Primeiro dia:

Casa do Brett

Hope abriu os olhos devagar. A luz incomodava um pouco, mas foi se acostumando. Respirou fundo, e logo Brett entrou em seu campo de visão, com um copo de água em mãos. Entregou-o a ela, sentando-se na ponta da cama.

–Se sente bem? -Ela pegou o copo, e bebeu toda a água antes de responder.

–Muito.

–Sente dor?

–Não.

Brett fez uma careta de desconfiado. Ele sabia muito bem como era a transformação. Bem, não sabia por experiência própria, mas já havia visto várias de perto. Não eram tão fáceis. Ele se aproximou, levantou a blusa de Hope e tirou o curativo de sua barriga. Suas sobrancelhas logo se arquearam, e ele ficou confuso.

Nada. Não havia nada embaixo do curativo. Ele acabou por tirá-lo por completo.

–Curou?!

–E não era para isso acontecer? -Hope parecia feliz.

–Era. Depois de três dias. Tem certeza que não sente dor?

–Tenho. Se estou curada, quer dizer que posso voltar?

–Hope, calma. Não. A gente não sabe porque diabos isso foi tão rápido. Pode ser alguma coisa ruim, tá? Você fica. Por três dias. Além de tudo, temos a lua cheia no seu terceiro dia. Não vou deixar você passá-la sozinha por aí. É perigoso.

–Eu sei me cuidar sozinha, Brett.

–Não é perigoso para você. É perigoso para o resto da cidade.

Escola pública de Beacon Hills

Liam socou os cadernos em seu armário, e fechou-o com força, fazendo Mason, um de seus melhores amigos, pular ao seu lado. Mason fitou-o quase com pena, e cruzou os braços.

–Ela só foi passar uns dias, Liam. Porque a irritação toda?

–É, e justo no dia que ela falta, Brett também some. -Mason revirou os olhos.

–Liam, foi uma coincidência...

–Ei vi os dois conversando atrás do campo a dois dias!

Mason suspirou, e Liam assentiu, super irritado. Ele virou as costas, saindo dali. Liam tinha aquilo de não conseguir controlar a raiva, e Mason já havia se acostumado com tudo aquilo. Quando Liam saia de perto dele assim, ele sabia que era perigoso ir atrás do amigo, principalmente sabendo o que ele era.

Liam nunca gostara de Brett, e não sabia explicar bem o porque. E começara a gostar menos ainda quando descobriu que Brett também era um lobisomem. Agora que Hope estava "na casa de uma amiga" a mente de Liam se enchia com os piores pensamentos que ele podia ter no momento. Mas não havia nada a se fazer. Ele não começaria uma briga com Hope por telefone ou coisa assim. Que ela queria um tempo dele, ela o teria.

Segundo dia

Casa de Brett

–Você vai mesmo deixar uma lobisomem recém-transformada sozinha na sua casa? Eu posso sem querer achar seus ursinhos de pelúcia, Brett.

Brett revirou os olhos com a provocação de Hope, mas continuou arrumando seu material para a escola. Coisa aliás, que ele odiava. Ele preferia muito mais viver com o grupo de Satomi, correndo por aí e protegendo uns aos outros. Ele não sabia muito bem o porque seu alfa não o deixava abandonar a escola.

–Quer que alguém comece a desconfiar? Você faltando das aulas no mesmo dia que eu, hum. Suspeito. -Hope bufou, se jogando no sofá da sala de estar dele.- Eii, cuidado. Não faça movimentos bruscos, você pode-

–Brett. Eu me curei. -Ela levantou a blusa. Hope já havia tirado o curativo dali, e no lugar não havia nem uma cicatriz.

–E como se sente? Diferente? Alguma coisa mudou? -Hope suspirou, fitando o nada.

–Não. Não sinto nada. Isso é normal.

Brett deu de ombros. Não queria assusta-la. Quer dizer, tudo o que estava acontecendo com ela era diferente do que qualquer outra coisa que ele já havia presenciado, mas não diria isso a ela. No fundo, ele também estava com medo dos resultados.

–Talvez seja, no seu caso.

–E qual é o meu caso exatamente?

–Eu não sei. To atrasado. -Ele se aproximou dela, e se inclinou, lhe dando um beijo na testa.- Se cuida. Não abusa.

E saiu, trancando a porta. Hope assentiu, e fitou ao redor. Ficou alguns minutos ali, no sofá. E no fim não viu sentido nenhum em ficar ali presa. Quer dizer, ela estava curada, não estava? Então não havia problema nenhum em voltar. Apenas diria que sua amiga teve que viajar, e ela teve que voltar para casa. Pronto, problema resolvido. Iria voltar.

–

Escola pública de Beacon Hills

Liam entrou no vestiário. Os meninos do time já estavam todos com seu uniforme. O time de Lacrosse de Beacon Hills não era exatamente um time com glória. Haviam ganhado um ou dois campeonatos em seus melhores dias, a décadas atrás. Mas estavam no caminho para fazerem os dias dourados voltarem aos jogadores. Ele estava ali para isso.

–Hey, Liam. Preparado para hoje? -Brett. Parecia que esse garoto nunca se cansava de arranjar um jeito de irritar Liam. Até o tom da voz dele tinha alguma coisa que atiçava os sentidos ruins de Liam. Scott pareceu notar isso, e veio ao lado do menino.

–Liam está mais que preparado. Hoje iremos fazer dois grupos de cinco, e simular um jogo, que acham?

–Ótima ideia.

E assim, o time foi em direção ao campo da escola. O time de Lacrosse foi dividido em dois grupos. Liam ficou a frente de um, e Scott do outro. Por uma feliz brincadeira do acaso, Brett ficou no time de Scott. A única coisa que passava pela cabeça de Liam, era quebrar a cara daquele garoto.

–

Hope saiu e trancou a casa. Levou a chave consigo, assim podia devolve-la a Brett quando chegasse a escola. Deu uma rápida passada em sua casa, agradecendo por sua mãe e sua irmã não estarem em casa, e logo se dirigiu a escola. E era óbvio que a primeira pessoa que ela tinha que procurar era Brett, para devolver a chave.

Hope sabia que à aquela hora, o time de Lacrosse estava provavelmente terminando com o treino semanal, então ela se adiantou e foi ao vestiário masculino. Antes de bater na porta, ouviu um barulho que parecia uma briga. Iria embora, mas ouviu a voz de Liam do outro lado.

–Ela é minha namorada, seu idiota! Eu vou quebrar a sua cara. –Isso fora suficientemente convincente para Hope forçar e abrir a porta.

Brett e Liam já exibiam os olhos amarelos e brilhantes, e as presas estavam crescidas. Os dois em posição de ataque. Brett tinha um arranhão no braço, e Liam um no peito. Hope correu para se enfiar no meio da briga.

–PAREM! -Os dois continuavam ariscos e praticamente tentando se matar.

Brett gritou para Hope ir embora, mas ela não o fez. Entrou no meio dos dois na mesma hora em que Liam ia dar mais um golpe em Brett. As garras de Liam pegaram no rosto de Hope, que caiu para trás. Brett foi obrigado a segurá-la. Os dois voltaram a normal.

Hope focou o olhar em Liam, que pedia repetidas desculpas. Seus olhos também estavam cheio de lágrimas. Liam levou uma das mãos ao rosto dela, e a dor que havia ali passou. Ele fizera a mesma coisa que Brett havia feito na noite anterior. Ela sorriu e fechou os olhos.

–