Dublê de pai! escrita por AneQueen


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

novo capítulo :) até mais tarde leitoras



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E ele ficou ali sentado e manteve o seu coração fechado. Teve sua chance, poderia ter contado porque também sabia tudo sobre abraços que não poderiam ser dados e palavras que não poderiam ser ditas.

Robin tinha mais táticas de evasão do que uma operação militar. Exatamente por isso, fechara o arquivo do livro e abrira o e-mail. Para evitar um pouco mais.

— Seu café da manhã, senhor — disse Regina, oferecendo um prato com duas torradas e queijo cheddar.

Ela pegou uma torrada e virou-se, fitando os títulos na prateleira.

— Só tenho mais alguns minutos. Preciso acordar e arrumar Sabrina. Definitivamente, tenho que trabalhar hoje. Há a reunião obrigatória de produção das quintas-feiras, então nada de folga para ajudá-lo a escrever. — Hesitou e virou-se para fitá-lo. — Na verdade, foi sobre isso que vim falar ontem. Sei que você ofereceu cuidar dela por alguns dias, até que eu achasse outra pessoa, mas você se incomoda de cuidar dela até a Sra. Belle voltar? Sei que é pedir muito, não pediria se as entrevistas não tivessem sido tão desastrosas ontem, mas...

— Não me incomodo.

— Mesmo? Pensei que teria que implorar. — Ela sorriu. — Posso oferecer jantares ilimitados pelo resto de sua vida.

As palavras, “resto de sua vida” pareciam ecoar nas paredes. Imagens dela dormindo em seu sofá, andando pela casa, enchendo sua caneca, passaram por sua mente. Poderia ter aquilo...

Se fosse aquele tipo de cara.

Pela primeira vez na vida, imaginou... Poderia ser aquele tipo de homem? Será que já havia passado tempo o bastante, tinha mudado o suficiente para talvez...

Ele afastou o pensamento. Não era como se pudesse experimentar com Regina. E se não estivesse pronto? E se fosse péssimo ao se comprometer?

Se ele a desapontasse tanto quanto desapontou Marian?

Melhor não se envolver e deixá-la encontrar outra pessoa, mesmo que pensar nela com outro homem o fizesse querer quebrar um carro ao meio.

— Você ainda pode fazer os jantares — disse ele. — Não vou recusá-los. Mortadela enjoa depois de um tempo.

— Combinado.

Ah, estava em apuros. Continuava se enrolando mais em torno dessa mulher, uma mulher que merecia tudo, mas Robin não tinha nada para dar.

Um barulho anunciou novos e-mails. Salvo pelo gongo, aproveitou para retomar a mesa. Passou pelas mensagens, até que chegou à que esperava e temia. A de Marco.

Abriu a mensagem, mostrando só seis palavras:

ISSO É BRILHANTE! MANDA-ME MAIS!

Pulou da cadeira, tão animado quanto o dia em que recebera a ligação do agente dizendo que vendera o primeiro livro.

— Isso!

— O quê? O que aconteceu?

Correu até ela, pegou-a pela cintura, puxando-a para si.

— Ele amou. Meu editor amou as novas páginas. Sabe as que eu concertei depois que trabalhamos junto? Mandei ontem.

— Ele amou? Ah, Robin, isso é ótimo!

— Tenho que lhe agradecer. Se não fosse você, Regina, não conseguiria transformar aquelas páginas, horríveis em... “Brilhantes”, como Marco disse.

— Bom, tenho certeza de que...

— Não, você foi crucial, Regina. Você. — Sentiu-a em seus braços. Compartilhar essa alegria tomara-se algo maior.

Algo mais doce. Aquilo prometera evitar durante as horas que passou acordado à noite, mas sabia que não podia evitá-la mais do que podia evitar beber ou respirar.

— Obrigado — disse, com a voz baixa e grave, e aproximando sua boca dos lábios de Regina.

— De... Nada.

Aqueles olhos pareciam piscina profunda e, escuras que o puxavam para dentro.

Chamavam-no como nada nunca o chamara.

— Sabe, não sei se palavras bastam. — Ele inclinou-se e parou de resistir aos desejos que sentia. Beijou-a.

Ela respondeu instantaneamente. O busto de Regina arqueou-se sobre aquele peitoral, e a chama, que era uma fogueira, tornou-se um inferno.

Ele emaranhou as mãos naquele cabelo, deixando as mechas escorregarem entre seus dedos, como uma cachoeira sedosa de mogno. Então as palmas de Robin passearam por aquelas bochechas, a pele quente e suave sobre a qual fantasiara mil vezes desde o último beijo. Ela se tornara praticamente a única coisa na qual pensava. Queria. Precisava. Mesmo sabendo que era errado para ela.

Eram um encaixe perfeito para cada parte que faltava de seu corpo, preenchendo os cantos escuros, buracos vazios, os meses, anos que passara em relacionamentos fracassados, pensando que podia viver com esse precipício dentro dele, sem precisar preenchê-lo...

Estava errado.

As mãos dele escorregaram por aquelas curvas. Ela gemeu suavemente e pressionou-se ainda mais contra ele, com o beijo aprofundando-se, línguas explorando, provando, provocando.

Ela intensificou o beijo, a fome explodindo, e seu corpo ecoou tudo, multiplicado por cada gosto naqueles lábios, cada carinho daquela pele. Ele segurou o queixo dela e aproveitou cada parte do beijo de Regina Mills.

Completamente.

Quando finalmente terminou, tinha certeza de uma coisa: dizer adeus para Regina no fim de tudo isso e voltar a ser apenas vizinhos que se cumprimentavam ao cortar a grama aos sábados ou diziam oi quando iam até as caixas de correio nas terças à tarde seria muito mais difícil do que pensara.

— Bom, se é assim que me agradece por ajudá-lo com alguns capítulos, não posso imaginar o que aconteceria se ajudasse com o livro inteiro. — Ela sorriu.

Ele gargalhou e se afastou, dando aos dois, distância.

— Na verdade, estava pensando...

Regina foi até a estante, gostando da distância também.

— Pensando no quê?

— O que você acharia de fazer com que esse combinado temporário se tomasse um pouco mais permanente?

Uma sensação de pânico delineou-se naquele rosto. Demorou um segundo para entender o porquê, e então repassou suas palavras na cabeça.

— Não, quero dizer permanente por você trabalhar para mim. Sua ajuda foi inestimável. Não sei se eu posso terminar as revisões sem sua ajuda. Então queria lhe oferecer um emprego.

— Um emprego? Fazendo o quê?

— Exatamente o que você fez no outro dia e esta manhã. Ajudando-me com as cenas emocionais. Você lê, diz onde errei e dá dicas de como melhorar minhas personagens femininas.

Ela estava balançando a cabeça antes que ele terminasse a frase.

— Não posso me demitir. Preciso pagar as contas...

— Não sei se posso pagar exatamente seu salário atual, mas, considerando que você não vai ter que ir a lugar nenhum nem precisar de babá, eu acho que, no fim, vai ser a mesma coisa.

— Preciso de meu plano de saúde...

— Incluo você no meu. Acredite ou não, mas quando minha carreira ia bem, ganhei muito dinheiro, e fui esperto o bastante para guardá-lo. Posso pagar por isso, Regina.

— Só trabalhamos juntos uma vez. Você não tem ideia se isso duraria. — Afastou-se dele, caminhando pelo escritório, nervosa. — Não posso me demitir de repente por isso.

— O que é o pior que poderia acontecer?

— O pior? Poderia jogar minha vida inteira fora por algo que não daria certo. Você não entende Robin. Sou mãe solteira. — Regina parou de caminhar. — Não tomo mais decisões repentinas.

Foi até a estante, apoiou um cotovelo na prateleira e esperou até que aquele olhar encontrasse o seu.

— Mas costumava, não é?

— Um milhão de anos atrás, claro. Quem não faz isso?

— Verdade.

Ele mesmo não tinha tomado decisões estúpidas no calor do momento?

E algumas dessas decisões não o levaram a um arrependimento monumental?

Arrependimento que pesava sobre ele toda noite quando estava sozinho e pensava nos rumos que sua vida poderia ter tomado. Arrependimentos que mostravam que devia ter feito escolhas melhores, que devia ter sido um homem melhor quando era mais novo.

— Entendo seus medos. Mas preciso de você, Regina. Tentei de tudo para colocar minha escrita de volta nos trilhos, aí vem você, lê algumas páginas, diz algumas palavras e bum. É como se eu tivesse sido milagrosamente curado.

— Não posso fazer esse tipo de mudança. Não posso.

— Mesmo se significasse que poderia ficar com Sabrina todo dia? Trabalhando em casa em vez de deixá-la aqui como tem que fazer hoje? — Fechou o espaço entre eles, observando aqueles olhos, tentando ver através da parede que ela erguera, com tijolos cheios de medo e dúvida, cimentados por cima de uma camada de independência. — Escrevendo, você pode fazer uma diferença, tocar a vida de um leitor.

— Como?

— As palavras que escreve, os temas que escolha abordar. Aquele livro sobre sequestro gerou tantos e-mails de leitores que mal consegui responder a todos. — Viu Regina considerando suas palavras e sabia que ela estava pensando no que já tinham feito, nos personagens que criaram juntos, e imaginando como um livro tocaria um leitor. — Acima de tudo, se você trabalhar comigo, estaria aqui, com Sabrina. Não é exatamente o que sempre quis fazer, passar o dia todo com ela?

Viu-a inspirar e sabia que oferecera o trunfo que ela não poderia recusar. Regina olhou através dele para o quarto onde sua filha dormia, e naqueles olhos, viu-a dividida entre a vida que tinha e a que poderia ter...

Se apostasse em Robin.

Uma aposta que até ele não tinha tanta certeza de que faria.

Acabara de receber tudo o que sempre quis numa bandeja de prata.

O problema?

Estava tudo ligado a Robin Hood, o homem que virara seu mundo de cabeça para baixo.

Conseguiria trabalhar em casa, aguentaria uma mudança de emprego, tinha certeza.

E ele estava certo, sabia que escrever livros era o tipo de trabalho que tocava as pessoas, como queria quando estava na faculdade, diferente de seu trabalho atual. Mas uma mudança da estação de TV, cheia de pessoas, para a calma casa do quieto e solitário escritor...

Era uma mudança completa.

Sem mencionar que, toda vez que se aproximava dele, não pensava em trabalho, salário ou pagar contas, mas em beijá-lo. Não era exatamente uma boa maneira de manter o pagamento da hipoteca no banco ou comida na geladeira.

Pela primeira vez em semanas, estava grata pela reunião obrigatória das terças, à qual não podia faltar, a menos que “estivesse morta ou num processo de desmembramento”, segundo as palavras de Killian. O tempo no trabalho lhe daria uma boa desculpa para deixar a casa de Robin por algumas horas, evitando uma resposta àquela proposta de trabalho. Sabrina ficara para trás com ele, que assegurara que conseguiria fazer o bebê brincar e deitar para a soneca matutina.

— Aí está você! — disse Ruby ao sair do elevador. — A mulher invisível.

— Desculpe. Pelo menos, cheguei a tempo para a reunião de produção das quintas.

— Ah, esqueci de ligar! Killian cancelou. O que você disse para ele? Ele tem estado... Decidido. Nada parecido com ele.

Riu.

— Cansei de ir a reuniões a cada cinco minutos e, quando não estava à disposição dele, sugeri que tomasse decisões, sozinho.

Ruby levantou a mão num gesto de “bate aqui”.

— Que bom para você. Já era hora de alguém fazê-lo crescer.

Riu e bateu na mão de Ruby.

— Só estou fazendo meu trabalho e aparentemente conseguindo um pequeno milagre no processo.

— Bom, ainda bem. Você é inestimável por aqui, Regina. Não sei o que faríamos sem você.

— Ouvi isso várias vezes hoje.

Ruby apoiou-se na borda da mesa e sorriu.

— Pela expressão no seu rosto, eu diria que a outra pessoa te dizendo isso é um H-O-M-E-M.

Ruborizou. Por acaso, estava na sexta série?

— É um cara, mas é só meu vizinho.

— Só um vizinho, é? — Ruby sorriu. — Ele é fofo?

— Acho que sim. É alto. Moreno. Olhos azuis. Se você gosta desse tipo de coisa.

— Alô, se você respira você gosta. E como você conheceu o Senhor Maravilhoso?

— Ele está cuidando da Sabrina enquanto a Sra. Belle cuida da irmã. Ele faz a Bri rir. E gosta de piqueniques. Outro dia, fizemos um, só nós três. — Tentou esconder o sorriso formando-se em seus lábios, mas não conseguiu. — Ele é escritor.

— E é sexy e ama bebês? Case agora, Regina, antes que o restante da população feminina de Boston o agarre. E se ele tiver um irmão, passe para cá, porque eu faria bom uso de um bom homem ou até um meio decente.

Não ia discutir sobre namorar Robin Hood e muito menos se casar com ele. Puxou a agenda da bolsa e começou a folheá-la.

— Amanhã de manhã filmaremos o primeiro segmento do programa da próxima semana. Estamos prontos para receber o convidado? Você confirmou a aparição dele?

— Checado duas vezes. Pedi o refrigerante que ele gosta e teremos aqueles biscoitos que ele pediu meia hora antes.

— Bom. Vou passar no estúdio e repassar as luzes e os ângulos da câmera com o diretor. E ter certeza de que o set está pronto.

Ruby apoiou a mão em seu ombro.

— Vai dar tudo certo, como o programa da semana passada. Pode relaxar.

— Sei que vai, mas é meu trabalho me preocupar.

— Eu sei, mas... — Ruby mordeu o lábio inferior.

— O quê?

— Deixa para lá. Não vou nem perguntar.

— Ruby, faz dois anos e meio que você me conhece, desde que trabalho aqui. Pode me perguntar qualquer coisa.

Ruby expirou profundamente, então apertou sua mão.

— Você parece tão estressada toda vez que entra aqui. Sei que você concilia muitas coisas, e Deus sabe que eu não trocaria minha vida pela sua por todo o milho em Indiana, mas fico imaginando se... Você está se divertindo? Quero dizer, qualquer trabalho vale à pena se você se diverte.

— Diversão? — Riu um pouco. Fechou a agenda. — O que é isso?

— Exatamente, Regina. Acho que você parou de se divertir duas promoções atrás. E não estou dizendo isso para convencê-la a se demitir, mas odiaria ver sua vida girar em torno do salário. Quando vi você falar de seu vizinho e do piquenique, vi diversão em seu rosto, e eu não via isso há muito tempo. Fiquei com um pouco de inveja.

— Ah, Ruby, foi só um piquenique, não significou nada.

— Não, mas percebi que odeio trabalhar aqui. É como ser uma lagosta numa panela fervente, e toda vez que você tenta escapar Killian fecha a tampa novamente. — Ruby estapeou a mesa para enfatizar sua fala. — Você me convenceu. Vou pegar os classificados na hora do almoço. — Inclinou-se para frente. — Sabe no que me formei? Artes. Estarei feliz pintando, não pegando café para Killian e aguentando mais uma daquelas broncas.

— Que bom para você — disse. — Ei, se há uma cidade que é boa para achar um emprego com artes, essa cidade é Boston.

Connie assentiu feliz pela decisão.

— Isso resolve minha vida. Agora qual é sua desculpa para ficar aqui por tanto tempo?

Estremeceu, percebendo que realmente estava na televisão por tempo demais, trabalhando para um chefe exigente é teimoso. Um chefe de quem nem gostava mesmo.

— Vim quando Daniel veio e fiquei depois que ele morreu, porque era mais fácil do que encarar mais uma mudança radical. E ficava pensando que eventualmente encontraria meu nicho, acharia um jeito de criar aquelas histórias que sempre sonhei em criar.

— Em vez disso, você está servindo comida para jogadores de futebol com egos maiores que um arranha-céu. E ficando aqui em vez de lidar com... Bom, tudo.

Riu tanto que seu abdome doeu.

— É, e não estou mais feliz por estar aqui do que você. Talvez você devesse pegar duas cópias dos classificados na hora do almoço.

Ruby sorriu.

— Pode deixar Regina. Pode deixar.


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