Terceirão escrita por Rick


Capítulo 13
Cúmplices


Notas iniciais do capítulo

E aí galera, mais um capítulo fresquinho para vocês seguindo o novo formato já apresentado no capítulo anterior! Espero que vocês gostem... Ah, quero dizer que a partir daqui a vida dessa turma vai começar a ficar cada vez mais entrelaçada.
Comenta aí ! É de graça e ajuda pra kct.



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§ Camila §

A essa altura do campeonato eu não tinha outra saída a não ser contar com a ajuda da Ana. Era a única pessoa que sabia da minha condição. Não porque somos melhores amigas, mas por uma obra do caso que aconteceu naquela vez no banheiro onde acabei contando.

– Achei que você não viria! – disse assim que ela chegou próxima a mim. Estávamos na praça central, ainda com o uniforme da escola.

– Pensei mesmo em não vir. – respondeu.

– Desculpe te envolver nisso Ana, mas você é a única pessoa que sabe da minha gravidez.

– Ué, mas e suas amigas? Aquelas chatinhas que estão sempre grudadas em você?

– É complicado...

– Sei... – Ela disse me lançando um olhar de desdém. – Então, o que você quer?

– Vamos sentar naquele banco... É um assunto meio delicado.

Fomos até um banco próximo, onde não havia muitas pessoas e nos sentamos.

– Eu fui tentar falar com o Felipe...

– Sim eu sei. Ele me disse.

Eu não coseguia distinguir ao certo os meus sentimentos nos últimos dias. Pela minha cabeça passava a todo o momento um turbilhão de pensamentos...

E tem essa coisa...

Essa coisa crescendo dentro de mim, às vezes me sinto como uma hospedeira sendo consumida por uma espécie de parasita...

Pensar que tenho algo vivendo dentro de mim e que se alimenta daquilo que eu consumo me causa arrepios e muitas vezes até enjoo.

– Eu fui procurá-lo para de dizer que ele é o pai da criança. – eu disse sem pensar.

– O que?! Você mesmo falou que não tem certeza de quem é o pai. Escuta aqui, eu não vou deixar você enganar o meu melhor amigo... – A reação dela não me surpreendeu. Já espera.

– Sim eu não tenho certeza, mas eu iria dizer isso só para ele me ajudar no aborto. – Eu puder ver a cor do rosto dela sumindo ao ouvir a palavra aborto.

– Como você... Não estou acreditando... É impressionante sua falta de caráter, como se não bastasse o fato de condenar três inocentes ainda queria usar o meu amigo?!

– Eu estou desesperada! – exclamei.

– Sempre você... Você e você... Mas e os outros? Não consegue pensar nem no próprio filho!

– Você não entende... Minha vida seria arruinada se eu assumisse esse filho ou contasse o que aconteceu na noite daquela festa. Você não conhece meus pais, não sabe do que eles são capazes... Eles são irredutíveis... Conservadores extremistas... Meu pai me trataria como um saco de lixo se descobrisse o que fiz... Eu... – não consegui segurar as lágrimas, que começaram a rolar pelo meu rosto.

– Camila, o fato de você ter transado com vários caras em uma mesma noite é o de menos, as pessoas tem o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo, a coisa pior está no depois...

– Eu já sei! – perdi o controle. – Olha, realmente não estou a fim de ficar ouvindo sermões. Não espero que você entenda a minha situação com os meus pais. Só estou pedindo a sua ajuda porque... Algo pode acontecer naquela mesa de cirurgia...

Ana me olhou relutante.

– Certo. Tá bom! Mas tem uma condição... Vou cúmplice de um assassinato, mas pra isso quero que você tire aqueles caras da cadeia. Vi no jornal que eles vão ser transferidos para uma prisão em outra cidade...

– Ana, não dá! O que eu vou dizer?

– Não sei, inventa alguma coisa! Essa é minha condição.

Eu precisava dela e a condição era justa, mas no fundo eu sabia que só a verdade pode libertar.

§ Roger §

Depois da aula fui até o banheiro público do terminal de ônibus para trocar de camisa. Ir para a Boca com o uniforme da escola seria dar bobeira.

Estava cheio de encomendas, meu celular não parava de apitar, mensagem atrás de mensagem. Meus clientes estavam necessitados.

A maioria das pessoas que compravam drogas de mim era de classe alta, tinha desde adolescentes até senhores de certa idade. Eles gostavam de comprar comigo por causa da minha discrição. O que era fato. Eu não dava na cara. Pra usuários isso é importante.

Meu celular tocou.

– Fala mãe? Não. Não vou almoçar em casa, estou aqui na escola ainda, tenho uns trabalhos pra fazer e depois vou estudar um pouco para o vestibular. Não precisa mandar o motorista me pegar. Tchau.

Minha mãe é do tipo preocupada demais, esta sempre ligando e querendo saber onde estou. Eu amo ela, mas às vezes enche o saco. Vai ver ela tenta fazer a vez do meu pai que está sempre ocupado com assuntos da empresa, a qual ele é o diretor.

O bom é que ela confia em mim até debaixo d’agua. Quando fui preso por estar com drogas na festa da Molly ela se negou a acreditar que era verdade. Com um pouco de jeito consegui convencê-la de não sou traficando, que a droga era de um amigo, a partir daí o advogado do meu pai deu um jeito.

Peguei um ônibus até a periferia.

– Vim falar com o Bigorna – eu disse para o “guarda” que estava na porta do barraco.

– O que o mauricinho tá querendo agora? –ele me encarou.

– É assunto meu e do Bigorna. São negócios. – ele me olhou de cima a baixo, depois me revistou e por fim me mandou entrar.

– Olha quem resolveu dar as caras por aqui... – Bigorna disse quando me viu entrando. Ele estava com sem camisa e com uma mulher no colo. Se eu o visse na rua nunca diria que se tratava de um chefe do tráfico, era magrelo, amarelo e com cara de bom moço.

– Preciso que você me arrume uma mercadoria.

– Maconha de novo? Quando você vai subir o nível pivete? Se ta ligado que maconha não da grana... o lucro é baixo pro pai aqui... se tem que começar oferecer coisa mais pesada se quiser continuar nossa parceria...

– É... Meus clientes só curtem uma erva... – eu não estava esperando por aquilo. Só queria pegar a maconha e dar o fora. É só meu hobby.

– Clientes?! - Ele soltou uma risada escancarada. – Você é revendedor da Avon?! Se liga cara! Não tem essa de cliente... Se tem que jogar estes otários cada vais mais pro fundo... Pensei que você fosse mais inteligente que isso...

– Prefiro ficar só na erva... É algo mais de boa, todo mundo curte e tal... – Ele dispensou a periguete que tava no colo dele com um tapa. Se levantou e veio em minha direção. Ficou frente a frente comigo. Fiz um esforço para não vacilar.

– Se ta achando que isso aqui é uma brincadeira? Eu tenho cara de monitor de jardim de infância? Assim você me ofende cara. Não é assim que as coisas funcionam, se tá na chuva é pra se molhar! Larga mão de ser otário!

– É... Vou nessa então... – queria sumir daquele lugar antes que a coisa ficasse pior. Virei em direção à porta.

– Espera aí franguinho! – ele falou como se fosse um bombadão. – Eu tenho um serviço pra você...

– Sabe que é... Estou meio com pressa...

– Eu tenho um serviço para você! Quer que eu repita? – agora o tom amigável e sarcástico se transformou em um tom cortante. Naquele momento eu vi que realmente não estava participando de uma brincadeira, a coisa tinha ficado mais séria do que eu esperava.

§ Molly §

Mal entrei em casa e minha governanta veio me abraçar.

– Ai credo Lucinha, quanta melação. Chega.

– Feliz aniversário. Parece que foi ontem que sua mãe chegou nesta casa com você nos braços. – ela disse toda sorridente.

Lucinha era minha governanta há 17 anos. Me conhecia melhor do que meus próprios pais.

– Na verdade faz uma eternidade, nem sequer lembro do rosto da minha mãe. Eles ligaram pra saber de mim?

– É... Bem... Ah, mandaram um presente das Europas...

– Europa! Será que tão difícil assim?! – não suportava a ignorância dela. – Onde está?

– Num pacotão em cima da mesa da sala de estar. – ela disse me acompanhando até o cômodo.

Na mesa havia um embrulho enorme. O papel era roxo, a cor que eu mais odiava. Em cima do pacote tinha um envelope e nele estava escrito...

“Para nossa querida filha Marina Clara”.

Eu não consegui segurar a gargalhada.

Lucinha ficou me olhando com cara de espanto.

Comecei a chorar de tanto rir.

– Qual a graça minha fia? – ela finalmente perguntou.

– Marina... MA-RI-NA... Meus pais não sabem nem o nome que me deram?! – continuei rindo. – Não... Na verdade alguma secretária idiota comprou este presente e escreveu esta merda... – Então de repente toda a graça da situação desapareceu.

Comecei a picotar o envelope.

Quando vi que tinha dinheiro dentro dele picotei com mais raiva ainda.

– Calma querida...

– Me deixa Lucia! Me deixa! – um ódio tomou conta de mim.

Peguei aquele pacote enorme e atirei pela janela, depois subi correndo os degraus até o meu quarto.

Parei em frente ao enorme espelho da minha penteadeira.

Uma lagrima ameaçou a cair.

Limpei de pressa.

Peguei meu celular...

– Oi Pati, a fim de dar um perdido na cumplicidade hoje?!

§ Felipe §

Tive a infelicidade de olhar a mensagem no whats antes de ir embora:

“Reunião hoje 13hs na biblioteca. É bom todos irem.”

Esse Dener realmente é um otário.

Que saco!

Como não estava a fim de ter o diretor pegando no meu pé comi um lanche natural na cantina e fui para merda da biblioteca. Ainda estava cedo, mas não tinha nada pra fazer.

Quando me aproximei da porta, antes de abrir, escutei alguém falando no celular.

Era voz do Dener.

Fiquei de bituca escutando.

“Sim a gente se encontra hoje. Pode ser no mesmo lugar, eu curti. Não vejo a hora de te ver. Quero repetir aquilo da ultima vez. Saindo do treino eu passo aí. Um beijo gostoso.”

Um beijo gostoso?

O safado estava traindo a gostosa da Rebeca com outra vadia.

Odeio cada vez mais ele.

Resolvi entrar.

– E ai beleza? – Ele disse quando me viu - Faz tempo que você está aí?

– Acabei de chegar. Cadê o resto da turma?

– A Camila e a Ana nem visualizaram a mensagem ainda. O Roger viu, mas não respondeu nada. A Molly mandou eu me fuder.

– Bem a cara dela. E o Nerdão? – perguntei.

– Disse que vai vir. Ainda está cedo.

Ficamos ali alguns minutos em silencio.

– Porque você faz isso com as garotas? – resolvi jogar na roda.

– Do que você está falando? – ele estava se fazendo de besta.

– Cara, você sempre fica com as melhores, mas a Rebeca é legal, não merece uma coisa dessas... Não vou ser seu cúmplice nisso.

– Tá maluco?!

– Eu ouvi você falando no celular.

– O que?! Não to acreditando nisso... – Ele pareceu bem mais preocupado do que eu imaginava.

– Se você quer sair com outra mina beleza... Mas sai com uma de cada vez...

– Outra mina? Ah, saquei... Cara, eu não entendo porque você tem toda essa implicância comigo, a gente estuda junto faz anos! Estamos na mesma turma. Não tenho culpa se eu consigo pegar as minas que você queria... Aceita!

– Tá vendo, você sempre se achando superior. Eu posso ficar com quem eu quiser aqui nessa escola...

– Ah é, e porque nunca te vi com ninguém... Vamos fazer o seguinte, eu cuido da minha vida e você da sua... E acho bom você não dizer nada pra Rebeca se não vou ser obrigado a quebrar sua cara!

– Demoro! Ia adorar acabar com você.

– Vai ter reunião? – era o Aldo interrompendo o clima pesado.

– Não! – Dener respondeu.

– Fez eu vir aqui a toa?! – exclamei.

– Você me tirou do sério! Além disso, não está todo mundo aqui.

– Cara, quando você vai aceitar que ninguém quer saber dessa droga de festa e desta merda de campeonato! Faça sozinho!

Chutei a cadeira e dei o fora.

******

Próximo das 16hs da tarde Ana me mandou uma mensagem.

“Estou aqui na sua porta”.

Fui correndo atender.

Quando abri a porta ela se jogou em meus braços.

Estava soluçando de tanto chorar.


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Notas finais do capítulo

Muitas coisas virão...
Acho que falta um pouco de aventura e comédia... Prometo que vou tentar colocar algo assim. Até o próximo!!!!



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