Tóquio...

— Eu sou Natsume Raimon, filha de Souichirou Raimon, diretor chefe da escola Raimon Junior High. —Dizia para a atendente no prédio da AFC (Confederação Asiática de Futebol), cuja fachada estampava uma mensagem em neon “O Futuro é a Ásia”— Preciso de todos os documentos que incluem jogos da escola Raimon e o Inazuma Japão.

—Desculpe —Respondeu a atendente, o cabelo amarrado em um coque apertado—, mas estamos proibidos de entregar documentos para qualquer pessoa a não ser a real responsável por eles, no caso o diretor ou diretora chefe da escola, e não sua filha, filho ou qualquer parente próximo. —Voltou a digitar velozmente no computador.

Natsume mordeu o lábio e começou a bater o pé no chão, pensativa. Olhou para a tela do celular afim de certificar-se de alguma coisa, e sorriu.

—E se meu pai lhe falasse por telefone? Você estaria falando com a pessoa real responsável por esses documentos...

            —Desculpe —Respondera a moça automaticamente, sem tirar os olhos do computador nem parar de digitar—, o diretor precisa estar fisicamente aqui, caso o contrário não entregaremos nada.

            A atendente voltou toda sua atenção ao trabalho, e Natsume cruzou os braços e ficou ali, parada, até que a atendente parasse de digitar, a olhasse de esguelha, erguendo uma sobrancelha, aparentemente irritada.

            —Já disse para você que não vai conseguir nada, garota, agora se me permitir trabalhar, saia do prédio por conta própria ou terei que convocar os guardas, e você não vai querer que seu pai saiba o quanto desonrou o nome de sua família, acredito, não é? —Natsume não se moveu, e começou a olhar as unhas. A atendente suspirou, pegou o telefone na mesa dela e digitou dois números, em seguida falou baixo: — estamos com um problema aqui na entrada...isso...podem mandá-los...

            —Não será necessário, senhora —Dissera alguém entrando no  prédio. Natsume nem se quer precisara se virar, pois apenas pela voz sabia de quem se tratava, ergueu um largo sorriso para a atendente—, estou aqui, Souichirou Raimon, pai da Natsume, diretor chefe da escola Raimon Junior High, trouxe todos os meus documentos de identificação, apesar de crer que já me conheça de outras vizitas. —Dizia, enquanto apertava a mão da atendente, totalmente desconcertada e colocando o telefone no gancho.

            —Precisamos de todos os documentos. —Pediu Natsume, ainda olhando para as unhas e as roendo.

            Horas depois...

            Pai e filha entraram na limousine branca, que partiu depressa deixando o prédio da AFC para trás. Eram muitos documentos, quase quatrocentas folhas, mas havia uma pasta específica que Natsume tinha maior interesse.

            —Pelo que Kido me disse por telefone, Endo havia lhe contado em algum momento no primeiro dia de aula que conhecera Rikki quando trombou com ele a caminho da escola —Contou—, mas creio que as ações de Rikki não começaram por aí...

            Abriu a pasta “Torcida: Todas os Torcedores Identificados que Compraram seus Ingressos para Assistir ao Colégio Raimon e ao Inazuma Japão.”. Haviam mais de cinquenta mil nomes, mas a sorte é que estavam ordenados por iniciais, assim como em um dicionário. A menina abriu na letra “R” com toda a velocidade que pôde e começou a procurar.

            —Está querendo dizer que o Rikki assistiu à todas as partidas da Raimon? —Perguntou seu pai.

            —Quase todas: as partidas em que ingressos foram vendidos são apenas a partir do Futebol Fronteira Nacional. —Respondeu Natsume, sem tirar o rosto da pasta.

            —Não existe uma probabilidade de ele ter assistido às partidas antes desse torneio?

            —Para isso ele teria que entrar na escola como um impostor.

            —A Raimon nunca recebera tantos jogos daquela forma, desde o jogo contra o Instituto Imperial. Seria comum que os alunos não percebessem pessoas diferentes na torcida. Domon, por exemplo, ele era um espião do Instituto Imperial, aliás, conseguiu até mesmo jogar na Raimon sem que ninguém desconfiasse, as chances de Rikki ter feito quase o mesmo são enormes...

            — Raiden, Ran, Rei, Ren, Rikki, achei! —Exclamou Natsume, colocando o dedo em cima, escuta só:

            “Ficha de Koji Rikki:

            Ingressos comprados para os jogos que aconteceram:

            Futebol Fronteira Nacional - Colégio Raimon Junior High 2 x 1 Colégio Sengoku Ninja (cadeira 785).

            Futebol Fronteira Nacional - Colégio Raimon Junior High 2 x 1 Colégio Sembayama (cadeira 737).

            Futebol Fronteira Nacional - Colégio Raimon Junior High 3 x 2 Colégio Kidokawa Seishuu (cadeira 155).

            Futebol Fronteira Nacional - Colégio Raimon Junior High 4 x 3 Colégio Zeus (cadeira 777).

            Etapa Ásia - Inazuma Japão 2 x 1 Grandes Ondas 'Austrália' (cadeira 121).

            Etapa Ásia - Inazuma Japão 3 x 2 Leões do Deserto 'Qatar' (cadeira 92).

            Etapa Ásia - Inazuma Japão 4 x 3 Dragões de Fogo 'Coreia do Sul' (cadeira 1).

            Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 3 x 2 Cavaleiros da Rainha 'Inglaterra' (cadeira 22).

            Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 2 x 1 O Império 'Argentina' (cadeira 968).

            Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 2 x 1 Unicórnio 'EUA' (cadeira 77).

            Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 3 x 3 Orpheus 'Itália' (cadeira 560).

Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 3 x 2 O Reino 'Brasil' (cadeira 15).

Futebol Fronteira Internacional - Inazuma Japão 3 x 2 Pequenos Gigantes 'Congo' (cadeira 7). ”

            —Então esse garoto esteve em todos os jogos da Raimon e do Inazuma Japão! —Comentou Souichirou.

            —A pergunta é: por quê?

            O silêncio tomou conta do carro, a não ser pelo trânsito e as buzinas do lado de fora. Os vidros com fumê escuro foram erguidos.

            —Teremos de investigar isso a fundo... —Concluiu seu pai.

***

            Suas mãos cerraram-se em punhos quando o menino baixo, com o cabelo preto e espetado se adentrava no bosque, as mãos nos bolsos, e os olhos descontraídos, quase como um anjo. Porém, ela tinha de se manter firme, jurou a si mesma que ficaria. Uma corrente de ar levou seu cabelo roxo para o lado, seus olhos azuis ficaram úmidos.

            —Fuyuka...? —Dissera o menino, surpreso. A voz calma e relaxada.

            —Rikki... —Ela cerrou ainda mais os punhos, e não conseguiu conter as lágrimas— Você... SEU DEMÔNIO! V-Você não t-tem ideia do que fez...

            —Acha realmente isso de mim? —Vira-se de costas para contemplar o bosque, e respirou fundo. Em seguida abriu os braços— Devia estar feliz, o dia está tão belo...

            —NÃO!!! Você fala como se tivesse tudo bem, mas não está! VOCÊ DESCONHECE O QUE FEZ!!!

            —Ah, o Endo... e seu pai...

            —O ENDO ESTÁ AGONIZANDO NO HOSPITAL E VOCÊ FALA CALMO DESSE JEITO!!! E ONDE ESTÁ MEU PAI?!

            —Onde é o lugar dele...

            —O QUE VOCÊ QUER DIZER?! QUERO ELE DEVOLTA!!! —A menina levantou os braços a fim de acertar a nuca de Rikki, mas ele se virou a tempo suficiente de segurar seus braços, surpreso.

            —Porquê você não fica calma?

            —Você quase mata o Endo...sequestra meu pai...causa uma euforia no país...e pergunta por que não fico calma...? —A menina rangeu os dentes, furiosa— Escute, Rikki, não vou ficar calma enquanto não estiver tudo bem, enquanto meu pai não estivar a salvo e o Endo curado.

            —Devia se preocupar menos com essas coisas adjacentes e começar a pensar no que está abaixo do seu nariz. —Disse Rikki, olhando profundamente nos olhos de Fuyuka, sem soltar seus braços— A cura está no fim do caminho, mas nesse caminho há um grande buraco, o que você escolhe: andar por esse caminho sem se importar em cair no buraco e tardar a cura à quem você ama, ou dá a volta nesse buraco após estudá-lo?

            —EU PULO O BURACO E CHEGO DO OUTRO LADO!

            —Você não está entendendo, Fuyuka... —Continuou dizendo o menino, de um jeito calmo e tentador—  dada a oportunidade, o que fazemos com aqueles que ferem quem nós amamos?

            —O QUE VOCÊ QUER DIZER??? RIKKI, VOCÊ ESTÁ LOUCO?! —Gritava Fuyuka com toda a raiva, enquanto tentava se soltar— SE ALGUMA COISA ACONTECER COM MEU PAI OU ACONTECER DO ENDO.... RIKKI, EU JAMAIS LHE PERDOAREI EM TODA A MINHA VIDA!!!

            —Você se importa mesmo com o Endo, não é? —Deduziu— Pois saiba que seu amigo não morrerá hoje, pois ainda não tive a oportunidade de lhe mostrar tudo... ainda assim a última coisa que ele verá na vida sou eu, olhando para seus olhos enquanto morre. Eu decido quando ele morre ou não...

            O menino foi interrompido quando Fuyuka conseguiu se soltar e com toda a força dera um tabefe em seu rosto, que ecoou por todo o bosque. Uma mancha vermelha permaneceu no lugar do tapa. Ele fechou os olhos e cerrou os punhos, enquanto uma lágrima escorria pelo seu olho direito.

            —Você tem ideia do que acabou de fazer...?

***

Eu acredito que... há coisas importantes ainda por vir na minha vida, mesmo das formas mais peculiares que se possa imaginar. Tenho chutes incríveis para receber e defender o gol em jogos mais incríveis ainda. Sinto-me fraco e indefeso, sim, e que terei dificuldades em voltar a jogar futebol como antes, mas sei que um dia voltarei, nem que seja o último dia da minha vida!

Acima de tudo, agradeço à Tenya Yabuno-sama, pois sem ele eu não seria nada.

***

            Inazuma, hospital...

            Endo se remexe um pouco na cama, mas volta a ficar parado em um sono profundo. Nem sua mãe, que desejou respirar um pouco de ar fresco lá fora, nem seus amigos que estavam na escola, estavam lá para presenciar o acontecimento, sendo assim, para todos o pobre goleiro ainda estava em coma profundo.