Dublê de pai! escrita por AneQueen


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo conheça a história de Robin, Sra. Belle na área :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/628134/chapter/18

A voz de Marian não mudara nada em 12 anos. Quando ela disse alô, jurava que podia sentir o calor daquele verão na nuca, ouvir o surfe da praia de Nantasket e, acima de tudo, sentir o peso de seus erros nos ombros.

— Marian, é Robin.

Houve um silêncio pelo que pareceram dez anos, mas foram provavelmente dez segundos. Ainda assim, segundos agonizantes.

— Faz muito tempo, Robin. O que você quer?

— Pedir desculpas — expirou.

Se ela ficou surpresa, não demonstrou pela voz. Mas, também, o que esperava? Um momento cinematográfico? Que suas desculpas fossem aceitas de braços abertos?

Talvez esperasse. O escritor que havia nele imaginou uma reconciliação silenciosa.

Talvez para não ter que encarar aquele momento desconfortável.

— Muitos anos se passaram.

— Eu sei. Bem... — Expirou novamente. Se isso era uma página em branco, talvez fosse mais fácil encontrar as palavras certas. — Eu devia ter ligado há muito tempo, Marian.

Ela não respondeu; o que era ainda pior.

— E, acima de tudo, deveria tê-la apoiado mais depois... De tudo o que foi dito e feito.

— Você simplesmente foi embora. — Não havia mais acusações naquela voz. Talvez o tempo as tivesse apagado. Do lado dela, talvez sim. Mas muitas acusações á si próprio ainda ecoavam em sua mente.

— Quando cheguei do hospital... — continuou. — Você tinha ido para a universidade, para sua própria vida.

— Eu sei. — Havia largado tudo. Pensando que era a saída mais fácil. Mas será que fugir tinha feito algum bem para ele afinal? Certamente não foi a coisa certa de acordo com Marian. Sabia disso agora, mas, naquela época, era jovem e imaturo...

Bom, tinha sido a escolha jovem e imatura.

— Fiquei muito brava, Robin, por muito tempo, porque senti como se você tivesse fugido. — Perguntas antigas aumentaram o tom daquela voz, trazendo as dúvidas e acusações à tona. — E eu estava presa naquela cidade, lidando com os olhares e sussurros. Não havia uma vaga na universidade esperando por mim. Eu tinha um trabalho numa pequena delicatéssen de New Hampshire, onde todo mundo sabia o que acontecera comigo.

Como podia ter feito aquilo com ela? Se pudesse voltar no tempo e falar com o Robin daquela época, ele voltaria. Diria para se controlar, encarar a realidade e o que tinha acontecido, em vez de fugir. Porque Marian precisava dele, e isso devia ter prevalecido sobre qualquer medo.

Em vez disso, ele foi um adolescente covarde, escolhendo o caminho mais fácil, fugindo simplesmente porque podia, enquanto a namorada tinha que arrumar a bagunça que fizeram. Vergonha e arrependimento varreram seu peito.

— Desculpe Marian. Eu estava fugindo, acho. Devia ter ficado. Esperei um semestre para ir embora.

— Tudo bem. É passado — disse ela, com as palavras curando machucados antigos. — Eu entendo agora. Acho que teria feito o mesmo se pudesse.

Que irônico, pensou, ele que ligara para se desculpar e era Marian quem o estava confortando. Quando, na verdade, devia muito mais a ela do que jamais poderia pagar.

Tentou novamente, procurando as palavras impossíveis que demonstrariam o quanto sentia. Como faria tudo diferente se pudesse.

— Desculpe Marian, sinto muito mesmo. Devia ter ligado mais, estado lá, voltado para casa. Alguma coisa. Era jovem e estúpido, e não há um manual dizendo o que fazer quando esse tipo de coisa acontece antes da formatura. Mas, acima de tudo, tive muito medo — acrescentou ele, admitindo o sentimento que o dominara por tantos anos, o sentimento que os separara. — Muito medo.

— Eu também. — Aquela voz era pequena e perdida, como se ela tivesse 18 anos novamente, e se eles estivessem olhando aquele bastão rosa, o horror tomando conta deles.

A vida deles passou diante de seus olhos: os futuros arruinados, caminhos repentinamente desviados.

Então finalmente falou às palavras que esperaram 12 anos para serem ditas, porque dizê-las em voz alta despertava a dor daquela decisão e a única coisa que achara que poderia esquecer.

E não podia. Nem por um segundo.

— Você pensa nele?

— Todo dia, Robin — disse suavemente. — Todo santo dia.

Deixou-se cair numa cadeira.

— Eu também.

Uma longa pausa. Ao fundo, podia ouvir crianças brincando. Filhos dela? Gostaria que fossem. Gostaria que ela tivesse tido outros filhos com o novo marido, que tivesse encontrado a paz que escapara dele.

— Você acha que ele é feliz? — perguntou ela.

Essa era a pergunta que mais o assombrava. Deixara-o acordado muitas noites durante anos. Enchia-o de arrependimento. A única pergunta que não podia responder.

Fizeram a escolha certa? O filho deles era feliz? Saudável? E, acima de tudo, melhor adotado por estranhos do que teria sido com seus pais?

Passara os últimos 12 anos rindo e sorrindo, criado por pessoas que o amavam, como Regina amava Sabrina? Coberto de beijos e abraços, colocado na cama confortavelmente à noite, sentindo que seu mundo estava seguro?

— Tenho certeza de que sim — disse, porque sabia que era o que ela precisava ouvir. E o que dizia a si mesmo todos os dias.

Porque era o único jeito de viver com a decisão que tomaram quando jovens de deixar outra pessoa criar o filho deles.

Regina terminou o dia e não achou nada de interessante nos classificados que Ruby levou na hora do almoço. Havia muitos empregos que se encaixavam com sua experiência.

Mas só lhe daria tudo o que queria.

Com algumas condições que não queria.

Sentou-se à mesa, respondendo mais alguns e-mails antes de desligar o computador.

Quando acabou, apanhou a foto de Sabrina.

— Ah, bebê — disse para a foto. — Qual é a melhor decisão para nós duas?

O peso de fazer a escolha certa esmagava seus ombros. Emocionalmente, não tinha dúvidas de que estar com o bebê todos os dias era a melhor opção. Mas financeiramente...

Seria sábio abrir mão de um salário seguro por outro pago por um escritor instável?

Um homem que podia facilmente decidir amanhã que escrevia bem sozinho e não precisava mais dela?

Ou só estava procurando razões para não aceitar essa oportunidade?

Uma hora depois, terminou a batalha diária com o trânsito de Boston e chegou em sua rua. E ali, parada na garagem, estava à resposta para seu dilema.

A Sra. Belle.

Sra. Belle conhecera muitas pessoas teimosas e estúpidas nos seus 70 anos de vida, mas seus dois vizinhos da Rua Larch ganhavam o prêmio. Segurava Sabrina e estava entre Robin Hood e Regina Mills, imaginando se aqueles adultos cresceriam algum dia.

— Vou levar essa pequena para casa comigo — anunciou. Levantou uma mão antes que os supostos adultos pudessem interrompê-la. — Vocês dois provavelmente farão bom uso de um tempo, sozinhos, e sei que senti muita falta dessa bebê desde que fui embora. Considerando que voltarei para a casa de minha irmã em alguns dias, quero passar cada segundo que puder com minha vizinha-neta.

Essa era a expressão que tinha criado para caracterizar seu parentesco com Sabrina, para expressar como amava esse pequeno pedaço de céu e como a considerava um membro da própria família. Sua filha morava na Califórnia, do outro lado do país, o que fazia com que sua neta ficasse mais longe do que gostaria. Então derramava todos os mimos em Regina e Sabrina.

— Sra.Belle, não precisa fazer isso — disse Regina.

— Tenho certeza de que está cansada da viagem. Sabrina acabou de acordar e vai dar trabalho.

— Vai dar trabalho de tanto amá-la, isso sim. — Sorriu. — Agora me deixem aproveitar minha vizinha-neta por algumas horas e saiam. Se arrumem. Jantem num restaurante de verdade, não numa lanchonete. Quando foi a última vez que saiu, Regina?

Robin fitou Regina e sorriu.

— E, quando foi à última vez que você saiu?

Regina ruborizou o que deixou Sra. Belle satisfeita.

— Não preciso...

— Precisa sim. — Insistiu. — Agora vá colocar seu melhor vestido. Na verdade... — Analisou a roupa dele. — Acho que ele precisa fazer o mesmo.

— Por que, Sra.Belle ? Acha que minha roupa não é boa o bastante para levar a Srta. Regina para sair? — Ele sorriu.

— Não deixaria você levar meu lixo para fora com essas calças, Sr. Hood. Agora vá se fazer apresentável. Regina merece que um cavalheiro a leve a um encontro, e não um selvagem.

— Encontro? — espantou-se Regina. — Sra. Belle...

— Acho que está na hora do jantar de Sabrina — disse ela, apanhando a bolsa de fraldas do ombro de Robin. — Tenham uma boa noite. E não se preocupem com o horário. Quero assistir ao filme das 22h. — Sorriu sagaz, e caminhou para casa antes que pudessem fazer mais objeções.

Notou os dois ainda na calçada enquanto entrava em casa, pasma, porque foram passados para trás por uma mulher com mais do dobro da idade deles, e decidiu que, às vezes, uma senhora pode ensinar aos jovens alguns truques.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gente mas alguns capítulos e estamos chegando ao fim :)