Akai Tsuki escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 3
Ainda Precisam de Mim




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Dely me apavora esfaqueando o guarda da segurança que estava desmaiado no chão.

–Por que está fazendo isso?! – pergunto horrorizado.

–Estou libertando-o – responde ela coberta de sangue.

A cena é apavorante. Ontem mesmo eu estava trancado no quarto mexendo no computador como um hikikomori (japoneses que se isolam do mundo por motivos pessoais), hoje estou morto ao lado de uma doente mental tentando salvar um demônio “do bem” e o mundo.

Saímos correndo daquele hospício, Dely matou todos os médicos e guardas que encontramos, isso me anoja. E ela não sente nenhum remorso. Mas não posso dizer nada.

O pior de tudo é ter que ouvir as lamentações de Fukawa, fazendo-me lembrar que fui um tolo desprezível.

Fukawa sempre foi amável e gentil, nunca parava de sorrir, mesmo pra alguém horrível como eu. Mas sou frio demais pra gostar dela da mesma forma e retribuir seus sorrisos.

“-Hitasura-kun você sempre parece triste. Sorria mais! Assim o mundo te acolherá!

–Até parece! – não acreditei – O mundo nunca me aceitaria, não faço parte dele nem nunca farei. Sou como um parasita aqui, logo você também tentará me esmagar.

–Acho que você tem medo de ser ferido, por isso é tão frio com as pessoas – supôs Fukawa- É como se fosse uma defesa, um escudo. Mas quero te ajudar! Vou ultrapassar essa barreira e te mostrar que você é muito bem-vindo neste mundo!”

Ela tentou ser minha amiga, tentou amolecer meu coração, mas não a deixei se aproximar mais. Fiquei com medo, assim como ela disse. Quando senti aquela estranha arritmia (coração acelerado) percebi que meu escudo estava rachando, era um alerta vermelho e eu disse: “Morra”. Fukawa não pôde aguentar, chorou, e eu continuei com a mesma expressão fria no rosto. Ela não merecia sofrer assim por minha causa.

–Acorde garoto do escudo de dor e frieza! – Dely me tira de meus pensamentos – Olha só!

–Dely! – exclama um garoto saindo das sombras – Há quanto tempo!

–Quem... – eu ia perguntar, mas Dely diz antes.

–Kiri-kiri...

Ela parece mais selvagem que o normal, uma esquizofrênica sendo perturbada por uma alucinação, mas isto é real. Me pergunto o que esse “Kiri-kiri” (nome esquisito) fez pra ela. Sinto que não é nada de bom.

–Falei que você não pode fugir de mim – diz ele – Tomara que ainda continue aquela garota deliciosa.

Ele lambe os lábios, sinto nojo disso, ele não tem o direito de dizer isso.

–Cale-se – falo.

–E que é você pra mandar que eu me cale? – indaga Kiri-kiri – Espírito covarde.

–Cale-se!

Meu corpo esquenta apesar de eu ser um espírito, quero que ele morra, só de imaginar o que ele pode ter feito com Dely.

–Morra! – grito.

O ataco com uma espada (que nem sei de onde tirei). Kiri-kiri defende-se com duas lâminas negras presas a seus braços. Me atira para o lado, vôo longe e tenho que me segurar no ar. Não sei de onde saiu aquela espada, mas vou lutar.

–Garoto do escudo de dor e frieza... – diz Dely – Não precisa me proteger...

Ela tira a mão do olho ensanguentado, sua transformação de antes volta a acontecer. Logo ela está com os cabelos brancos, as asas vermelhas, feições ainda mais doentias que antes e um olhar mortal e penetrante.

–Eu mesma faço isso! – a foice de antes aparece em suas mãos.

Dely ataca Kiri-kiri em super velocidade, mas ele novamente bloqueia o ataque com suas lâminas.

–Isso! – Kiri-kiri é tão psicótico quando ela – Chegue mais! Ainda mais perto até eu comê-la por inteiro!

Ela fica louca (bem, na verdade já é louca), desfere golpes quase invisíveis de tão rápidos. Mas Kiri-kiri também é veloz.

Fico tentando assimilar as coisas por um instante, ele disse... “Comê-la”... Não, não acredito! Se é isso que estou pensando... Como? Por que estou me preocupando tanto? Talvez porque é desumano demais pra suportar, é terrível demais! Pode ser que Dely tenha ficado louca por causa dele!

Meu coração começa a pulsar mais rápido que o normal, sinto uma angústia presa na garganta. O que é essa dor estranha em meu coração? Ele é tão idiota assim pra sentir pena dela?

Dely é derrubada e Kiri-kiri fica em cima dela.

–Não! Não! Não! – ela tenta escapar.

Porém Kiri-kiri a perfura com uma das lâminas, prendendo-a no chão. Dely cospe sangue.

Fico atordoado com essa cena. Será que ela vai morrer? De qualquer forma quero matar esse Kiri-kiri, torturá-lo, fazê-lo gritar e sangrar, vê-lo chorar sangue. Quero vingar Dely.

–Maldito! – urro e o ataco, tentando ser tão veloz quanto Dely.

Kiri-kiri desvia e me perfura pela retaguarda, arquejo e antes que eu possa me virar, ele me chuta atirando-me pra longe. Consigo me parar com a espada raspando no chão. Sai aquele sangue negro de meu ferimento. Droga! Agora ele vai ver só!

Vôo rapidamente até Kiri-kiri de novo, decidido a feri-lo sem piedade. Ele bloqueia o ataque novamente e sou lerdo demais, Kiri-kiri corta meu pescoço. O que os Oni tem com pescoços? Se eu fosse um humano ainda, teria morrido, mas não desistirei por isso, mesmo com aquela dor horrível queimando meus neurônios e me enlouquecendo. Mesmo que o sangue negro espirre numa cascata de tinta preta, quero vingar a Dely.

Quase acerto o rosto de Kiri-kiri, ele me perfura mais vez. Tento machucá-lo pelo lado, ele quase me derruba.

–Espírito idiota! – começa a me apunhalar novamente.

Grito desesperadamente por causa da dor intensa. Meu corpo parece estar explodindo aos poucos, todos os meus órgãos e sentidos sendo fervidos e explodindo feito pipocas.

–Vou devorar sua alma – ameaça Kiri-kiri mordendo o lábio inferior como se segurasse o impulso de me devorar antes.

Isso não pode terminar assim, não posso deixar esse mundo ainda, todos precisam de mim.

Observo Dely tentando se levantar, ela ainda não morreu, e precisa de mim.

“Hitasura-kun... eu preciso de você” ouço a doce voz de Fukawa no vento.

Com as forças poucas que me restam tento e levantar, não posso ligar pra dor, de qualquer forma não morrerei de novo mesmo.

Kiri-kiri aperta meus pescoço quando já estou em pé e me apunhala mais vezes. Tento me libertar berrando de tal forma que meus ouvidos estalam.

–Kiri-kiri! – grita Dely não totalmente em pé ainda – Solte-o!

–Resposta errada – diz ele – Você é uma garota mal-criada! Deve me obedecer e não o contrário!

Ele me larga repentinamente e numa velocidade desumana soca o estômago de Dely. Ela é atirada pra trás. Colide com um edifício e cai em cima de um veiculo que se amassa todo soando o alarme.

–Como você ousa?! – sem ligar pra dor o apunhalo pela retaguarda.

Ele deve ter ficado surpreso. Começo a apunhalá-lo sem parar assim como fez comigo.

–Isso é bom?! É! Isso é bom pra você?! – provoco o derrubando e o ferindo sem parar.

Kiri-kiri fica me olhando de olhos arregalados e confusos, talvez nunca ninguém o tenha conseguido fazer isso com ele.

–Morra! Morra! – fico doido, cego pela raiva – Isso é pela Dely! Pelo que você fez!

Ele sorri como se não sentisse nada.

–Seu tolo! Aquela garota é um demônio – fala – Só está esperando ter sua confiança e seu amor para então devorar sua alma como eu! Nós somos exatamente iguais! Quem você acha que prendeu Chiyo?

Kiri-kiri começa a derreter, tornando-se sangue negro. Ele ainda está vivo, eu sei.

Mas o que ele disse não me sai da cabeça. Dely prendeu Chiyo? Será mesmo que ela seja tão horrível? Ela é uma psicopata louca, mas será?

–Kori... – Dely está em pé meio encurvada, com as roupas em frangalhos e ensanguentadas. É a primeira vez que me chama pelo nome – O que foi?

Seu olhar é inocente, mas algo me diz que esconde um monstro, um demônio. Não posso confiar nela.


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Notas finais do capítulo

E agora? Será que foi mesmo Dely que prendeu Chiyo? Mas então por que ela tentaria salvá-lo? E será que depois disso Kori vai continuar perto dela?