Hipnotizados escrita por Wendy


Capítulo 22
Perseguição




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Alguns dias se passaram até que Anúbis apareceu pronto para viajar, como um turista animado pra sua próxima aventura. Ele arrumou um novo celular para Peter.

—E, veja só, tenho mais um presente. - Disse ele, entregando-lhe algo parecido com um cartão. – Estamos prontos para ir embora, Sr. Ruanito Lorenzo. –Falava com um sotaque espanhol.

—Uma identidade falsa? –Surpreendeu-se o garoto.

—É eu sei, a minha é mais legal. –Dirigiu-se para a porta. –Até mais Hector, volto para te visitar depois.

—Lá vai ele, novamente... Bem, tchau, Charlie. Espero que não cause tantos problemas dessa vez.

—Mas isso é exatamente o que eu quero fazer. Além do mais, não me chame de Charlie. Á partir de agora eu sou Ramiro Santiago e esta é a primeira vez que piso nessa cidade.

☼ ☼ ☼

Os dois foragidos saíram. Usavam muita roupa e toucas para protegê-los de olhares desconfiados, por sorte, o frio típico os deixava parecidos com qualquer um que estivesse andando pelas ruas. Carregavam apenas mochilas velhas que Hector emprestou para cada um, com objetos que poderiam ser necessários, como água, cereal, roupas e algumas facas, no caso de Max. Insistiu em deixar uma com Peter. Ele sentia-se bem por estar com seu cachecol novamente.

—Espero que não se importe em estarmos saindo à noite. –Anúbis colocava um palito em sua boca. –É melhor para que não nos reconheçam.

—Sem problemas. Tenho dormido bem tarde ultimamente. Mas... Como vamos embora?

—Vou conseguir algo.

Ao longe, era possível ouvir vozes de crianças brincando e, logo depois, o grito de uma provável mãe:

—Está na hora de entrar! Querem passar a noite inteira aí fora?

O rapaz não conhecia a sensação de receber uma bronca dessas e muito menos da frustração por precisar se recolher. Não gostava de brincar com as outras crianças. De repente, uma voz desconhecida chamou a atenção de Peter e Max.

—Espere aí!

Anúbis virou-se, deparando-se com um homem furioso vindo em sua direção, como se estivesse pronto para agarrar o chacal pelo pescoço. Ao invés de fazê-lo, ele agarrou a gola da camisa de Max, puxando-o para que pudesse olhá-lo diretamente nos olhos, forçando Anúbis a se abaixar, já que era mais alto do que o sujeito estressado.

—Espero que essa mochila em suas costas não queira dizer que está indo embora da cidade.

—Ei, o que você está fazendo aqui?

—Não se faça de desentendido, cara! Vim te cobrar, é claro. Não pense que pode sair por aí me devendo dinheiro.

—Já não te paguei?

—É, pagou... Uma parte! Você pode até me achar com cara de estúpido, mas eu notei que estava faltando grana.

—Você sabe que é um pouco complicado arranjar dinheiro por aí, não é?

—Eu não estou de brincadeira! –O homem zangado que usava um boné e jaqueta jeans, apertou ainda mais a gola que segurava, fazendo com que o Chacal se irritasse. –Eu fiz um serviço bem feito e entreguei suas identidades falsas o mais rápido possível. Agora cumpra sua parte do trato e me de o resto do dinheiro!

—Você sabe quem eu sou? –Seus olhos negros agora estavam assustadores e sua voz, ameaçadora. Se tinha uma coisa que Anúbis odiava, era ser rebaixado e subestimado dessa maneira.

—Pouco me interessa quem você é. O que vai fazer? Chamar a polícia?

Anúbis retirou forçadamente as mãos que haviam amassado sua roupa, lançando um olhar que parecia ainda mais intimidador, agora que ele havia se endireitado e estava em sua estatura natural.

—Vamos embora. –Ele chamou Peter, virando-se e caminhando para o outro lado, ignorando toda a cena.

—Não, você não vai até que eu esteja com todo o meu dinheiro. –Determinado e ignorando completamente a mensagem, ele partiu em direção ao homem que lhe devia, com uma faca pronta para fazê-lo de refém, até que passasse todo o dinheiro que carregava consigo.

—Cuidado! –Alertou Peter, pensando se conseguiria fazer algo a tempo de ajudar. Contudo, não foi necessário.

Quando Anúbis virou-se novamente, o outro já estava com sua faca no alto, preparando-se para golpeá-lo. Essa não era a melhor maneira de atacar uma pessoa. Max quase riu pela inexperiência do outro, se não houvesse perdido sua paciência.

Agarrou o braço que segurava o objeto, apertando-o com tanta força que o outro acabou fazendo uma careta. Sem hesitar e aproveitando que ele estava desconfortável, Max chutou o estômago do cara de boné, fazendo-o cair no chão, lutando para respirar. Aproveitando que suas mãos estavam fracas e trêmulas pelo susto da pancada, retirou-lhe a arma afiada e encostou a ponta no pomo de adão do homem. Abaixou-se até ficar em frente a frente como os olhos escondidos pela sombra do boné, mas que provavelmente estavam apavorados. Enquanto uma mão segurava um dos pulsos da vítima, um dos pés de Charlie impedia que a outra mão do sujeito se mexesse.

—Você não entendeu... –Sua voz, quase em sussurro, deixava a tensão ainda maior, fazendo com que o homem de boné tremesse a cada palavra. –Eu decido quem vive em quem morre.

—Você se acha um deus? –A voz do homem estava falhando, sentia dificuldade para respirar. Utilizou toda a coragem que restara para cuspir em direção ao rosto do chacal. –Você é patético.

Anúbis não conseguiria se controlar. Distinguia apenas ódio no rosto mal iluminado do homem, que começava a se parecer com David Schade. Sempre acabava enxergando a imagem de Dave em alguém que não gostava e estava prestes a matar, fantasiando seu maior desejo: Matar Schade. O que importava nesse momento, era que o homem a sua frente havia feito a escolha errada e, como todo mortal, precisava pagar por isso.

Tampando a boca se sua vitima violentamente, ele não pensou duas vezes antes de esfaqueá-lo com toda sua força, utilizando a faca que acabara de roubar dele mesmo. Ficaria com ela, como uma espécie de lembrança que poderia ser útil futuramente.

Finalmente levantou-se, com a roupa repleta de sangue fresco que já começava a resfriar. Estava cansado. Não economizara nas apunhaladas, deixando apenas um cadáver encostado ao poste com um rosto irreconhecível. Suas mãos doíam; Não era fácil esfaquear alguém na região craniana, porém, não se arrependeu.

Quando ele se aproximou, Peter teve a impressão de estar assistindo a um filme de terror, onde o assassino de fato estava indo para sua direção. O garoto estava paralisado, sem saber o que dizer. Nunca havia visto uma cena tão cruel ao vivo. Nem mesmo quando matara Robert.

De repente, Anúbis parou e voltou-se para o corpo que estava prestes a abandonar, como se houvesse se lembrado de algo. Revistou os bolsos da jaqueta que o cadáver vestia até encontrar algo.

—Acho que podemos ir agora. –Sacudiu a chave de um carro.

☼ ☼ ☼

Enquanto Anúbis dirigia, Peter não se sentiu muito confortável para iniciar uma conversa, principalmente após a cena anterior. Retirou a faca que estava em sua mochila e começou a examiná-la, pensando se também era capaz de fazer algo como aquilo.

—Sabe, você me lembra muito a mim mesmo, quando era mais jovem. –Ele não deixava de observar o rapaz ao seu lado.

Vários quilômetros depois, foram obrigados a diminuir a velocidade: Estavam passando por uma área cercada por policias, que estavam verificando um grave caso que ocorrera na cadeia daquela região. Provavelmente algum presidiário havia causado um transtorno ou até mesmo fugindo, deixando os oficiais em alerta.

—Droga... 

—Nós poderíamos tentar outro caminho, algum que esteja mais vazio. –Sugeriu o rapaz. -Embora seja difícil fazer um retorno agora...

—Não podemos voltar, seria suspeito.

Um dos oficiais se aproximou do carro, pedindo para que a janela fosse abaixada. Anúbis encolheu-se e baixou sua cabeça, tentando cobri-la disfarçadamente. Fingiu estar sofrendo de uma terrível coceira abaixo dos olhos para esconder seu rosto ainda mais.

—Carteira de motorista, por favor. –Pediu o policial.

Ramiro Santiago, ou pelo menos o criminoso que usava esse nome cladestinamente, entregou o documento, que foi atentamente estudado.

O oficial examinou cuidadosamente o objeto, verificando sua legitimidade. Olhou para Charlie e Peter, enquanto os mesmo disfarçavam o máximo possível. O bruxo sentiu o frio e desconfiado olhar que parecia penetrar em sua alma, enquanto fixava seus olhos na paisagem da janela, evitando contato visual. Pequenas gotas de suor escorriam em suas costas e o clima estava pesado.

Logo depois, Anúbis agradeceu à todos os outros deuses egípcios por finalmente estarem liberados. Os documentos falsos realmente haviam sido bem elaborados. Por um minuto, sentiu que deveria ter pagado melhor o homem que os fizera, mas essa vontade logo passou.

Peter retirou o cachecol que cobria metade de seu rosto e sentiu o alívio de estarem de volta à estrada. Os dois não conseguiram conter o riso, pensando na situação que haviam acabado de passar. Entretanto, logo descobririam que o ditado “a felicidade dura pouco” era uma verdade absoluta.

Enquanto se dirigiam para uma rua mais calma com o intuito de não chamar a atenção, ouviram um barulho muito alto que os assustou e logo, Anúbis começava a perder o controle do automóvel. Um dos pneus havia estourado.

—Que porra é essa?! –Gritou Max, tentando desesperadamente manter o carro na estrada, o que era uma tarefa aparentemente impossível.

—Eu não sei! –Peter segurava-se para não cair durante as manobras. –Precisamos sair.

O carro guiou-se praticamente sozinho para fora da rua. Fizeram uma parada brusca, de modo que os dois quase saíssem pela janela.

Saíram imediatamente do veículo e não precisaram pensar muito para entender o que havia acontecido. Um carro da polícia surgiu, perseguindo-os, e Anúbis logo notou, pela arma na mão de um dos policiais, que ele havia atirado no pneu.

Teria ficado louco de raiva, contudo, não tinha tempo para isso. O policial disparou novamente, forçando-o a se esconder rapidamente atrás do carro de três pneus. A bala passou ao seu lado. Precisava prestar atenção, ou não teria tanta sorte com a próxima.

—Cuidado! –Chamou a atenção de Peter, que não esperava por um ataque tão direto como esse.

Estranhamente, o alarme da polícia não estava tocando e eles não dirigiam com tanta velocidade, como em uma perseguição séria.  Não queriam chamar atenção. Peter observou-os correndo em direção aos dois.

—Temos ordem para atirar, mas podemos fazer isso de uma maneira pacífica, isso é, se vocês concordarem. –O policial era o mesmo que havia verificado os documentos de Anúbis. Possivelmente, havia notado o comportamento estranho de Peter enquanto o encarava. –Queremos o garoto.

O bruxo sentiu cada músculo de seu corpo congelar, enquanto Anúbis o encarava com um olhar surpreso.

—Ei, - Disse um policial para o outro. –O homem que estava dirigindo só pode ser Anúbis, aquele assassino famoso. Fiquei sabendo que foi ele quem ajudou o garoto a fugir.

—Ótimo, assim levamos o pirralho e deixamos o outro na cadeia. Vamos ver quanto vale a cabeça de um Chacal.

Anúbis não sabia se estava mais espantado por serem perseguidos tão cedo, ou pela atenção maior estar voltava para Peter.

—Quem são esses loucos? –Max estava ofegante, corria o mais rápido que suas pernas o permitiam.

—É uma longa história. –O batimento cardíaco do bruxo estava acelerado. –Pra falar a verdade, não sei se você acreditaria.

—Bem, isso não importa agora. Precisamos sair do caminho desses caras. –Ele notou que um dos estranhos policiais estava com um pequeno equipamento de eletrochoque. –Rápido.

Entraram em um beco, atropelando algumas latas de lixo, onde Peter precisou lutar para não tropeçar e cair. Apenas conseguiu pelo fato de Max ter agarrado seu braço, ajudando-o.

Em meio à pressa, ele havia tido uma ideia: Puxou o garoto para trás das latas que ainda não haviam sido derrubadas, onde havia uma pilha de objetos velhos e quebrados. Provavelmente, aquele beco era o lar de algum mendigo. Tinha um colchão, travesseiros rasgados e pilhas de material eletrônico e latinhas que poderiam ser vendidos. Provavelmente o assustaram com a bagunça.

Anúbis tentava recuperar o fôlego enquanto sussurrava:

—Ei... Porque estamos... Sendo perseguidos mesmo?

—Esses caras... –Peter também estava com dificuldade para respirar, até estranhamente mais do que Max. –Eles são de uma... Organização secreta que procura por pessoas como eu.

O mais velho franziu os sobrancelhas.

—Você é um agente revolucionário ou algo do tipo?

—Não, não é nada disso. –Riu. –Eu... Bem, não sei como explicar, mas... Eu sou um bruxo.

Max o encarou por alguns segundos, sem reação. Suas impressões sobre o garoto haviam sido inteiramente renovadas. Ele sorriu.

—Você é completamente louco. Eu sempre acerto na escolha de novas amizades.

Obrigaram-se a fazer silêncio quando os policias se aproximaram, verificando cada centímetro para encontra-los. Eles ficaram na frente da pilha de coisas que escondia os foragidos, prontos para jogar tudo fora. Anúbis decidiu que estava na hora de agir.

Chamou a atenção de Peter, apontando para a direção do policial que estava mais próximo ao garoto. Apontou para si mesmo e logo depois, na direção do outro policial, que estava mais perto dele. O bruxo recém-assumido fez um sinal, afirmando que havia entendido. Max contou até três com os dedos, até que o momento finalmente chegou.

Peter e Anúbis empurraram a pilha de bugigangas contra os policiais, que caíram, ficando soterrados. Max “mergulhou” na montanha de objetos, jogando vários deles pelos lados, até encontrar o rosto de um dos estranhos homens, que tentava alcançar sua arma que se perdeu no meio do incidente. O chacal o agarrou pelo colarinho, espancando-o até que ficasse inconsciente.

Peter não tinha as melhores habilidades de equilíbrio e tentava ficar em pé sem cair novamente no meio do lixo. Quando o outro policial tentou levantar-se, Anúbis o agarrou pelos ombros, derrubando-o e retirando sua arma. Utilizou o objeto para nocauteá-lo, deixando-o igual ao parceiro de trabalho.

—Precisamos sair daqui. –Lembrou Peter, observando o que sobrara daquele lugar.

—Esses caras do hospício são sinistros mesmo. –Anúbis não dera atenção ao aviso. –Nunca pensei que eles levassem tudo tão á sério.

“... Hospício...?” Pensou o rapaz, porém, preferiu não falar nada. Sua imagem de louco já havia sido construída.

—Já sei! –Pela expressão em seu rosto, Max havia tido uma ideia que lhe parecia muito divertida.

—Em que você está pensando? –Peter perguntou, porém não recebera atenção novamente, já que o outro parecia ocupado demais observando os corpos desmaiados e caídos.

—Ei, Harry Potter. –Chamou- Vem cá.

“... Harry Potter...?”

—O que foi?

—Que tamanho de roupas você usa?


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