Terceirão escrita por Rick


Capítulo 5
Eu te odeio


Notas iniciais do capítulo

E aí galera! Blz? Segue aí mais um capítulo de Terceirão! Confesso que gostei bastante de escrever esse e o próximo (que sairá na próxima sexta, eu acho) Espero que vocês curtam!
Comenta aí! É de graça e ajuda pra kct!



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Certo. Acho melhor encurtar a merda toda.

Cheguei em casa e recebi sermão atrás de sermão. Resumindo toda a nossa conversa: estou sem celular, sem TV, sem vida social e o pior... Vou ter que ajudar minha mãe no seu projeto durante o resto da semana.

Minha mãe é assistente social e está desenvolvendo um projeto de pesquisa juntamente com a prefeitura da cidade. Ela tem que visitar bairros da periferia para coletar dados sobre a situação social da população mais carente.

Desculpe, mas é um verdadeiro saco! Ela sabe que eu odeio pessoas e não sou comunicativa, por isso acha um castigo justo.

Sobre a festa os desfechos foram razoáveis: O nerdão do Aldo saiu do hospital, só Deus sabe o que esta se passando na cabeça dele depois desse ocorrido. O Felipe me contou boatos de que estão zuando ele na escola. Algum apelido como “beberrão”, sei lá. Em relação a Camila, foi tudo meio estranho, os três caras mais velhos estão presos mais alegam que fizeram sexo com consentimento. Acho que vão preferir acreditar na versão da Camila.

Roger saiu da cadeia sob o argumento de que a quantidade que ele portava durante a festa era mínima.

Dener não me mandou mais nenhuma mensagem, o que acho ótimo.

Molly está aproveitando sua suspensão para passar uns dias no Rio de Janeiro. Seres humanos recebem castigos enquanto pessoas ricas ostentam.

Ah, e meu amigo Felipe está vendendo o seu vídeo game, sua bicicleta e sua TV de Led na OLX para poder pagar parte do concerto do fusca. A outra parte ele ainda não sabe como vai conseguir.

******

Seis horas da manhã, tudo se repetiu. Minha mãe entrou no quarto feito louca batendo panelas.

– Acorda! Levanta essa bundona daí já!

– Mais mãe que saco! Você vai trabalhar só as oito! – disse enquanto puxava a coberta de volta.

– Não interessa! Esse é o horário que você levanta para ir pra escola. Está suspensa mais não vai ficar dormindo. Anda!

Eu sabia que seria inútil relutar, pois tudo isso fazia parte da “vingança” dela.

– Vai Ana! Tem muitas coisas pra fazer aqui em casa. Olha só a zona que está esse quarto. Pode ser um bom começo.

– Ok. – É o que sempre digo quando não posso dizer algum palavrão.

Levantei. Fiz o ritual que todos nós fazemos de manhã e comecei arrumar o quarto.

Realmente estava bem bagunçado.

Enrolei até dar o horário de ir trabalhar.

******

Na minha cidade não tem muitas favelas, mas tem várias favelas em potencial. São bairros isolados que parecem não respeitar a lei local.

Pra minha sorte estávamos indo no maior e mais perigoso (percebeu a ironia né). - Você não tem medo? – perguntei pra minha mãe no caminho.

– Não. Eu só quero ajuda-los e acho que eles sabem disso. E também existe o fato de eles acreditarem que receberão algum benefício, como por exemplo, o bolsa família, depois da minha visita. Sabe Ana, esse pessoal vive em comunidade, tem os bandidos, o tráfico, e todos os problemas, mas parece que existe respeito. Do jeito deles, mas existe.

– Entendi.

Minha mãe foi para um lado da rua e eu fui para o outro.

As casas eram bem simples. Quase sempre feitas de madeira ou latão. Também havia muitas crianças brincando pela rua, inclusive crianças bem pequenas.

Pra minha sorte (dessa vez é sorte mesmo), só em uma das casas saiu alguém. Fiz as perguntas correndo e sempre tentando fazer cara de uma garota sociável.

Cheguei ao fim da rua antes da minha mãe.

Na esquina havia um ponto de tráfico.

Era incrível como tudo acontecia com uma naturalidade incomum, em plena luz do dia.

Um cara vestindo moletom e touca me viu e começou a caminhar em minha direção.

Fique calma. Disse pra mim mesma.

– Vai querer quanto? – Ele disse com cabeça baixa e olhando para os lados. – Reponde mina, eu estou com pressa. – De repente aquela voz me pareceu familiar. Puxei a touca dele e o cara virou o rosto pra mim.

– Roger?!

– Caralho Ana, você por aqui?!

– O que você está fazendo? – Foi uma pergunta idiota, mas apenas saiu.

– Não é obvio?

– Cara, você acabou de quase ir preso.

– Disse bem, QUASE.

– Você é mesmo um idiota.

Eu só queria entender porque um cara bonito e com ótimas condições de vida estava ali vendendo drogas, arriscando perder a liberdade ou quem sabe até a própria vida.

Porque?!

Ele realmente é Burro!

– Valeu pelo elogio, mas então, vai querer comprar ou não? É erva da boa. Se quiser pó posso arrumar também.

– Não. Obrigada.

– Então o que faz aqui?!

– Não é da sua conta. Preciso ir.

– Ana! – ele me chamou antes que eu pudesse me afastar.

– O que foi?

– Pode não contar a ninguém sobre esse meu trabalho?

– Trabalho?! Está de brincadeira...

– Pode ou não?

– Eu não tenho nada a ver com sua vida. Faça o que quiser.

– E isso significa que não vai contar?

– Claro! – virei os olhos.

– Nos vemos na aula, depois que cumprimos a suspensão é claro! – Ele riu como se fosse engraçado mesmo e se afastou colocando a touca novamente.

E assim foi a minha tarde. Batendo de porta em porta, perguntando coisas como: Sua idade? Seu sexo? Quantos filhos? Qual sua renda?... Quer ir pro inferno?

A última é apenas uma pergunta que eu gostaria de incluir. A resposta seria algo como: Já estou no inferno.

À noite, já em casa, minha mãe prosseguiu com sua “vingança”.

Fiz a janta, lavei a louça, lavei o banheiro, lavei as minhas roupas... Ahhhhhhhh!

Finalmente tive um tempo pra mim no quarto.

Esperei a minha mãe ir dormir (cedo como sempre) e peguei o meu celular no “esconderijo”, que eu sempre soube onde era, mas pra minha sorte ela nem desconfiava.

Tinha apenas uma mensagem do Felipe.

“Sabe quem quer comprar um skate?”

Resolvi não responder, pois nem conhecia ninguém que quisesse um skate.

Nem ao menos sabia que o Fê tinha um skate. Com certeza não sabia andar.

Entrei no face, twitter, whats... E acabei pegando no sono.

Então…

Acordei assustada…

Com o celular vibrando na minha cara.

Número desconhecido.

– Alô? – disse baixo. Minha mãe não poderia nem suspeitar de uma coisa dessas.

– Ana. Preciso que você quebre um galhão pra mim.

– Quem é?

– Sou eu. Roger.

Porque esse cara está me ligando uma hora dessas. Era quase meia noite.

– Não vai dar. Desculpa.

– Espera não desliga!

– Roger, estou de castigo, não posso ver nem falar com ninguém. E isso não são horas de você estar me ligando.

– Estou aqui do lado de fora da sua casa. Preciso mesmo de você.

– Eu não posso.

– Vou pular o muro dos fundos. Me encontre lá.

– Nãooooo! Tá louco. Não faz isso.

O viado desligou na minha cara.

Era só o que me faltava. Porque tem que acontecer comigo?!

O cachorro do vizinho começou a latir. Abri a minha janela, que dava para os fundos, e vi um vulto negro saltando para dentro do quintal da minha casa.

Mais que desgraçado!

Ele ligou no meu celular.

Desliguei.

Ele ligou de novo.

Desliguei.

Vesti uma calça para cobrir minhas pernas e fui, a passos de algodão, para o quintal.

– Você só pode estar te zueira comigo não é?! – Gritei sussurrando.

– É urgente...

– Da pra falar baixo?!

– É urgente – ele sussurrou – Preciso que guarde isto para mim. Ele me passou uma mochila. Estava bem pesada.

Abri.

– Roger, vai se fuder! Eu não vou guardar essa merda.

– Como você é careta Ana. Esperava mais de você.

– Eu não sou traficante.

– Mas você não vai vender... Apenas guardar até que a policia saia do meu pé. Preciso de um tempo. Prometo que pego em breve.

Minha cara queimava. Meu coração estava a mil. Se não fosse pelo fato da minha mãe estar em casa dormindo eu voaria no pescoço daquele moleque e o enforcaria.

Pena que não da pra fazer isso em silêncio.

– Suma daqui e leve essa droga com você. Anda logo, antes que eu chame a policia.

– Teria mesmo coragem?

– Experimenta.

– Digo que você é minha cúmplice e que traficamos juntos na escola.

– Seu... Seu.... – Achei que fosse enfartar.

– Vai Ana, são apenas cinco quilos. Você é a única que sabe desse meu trabalho, não posso confiar isso a mais ninguém.

Maldita hora que fui encontrar esse otário.

Ele ficou me olhando com aqueles olhos verdes enormes. Fazendo cara de gatinho do Sherek.

Gatinho o caramba! Eu não vou me ferrar por causa desse... Ahhhhhhh!

– Roger, juro por Deus, se você não sumir daqui agora... Eu não respondo por mim...

– Você não me deixa outra escolha a não ser acordar sua mãe... E dizer o que você faz na escola nas horas vagas...

– Isso é jogo sujo. Seu covarde.

– Prometo que pego em breve. – Ele correu para o muro e começou escalar.

Corri atrás dele e enquanto ele subia segurei em sua perna.

– Volta aqui e leva essa merda com você.

– Me larga. Eu vou cair.

– Eu vou queimar tudo!

– Faça isso e no outro dia terá traficantes da pesada atrás da gente. Nem sua mãe estará segura.

– Eu te odeio. Juro por Deus que eu te odeio. – Larguei a perna dele e ele pulou para o lado de fora.

Fiquei ali paralisada com cinco quilos de maconha na minha mão.


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Notas finais do capítulo

Caraca! Mano, o que essa mina vai fazer?!
Aguarde o próximo!