A bola dourada acertou o estômago de Endo em cheio e mesmo de longe era possível ver o sangue jorrando para todos os lados de seu corpo. O goleiro rangia os dentes enquanto a bola o arrastava para o gol, sem conseguir gritar nem pedir por ajuda, sem pensar em mais nada além de proteger o gol, além de vencer, independente do que acontece em seguida...

            Rikki virou-se de costas para se reunir à sua equipe, reunida no centro do gramado —o treinador Kudou estava amarrado, com eles.

            —Parabéns, Endo, você chegou longe...

            A bola o arrastava ainda mais para o gol, mais alguns centímetros e a Apocalipse venceria.

            —Venceu o Torneio Futebol Fronteira, o Campeonato Nacional; todo o Instituto Allyen: Tormenta Géminis, Epsilon, Pó de Diamante, Prominence, Caos, Gênesis, e os impecáveis Imperados da Escuridão. —Dizia, enquanto se aproximava do time— Classificou-se para o Torneio Futebol Fronteira Internacional através da Etapa Ásia, e o venceu...

            Endo caiu de joelhos, não aguentaria mais cinco segundos, pela primeira vez teria de desistir, se não morreria. Mas ele prometera a si mesmo que NUNCA desistiria. Sentia o sangue escorrendo por sua boca e pingando no gramado abaixo, sentia as lâminas o cortando feitas canivetes, sua visão embaçada enxergando seus amigos, preocupados e sem poder fazer nada, próximos dele.

            —... se tornou o melhor goleiro do mundo... —Ao chegar no time, se virou para contemplar o resultado do jogo— e me venceu...

            A bola parou de súbito. Ele havia defendido o chute mais poderoso de Rikki, mesmo o menino não demonstrar nenhuma reação de raiva ou ódio, pelo contrário, se mostrou calmo, como se nada surpreso. Porém, sendo assim, O INAZUMA ELEVEN VENCERA O JOGO!!!

            —...mas isso custou sua vida.

            Endo, sem nem mesmo soltar um sorriso de vitória, desabou no chão, seus olhos agora vazios, como um coração sem amor nem coragem, como uma flor murcha e ressequida, como alguém que desiste de viver. Rikki sorriu maliciosamente, e, junto com a equipe e Kudou, sumiram numa luz violeta e cegante.

***

            Eu não consigo entender... como uma pessoa que odeia o futebol pôde obter todas aquelas habilidades extraordinárias. A cada vez que eu tentava segurar seu chute era um tipo diferente de dor, como se chutasse a bola com ódio, e não com amor pelo futebol. Seria isso? Mesmo se fosse, não seria motivo para obter tais técnicas...

            Eu falhei vovô, não pude lutar até o fim como o senhor, não pude inspirar meus netos a serem goleiros geniais assim como você foi. Desculpe vovô, mas não dá, eu não suporto mais...

***

            Duas semanas depois...

            Toda a cidade de Inazuma estava lotada de panfletos e os jornais que saíam todas as manhãs traziam sempre a mesma notícia na primeira página “Onde Está o Treinador Kudou? Desaparecido? Morto? Esta Seria a Última Partida dos Lendários Inazuma Eleven? Qual o Paradeiro de Satoru Endo? ”, até mesmo o ar na escola Raimon era pesado, os alunos todos andavam de cabeça baixa, como se de luto, evitando comentar sobre o acontecido de semanas atrás, que ainda pairava no ar.

            O time de futebol da escola não tivera forças para entrar em campo sequer para aquecer. Após levarem Endo para o hospital mais próximo, em coma —e após eles mesmo levarem tratamentos urgentes—, nada foi o mesmo. Não ouvir a voz eletrizante de Endo os chamando para ir jogar futebol era agoniante, e ninguém conseguia olhar para a cara do outro. Não era sentimento de vitória que eles tinham, mas de derrota, a pior derrota que se podia ter.

            Naquela tarde, Kido ao sair do Instituto Imperial, fora às pressas visitar Endo no hospital, como sempre fazia. As lágrimas escorriam quentes por seus olhos quando via o capitão naquela cama, tomando soro, sem abrir os olhos e nem sequer mostrar sinal de vida. O médico havia dito aos pais do goleiro que as chances de vida eram precárias, mas ainda sim havia uma pequena chance, contudo, ele nunca mais conseguiria ser o mesmo jogador de antes, mesmo por milagre, pois as sequelas eram gravíssimas. A mãe de Endo ficava o dia todo ao lado de sua cama, chorando e rezando, enquanto seu pai ia para o trabalho alarmado, sem vontade para nada.

            —Endo... —Sussurrou, entrando no quarto após assentir para a mãe de Endo, pedindo para entrar. Sua faixa de capitão e a que colocava na testa estavam na cabeceira do outro lado da cama—... vim ver você de novo.

            O menino não se moveu, continuava em seu sono profundo, quase morto.

            —Todos continuamos torcendo por você, não só quem você conhece, capitão, tenho certeza que há inúmeras pessoas nesse exato momento torcendo por sua recuperação, pessoas que talvez não conheceremos nem hoje nem amanhã, mas que seremos eternamente agradecidos...

            Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto como pequenos cristais de angústia. A mãe de Endo fungou antes de começar a chorar também, silenciosamente.

            —... ainda não temos notícias do treinador Kudou e nem da Apocalipse, as coisas estão tensas agora, mais do que jamais esteve. Ninguém quer treinar nem mesmo no Instituto, dizem que quando tocam na bola lembram de você e não conseguem sequer dar um chute —Fechou os olhos, cerrando os punhos e os dentes, e então não segurou mais as lágrimas, deixou que todas escorressem como um peso sendo colocado para fora, soluçou inúmeras vezes, até dizer o mais alto que conseguia, trêmulo— PRECISAMOS DE VOCÊ, CAPITÃO!!! VAMOS JOGAR FUTEBOL!!!

            A mãe de Endo se levantou e envolveu Kido sobre os braços, como se fosse seu filho, e os dois lamentaram durante horas a fio naquele quarto, até os primeiros indícios do anoitecer.

***

            O futebol é um esporte incrível, na minha opinião o melhor esporte do mundo, pois a conexão entre os jogadores é de outro mundo, haha! Mas... pergunto-me se esse amor que tenho pelo futebol chegou a mudar vidas...

            Será que... valeu a pena?

***

            Dois dias depois, cidade de Osaka...

            Longos e ondulados cabelos ruivos foram jogados para o lado com a passagem de uma brisa da manhã. Seus olhos ruivos se espreitaram enquanto analisavam atentamente a cidade. Seu celular tocou, “Aki”.

            —Oi? Aki? Sim, sim, estou. Conseguiram avisar a todos? —Suspirou— Sem problemas.

            Desligou o celular e fez uma ligação o mais rápido que pôde.

            —Aqui é a Natsumi, isso, já podemos começar.

            Desligou e dirigiu-se até uma limousine branca e discreta do outro lado da rua, entrou e abaixou o vidro, olhando distraída para o parque de diversões da cidade que deixaria para trás. O carro partiu em alta velocidade.

***

            O que você esconde Rikki? Quando me disse que odiava o futebol, olhei para seus olhos e vi de relance um brilho peculiar, como se o que dissesse não foi totalmente verdade. Me diz, Rikki, que angústias guarda e o que eu posso fazer para ajudá-lo?