Bellamy

Bellamy não se lembrava da última vez que ficou tão puto, por nem saber o motivo direito. Ele batia no saco de pancadas do ginásio, atrás da delegacia, como se aquilo fosse adiantar alguma coisa ou concertar todos os seus problemas, num passe de mágica.

Um dia atrás, Clarke ligou para ele, perguntando o que ele sentiu quando eles ficaram presos no elevador. Ele queria poder dizer para ela que, se a encontrasse, faria a mesma coisa, mas achou melhor ficar afastado por um tempo. A vida dele estava virando uma novela mexicana e aquilo estava enchendo o saco.

Não sabia por quanto tempo estava treinando, mas, quando se deu conta, todos os outros policiais do turno haviam saído para almoçar e ele estava ali, no ginásio, descontando sua raiva em um boneco. Promissor.

— Cuidado, garotinho. – ele ouviu uma voz de deboche e mãos femininas pararam o saco, por trás dele.

— Olha, eu não pedi a sua... – e, assim que ele viu a garota que estava atrás dele, arregalou os olhos. – Gina!

Gina vestia o mesmo uniforme que ele, com a insígnia da cidade e tudo, seu cabelo castanho estava preso em um rabo de cavalo e seus grandes olhos a encarava.

— Não vai me dar um abraço? – ela sorriu, com os braços abertos e ele a puxou para perto.

Gina era uma policial que trabalhava na mesma delegacia que o Blake, há alguns anos. Porém, no anterior, ela havia recebido uma transferência para Phoenix, que ficava um pouco afastado de onde eles trabalhavam antes. Eles já haviam namorado antes de ela ter ido embora e se falavam pouco, então ele não sabia direito como estava a relação deles agora.

— O que você tá fazendo aqui? – ele franziu a testa, quando eles se separaram. A garota não havia mudado em muita coisa, ainda parecia a mesma debochada de olhos escuros com quem ele passou realmente muito tempo. – Achei que nunca te veria de novo, depois de Phoenix

— Nunca é muito tempo, não é? Vou passar um tempo aqui, até um ano, se eu tiver chance. Enfim... – ela falou, como se não quisesse falar sobre aquilo logo naquele momento. Se aproximou do moreno e o puxou para um beijo rápido. Ele, mesmo que surpreso, retribuiu o ato, entrelaçando os braços ao redor da cintura da garota. Gina se afastou, com um sorriso nos lábios. – Topa uma noite pra relembrar os velhos tempos, Blake?

Ele a olhou de cima a baixo, parecendo avaliar a situação, e sorriu:

— Fechado.

Raven

Meia semana depois

Jasper sempre foi o pacificador do grupo.

Porém, esse pacificador era igualmente maquiavélico, quando o assunto era fazer planos infalíveis, principalmente quando Octavia estava junto. E, dessa vez, eles mandaram uma mensagem idêntica para Clarke, Lexa e Raven, pedindo para que elas fossem até a casa dele, alegando que era uma emergência.

— O que está acontecendo? – Raven perguntou, assim que ele abriu a porta da casa e ela viu as outras garotas lá.

A casa de Jasper era aquela típica casa nerd, com filmes e jogos espalhados pelo chão e pela estante, e pôsteres de filmes variados (Star Wars, em especial. Ele amava aquela saga de filmes mais que Raven amava sua moto) colocados na parede. Fora todas as coisas que Monty deixou ali, quando saiu da cidade por um tempo.

Raven e Lexa se encararam como se fossem estranhas, assim que ela se sentou no sofá, enquanto Clarke apenas juntava os pontos daquela "emergência". Já que Octavia sabia de tudo, se apressou em dizer:

— Olha, claramente o que houve há uns dias foi um puta mal entendido entre nós e estamos aqui pra esclarecer isso. Lexa, eu sinto muito se nós não fomos muito receptivas com você ultimamente, reconheço isso. É que toda essa história de casamento ainda é um choque pra gente, entende? Estávamos acostumadas com uma outra visão da Clarke e, além do mais, vocês nos pegaram de surpresa.

Lexa balançou a cabeça, parecendo desacreditada naquela situação:

— Não, vocês não me devem desculpas nenhuma. Octavia, você foi incrível comigo e com o meu irmão desde que eu cheguei. Vocês dois são um casal lindo. – a morena se virou para Raven. – E... Eu e Raven tivemos um pequeno desentendimento, mas tá tudo bem agora, certo?

— Exatamente. Lexa, me desculpe por estar totalmente certa. Eu faço isso sem querer, às vezes. – Raven falou, mas logo depois forçou um sorriso. – É brincadeira! Agora está tudo bem.

.

— Clarke... Preciso que você fale com o Bellamy. – Raven a puxou para conversar, aproveitando o momento que Octavia e Jasper foram para o quarto com Lexa, talvez mostrar o quão nerd os dois poderiam ser. – Eu não sei, ele não está falando com a gente direito e, logo agora, que eu queria dar a notícia pra ele...

— Que notícia? – Clarke franziu a testa.

A morena olhou para os dois lados, respirando fundo.

— Olha, antes de você chegar aqui, eu fiz uma prova para uma universidade de engenharia mecânica no Tucson. Não achei que fosse passar na época, fiz mais por experiência, mas o resultado chegou mês passado e... Bem, eu fui a primeira colocada. – não esperou Clarke ficar feliz com a parte boa da notícia e soltou a ruim. – Mas, como eu disse, é em Tucson. Pode não ser tão longe, mas eu ainda vou ter que me mudar para um apartamento mais próximo, arrumar outro trabalho... É complicado, mas eu e Octavia já arrumamos a maioria das coisas.

— Isso é sério? – Clarke arregalou os olhos, desabando no sofá. Raven ia se mudar, ela e Lexa sairiam em lua de mel e as "amigas inseparáveis" iam se separar... De novo. – Quando você vai? E há quanto tempo Octavia sabe disso?

— Eu vou depois do seu casamento. Eu contei para ela um pouco antes de você voltar, nós providenciamos a minha "entrevista" para que desse tempo de ver você se casar. – ela balançou a cabeça. – O ponto é que alguém precisa dar um jeito no Bellamy e eu não acho que a namorada é a certa pra isso. A Gina é tão doida quanto ele.

— Gina? Namorada? – Clarke perguntou, parecendo um cachorrinho perdido. Ela havia visto o moreno há meia semana, como alguém arruma uma namorada tão rápido?

Raven pensou que poderia apenas dizer a verdade; que Bellamy e Gina só estavam saindo, nada sério. Além disso, o Blake nunca conseguiu manter um relacionamento por mais de três meses mesmo, ele saía com a garota por um tempo e, assim que aparecesse um problema, ele terminava.

Mas... Ela também podia bancar a cupido de sempre e dizer que eles estavam namorando de verdade, quase casando, com o intuito de provocar ciúme na loira.

Claro que a segunda opção sempre é a certa.

— Exatamente. Sabe, acho que dessa vez ele realmente acertou. – a Reyes assentiu. Ela mentiu? Sim, mas era por uma boa causa. – Ele parece feliz com ela, parece que finalmente vai sossegar com uma só. Sabe o que mais? Eu estava exagerando com toda essa coisa de apoiar vocês dois, que vocês são um casal... Acho que nunca vai acontecer mesmo.

Aquelas palavras doeram queimaram a língua a língua dela, tanto quanto ácido faria.

Clarke ia dizer mais alguma coisa, porém foi interrompida por Jasper, que sentou no meio das duas no sofá, completamente do nada. Ele achou que seria uma boa ideia fazer aquilo.

— Dá pra acreditar? Clarke, você vai se casar em semanas! – ele balançou a cabeça, rindo.

Clarke forçou um sorriso, a medida que Raven sentia seu plano surtir efeito:

— Que loucura, não é?

— Jasper, eu e a Clarke estávamos... – a mecânica limpos a garganta.

— Não se importam em dividir o sofá, não é? Somos uma grande família. – ele legou o controle e ligou em um canal que transmitia algum show ao vivo, de uma banda aleatória.

Aquilo se tornou muito constrangedor, já que Raven e Clarke falavam de um assunto "sigiloso" e, de repente, Jasper está no meio das duas com um balde de pipoca no colo, com os olhos grudados na televisão.

— Sabia que o Monty volta para a cidade hoje? – ele falou, se virando para Raven.

— Não. Na verdade, eu não dou a mínima pra isso.

Então, Jasper se virou para Clarke porque sabia que ela era educada demais para jogar a verdade na cara dele do jeito que Raven fazia, começando a falar.

Depois que ele terminou, Clarke mordeu o lábio:

— Olha, Jasper. A gente queria conversar.

— Podem conversar. Vai ser como se eu nem estivesse aqui. Sou invisível.

— Alguém invisível não estaria sentado com o rabo magro no meu colo. – a morena falou, revirando os olhos. – Levanta, garoto, pelo amor de deus.

— Tudo bem, falsidade em pessoa. – ele fez uma careta.

Raven tinha um plano infalível se desenvolvendo na cabeça e precisava de seu celular, para mandar uma mensagem para Bellamy ir até a casa, com a companhia certa. Só uma mensagem e Clarke finalmente se decidiria.

(X)

Bellamy

Bellamy estava com Gina quando Raven mandou uma mensagem, dizendo que queria que ele fosse à casa de Jasper. Não sabia direito o motivo daquilo, já que ele não ia lá há um bom tempo, mas, como estava de folga e não tinha nada para fazer, decidiu ir com a garota.

Depois de apresentar Gina para Jasper, o mesmo assumiu o comando na hora de apresentá-la para Lexa.

— Então, Gina, essa é a Lexa. Bem, ela não dá pinta, dá um dálmata inteiro mesmo. – ele balançou a cabeça, quando Lexa sorriu, apertando a mão de Gina. – Mentira. Ela é a noiva da Clarke.

— Não conheço essa Clarke. – Gina franziu os lábios. – Ela está aqui?

Como se fosse algum tipo de magia negra, Clarke apareceu no batente da porta da cozinha, encarando Gina. Na mesma hora, Octavia e Raven trocaram um olhar suspeito, como se dissessem: "vai dar merda...", enquanto Jasper estava alheio a tudo, como sempre.

— Quem é você? – Clarke perguntou à Gina, olhando exclusivamente para ela.

— Sou a Gina.

— Quem é você? – a loira perguntou mais uma vez, ainda parecendo extasiada com a presença de Gina ali.

— Hã...Gina, tenho 24 anos, sou policial, tenho um metro e setenta, meu cabelo é castanho... Quer minha identidade e RG também ou é só isso, loirinha?

Bellamy deu um meio sorriso e Clarke o fuzilou com os olhos. A loira se virou para Gina, respirando fundo:

— Na verdade, eu queria saber quem te chamou aqui.

Gina pareceu querer retrucar, mas Bellamy, conhecendo as duas como conhecia, a briga ia durar para sempre. Ele segurou o braço dela e os dois trocaram um olhar rápido.

— Tudo bem, Clarke, já que te incomoda tanto, não vamos ficar. – Blake deu de ombros, se virando para a Griffin. – Tenho mais coisa pra fazer.

De repente, o Blake queria que ela gritasse com ele. Queria que ela segurasse seu braço e dissesse o quanto estava errada, o quanto não era certo falar daquele jeito com a Gena... Queria que ela fizesse qualquer coisa que desse motivos para que ele ainda se importasse com seja lá o que a amizade dos dois tivesse se transformado.

Mas, ele não podia querer essa coisas, assim como não podia esperar pela princesa descer do cavalo para sempre. Então, a única coisa que ele fez foi segurar a cintura de Gina, se virar e ir embora.

.

Bellamy olhou no espelho e viu a imagem de si mesmo.

Os dois rapazes vestiam as mesmas roupas, os mesmos cabelos bagunçados de sempre, porém possuíam expressões diferentes. A versão do espelho o encarava profundamente, como se quisesse lhe dar algum aviso. Fora do espelho, ele estava em uma sala bem clara e vazia, muito vazia.

— Olha a sua volta, Bellamy. – o outro falou, não respondendo mais aos movimentos que o verdadeiro fazia fora do espelho. – Clarke vai se casar em semanas. Gina gosta de você, mas um dia ela vai perceber que você é incapaz de seguir em frente com alguém que não seja ela. Você e as garotas não vão mais morar juntos um dia. Raven provavelmente vai conhecer alguém novo e vai viver uma vida nova, Octavia e Lincoln estão numa coisa tão séria quanto Lexa e Clarke... E você? Ah, cara, você tá sozinho.

Bellamy acordou, em um sobressalto.

O moreno se apressou em levantar da cama, piscando os olhos sem parar, odiando seu próprio cérebro por fazê-lo ter aquele sonho desgraçado. Provavelmente ele havia gritado durante o sono, então soube que a casa estava vazia e as meninas não dormiram ali, quando não tinha ninguém no batente da porta.

Ignorou seu celular, que vibrava sobre a cabeceira, indo até a geladeira. Pegou uma garrafa de cerveja, virando o líquido em poucos minutos. Sentiu a bebida descer gelada por sua garganta e fechou os olhos, se permitindo sentir aquilo por um tempo. O sonho não foi mentiroso, ao todo, ele realmente estava sozinho.

Assustou-se quando ouviu batidas suaves na porta, sobressaindo o barulho da chuva, que parecia nunca parar do lado de fora. Pensou se deveria ou não abrir, se queria ou não ver alguém. Se irritou um pouco, a medida que as batidas se tornavam mais violentas.

Foi até a porta e quase achou que tivesse voltado a dormir, quando viu quem batia.

— Clarke?