Kitty's Pride escrita por Bree


Capítulo 17
Uma bagunça sentimental




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— Er, alguma novidade dos Bridgerton, meu cunhado? – Perguntou Kitty, apenas para mudar de assunto.

 - Gozam de boa saúde, e Colin Bridgerton acaba de se casar. – Revelou Darcy.

— Que encontre a mais cristalina felicidade. – Desejou Lizzie, enquanto os criados traziam uma travessa de batatas assadas. Feliz era justamente Kitty  não ficou, tão logo percebeu que Sebastian não partiria quando a refeição acabasse. Georgiana sugeriu que caminhassem pelo jardim de Pemberley, e Kitty alegou estar um pouco indisposta. Mas isso não dissuadiu a amiga, que acabou por arrastá-la com eles. A garota Bennet permaneceu alguns passos atrás do casal, tentando aproveitar o vento contra seu rosto e ficar longe da conversa.

— Kitty, por favor, o caminho é largo o suficiente para que andemos os três juntos. – Sugeriu Georgiana.

— Não é necessário. Não serei uma boa companhia hoje. – Disse ela, tentando parecer natural.

— A Srta. Bennet tem suas reservas contra mim. Devo assegurar que não corre nenhum risco segurando meu braço. – Disse Sebastian. Era a primeira vez no dia que dirigia uma frase longa à ela.

— Não duvido, senhor. Apenas não quero interferir em um padrão tão bem formado. Também os preservo da necessidade de pararem comigo caso eu precise descansar. Façam o seu ritmo. – Respondeu ela, fitando a nuca de Sebastian e notando que ele sorria.

— Não se incomode, Sr. Höwedes. Kitty está ranzinza desde que teve de deixar Goldenshaw. – Disse Georgiana. – Ela não se sente muito à vontade em Pemberley, acha que é sufocante. Estou certa, Kitty?

— Podemos dizer que sim. – Resmungou Kitty. Sebastian lhe lançou um olhar interessado sobre o ombro. – Os anos fizeram de Pemberley um lugar muito impessoal. Não fosse pelas pessoas amadas que vivem aqui hoje, não conseguiria tolera-la muito tempo.

— Eu cresci aqui, como já contei. Encaro esse ar "impessoal" com bastante familiaridade. – Georgiana disse, e por mais que Kitty quisesse ver aquilo como flerte, a amiga estava se comportando normalmente. No ponto de encontro entre o jardim e o pomar, a jovem Darcy achou necessário que colhessem algumas maças. Eram as últimas daquela estação, pois logo o frio chegaria e levaria até as folhas. Kitty não se arriscou, e deixou que os outros dois se divertissem com a atividade. Recostou-se na sombra de uma árvore, e lembrou com certa raiva do momento parecido que havia desencadeado uma sucessão de maus passos. Notou que Georgiana se afastava, mas que o cavalheiro não a seguia. Ao invés disso, voltou-se para ele e aproveitou a oportunidade.

— Vejo que está deixando que um momento de fraqueza se transforme em uma parede entre nós, Srta. Bennet. – Disse o homem.

— Essa parede deveria ter sido erguida antes que sua ousadia dominasse seu bom senso, Sr. Höwedes. Tudo que espero agora é que não seja fraco com Georgiana. Ela já tem o coração marcado. – Respondeu Kitty, evitando olhá-lo.

— Não a vejo dessa forma. – Se apressou o homem em explicar.

— Então como a vê? Como um dote de quarenta mil libras? – Perguntou Kitty, com a sincera intenção de ofendê-lo.

— Acha que preciso do dinheiro dela? Acha que estou aqui por esta soma? Francamente, mulher. Meus rendimentos me bastam. – Disse ele, sem se deixar abalar de verdade. – Mas fala disso de forma ressentida. Sente-se mal por saber que o dote de Georgiana é infinitamente maior que o da senhorita?

— Suas palavras me divertem cavalheiro. Pois saiba que eu sequer tenho um dote. E não, não me ressinto por isso. Aprendi a administrar minha insignificância há muito tempo. – Disse ela, ligeiramente amargurada.

— Não quis classifica-la como insignificante. – Explicou-se ele.

— Mas certamente quis me ofender ao tentar comparar nossos dotes. Não o culpo. Só espero que possamos nos tratar como estranhos distantes quando finalmente se casar com a Srta. Darcy. – Disse ela, derramando as palavras que havia guardado com cuidado até ali.

— Não me casarei com ela. – Afirmou o homem, fazendo com que Kitty erguesse os olhos para ele.

— Acha que pode brincar com ela? – Perguntou Kitty, amarga. 

— Jamais pensei isso.

— Pois sabe que ela não ficará em silêncio como eu?

— Acha que brinquei com a senhorita?

— Acho que brinca comigo desde o dia em que nos conhecemos. Faz das mulheres uma distração. – Disse Kitty.

— Isso é o maior dos absurdos que já ouvi. Se fosse um homem, estaríamos duelando agora mesmo. – Disse ele, em um sussurro, aproximando-se dela com uma passada larga.

— Por que? Por sua honra? Por favor. – Disse Kitty, ficando de pé. – Só me responda uma coisa, e não precisaremos nos falar mais: gosta dela?

— De certo que não espera que paremos de nos falar. – Respondeu ele. – Estimo a jovem Georgiana, e não vejo em que isso pode dizer respeito a senhorita. Se fala como a amiga preocupada, posso entender. Mas se fala como uma mulher ressentida que sente ter sido trocada por uma mulher mais rica...

Ele não pôde terminar a frase, pois Kitty já se colocara de pé e o acertará com um tapa. O golpe lhe atingira a face esquerda e o deixara mais que surpreso. Sebastian levou a mão sobre a região que já se avermelhava e abriu um sorriso genuíno. Ele parecia feliz, e aquilo só deixava Kitty ainda mais revoltada. Georgiana se virara a tempo de ver o tapa, e parecia sem palavras diante da cena. Kitty olhou para a amiga e depois voltou seus olhos para o cavalheiro, antes de começar a correr de volta à casa. Seus olhos ardiam contra o vento, e ela podia ouvir passos pesados atrás dela, que certamente não eram de Georgiana. O cabelo cuidadosamente preso em um penteado se desprendia conforme a moça corria. Ao deixar a área pavimentada para atravessar o gramado, a sola de sua bota a traiu e fez com que ela caísse na grama molhada. Se apoio nos braços para voltar a correr, mais humilhada do que nunca, e antes que conseguisse isso sentiu as mãos masculinas lhe tomarem os ombros para ajudá-la a se levantar.

— Me solte! Por favor! Não vê o que fez? – Perguntou ela, lutando para não deixar as lágrimas caírem.

— O que eu fiz? A senhorita acaba de me acertar a cara com um tapa! – Disse ele, impedindo que ela voltasse a fugir ao segurar seu braço direito com um ímpeto não recomendado. Georgiana vinha logo atrás dele.

— O senhor me reduziu a pior versão de mim mesma. Quis que eu declarasse fraca de todas as formas e não parou até que tivesse conseguido. O que fiz me torna uma selvagem, o último estágio dessa armadilha medonha! – Respondeu a garota, cobrindo o rosto com as mãos.

— É verdade que quis despi-la de seu orgulho, mas nunca tencionei feri-la. Pelos céus, estava com raiva. Não é uma selvagem. Podemos esquecer tudo isso! – Pediu o homem, soltando-a, por não saber ao certo onde deixar suas mãos e seus olhos.

— Kitty, você está bem? – Perguntou a inocente Georgiana.

— Não. – Kitty respondeu com sinceridade, e deu as costas aos dois. Quando deu o primeiro passo, notou que havia machucado o pé, mas não se deixou abater. Continuou mancando até alcançar as escadas e não olhou para trás.

Só tarde da noite, quando já estava recolhida, foi que Georgiana foi procura-la. Kitty tinha a alma e o pé doloridos, mas tentou não transparecer isso. Já estava deitada, e Georgiana ocupou um lugar aos pés de sua cama.

— Kitty... quero que saiba que eu jamais aceitaria o pedido dele. – Começou a jovem.

— Não precisamos falar sobre isso, Georgia. – Interferiu Kitty, já envergonhada demais.

— Mas eu quero. É preciso. Não contei nada a Lizzie ou ao meu irmão. Eles acham que está indisposta. – Disse Georgiana. – Sebastian e eu somos amigos. Bons amigos. Ele é gentil, sincero e respeitoso. É uma alma generosa e eu sinto muito por terem se desentendido.

— Você não entende, Georgia. – Começou Kitty, escondendo o rosto entre os travesseiros. – Ele me deixou exposta.

— Ninguém consegue fazer isso a menos que você permita. Eu sei que você quis ele por perto, Kitty. E isso é algo bom. – Respondeu a menina. – Observei vocês no baile e durante o chá. É difícil se ligar a alguém tão rápido assim. É algo muito raro.

— Não! Não! Ele me irrita profundamente. É inconveniente e arrogante e eu certamente não estou ligada a ele. – Se defendeu Kitty.

— Pode dizer isso quantas vezes quiser, mas não se tornará verdade. Ele partiu agora a pouco. Pediu que eu escrevesse contanto se você estava bem e eu prometi fazê-lo. Concordamos que seria melhor não nos vermos mais, mesmo que isso irrite sua tia Amanda. – Revelou Kitty, soltando uma risadinha.

— Sua tia? – Questionou Kitty, interessada.

— Sim. A Sra. Höwedes quer ver o sobrinho casado a qualquer custo, e me elegeu como preferida. – Narrou a Srta. Darcy. Aquilo não era uma novidade para Kitty. – Ela acha importante estar ligada a uma família influente na Inglaterra, mas Sebastian acha uma tolice.

— Não quero que se afastem por causa de meu comportamento infantil. – Disse Kitty, sendo sincera.

— Essa não é a causa. Não me sinto afetada por ele e nem ele por mim. Isso já deveria bastar, mas sinto ainda que seus sentimentos por ele...

— Por favor, Georgiana, não. – Pediu Kitty, finalmente se permitindo chorar. Georgiana deixou seu assento e se atirou na direção da amiga, abraçando-lhe os ombros de forma desajeitada, deixando que Kitty apoiasse a cabeça em seu ombro. A jovem Bennet estava envergonhada e confusa, e para alguém com a sua personalidade, nada poderia ser pior. Sebastian havia feito uma grande bagunça dentro dela.

O dia seguinte foi vivido sem grandes movimentações. Kitty não saíra do quarto, e acabou inventando uma virose para não ser incomodada. Foi só quando a noite já estava por cair que um mensageiro chegou trazendo uma correspondência inesperada. Vinha de Walters Lodge e não de Ottercrow, como Kitty esperava. O envelope trazia o convite para um baile em dois dias, oferecido por Lady Linda Walters. Não haveria escapatória para Kitty, pois Lady Linda fazia questão de sua presença.

Os preparativos para esse baile não foram tão animados quanto os do último. Ainda assim, Lizzie fez questão de comprar os mais belos vestidos para Georgiana e Kitty, mas nada era capaz de fazer a jovem Bennet se esquecer do inevitável encontro com Sebastian.

Quando o dia finalmente chegou, toda a propriedade dos Walters havia sido enfeitada. A decoração era tão soberba quanto a dos Höwedes, mas Kitty teve de reconhecer que Lady Linda havia exagerado em um ou outro detalhe. Sua preocupação mostrou-se desnecessária quando ao entrar no salão, no meio de uma música animada, não viu qualquer sinal de Sebastian. Foram conduzidos pelos anfitriões, e logo Georgiana foi tirada para dançar. Kitty permaneceu ao lado dos Darcy, com um semblante perdido e desanimado que preocupava Lizzie. Já se ia com o baile pela metade quando os Höwedes se fizeram anunciar. Kitty olhou depressa e o viu em sua pose habitual. Calmo, elegante e muito bonito. Nada parecia ter mudado com o tapa. Os quatro cruzaram o salão até se unirem ao grupo de Pemberley, fazendo Kitty engolir sua frustração e incomodo.

— Que capricho terrível estar sua irmã em uma viagem, Sra. Darcy. – Disse a Sra. Höwedes. – Será que estamos fadados a não conseguir reunir todos em uma noite festiva?

— Espero que não, senhora. – Respondeu Lizzie. – Deus não nos puniria assim.

— E Georgiana, como vai? – Perguntou Sebastian, fazendo Kitty engolir em seco.

— Muito bem. Está dançando nesse momento, logo volta para junto de nós. – Disse Lizzie. Então o grupo ganhou outro acréscimo. Albert Walters chegava com um semblante alegre e com um propósito definido.

— Srta. Bennet, será que me daria a honra de me acompanhar na próxima dança? – Pediu, logo após cumprimentar devidamente os presentes.

— Certamente, Sr. Walters. – Respondeu a jovem, grata pela oportunidade de deixar para trás o círculo em que estava. Audrey parou ao seu lado e observou o rapaz se retirar.

— Então esse é o famoso Albert Walters? – Perguntou Audrey.

— Sim. – Responderam Sebastian e Kitty ao mesmo tempo. A moça corou violentamente.


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