Behind The Last escrita por Apenas uma Ampora


Capítulo 3
Capítulo 2 - O espelho


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!!! *-*



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O médico, um homem de meia idade e um pouco gordo, com cabelo grisalho e olhos escuros, veio assim que Lina o chamou, e me explicou tudo. Aparentemente, quando eu perdi o controle do meu carro por causa da chuva, ele capotou barranco abaixo, e eu bati a cabeça com força. Concussão ou algo assim e desloquei alguns ossos também.

A questão é que eu não acordei durante alguns meses. Eu respirava como se estivesse dormindo, e estava tudo bem comigo, já que tinham conseguindo colocar meus ossos no lugar. Eu não precisava realmente ficar na UTI, mas eu estava em coma, e eu tinha que ficar em observação porque em alguns dias, durante meu sono, o meu coração disparava, como se eu estivesse cansada ou passando por uma emoção forte.

Passei mais alguns dias com hospital, e logo fui liberada para ir para casa. Perguntei por Paul, mas Lina disse que ele estava viajando a trabalho. Não insisti, eu estava me sentindo meio estranha, e tudo o que eu queria era ir para casa.

Lina me deu um abraço e disse para eu descansar e não me preocupar com nada, porque ela iria até o prédio da Rubi, a revista onde nós trabalhávamos, dar a noticia de que eu já estava acordada e pronta para voltar ao trabalho.

Entrei em casa, no automático, sem saber o que fazer. Tudo estava como eu tinha deixado naquele dia. Cambaleei até meu quarto, onde tirei a roupa e fui tomar um banho.

Esfreguei minha pele até o cheiro de hospital sair, e até eu me sentir verdadeiramente limpa, sem aquela camada de confusão e estresse me cobrindo. Só parei quando minha pele ficou vermelha e começou a doer e arder quando eu passava a esponja.

Sai do banho e vesti qualquer coisa. Por um momento cogitei em me pentear, mas desisto da ideia. Sei que ia me arrepender disso amanhã, mas estava cansada demais para fazer qualquer coisa além de cair na minha cama e dormir até a manhã seguinte.

Ok, como uma pessoa que dormiu por 5 meses pode estar cansada?

Eu estava. Na verdade, eu estava emocionalmente e mentalmente exausta. Podiam ter sido 5 meses de descanso físico, mas eu tivera o pior sonho que eu já tive.

Não era como em um sonho normal. Aquilo tudo fez sentido, como se eu estivesse vendo tudo aquilo acontecer de verdade. Na verdade, eu participava daquilo. Era eu quem estava ali, falando, agindo, sentido. Meus sonhos nunca foram assim.

Eram sempre formas estranhas, tudo embaçado como se eu estivesse enxergando tudo de debaixo d’água, extremamente confuso e por vezes perturbador. E quando eu acordava eu ia esquecendo. Quando mais pensava mais os detalhes me fugiam.

Mas dessa vez aquelas cenas vinham a minha mente, nítidas e claras. Ficavam martelando minha cabeça, e aos poucos eu ia me estressando de novo. A sensação de que eu ia acabar ficando louca era horrível.

Minha casa nunca me pareceu tão sinistramente vazia como quando eu me cobri com a coberta e esperei o sono chegar.

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Acordei com uma mosca zumbindo no meu ouvido sem parar. Perdi a paciência e decidi acordar. Foi só quando eu já estava me espreguiçando que eu me toquei.

Pela primeira vez desde os meus sete anos, eu não sonhei com nada.

Às vezes acontecia de eu acordar achando que não tinha sonhado, mas era porque eu apenas esquecia o sonho. Eu acordava com a mesma sensação de sempre, um misto de confusão e aflição.

Mas eu estava bem. Relaxada, e simplesmente… normal. Sem pânico, sem confusão, sem desespero. Sem precisar me acalmar.

Comecei a rir de felicidade. Dessa vez não foi o fogo sufocante que me acordou, e sim uma mosca! Em agradecimento, não a matei e deixei ela voar livremente.

Fui tomar o banho, saltitante, e vesti um vestido florido até ao joelho, branco e com umas flores delicadas.

Peguei o pente, cantarolando, e me aproximei do espelho para me pentear.

Congelei quando dois olhos azuis me encararam de volta. Olhos que, mais do que nunca, não eram meus.

Havia um espelho e havia uma mulher sendo refletida. Ela sorria ao ver o vestido marrom que ganhara de presente.

– Vamos Erin? Estão lhe esperando. – Uma voz feminina soa.

– Estou indo… - A mulher no espelho fala, com a minha voz, e volta a se encarar no espelho. Os olhos azuis faiscando.

Olhos que ainda me encaravam enquanto eu continuava estática em frente ao espelho. Tentei piscar, e os olhos piscaram também. Mexi-me, e o reflexo fez o mesmo. Deixei a escova cair no chão e corri para pegar meu celular.

Ela atendeu no terceiro toque.

– Lina? Por favor, preciso de você!

Aconteceu alguma coisa? – Ela pergunta, e sua voz soa imediatamente preocupada. – Está se sentindo mal?

– Não… Sim… Eu não sei! Aconteceu uma coisa estranha, eu preciso de você aqui comigo!

Não dá para me explicar por telefone?

– Não, Lina, não dá! Vem aqui agora! – praticamente grito.

Hey! Calma!

– Desculpe, eu estou assustada, estou confusa, preciso conversar com você, só você pode me ajudar! – Ouço ela suspirar.

Estarei ai em meia hora mais ou menos. Tome um chá para se acalmar. Tchau.

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– Olha, você só está confusa por causa do hospital. Eu tenho um amigo que é psicólogo e…

– EU NÃO ESTOU FICANDO LOUCA, LINA! – Gritei e me joguei no sofá, agarrando meus cabelos e respirando fundo. – Eu estou dizendo. Eu estava me olhando no espelho, e ai tinha uma mulher. Ela era igual a mim mas ela não era eu. E ela estava vendo seu reflexo no espelho e eu estava vendo pelos olhos dela, mas eu não era ela. E tinha outra pessoa, e outro quarto, e outro espelho, mas era tudo igual ao que sempre foi, minha parede branca e o espelho. E…

– Eu já entendi, calma. Bebe mais. – Peguei a xícara com as mãos trêmulas e bebi um pouco. - Tudo bem, isso realmente aconteceu, eu acredito. Talvez tenha sido uma visão. Muitas pessoas são sensíveis ao sobrenatural.

– Não sou sensível… era ela. A moça dos meus sonhos. – Lina ia falar algo, mas se calou por alguns segundos.

– Lauren… para que exatamente você me chamou? – ela fica séria.

– O que você sabe sobre vidas passadas?

Ela me encarou.

– Eu não sou espírita, Lauren.

– Eu sei, justamente por isso! Eu tenho uma noção básica de espiritismo. Sobre reencarnação da alma e tal. Mas sinto que não é ai que eu vou achar a resposta. Todos os espiritas que eu conheci… ninguém era atormentado por pesadelos como eu. E eu sonhei a vida da moça inteira, com detalhes nas cenas que me apareceram. Eu não sei, tudo isso é confuso. Mas aquela moça, Erin… eu tenho quase certeza que ela… ela sou eu.

– Ok… bem… - Ela se levando da poltrona e ficou em pé, apoiando as mãos nas costas da mesma. – Minha avó é uma seguidora da bruxaria tradicional. Não Wicca… bruxaria antiga. A magia que era praticada nos tempos antigos, antes da igreja a destruir. Mas ela não foi totalmente destruída, as pessoas continuaram praticando, escondidas, e o conhecimento foi passado de geração em geração.

Ela continuou, séria e encarando o chão como se conseguisse ver uma imagem se formando.

– Ela me contou diversas histórias durante os anos em que eu morei com ela. Havia uma espécie de maldição antigamente. Algo que apenas os bruxos mais poderosos conseguiam fazer, porque consumiam mais da metade da sua energia vital. Não me lembro bem, mas acho que era um dos feitiços de imortalidade. Esse era algo como renascer em outra vida para terminar o que começou… Mas não tenho certeza.

– Seria possível isso estar acontecendo? – Pergunto. Eu provavelmente deveria estar sendo cética em relação a isso. Ou no mínimo estar assustada com o que ela falara, com a possibilidade de tudo isso ser real e já ter acontecido. Mas não. Parecia que finalmente tudo estava se encaixando. Tudo fazia sentido.

– Eu não sei… Eu precisava falar com a minha avó. Mas ela mora em outra cidade…

– Ela não tem telefone?

Lina riu.

– Não. Não tem. Mas se quiser pode ir comigo. Demora só algumas horas de carro.

– Tudo bem. Podemos ir amanhã?

– Claro. Ah, antes que eu me esqueça… - Ela me jogou um pendrive. – Tem trabalho para você. Vou nessa.

Despedimo-nos, e eu fui fazer o jantar. Comi rapidamente e liguei o computador, colocando o pendrive, com uma caneca de café do lado, e comecei a trabalhar na edição de algumas fotos.

De vez em quando eu olhava para o espelho da sala, mas eu apenas via meu reflexo.

Consegui terminar tudo antes das três da manhã, e coloquei o despertador para as 7, já que eu e Lina tínhamos combinado para as 9 – e convenhamos que eu não era das melhores pessoas para me arrumar rápido.

Só tive forças para tirar a roupa e vestir um pijama, e cai na cama morrendo de sono.


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Notas finais do capítulo

Eai??? :D mereço um comentário? d(ºuº)b

Vão fazer uma autora bem feliz ;v;

O próximo provavelmente sai amanhã! Agora é que a história vai começar de verdade XD

Beijinhos da Ampora :3