quando Hinata, ainda receosa de que alguma parte daquele livro estivesse certa – apesar de disposta, a qualquer preço, conseguir respostas – balbuciou:

– Por favor, não me machuque!

O sorriso de Gaara desapareceu, dando lugar ao semblante de surpresa e, por fim, soltou uma risada curta, para então falar:

– Eu é que te peço isso! No Reino dos Demônios, dizem que basta um anjo ver um demônio que querem logo sair matando!

E a interrogação se fez no rosto de Hinata.

– Pois no meu Reino dizem exatamente o oposto! – Exclamou Hinata.

E aquilo que ambos suspeitavam estava certo. Nem tudo naqueles livros era verdade. Cumprimentaram-se devidamente e sempre com o rio por separá-los perguntavam frases que havia nos livros e que há muito esperavam por sabê-los verdadeiros ou falsos. E todas as tardes, naquele mesmo local do bosque se encontravam conversando, às vezes até gargalhando, outras apenas se olhando. Ele para os olhos perolados e ela para os olhos verde-água. E gostavam do que viam, por isso, sorriam com sinceridade.

– É verdade que no reino de vocês só há desordem? – perguntou Hinata certo dia, quando ambos já se sentiam mais íntimos, podia-se dizer amigos. “É verdade que você é um ser impuro?” era o que realmente queria saber, mas não importa quão íntimos chegassem a estar, nunca poderia fazer essa pergunta, era muito rude. “É verdade que se eu tocar em você, nunca mais poderei ser um anjo?”. Rude demais.

Gaara coçou a cabeça e olhou seus pés que estavam imersos na água, levantou, andou pelas margens e tornou a sentar. Olhou para Hinata com uma tristeza profunda. Tristeza essa que a fez refletir se houvera tocado no assunto cedo demais. Entreabriu a boca para se pronunciar, mas Gaara deu um suspiro penoso e falou:

– Se você acha que brigar para não passar fome é desordem, então sim. Se você acha que morrer e ser comido pelos seus iguais devido à falta de comida uma desordem, então sim. Se você acha que nascer e apenas ser entregue a você um livro chamado “Manual de Sobrevivência dos Demônios” é uma desordem, então, sim, o reino dos Demônios é uma completa desordem.

Dito isso, se calou. Foi a primeira vez que Hinata notou como aquela criatura a sua frente estava desnutrida, como seus cabelos vermelhos quase não existiam na cabeça devido sua fraqueza, como a carne de seus dedos era mínima, deixando seus ossos exacerbadamente à mostra. E ela imaginou aquele pequeno ser em lutas intermináveis contra os seus iguais.

– Sempre foi assim? – Não se conteve em perguntar, precisava entender por si mesma e ter certeza que estava certa.

– Dizem que não. Que houve um tempo em que Anjos e Demônios viviam juntos – Gaara respondeu analisando as feições de Hinata que passava do susto para a incredulidade – Parece impossível, eu sei, Mas é verdade, quando nascemos, é a história que contam para nós!

– Mas não pode! Anjos nunca se deram bem com demônios e vice-versa!

– Sim! Mas... – Gaara hesitou – quando viviam juntos, os demônios eram anjos, como vocês! – os olhos de Hinata se arregalaram mais ainda e dúvidas começaram a surgir em sua mente – Como viramos demônios? – Gaara adivinhou a uma delas – Sempre houve uma hierarquia no reino dos Anjos, os que hoje são demônios faziam parte da classe mais baixa, mesmo assim, eram anjos. E isso não faz sentido, não é mesmo? Um mundo que deveria ter paz e igualdade, ter classes dessa maneira não fazia sentido. E era isso que Naruto pensava e resolveu ir contra a classe mais alta, aquela que ouvia os céus e ordenava o que os subalternos deveriam fazer. Assim, Naruto propôs uma luta. A condição era clara: se Naruto ganhasse, todos ouviriam as vozes dos deuses e a harmonia estaria completa; se perdesse, ele e todos os demais seriam banido do Reino dos Anjos e castigados com a miséria, solidão, fome e arrependimento.

Gaara parou de falar, observando Hinata que tinha os olhos cheios de lágrimas, prontas para cair.

– E... Naruto perdeu – Hinata concluiu num sussurro quase abafado pelo som das águas do rio – Por que nunca contaram isso para a gente?

– Para quê? Novas revoltas? Se anjos jovens soubessem do que realmente aconteceu, não iriam baixar a cabeça! Assim como você também teima em não acreditar em tudo o que falam... e eu também – Gaara suspirou e desviou seus olhos dos de Hinata.

Permaneceram num breve silêncio. A história que Gaara contara fazia total sentido. Explicava as semelhanças iniciais que Hinata vira em Gaara. Explicava o modo como os Anjos falavam dos Demônios. Explicava porquê ela sempre achara estranho aquela desavença.

– Sabe, Hinata? – recomeçou Gaara a falar – Antes de conhecer você, eu achava que anjos eram maus, mas depois de você... não acho que possamos generalizar assim, não. Estou muito confuso, porque gosto muito de você. Mas nunca gostei de nada, é estranho.

– Você tem razão, eu também achava que os demônios eram maus. É extremamente estranho. Gostar de você é diferente. Gosto de você mais do que gosto de cereja.

Ao ouvir a associação, Gaara gargalhou com gosto, outra reação que teve pela primeira vez, sobressaltando Hinata. “A gente não tem motivos para achar graça nas coisas”, dissera ele em outro momento. Mas aquela risada era mais que sincera, ele havia encontrado a graça. As coisas estavam mudando, Hinata via e sentia isso.

– Você me comparou com uma cereja? É por causa do meu cabelo vermelho? – Exclamou Gaara, mas continuou a rir, Hinata o acompanhou dessa vez e entre uma respirada e outra, explicou que era porque gostava dele mais do que gostava de sua comida favorita, cereja e ele, astutamente, como quem cria piadas a muito tempo, prosseguiu – Pelo menos não foi palito de fósforo!

Gargalharam até a barriga começar a doer. O sol já ia se pôr, era hora de irem embora, retomaram o fôlego, sorriram mais uma vez e...

– Amanhã? – disse Hinata.

– Amanhã. – confirmou Gaara.

E assim se despediram naquela tarde. Mais do que em todas as outras despedidas, Hinata estava contente por poder vê-lo novamente no dia seguinte. Contente, curiosa e... ansiosa. Ansiosa? Por que estaria ansiosa? Era porque queria que mais coisas estivessem diferentes, que ele mudasse para melhor? Ou... porque tinha se decidido?

Sim, tinha se decidido: Tocaria em suas mãos pela primeira vez na tarde do dia seguinte. Tocaria e provaria se era verdade tudo o que lhe disseram ou não. Se se importava com o resultado? Ainda não sabia. Nem imaginava.


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Notas finais do capítulo

Aeee! Mais um! A verdade é que a fanfic deveria terminar um pouquinho além daqui... Mas ideias adicionais foram surgindo enquanto eu escrevia e tudo se tornou um pouco maior do que eu planejava... E aí? O que acharam? Deixe-me um comentário, por favoooor! >
CamiTiemi



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