Hipnotizados escrita por Wendy


Capítulo 23
Lar doce lar




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Lana aceitava aos poucos sua nova identidade. Era difícil viver em um corpo completamente diferente, mas encarou aquilo como uma nova oportunidade. Pensou em visitar Peter na cadeia, mas ele havia sido levado para um lugar muito longe e ela não estava disposta a viajar. Nem havia condições para isso. Apesar de sempre preferir ficar sozinha, gostaria de ter passado mais tempo com o garoto. Ele, de fato, foi a pessoa mais atenciosa que ela já conheceu em suas duas vidas.

Com um pequeno pedaço de carvão que encontrou na antiga lareira da sala de estar, rabiscava algumas folhas velhas. Pela primeira vez em muito tempo, sentiu vontade de colorir novamente, mas não tinha nenhum lápis. Decidiu brincar com efeitos de sombra no papel, que resultavam em desenhos incríveis, fazendo o tempo passar mais depressa.

Certo dia, enquanto finalizava a ilustração de um pássaro em uma folha amassada, ouviu o barulho de portas de carro sendo fechadas. Olhando pela janela, algo muito estranho lhe chamou a atenção: Um carro da polícia estava parado bem em frente à casa e dois oficiais se aproximavam, determinados a entrar. Será que traziam notícias de Peter? Ou procuravam por ela? Lana sentiu-se desconfortável e com medo por não saber o que estava acontecendo.

A porta, que estava trancada, foi atingida por violentas e rápidas batidas.

—Abre aí!

Lana estranhou a situação. Que tipo de policial fala “Abre aí”?

—Eu falei para esperar um pouco!

Agora, a garota tinha certeza de que estava delirando; A voz do outro lhe parecia muito familiar. Talvez ficar o dia todo desenhando não lhe fizesse muito bem, ou realmente estava com saudades do bruxo.

Cansada de procurar respostas para a situação, abriu a porta de uma vez.

—Ufa, já estava na hora! –Exclamou um dos policiais, que entrou na casa imediatamente, ignorando Lana. –Achei que a polícia ia nos encontrar. Ah, me lembrem de dar um sumiço naquele carro antes que desconfiem.

—Lar doce lar. –Peter retirou o chapéu de policial que lhe cobria o rosto.

Lana sorriu; Há quanto tempo não havia feito isso? Ele a abraçou durante alguns minutos e verificou se estava tudo bem, como se ela fosse feita de um frágil vidro que pudesse quebrar a qualquer momento.

—Cara, a situação de vocês está pior que a minha. –Anúbis, com uma fatia de pão na boca, procurava mais comida nos armários da cozinha. –Não tem quase nada aqui.

—Ah, você encontrou o dinheiro que eu guardei? –Preocupou-se o garoto.

—Sim, comprei um pouco de comida, mas nada demais.

—Se eu soubesse, teria arranjado mais. Bem, acho que preciso fazer isso agora. –Dirigiu-se para Max. –Você vem?

—Nem ferrando. –Pulou no sofá com o pouco alimento encontrado. –Um chacal também precisa descansar às vezes.

Peter sorriu. Anúbis parecia se acostumar a qualquer lugar e situação, entretanto, sem abandonar seu jeito único. O bruxo admirava isso. Tudo o que precisava agora era se livrar das roupas azuis e vestir-se novamente com o bom e velho sobre tudo preto.

☼ ☼ ☼

Mais tarde, Max já havia se livrado do carro e Peter voltava com as “compras semanais”. O chacal, que havia encontrado um palito de dente para deixar no canto da boca, decidiu quebrar o silêncio matando sua curiosidade com Lana:

—Então... Como vocês se conheceram?

—Bem... –Respondeu ela, com sinceridade. –Ele resgatou minha alma do Mundo dos Mortos e me colocou no corpo de uma menina morta, com seus poderes de feitiçaria.

O ouvinte mastigou mais um pedaço do sanduíche que comia, observando-a sem reação.

—Vocês são completamente loucos. Bem, todos dizem que cada um tem o maluco que merece.

 -Sei que isso pode parecer insano, - Peter retirava os alimentos das sacolas. –Mas estamos sendo procurados não só pela polícia, mas também pela Associação Mundial Contras as Bruxas e isso é muito serio. Estamos correndo risco de vida por aqui. –Parou por um momento. -Não queria tê-lo envolvido nisso, sei que você já tem problemas demais.

—Bem, tenho que reconhecer que agora tô sendo procurado pelos malucos do hospício também. Mas isso é duplamente mais emocionante!

—... Emocionante? –Perguntou Lana.

—Minha vida é uma chatice. –Esclareceu ele. –Preciso de novos desafios para me entreter.

Peter riu levemente.

—Agora entendo o motivo de tantos assassinatos.

De repente, a ficha de Lana caiu.

—Espere. Você não é o...?

—Anúbis, o assassino da TV? –Perguntou o bruxo. –É ele mesmo.

—Surpresa! –Exclamou o chacal, que dava mais atenção ao sanduíche.

Lana estava de boca aberta. Peter havia contado que o homem lhe ajudou na prisão e os dois fugiram juntos, mas a garota não imaginava a gravidade da situação.

—Aliás, vocês tem ketchup?

☼ ☼ ☼

—Onde você está indo? –Peter notou que Anúbis se preparava para sair de casa.

—Conhecer a vizinhança.

O bruxo questionou com o olhar.

—Sabe, esse lugar é maneiro e tal, mas não posso ficar na sua casa pra sempre. Além disso, se estivermos separados, não vamos ser capturados ao mesmo tempo.

—É, você tem razão... Mas pra onde pretende ir?

—Vou encontrar minha galera. –Abriu um nostálgico sorriso. –Não nos vemos desde que eu fui preso da última vez.

—Você faz parte de um grupo?

—Quando se vive solto pelo mundo você acaba participando de vários grupos, cada um mais louco que o outro. Mas esse é diferente: são pessoas que eu gostei e confiei no instante em que conheci e pude ter certeza de que eram gente boa conforme o tempo foi passando. Tipo você.

—Eles também são criminosos?

Max sorriu. Dessa vez, era uma expressão desafiadora e maliciosa.

—Digamos que eles não curtam seguir regras.

☼ ☼ ☼

Anúbis caminhou pelo bairro, fazendo um reconhecimento do local. Analisou as melhores opções para uma fuga (a pé ou em rodas) e conferiu bons locais para arranjar um carro; Precisaria de um.

Enquanto voltava para a casa em que era hóspede, teve a estranha impressão de estar sendo observado, contudo, não conseguiu identificar quem o espreitava pelas sombras.

Merda...” Pensou. “Aqueles doidos do manicômio não desistem nunca. Preciso dar o fora daqui o quanto antes”.

Fez questão de caminhar mais apenas para confundir seu seguidor. Quando entrou na residência, não sabia ao certo se já haviam descoberto onde ele e Peter haviam se alojado.

Antes de entrar, notou que algumas folhas estavam jogadas por ali e logo se interessou quando descobriu tratar-se do jornal da cidade. Nele, estava estampada uma manchete chamativa com letras grandes.

Sorriu. Precisava mostra-lo para Peter.

☼ ☼ ☼

—“Assassino foge de prisão com novo cúmplice”. –Leu o garoto.

—Legal, né? Somos a nova dupla “Batman e Robin”.

—Uma versão completamente diferente desses dois... Mas pode-se dizer que viramos algo do tipo.

—Eu só acho que eles poderiam ter colocado uma foto melhor. Veja, meus olhos estavam meio fechados pelo flash da câmera!

—Pelo menos não pegaram a foto da sua carteira de identidade... Igual a minha.

Os dois riram até Peter perceber algo inusitado.

—Espere aí. –Ele observava uma foto abaixo da notícia.

—Ah esses caras são da polícia. Foi feita uma entrevista onde eles explicaram que vão ficar responsáveis por nos encontrar e chutar nossos traseiros para a cadeia novamente. Bem, não com essas palavras.

—Um deles tem o símbolo da AMCB em sua roupa. O desenho em formato de chama.

—AMCB...? Ah sim, o manicômio disfarçado. Não sabia que esses caras tinham tanto poder a ponto de construírem alianças com pessoas tão influentes.

—Eles estão vindo atrás de nós.

Max não queria levar a situação a sério, entretanto, a preocupação do bruxo fazia com que todas as piadas que poderia fazer perdessem o sentido. O garoto estava apreensivo.

—Nós deveríamos ir embora daqui. –Lembrou-se da estranha sensação de ter sido seguido agora pouco.

—Eu não tenho para onde ir.

—Se somos fugitivos, então precisamos de um local que seja difícil de nos encontrarem, algo em que possamos nos misturar.

—Acredito que isso seja impossível nesta cidade. As notícias se espalham muito rápido.

—Então, vamos para um lugar onde as pessoas não tenham medo de seus segredos.

Anúbis sorriu e Peter o encarou, interrogativo.

—Está na hora de encontrar alguns amigos.


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