Nadie dijo que sería fácil escrita por Miss Addams


Capítulo 18
Dezoito




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Poncho

Olhei para o relógio no meu pulso, e fiquei aliviado, o caminho que eu cortei me salvou por hoje. Eu acordei atrasado, mas recuperei meu tempo e já estava no colégio, com um pouco de sorte eu conseguiria chegar a tempo de ver a exposição de Dominique.

“Acabei de chegar, onde você está?”

Mandei um sms para ela, meio perdido no colégio, no meio de tantas pessoas e crianças.

“Comendo, com a man. Onde você está?”

“Passando pela quadra, aqui está muito cheio, to perdido.” Ri antes de mandar para ela.

“Vem para o primeiro andar, estamos aqui comendo, na sala 23.” Ela foi rápida para me responder.

E eu fui fazer o caminho que ela, me indicou passando entre as pessoas e crianças. Cheguei no primeiro andar e estava vendo a escola toda enfeitada, era um verdadeiro evento, comecei a procurar o número das salas e encontrei, era a última porta.

Entrei na sala e passei meus olhos pelo lugar, que estava cheio assim como a escola, não encontrava Dominique, nem Dulce.

O sorri quando senti as mãos dela deram a volta nas minhas pernas apertando, olhei para baixo e vi o cabelo loiro, bagunçado pela corrida que ela deu, quando eu toquei sua cabeça bagunçando mais seus cabelos.

“Poncho!”

Trocamos sorrisos.

“Demorei mais cheguei.”

Ela soltou minhas pernas e levantou os braços, querendo que eu a pegasse no colo, foi o que eu fiz.

“E chegou a tempo, já é minha vez.”

“Que bom vou poder te aplaudir hoje. E essa boca suja hein, mocinha!” Eu passei o dedo no canto da boca dela, que estava sujo de mostarda.

“Eu estava comendo cachorro quente, hmm estava muito bom.” Ela passou a mão na barriga dela, me fazendo rir. “E comi dois inteiros, sabia, Poncho! A mamá não acreditou.”

Abri a boca em surpresa, imaginando o cachorro quente que ela comeu. “Nossa você comeu mesmo? E onde está sua mãe?”

“Ali, está com o Edu.” Ela apontou, para algum lugar e olhei involuntariamente.

Mesmo com Dominique nos braços, e fisicamente eu estava em pé na sua escola, a pedido dela. Quando eu vi a cena que ela me apontava, eu me trancafiei no meu mundo para refletir rapidamente, antes que eu tivesse qualquer reação.

Dulce e Eduardo, seu namorado, estavam num beijo comum para namorados.

E ao ver isso fiquei inconsciente do que estava ao meu redor, e pensei rapidamente várias lembranças veio atropeladas, durante todo esse tempo que conheço Dulce, quantas vezes eu já não vi ela com outros caras. Com namorados, apaixonada, comigo ao seu lado ou comigo longe.

Se Poncho com 20 anos, explosivo, ciumento e imaturo desenvolveu alguma fórmula conforme os anos, em ver cenas como essa e não libertar o monstro que habitava no seu interior, dependendo da situação é claro, por que quando temos um monstro dentro de nós, é tudo incerto, não sabemos quando sem mais nem menos ele é solto e só lidamos com os estragos depois.

Por que o Poncho com quase 40, não poderia usar essa fórmula, seja ela qual for. Afinal, maturidade é para ser usada quando se tem. E engoli a seco. A cena e minha saliva. Arrumei Dominique nos meus braços, como pretexto para desviar meu olhar.

“Não gosto.” Ela se virou e me contou.

“Do que?”

“Quando ela fica assim com ele e esquece de mim. Ela nem viu que eu sai de perto dela e vim até você.”

:- Oi. – Escutei uma voz, falando comigo, e olhei para baixo.

Tinha uma garota mais alta, e chuto dizer mais velha que Dominique, me olhando.

:- Oi. – A cumprimentei, mesmo sem conhecê-la, talvez fosse amiga de Dominique.

“Oi, Dominique.”

“Oi, Angélica.”

E me surpreendi, se eu me lembro bem pelo que Dominique me contou, essa era a garota que implicava com ela, por ela ser querida e absurdamente, por ser filha de Dulce. Mas, que parou tudo depois que Dominique começou a emprestar seus quadrinhos para ela.

:- Você é o moço que da para ela os quadrinhos? – ela perguntou ainda me olhando de baixo.

:- Sou.

:- Ah. – ela olhou para baixo, e tirou as mãos que estavam escondidas nas costas dela, um quadrinho. – Esse quadrinho aqui fui eu que fiz, sabia? Eu vou apresentar para todo mundo, e ler em voz alta. – ela me contou.

:- Sério? Que legal, você fez sozinha? Pode me emprestar depois? Deve saber por Dominique que eu adoro quadrinhos. – perguntei para ela sorrindo, me abaixei com Dominique no colo.

“Vocês esquecem que eu sou surda? Quero conversar também!” Dominique ficou curiosa fazendo Angélica e eu rir.

“Angélica está me contando que ela fez uma história em quadrinhos dela, e vai mostrar para todo mundo, lendo em voz alta.” Expliquei para Dominique.

“Nossa que legal, Angélica, eu quero ver depois, posso?”

“Pode, mas por isso que eu vim aqui.” Ela estendeu o quadrinho para Dominique. “Esse aqui é seu, para pedir desculpa pelo que fiz antes e por ter me emprestados os seus.”

“Oh, sério?” Ela abriu a boca surpresa, e até os olhos ficaram apertados pelo sorriso que ela abriu. “Obrigado, Angélica” Dominique aceitou o presente e abraçou a menina mais alta.

“De nada. Você pode ler depois dela, se quiser.” Ela falou comigo em língua de sinais mesmo, se esquecendo de que eu não sou surdo. Deixei para lá. “Eu tenho que ir agora é minha sala que vai se apresentar, Tchau Dominique. Tchau Moço.”

Ela se despediu e foi correndo onde quem deveria ser sua professora, estavam chamando as crianças.

:- Poncho? – Escutei a voz de Dulce se aproximando, Dominique também se virou vendo a mãe chegando, parecia até que tinha escutado, mas eu acho que ela sentiu o cheiro. O perfume de Dulce.

:- Oi, Dulce. – a cumprimentei me levantando.

“Man, olha o que eu ganhei? Guarda para mim.” Dominique, deu o quadrinho para a mãe.

:- Dulce, Helena está chamando as crianças, acho que é a vez de Dominique. – Namorado de Dulce nos contando, mas não prestei atenção nisso e sim na mão que ficou nos ombros dela.

:- Oh, é, ok. – Dulce gaguejou algumas palavras sem saber o que falar, era visível que estava incomodada, e seu namorado não percebia isso? Parece que ele não a conhece, não como eu.

:- Eduardo. – Ele assim que me viu, se apresentou, me estendeu a mão para que eu apertasse.

:- Poncho. – Eu estendi a minha mão e apertei a sua firme.

Depois de soltá-la não podia deixar de olhar Dulce, que me encarava sem saber o que fazer. Não falamos nada, não pela boca, porém pelo olhar.

:- Dominique? – Uma mulher chegou, falando e fazendo a língua de sinais. Chamando a atenção da pequena. - Vamos? É a nossa vez. – e mostrou a mão para Dominique pegar.

“Vamos.” Ela pegou a mão da mulher e foi andando com ela se juntando com as outras crianças.

“Boa sorte, filha.” Ainda vi Dulce olhar para ela e se comunicar.

“Obrigada, man.” Ela sorriu agradecida, se a cumplicidade das duas tivesse cor, seria qualquer uma bem forte e viva.

A mulher que antes levou Dominique, que se apresentou como Helena, a professora das crianças. Falou um pouco sobre o que era a Oficina de Talentos, e nos guiou a todos, alunos e pais, para onde seriam as apresentações. Que era bem próximo, na verdade, na sala 22.

Eu sempre procurei me manter longe de Dulce, não queria que ela se sentisse de alguma forma incomodada com a minha presença, nem sei se era isso mesmo, mas eu não tinha ideia que o namorado dela estaria aqui hoje.

As apresentações aconteciam num palco baixo e improvisado, aonde as crianças uma por uma iam mostrando os talentos delas, desde cantar, dançar, atuar, contar histórias, piadas, vi uma apresentação de marionetes incrível.

Senti um olhar e não demorei para localizar da onde vinha totalmente oposto da onde eu estava, nem me importei por devolver o olhar, Dulce me olhava com uma cara de culpada. Dei os ombros, tentando mostrar para que não se preocupasse, talvez não tivessem culpados ali. Só vítimas.

:- Oi, pessoal, bom dia. – uma voz de uma criança, com ajuda do microfone, interrompeu a conversa não verbal minha com Dulce. – Eu sou Ana, e vou ser... – ela olhou para a professora que sussurrou algo. – A sim, eu vou ser tradutora, a outra palavra com i que eu não dizer. – ela deu os ombros fazendo todos rirem.

Depois que ela esperou todos terminarem de rir, e que arrumavam o palco, para a próxima atração, continuou a falar.

:- Eu vou ser a tradutora da Dominique, que para quem não sabe, é surda. E nem todo mundo aqui sabe a língua de sinais, eu vou contar o que ela quer dizer... – a menina fez uma cara confusa, e perguntou para gente. – Deu para entender o que eu quis dizer?

:- Sim! – Eu e algumas pessoas da plateia formada por pais e responsáveis, gritaram.

:- Então tá bom, com vocês Dominique. – Ana apresentou a colega, e Dominique subiu no palco, e cortinas se abriram mostrando um mural onde, tinha desenhos e fotos grandes e reveladas, tudo de Dominique.

“Oi eu sou Dominique Fontaine Muller Saviñon. E o meu talento é fotografar e desenhar.” Ela sorriu, olhando para a mãe pegando coragem dela para enfrentar todas aquelas pessoas a olhando. “E eu vou falar de todas essas fotos e desenhos que eu escolhi para vocês verem.”

Ana seguia interpretando tudo o que Dominique contava, tudo estava bem visível. E Dominique apesar de envergonhada, apresentava muito bem, com uma boa segurança.

:- Nem parece que essa menina é surda. – Escutei uma senhora comentando próxima de mim. – Verdade, é tudo tão natural. – outra concordou com a primeira.

E estranhamente eu sorri, voltando a olhar a apresentação de Dominique, que seguia comentando cada foto que tirou e cada desenho que fez. Uma sensação de orgulho me invadiu, se eu que era apenas amigo de Dominique me sentia assim, imagine Dulce?

Eu voltei a olhá-la e sorri, por que a vi emocionada com a apresentação da filha, tinha um sorriso nos lábios e os olhos concentrados na pequena, como se não houvesse ninguém mais naquela sala.

:- E por último, mas não menos importante... – Eu escutei a voz de Ana, e voltei a olhar Dominique.

“Antes era uma foto, mas eu gostei tanto dela que eu decidi desenhá-la. Esse aqui é o meu amigo Poncho, eu gosto muito dele, me faz rir. Aqui ele estava em casa, assistindo um filme comigo, e eu tirei a foto sem ele ver. Eu gosto da foto por que o olho dele está verde e não marrom.” Ela sorriu, e me procurou entre as pessoas, eu levantei o braço para ela me achar. E quando me encontrou sorriu fechado e eu retribuí.

Me olhando desenhado, essa menina é talentosa mesmo.

E quando chegou o final da apresentação de Dominique, eu comecei a aplaudir, fui um dos primeiros, mas não como todos e sim, na língua de sinais que era deixar a mão bem aberta em formato de 5 com os dedos, e balançar da esquerda para a direita.

Dominique seguiu as minhas palmas, e as pessoas foram vendo que era assim que se fazia, e nos seguiu. Dominique ficou contente e abraçou Ana, abaixando o corpo diante da plateia que ainda as aplaudiam, sem barulho algum, e as cortinas se fecharam.

:- Nossa, que bonito, vocês aplaudindo assim. – Helena apareceu falando com um microfone. – Antes de agradecer a cada presença de vocês hoje, as crianças têm uma surpresa que elas fizeram para vocês. E obrigada por estarem aqui, por aplaudirem e apoiarem seus filhos, que são extremamente talentosos. Obrigada vamos à apresentação. – Ela deu o microfone para alguém e a cortina voltou a abrir.

As crianças estavam enfileiradas, cada uma com um par, Dominique estava bem a frente com Ana. E começou a tocar os acordes no piano de uma música muito famosa e significativa.

As crianças ouvintes cantavam a canção, enquanto as surdas, entre elas Dominique, cantavam em língua de sinais. A cena era absolutamente linda, todas as crianças em sintonia cantando e interpretando.

A letra falava de uma igualdade, de uma esperança de um mundo melhor, mais felicidade em vez de destruição. De mudança e de atitude, de acreditar e sonhar. John Lennon com Imagine, acreditava que podemos fazer tudo melhorar, não importa a situação que estejamos, que para isso precisamos começar a imaginar.

Como se fosse, imaginar aquilo que queremos para depois sonhar, idealizar, creer, lutar e conseguir. E eu imaginei, fechei os olhos e imaginei. E a imagem que me veio a mente foi eu e Dulce juntos novamente, e felizes.

Imagine there's no countries it isn't hard to do, nothing to kill or die for and no religion too, Imagine all the people living life in peace

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Notas finais do capítulo

A cena final deste capítulo foi inspirada numa das performances do seriado Glee, confere aqui: https://www.youtube.com/watch?v=HI-hbvKWCDs

;)



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