Behind The Last escrita por Apenas uma Ampora


Capítulo 4
Capítulo 3 – Sr. Patrickson


Notas iniciais do capítulo

Yey, seis pessoas acompanhando!!! (Sete, contando com a minha mamain



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Uma criança está brincando debaixo de uma árvore. A árvore é linda e antiga, e acolhedora. Já se passaram muitas coisas na sombra daquela árvore.

A menina tem um vestido feito pela mãe, uma coisa adorável com um bordado de uma flor. A mãe estava muito orgulhosa por ter feito aquela flor tão bonita.

A pequena garota brinca com algo pequeno, do tamanho de uma boneca. Trata com carinho e cuidado. É uma boneca muito especial. Um passarinho pousa no ombro da menina.

Suas penas são negras como a noite, e ele fica quietinho no ombro da menina. Ele gira o pescoço, atento a qualquer aproximação. É um passarinho esperto, bonito, gracioso. Uma maçã cai no chão, do outro lado da árvore, oposto ao que a menina está.

O passarinho fica alarmado. Ele sabe que caiu algo. Pelo cheiro uma fruta. Mas não consegue ver o que é. Ele teria que abandonar a menina e a boneca.

Talvez, se fosse só uma fruta, o pequeno pássaro não ligasse tanto. Mas como já foi dito, era um passarinho esperto. E aquela não era uma árvore frutífera.

O animal de penas negras voou do ombro da menina. Deu a volta na árvore. A maçã podre estava ali. O pássaro pousou, encarando a maçã. Estava podre.

Houve um grito. O pássaro voou de volta para a menina, mas já não era a menina.

Havia um corpo deitado no chão, totalmente desfigurado. Ainda segurava a boneca, que assim como sua dona, já não tinha mais vida. Estava inerte, estática, a boneca de olhos muitos esbugalhados e assustados.

O pássaro começou a entrar em pânico, ele tinha que cuidar da menina, mas alguém machucara sua menina. A boneca o encarava, os olhos mortos, o cabelo de lã vermelha. Ela o encarava, o acusava mudamente de não proteger a criança encarregada de cuidar de seu corpo pequeno e frágil feito a pouco tempo.

O pássaro começou a piar, dava saltos de um lado para o outro, até um gato pular da árvore para cima dele. O pássaro morreu em suas garras.

E a mulher dona da árvore viu o tronco negro, as folhas queimadas, e uma menina, uma boneca e um pássaro em brasas, e gritou até o grito se tornar vento e ferir o gato que a encarava como se zomba-se dela.

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Acordei com o despertador. Estava chorando, foi a primeira coisa que constatei. E devia estar chorando a algum tempo, porque o travesseiro sob a minha cabeça estava encharcado.

O sonho tinha sido horrível, eu tinha certeza. Eu lembrava do desespero do pássaro, semelhante ao da mulher. Era a Erin, eu tinha certeza absoluta.

Sentei-me na cama, abracei meus joelhos e chorei o que eu tinha a chorar. Não podia ter esse sonho na cabeça – não hoje.

Olhei para o despertador quando me acalmei o suficiente. Sete e quinze. Passei a mão pelo rosto e me levantei, me arrastando até ao banheiro.

Tomei um longo banho, relaxante. Hoje eu iria conhecer a avó da Lina e realmente não sabia o que esperar.

Uma velhinha de nariz grande, com rugas em uma casa velha com teias de aranha e gatos pretos?

Vesti uma sapatilha bege, calças jeans escuras e uma blusa bordô de manga comprida e gola alta, e fui tomar meu café da manhã.

Decidi tomar uma caneca cheia de café forte depois de bocejar umas três vezes seguidas.

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Já estavamos à duas horas dirigindo. Ok… EU estava.

Lina estava toda linda e confortável DORMINDO NO BANCO DE TRÁS DESDE QUE ENTRAMOS NO CARRO.

Ok, Lauren, você não quer ser presa por assassinato, não importa se você está morrendo de sono também e a criatura patética que você chama de melhor amiga desmaiou e tem um sono de pedra, te obrigando a dirigir sozinha e cansada por mais de duas horas.

Se bem que eu poderia dizer que foi legitima defesa… o juiz iria me entender.

Vi a placa da cidade e comecei a chamar o cadáver inerte.

–Lina. Chegamos.

Nem se mexeu.

– Lina! Acorda!

Continuou no sono profundo.

– LINA, MULHER, VOCÊ ME FEZ DIRIGIR ATÉ AQUI SOZINHA. ACORDA AGORA!

Ouvi um ronco baixinho, e a encarei pelo retrovisor com cara de bunda. Parei o carro, saí e abri a porta de trás. Olhei para a garrafa de água pela metade que eu tinha bebido durante a viagem. Voltei a olhar para Lina.

Dormia como um anjo. Serena e pacificamente. Dava pena de acorda-la.

Virei o conteúdo da garrafa no rosto dela sem pensar duas vezes.

Ela acordou gritando alguma coisa que eu não entendi, mas pelo tom de voz não era amigável.

Voltei pro lugar do motorista, e pelo retrovisor vi o rosto vermelho de raiva dela. Lancei um sorrisinho inocente para ela.

– Oh… você acordou!

Ela estreitou os olhos, me encarando.

– Para onde agora? – Perguntei rindo.

– Vá em frente, eu digo o caminho. – Ela cruzou os braços, rendendo-se e suspirando de braços cruzados. – E se voltar a me acordar desse jeito vai ser a ultima vez que você vai acordar alguém. – Mas por fim sorriu.

Dirigi por mais vinte minutos, até chegarmos a uma loja. Na janela, haviam pintado de tinta branca:

MÃE OLLY

VÊ SEU FUTURO, TRÁS A PESSOA AMADA EM TRÊS DIAS E FAZ MAPA ASTRAL

VENDE-SE BICICLETA USADA”

É ai que sua avó mora?

–Sim, tem uma casa por cima da loj… - O celular dela começa a tocar. – Só um minuto. Alô? Ah, sim. Eai? – Ela tirou o aparelho do ouvido e tapou com a mão. – Vai entrando, eu já vou. – Virou as costas e voltou a conversar. – Fala. Tem certeza?

Dei de ombros e entrei no local.

A porta fez aquele barulhinho de sino quando foi aberta. Tinha pouca iluminação no local, apenas algumas velas e incensos. Havia muitas prateleiras nas paredes, com vários objetos, entre velas coloridas (que não estavam acesas) a potes com líquidos e objetos que eu não consegui identificar por causa da iluminação precária. Cada um tinha seu respectivo preço em baixo.

No fundo da loja, havia uma mesa com duas cadeiras. Uma bola de cristal de um material roxo meio transparente, um baralho de cartas cuidadosamente arrumado de um lado e algumas pedras do outro.

Enquanto eu analisava tudo ao meu redor, ouvi uma descarga e uma porta abriu alguns segundos depois. De lá saiu uma mulher.

Ela era gordinha, e devia ter 1,50 por aí. Tinha cabelos ondulados até a bunda, a pele meio morena e boca naturalmente vermelha.

Assim como Lina, tinha olhos roxos.

Ela uma versão da minha melhor amiga, mais velha e um pouco mais cheinha e baixinha. Mas não parecia ser avó dela. Parecia mais uma mãe.

Usava uma blusa larga e de um branco meio amarelado, com um decote em forma de canoa que deixava os ombros de fora, e uma saia negra e volumosa, com lenços coloridos amarrados na cintura. Brincos de ouro, vários colares, pulseiras e anéis. E um sorriso muitíssimo simpático.

– Olá, você…

– Oh! Olá, moça bonita, venha, venha! Sou Olly Patrickson – Ela segurou minha mão e me puxou, fazendo-me sentar na cadeira e sentando-se na outra, em frente a minha na mesa. – O que gostaria?

– Bem, eu…

– OH! Já sei! Uma moça jovem e linda como você… Está procurando alguém, não é? – Ela deu uma risada que soou como um “Hohohoho!”. – Não se preocupe, os homens irão se jogar aos seus pés ainda, você vai ver! Só não se jogam mais aos meus porque eu já passei da flor da idade! – Riu de novo. – Então? Baralho? Nããão! Vamos para a bola de cristal!

Eu ri pela hiperatividade da senhora a minha frente.

– Escute, eu..

– Sim! Eu estou vendo! Você o encontrará em breve! Na verdade o reencontrará! Já o conhece. Vocês dois já passaram por muitas coisas juntos, mas não se vêem há muito tempo! – Ela continuava, olhando sem piscar para a bola a sua frente e sorrindo. Eu só pensei em Paul, e sorri, com saudades dele. – Ele não está perto de você agora, mas logo estará!

Ela ficou séria.

– Mas há algo que vai atrapalhar vocês. Uma mulher. Ela sabe muito sobre você, mais do que você mesma. E ela o ama, e tentará se livrar de você várias vezes. Ela já tentou antes, e foi isso que separou vocês por um tempo.

Um pressentimento ruim me atingiu. Ela estava começando a falar da Erin e do sonho que eu tive no coma.

– Mas vocês ficarão juntos de novo, e isso despertará a raiva dela. Isso vai colocar em risco a felicidade de outras pessoas também, pessoas próximas a você.

Ela falava de uma maneira monótona e sem emoção. Como se ela falasse automaticamente, e sem realmente tomar atenção ao mundo a sua volta.

– Você tem uma longa jornada pela frente, mas ele estará ao seu lado. Vocês irão se reaproximar aos poucos. Terão momentos felizes juntos. Mas seu futuro é incerto.

Ela me encarou, sem realmente me olhar.

– Seu destino depende totalmente das escolhas que você fará a partir de agora.

Foi minha vez de olhá-la sem expressão. Não sabia o que pensar daquilo. Ela estava falando de Paul? E quem era essa mulher apaixonada por ele?

Pensei em Erin. Foi quando ela surgiu que eu tive o acidente que de certa forma me separou dele. Erin estava tentando me separar de Paul?! Isso não fazia o menor sentido!

A senhora piscou o olhos três vezes e sorriu.

– São vinte dólares, volte sempre! Toma esse sabonetinho de brinde! – ela me jogou um sabonete do tamanho de um controle de carro, embrulhado com um papel negro com estrelinhas douradas.

Lina entrou nessa momento desligando o celular.

– Oi vovó!

– Lina! Eu estou com cliente!

Lina olhou da cara de brava da avó para a minha cara. Aposto que minha expressão era algo como “Socorro! Me tira daqui! Eu não tenho vinte dólares!”

– Ela não é cliente, vó. É minha amiga! Viemos conversar com a senhora, mas eu tive que atender meu celular e mandei ela vir na frente! Devia ter imaginado que a senhora ia aproveitar a oportunidade de ganhar dinheiro e nem ia ouvir a moça. – Ela começou a rir, o que fez a Sr. Patrickson rir também.

– Ora, então venham as duas. Vamos subir! – Ela se levantou da cadeira e fez sinal para nós a seguirmos.

Passamos por outra porta pequena que levou a uma escada, onde subimos até encontrarmos um apartamento pequeno, mas aconchegante, em tons claros, totalmente diferente da loja em baixo.

– Oh, Lina! Como você cresceu!

– Vovó, a senhora me viu mês passado.

A senhora riu.

– Eu só queria quebrar o gelo, como vocês jovens dizem. Então, em que posso ajuda-las?

– Bem, Sr. Patrickson… - comecei.

– Olly! Pode me chamar de Olly, querida.

– Olly. Bem…

E eu contei. Contei sobre os sonhos desde os sete anos (o mais cedo que eu conseguia me lembrar), sobre o acidente e a aparição de Erin no meio da estrada, sobre as lembranças (tanto do coma quanto daquela vez do espelho). E finalmente entrei no assunto que eu queria. A teoria que eu havia perguntado a Lina no dia anterior.

A Sra. Patrickson – Olly – ouviu tudo atentamente, sem esboçar nenhuma reação além de concentração nas palavras que eu pronunciava.

Quando eu terminei, a senhora suspirou.

– Existia uma maldição, como a Lina lhe disse. Ela se perdeu no tempo, ninguém mais sabe como fazer isso. Era extremamente perigoso, extremamente cruel, e no fim matava quem a lançava.

Olly encostou-se no sofá e pediu para Lina ir fazer um chá. Depois disso continuou.

– Antigamente era muito difícil fazer as coisas. Não é como hoje, onde o conhecimento pode ser adquirido em questão de segundos, por exemplo. Foi por isso que criaram a maldição. Imagine uma pessoa que queria muito o poder. Era uma sede tão grande que, por não ter conseguido isso em vida, as pessoas arriscavam a própria alma para que pudessem continuar essa busca incessante em outra.

– Isso conseguia abranger outras pessoas além de quem lançou a maldição? – perguntei.

– Sim. Mas essas pessoas não se lembrariam disso. Apenas quem lançou a maldição saberia quem era em outra vida. Mas era extremamente raro alguém usa-la.

– Por quê?

– Porque a pessoa morria ao usar o feitiço. Não dava para se ter certeza de nada referente a ele, porque não dava para falar com a pessoa que o conjurou. Não se sabe quase nada a respeito dele, principalmente agora. Sei que eram apenas duas ou três frases em latim. E a pessoa tinha que ter a alma suja.

– Como assim?

– Ela tinha que ter matado no mínimo duas pessoas por vontade própria. Tinha que ser no mínimo duas, porque dois é o numero que mostra que você fez algo e não se arrependeu, já que foi capaz de fazer de novo. Então a pessoa falava as frases em latim, em alguns minutos morria. Era uma maldição cruel.

Concordei. Lina trouxe o chá, e, depois de cada uma pegar uma xícara, se jogou ao lado da avó no sofá.

– Então… Eu fui a Erin no passado?

– Não, a Erin é você no presente. Tem uma diferença significativa nisso.

– Mas eu tenho tido esses pesadelos. Sei da maldição e tenho certeza que não fui eu quem a joguei. Pelo que você falou eu não me lembraria…

– Bem, como eu disse só se sabia o teórico da coisa. Talvez, pelo que me contou, você se lembre porque a… era Soraya o nome?… a Soraya matou pessoas diretamente ligadas a Erin, além de ter convivido com ela e ter conjurado a maldição praticamente do lado dela.

Suspirei e bebi meu chá.

– O que eu faço agora?

– Bem, se a Soraya fez o que fez pelo motivo que imagino... Acho que você devia tentar salvar aqueles que foram arrastados por essa maldição.

– Salvar?

– Bem, não acho que elas os mataria, mas faria algo ruim a eles. Ela não quer atingir só você, se os arrastou também. É um plano de vingança, sinto que tudo o que você me contou, todas essas pessoas que você sonhou no coma, estão conectadas e aqui, nesta época.

– Isso soa um pouco inacreditável…

– Bem, é você quem tem visões loucas com uma moça igual a você.

– Tudo bem, eu acredito. Mas o mundo é… enorme! Não sei nem por onde começar, existem bilhões de pessoas no mundo!

– Pode começar pela Flórida.

Interrompi o que eu ia dizer.

– Quê? Flórida?

Ela bebeu seu chá, sorridente.

– O homem da sua vida está lá. Vi na bola de cristal. E aliás, são vinte dólares, não se esqueça.


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Notas finais do capítulo

Ok! Afirmo que inventei essa maldição e que meu conhecimento sobre a magia não é tão vasto assim. Mas espero que tenham gostado!

Que tal deixar um comentário?? :3

Beijinhos da Ampora!