Terceirão escrita por Rick


Capítulo 11
Complicada e perfeitinha


Notas iniciais do capítulo

E aí galeraaaa!!! Preciso confessar que minha ideia inicial era fazer um capítulo extremamente dramático e pesado, mas eu não estava nesse clima e também acredito que não combina muito com a proposta de "Terceirão". Romance... Tava faltando uma pitada de romance nesta história... É claro que é só o começo, mas vamos ver pra onde esses corações serão levados.
Comenta aí se quiser me animar a continuar escrevendo.
Abração!



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– Desculpem a minha grosseria, mas é que meu filho nunca trouxe amigos para casa e ainda mais em um momento como esse. – A mãe de Aldo nos convidou para entrar.

Roger e eu estávamos sentados no sofá de dois lugares de frente com ela separados apenas pela mesa de centro.

– Magina. – eu disse tentando parecer a garota mais educada do mundo.

– Vocês querem um café, um suco, água...

– Não.

– Sim. – Roger disse quase ao mesmo tempo que eu. – Tem refrigerante? – lancei um olhar fulminante.

Ele deu de ombros.

– Sim claro. Eu vou pegar pra vocês. Um instante.

– Que saco Roger! Viemos aqui por causa do Aldo não pra ficar de enrolação.

– Ela ofereceu. Estou com sede, ainda não almocei.

– Foi por educação e eu também não almocei.

– Relaxa.

Não demorou muito e a mãe do Aldo voltou com dois copos de refrigerante.

Ela nos entregou forçando um sorriso simpático.

Bebi um gole e perguntei:

– O Aldo vai descer pra falar com a gente?

– Acho melhor nós subirmos. Ele não quer sair do quarto. Nunca pensei que pudessem fazer uma coisa dessas com meu garoto. Ele é uma pessoa incrível, mas parece que paga um preço por ser inteligente. Eu sabia que ele sofria algum tipo de bullying só que ele sempre superou isso muito bem.

– Concordo com a senhora, ele é muito bacana. – eu disse.

– Sabe qual é o problema? Eu pago uma mensalidade absurda para ele estudar naquela escola, pensando no melhor para ele. Meu filho é um ser humano e merece ser tratado com respeito. Nunca... Ele nunca fez nada a ninguém... Há poucos dias atrás aconteceu aquele fato do coma alcoólico, ele disse que bebeu por que quis, mas que garantia posso ter de que não forçaram ele a fazer isso? – ela parecia emocionada. – Ele poderia ter morrido.

– Quanto a isso eu posso afirmar com certeza que... – Dei uma cotovelada em Roger para impedir que ele continuasse falando.

– Eu entendo. – completei tentando desviar o que Roger iria dizer.

Nós sabíamos que ninguém tinha forçado Aldo a nada, mas aquele não era o momento para dizer.

Roger já tinha bebido todo seu refrigerante.

Fiz força para terminar o meu também.

– Vamos subir? – A mãe dele sugeriu assim que terminei.

– Opa, vamos nessa! – Roger se levantou.

– Sim vamos – eu completei.

Subimos alguns lances de escada e chegamos em frente a porta do quarto dele.

– Aldo... Aldo, querido tem dois amigos seus que querem te ver... – A mãe disse batendo suavemente na porta.

Eu senti certa culpa ao ouvir ela dizendo a palavra “amigos”, pois não era verdade. Eu sabia disso, Roger sabia, e o pior, Aldo também sabia que de amigos não tínhamos nada.

Mas pelo menos estávamos tentando.

– Aldo, não seja mal educado. Abre a porta.

Demorou alguns segundos e ele abriu.

Sua expressão era de surpresa, como se tivesse visto pessoas de outro planeta.

– Vou deixa-los conversando a sós. Não quero atrapalhar. – a mãe dele se voltou para a escada e foi para o andar de baixo.

– O que vocês querem? – Aldo disse quebrando o silêncio.

– Podemos entrar no seu quarto ou vai nos deixar aqui em pé? – Roger disse.

Nem esperou ele responder e foi entrando.

Não pude fazer outra coisa a não ser segui-lo.

– Viemos saber como você está. – falei.

– Dessa vez o golpe foi pesado. – Aldo respondeu enquanto sentava na cama. – Senta aí se você quiser. – Ele me mostrou um só sofá de dois lugares, bem maior que a poltrona que tinha no meu quarto.

Me sentei.

– É verdade. Pegaram pesado... – Fiquei procurando palavras para dizer, mas nunca fui boa em consolar pessoas, ainda mais sobre este ocorrido em específico.

O que eu poderia dizer?

“É cara, todo mundo viu seu pinto e você em um momento íntimo, mas relaxa logo eles vão esquecer” – Só tinha essas palavras em mente.

– Onde estão os pôsteres do StarWars?! – Roger disse perplexo enquanto percorria o quarto com os olhos.

– Detesto StarWars. – Aldo respondeu entediado.

– Não pode ser. Vai me dizer que você também não assiste The Big Bang Theory?! – Roger continuou.

Era um papo sem noção, mas como eu não tinha mais nada pra dizer deixei rolar.

– Assisto de vez em quando, mas também não sou muito fã. Acho que você tem uma ideia bem clichê sobre o que é ser um NERD. Pra falar a verdade nem sei se sou um. Talvez por maioria de votos.

Roger quase achou graça.

O quarto dele era bem comum, tinha uma estante cheia de Dvd’s, livros e boxers de séries famosas... Um X-box e um Playstation... Na parede tinha uma espécie de quadro de vidro com um monte de mini-repartições onde em cada uma tinha uma miniatura de carro antigo... Tudo bem diferente do que eu imaginava ao vê-lo na escola.

– Então, você vai voltar pra escola depois dessa? – Roger soltou sem nenhuma cautela. Sempre acaba sendo espontâneo demais, porém aquilo pareceu não incomodar Aldo.

– Não sei se consigo desta vez. Não consigo acreditar em como fui burro de cair em um golpe destes... Logo eu...

– Qualquer um teria caído Aldo... – eu disse.

– Eu não! Não é qualquer foto de uma gostosa que me faz tirar a roupa e sair mostrando o peru, muito menos fazer um striptiser. Você deveria ter pelo menos pedido pra ela também ligar a câmera cara.

– Roger menos... – falei discretamente.

– O pior de tudo foi eu ter pensado que uma garota tivesse se interessando de verdade por mim. Passei minha vida inteira tentando me aproximar das pessoas de todos os modos, mas não sei porque elas sempre acabam se afastando. Aprendi a ser forte com tudo isso e a me virar sozinho, decidi não mudar quem eu sou só para agradar os outros... Eu gosto da minha roupa, gosto de ser o primeiro da turma, gosto de como falo... Só tive um momento de fraqueza por pensar que teria uma companhia que não fosse a mim mesmo...

Aquelas palavras foi um belo tapa na minha cara.

Ele estava expondo seus sentimentos para a gente.

Achei aquela atitude corajosa.

Acho que eu nunca fiz isso.

– Posso fazer uma pergunta a vocês dois? – Ele disse depois de um instante de silêncio.

– Claro. – respondi rapidamente.

– Foi o diretor que mandou vocês virem?

– Não. Foi tudo ideia da Ana. Viemos de boa vontade e com a barriga vazia.

– Rogerrr... – disse em tom repreensivo.

– Querem ficar para o almoço? – ele perguntou animado, como se tudo que tinha acontecido simplesmente não tivesse acontecido.

Acabamos almoçando juntos.

Todos na mesa.

Como uma espécie de família?...

A mãe do Aldo contou o que toda mãe sempre conta nestes momentos, como as peripécias infantis e coisas do tipo. Roger também se desembestou a falar sobre assuntos aleatórios, alguns engraçados outros nem tanto.

Eu apenas observava tudo falando só quando necessário.

Terminamos de comer e eu fui ajudar a Clarice (descobri o nome dela) a levar a louça para a cozinha.

Coloquei os pratos na pia.

Ela olhou bem no fundo dos meus olhos e disse...

– Obrigada.

Eu sabia que não estava agradecendo por eu ter levado os pratos.

Respondi com um sorriso.

– Estava tudo muito bom, mas precisamos ir.

******

Roger e eu caminhávamos pelos quarteirões para chegar até o ponto de ônibus.

– Foi muito legal o que você fez hoje Ana. Não conhecia este seu lado. – Roger quebrou o silencio que reinava já há certo tempo.

– Como assim? Você acha que eu sou uma bruxa que como criançinhas? – eu sorri.

– É que você é muito complica as vezes e ao mesmo tempo que tem esse jeito errado de ser você é perfeitinha.

– Aff. Tudo menos perfeitinha.

– Falo sério... Escuta, você precisa voltar pra casa já?

– Talvez não, porque? – disse desconfiada.

– Posso te pagar um sorvete? – ele apontou para uma sorveteria que tinha na próxima esquina. Havia uma placa enorme com o nome “Gela goela”.

Aceitei.

O lugar era agradável e estava vazio.

Pegamos o sorvete e sentamos em uma mesa na área externa que tinha até um som tocando.

– De limão? – ele disse surpreso.

– Sim. Qual o problema?

– Nada não, mas geralmente as garotas pedem de chocolate ou morango.

– Então você repara no sabor que elas pegam. Interessante. Já que estamos falando de sabores, napolitano é o mais clichê de todos. Dizem que é o sabor dos indecisos. – eu ri.

– Como você é boba. Napolitano é ter um pouco de tudo pelo mesmo preço. Vantagem.

– Como sempre você quer um pouco de tudo... Já tentou ter tudo de um pouco?

– O que? – ele fez cara de tonto.

– Esquece...

De repente eu estava ali observando Roger se deliciar com seu sorvete.

Na luz do sol seus olhos ficavam ainda mais claros e funcionava para mim como dois imãs verdes.

– O que foi? – Ele percebeu que estava olhando com cara de boba.

Eu disfarcei.

– Está sujo aqui. Pera aí. – Peguei um guardanapo de papel e limpei o canto da boca dele. Nunca tinha reaparado que seus lábios eram tão bonitos.

– Porra. Era pra eu fazer isso. É sim que acontece nos filmes. – Ele disse rindo.

Eu fiquei sem graça.

Então voltei minha atenção para meu sorvete.

– Porque você faz isso? – resolvi perguntar.

– Isso o quê? Me sujar?

– Não... Porque você faz esses lances com droga, anda com aquele pessoal estranho...

– Eu sou assim. É o meu jeito. É onde eu me encaixo melhor...

– Não acho que você seja assim de verdade. Pra mim você usa essa história de Badboy pra esconder o cara sensível que você é.

– Pera aí, agora você pegou pesado. Não tenho nada de sensível. Você acha que eu sou gay?

– Não! Não foi isso que eu quis dizer...

Eu sabia que o Roger era uma tentativa de Badboy falhada. Ele bem que tentava ter umas atitudes ruins e ser um bacana, por isso tinha até esse lance de vender drogas, mas no fundo era um...

– Você não entenderia...

– Talvez se você me contasse...

– O lance é que eu preciso mostrar pro meu pai que eu não dependo dele, principalmente do dinheiro dele... O tráfico me da essa independência...

– Sinistro! Mas tem tanto trabalho por aí... Roger, você pode morrer fazendo essas coisas, o negócio é sério. Esses dias mesmo você levou uma surra. Deixa isso pra lá.

– Você já disse isso várias vezes. É impressão minha ou você se preocupa comigo? – ele perguntou de uma forma sincera.

Me preocupo?

Nem eu sabia a resposta...

Ou talvez não quisesse aceitá-la.

– É claro que não. Você já é grandinho. Faça o que você quiser.

– Mas e quanto a você?

– Eu o que?

– Quais são seus problemas?

Que pergunta estranha de se fazer pra alguém.

Nunca ninguém havia me perguntado isso, nem mesmo meu melhor amigo ou pior nem minha mãe.

– Eu... É... Não tenho problemas.

– Perfeitinha?

– Cala a boca!

Então como se tivesse sido combinado, começou a tocar no rádio da sorveteria a música do Raimundos.

“Que mulher ruim
Jogou minhas "coisa" fora
Disse que em sua cama eu não deito mais não...”

– Caralho! – ele disse em meio a gargalhadas.

Então ele começou a cantar pra mim...

– Ela é pró na arte de pentelhar e aziar... É campeã do MUNDOOO...

– Cala boca Roger! – eu não sabia se ria ou chorava. – Senta aí.

– Quem mandou você gostar Dessa mulher de fases? Complicada e perfeitinha, Você me APARECEUUUU...

Eu levantei.

Quando vi estava nos braços dele.

De repente não existia mais nada no mundo.

Eu ouvia a música bem baixinha no fundo como se fosse uma trilha sonora.

Naquele momento só existia nós dois.

Ele me beijou.

E assim aconteceu meu primeiro beijo, de forma rápida e inesperada.

Então...

Caí da nuvem, dei uma tapa bem ardido na cara dele e saí correndo da sorveteria.

Corri como jamais havia feito em minha vida, mas a cada passo eu me arrependia amargamente de ter feito isso com ele.


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Notas finais do capítulo

Só queria dizer que Ana é uma garota que tem certa dificuldade em lidar com seus sentimentos...
Só lendo os próximos capítulos para entender melhor essa mina...