Lendas Renascidas escrita por 2Dobbys


Capítulo 7
Capítulo 7




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VII

 

Hermione, muito a custo e ainda antes de abrir os olhos, conseguira sentar-se na cama, encostada à almofada fofa. Ainda sentia todo o corpo a protestar pelas dores que pareceriam não ter fim. A roupa de dormir parecia ficar-lhe cada vez mais justa. Estarei a engordar? Afinal, não me tenho mexido nada durante estas últimas semanas… as pálpebras sempre foram assim tão pesadas? Tentou abrir os olhos, mas até esse pequeníssimo esforço lhe parecia doer como tudo. O Sol está assim tão forte? Após várias tentativas, percebeu que afinal o astro rei apenas tinha acabado de se erguer e conseguiu olhar para Draco.

Ele parecia mais uma vez um anjo caído do céu, com aquelas madeixas loiras a caírem-lhe nos olhos, enquanto observava os lençóis subirem e descerem conforme a respiração dele. Estava virado na sua direcção, de maneira que se acordasse repentinamente ela seria a primeira coisa que ele veria. A sua face ainda apresentava réstias das 'marcas' que a dor deixava… mas porque é que eles teriam de sofrer aquilo?

Estava a olhá-lo há poucos segundos quando ele acordou sobressaltado. Os olhos dele abriram encontrando os dela, brilhantes como nunca, a olhá-lo com um certo carinho. Rapidamente afastou a hipótese. Ela parecia realmente preocupada com ele agora. De certeza que sonhei ou tive uma ilusão momentânea... devido à luz ofuscante do Sol… desde quando é que ele brilha tanto que até dói? Este pijama está a ficar-me pequeno…

- Draco, está tudo bem contigo? – perguntou ela com a voz carregada de ansiedade. Desde quando os olhos dele brilhavam tanto?

Caramba, ela não muda nunca…!

- Por Salazar rapariga, podes deixar de te preocupar comigo? – disparou ele tentando ser convincente, sem sucesso. Mas afinal o que é que se estava a passar? Eles já não conseguiam mentir um para o outro (pois, Draco sentia-se bem por ela se preocupar com ele embora ele mesmo teimasse o contrário), decifravam as expressões das pessoas melhor que ninguém, acordavam quase ao mesmo tempo… Que desespero! Afinal o que é que se passa connosco?

- Mas… como é que tu estás? – perguntou ele timidamente sem a olhar nos olhos, parecendo subitamente muito interessado em alisar os lençóis da sua cama.

Oh Merlin, que infantilidade! Será que ainda não percebeste que eu sei sempre quando estás ou não interessado em alguma coisa e/ou preocupado? Que mania!

- Estou óptima… - tentou ela dando o ar mais normal que conseguia.

- Mentira! Eu consigo perceber quando mentes ou não, porque é que não dizes logo a verdade? – disse Draco antes de se aperceber do que dissera.

Ela olhava para ele de olhos arregalados – Então eu não te posso mentir mas tu para mim podes? Eu também percebo quando me mente, senhor Malfoy!

Ele ia começar a retrucar – Para sua informação senhora Granger

Ouviram bater à porta ficando em silêncio de seguida, alerta.

Draco conseguiu dizer baixinho – Não devem ser os dois cometas ambulantes, senão tinham pegado fogo à porta ou simplesmente a tinham feito em estilhaços…

Ela olhou Draco de maneira repreensiva e respondeu no mesmo tom de voz – Não exageres, tá? E espero bem que não sejam eles, ainda os escorraço daqui!

Draco olhou-a abismado de boca escancarada – Estou chocado com o que acabaste de dizer! Se não estivéssemos aqui na enfermaria eu próprio te levava a St. Mungus…

Hermione provocou-o um pouco – Isso é tudo humor 'Slytherino'?

Nova batida. Desta vez, alguém espreitou pela fresta. Aliás, pareciam ser dois 'alguéns' e não um. Espero sinceramente que não sejam o Ron nem o Harry pensou Hermione.

- Podemos…?

Foi com espanto crescente que tanto ela como Draco viram entrar na enfermaria dois rapazes enormes, com ar de estúpidos mas de semblante preocupado: Crabbe e Goyle, os capangas de Draco, acabavam de entrar.

Draco olhou-os com espanto. Com certeza que não esperava por eles tão cedo.

Ao se aproximarem da cama onde Draco se encontrava, este reparou que eles estavam realmente preocupados com ele… mas havia mais qualquer coisa nos olhares que trocavam, como se tivessem medo de lhe contar algo que não queriam. Estavam certamente a esconder qualquer coisa…

- Olá Draco. Como estás? – perguntou Goyle a medo.

Hermione quase se desmanchou a rir ao ver a expressão de suspeita no rosto de Draco. Ela apercebera-se do porquê de aqueles corpos ambulantes estarem tão estranhos, apenas Draco ainda não se apercebera. Mas como é que é possível que eu tenha tanta certeza de que estou certa? Desde quando é que me tornei capaz de ler a mente das pessoas com tanta facilidade?

- Bem… e vocês? – perguntou Draco com o sobrolho ainda mais carregado.

- Também. Ficámos bastante preocupados contigo… estás diferente… no bom sentido é claro! – respondeu Crabbe quase sem voz devido à sua boca ter ficado subitamente seca. Eles sabiam que não conseguiam esconder nada de Draco durante muito tempo, mas desta vez ele parecia estar a desconfiar muito mais rapidamente do que o normal. Isso deixava-os preocupados.

- Podem parar com a conversa da treta e me explicar o que se passa com vocês dois de uma vez? – perguntou Draco já sem paciência. Os Slytherins definitivamente não eram conhecidos pela sua paciência.

- Nós… huh… bem, não se passa nada… - começou Crabbe sem o olhar nos olhos.

- RESPONDAM DE UMA VEZ!

- Draco, não há necessidade de reagires assim! – interveio Hermione com uma voz doce, o que fez amainar um pouco a tensão que se sentia – Eles não podem ter a sua vida pessoal? Agora têm de te contar tudo como se fosses 'dono' deles?

A maneira como Hermione dissera 'dono' não deixava dúvidas a Draco sobre o que ela insinuara. Ao olhá-la com ar de choque, viu um brilhozinho de traquinice a espreitar dos seus olhos brilhantes.

- Isso é tudo humor 'Gryffinório'? O que é que TU sabes que eu não sei? – perguntou-lhe Draco – Aliás, como é possível que saibas alguma coisa se tu saíste daqui tanto como eu? Ainda por cima assisti a toda a insuportável conversa entre ti e aquelas duas deformidades da Natureza…

Hermione parecia não ter ouvido a última parte do que ele dissera. Qualquer pessoa poderia perceber que estava orgulhosa dela própria.

- Oh, Draco, por vezes és tão cego! Tão criança ainda… tsc, tsc…

Ele perecia ter levado outro murro semelhante ao que ela lhe dera no seu 3º ano em Hogwarts. Eu? Criança? Ela não está boa…

- Nem penses em retrucar senão vais-me dar ainda mais razão! – avisou ela divertida.

Draco detestava quando ela o encostava contra a parede daquela maneira. Resignou-se e cruzou os braços de novo com um bufar audível. Hermione estava cada vez mais convencida de que Draco ainda tinha muito que 'crescer'. Ao olhar de novo as duas visitas que os olhavam alternadamente sem saberem como reagir, disse com voz doce:

- Não se preocupem, podem-lhe contar.

Eles arregalaram os olhos – M-mas… como é que tu…?

Ela sorriu novamente de maneira maternal – Apenas sei e pronto. E não, nenhuma delas me contou nem nada que se parecesse… - acrescentou ela ao se dar conta do receio dos dois tímidos rapazes que estavam tão corados que pareciam as orelhas de Ron quando estava envergonhado.

- 'Delas'? – voltou a perguntar Draco olhando de Hermione para os dois rapazes – Que 'delas'? De quem é que ela está a falar?

Os dois pimentos olharam Hermione para apoio e orientação. Ela tinha uma áurea tão calmante que eles se sentiram imediatamente mais confiantes.

- Draco… - começou Goyle com coragem. Olhando mais uma vez para Hermione, a rapariga que ele xingara muita vez juntamente com Malfoy e Crabbe, percebeu o olhar orgulhoso que emanava dela. Como é que ela consegue agir assim connosco? Depois de todo o mal que lhe fizemos? Mas decidiu preocupar-se com essa questão mais tarde – Bem… durante estes dias que estiveste aqui na Ala Hospitalar… uh… os alunos das quatro casas, juntamente com Dumbledore, concordaram em fazer uma festa um pouco diferente do habitual…

Draco não apresentava nenhuma expressão. Nem mesmo Hermione conseguia naquele momento dizer em que ele pensava.

- E…? Diferente como? – incitou ele de maneira completamente passiva.

- Bem…hum… ele disse que era uma excelente oportunidade de nos conhecermos melhor… quer dizer… entre as casas…

Draco ficou levemente chocado com o que percebera nas entrelinhas, mas colocou uma máscara tão firme que apenas Hermione o percebeu. Goyle continuou.

- Bem… ele praticamente obrigou-nos a fazermos par com outras pessoas que não fossem de Slytherin…

Tanto Draco como Hermione perceberam perfeitamente que eles não se queriam responsabilizar pelo que quer que tenham feito com os seus pares não-Slytherin.

- Sim…? – insistiu Draco com ar indiferente.

- Huh… nós tivemos de fazer par com as gémeas Patil, dos Gryffindor… - arriscou ele. Os dois 'enfermos' não puderem deixar de se entreolharem e fazerem um esforço quase sobre-humano para não caírem na risada ali mesmo, o que poderia estragar tão interessante narrativa. Ambos já adivinhavam o que viria dali.

- Sim, e…?

Draco pensou que ele devia mesmo estar doente. Se o mesmo se tivesse passado há umas semanas atrás, certamente ele estaria mais do que furioso pelo comportamento dos dois 'capangas'… mas agora… ele até que estava de certa forma 'contente' por saber instintivamente o que aquelas duas aves raras tinham feito. Felizmente que ambos tinham emagrecido bastante durante o último Verão, ou certamente nada daquilo teria acontecido. Ele próprio se surpreendeu ao constatar que zelava pela felicidade daqueles dois.

- Bem…

Draco já começava a achar a conversa repetitiva demais, mas estava decidido a vê-los passarem pela prova de o enfrentarem como eles mesmos eram, e não pelo que ele lhes dizia para serem.

- Elas não são tão ruins assim, sabias? – arriscou Crabbe.

Goyle interrompeu-o - Nós fomos dar um passeio com elas para os jardins, todos juntos… às tantas separámo-nos e… - a voz dele falhou. Estava no ponto crucial.

Draco revirou os olhos – Por Salazar, beijaram-nas ou não? – perguntou olhando de um para outro. Nunca os tinha visto tão desconfortáveis na sua presença. A vermelhidão ainda mais viva do que a anterior que tomou conta deles foi a resposta que Draco precisava.

Goyle estava especialmente corajoso naquele dia… seria por ter sido o único dos dois a olhar Hermione nos olhos mais veementemente? Ela parecia transmitir uma calma infinita, o que certamente ajudava.

- Draco, nós sabemos o que achas dos Gryffindors, até há quem as ache um tanto ou quanto estúpidas dentro da sua própria casa… mas elas são fantásticas! Nós achamos que… gostamos mesmo delas, pronto.

Draco fez um leve trejeito com a boca; não se conseguiu controlar mais e gargalhou com violência, o que assustou os dois rapazes.

- Oh, meu Merlin! Vocês acharam mesmo que vos ia repudiar por isso? Que vos ia matar o juízo até se atirarem da torre de Astronomia por desespero? Finalmente que encontraram alguém, já não era sem tempo seus encalhados! Sinceramente não as acho nada de especial, mas se vocês gostam delas quem sou eu para vos dizer alguma coisa? Que sejam felizes então!

Crabbe e Goyle nem conseguiam acreditar nas palavras que tinham acabado de ouvir… Draco estava a apoiá-los?

Como se eles estivessem petrificados, Draco arregalou os olhos para eles e acenou com a mão – Helloooooo! Realidade chama apaixonados! Que raio é que vocês continuam aqui a fazer? Já me contaram, tudo bem, agora por que razão não estão com elas? Eu não preciso de vocês aqui pra nada!

Os dois rapazes olharam para ele com uma gratidão que Hermione sabia nunca na vida o terem feito. Com um sorriso enooorme na cara, seguiram o conselho de Draco e, depois de se despedirem dos dois (sim, dela também) desejando as melhoras de ambos, saíram da enfermaria. Goyle lançou um olhar especialmente agradecido a Hermione. Afinal, tinha sido graças a ela que ele, de alguma forma, tinha arranjado coragem para ser tão directo com Draco.

Goyle parecera a Hermione o mais maduro dos dois. Ela sabia que, de entre as duas gémeas, ele estava apaixonado pela Parvati, aquela que abrira o baile de natal do 4º ano como par de Harry. Hermione sempre fora boa observadora, e não lhe tinha passado despercebido o esforço que ele tinha feito para não olhar muito para ela, para Draco não notar. Draco… ele estava realmente muito mudado, e para melhor!

Ela olhou-o nos olhos. Ele sentiu-se inspeccionado e disse sem à-vontade e com um encolher de ombros – Que foi?

Ela sorriu de uma maneira que ele achou… fofa? Merlin, eu realmente não estou bem…

- Finalmente estás a crescer Draquinho!

Nunca um Malfoy ficara tão vermelho e tão cheio de vontade de desaparecer por um buraquinho enquanto murmurava coisas quase imperceptíveis sem sentido nenhum, como 'eu não sou criancinha para crescer…' e ' Draquinho?… já não sou pequeno…'

Hermione só pôde rir dele.


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Notas finais do capítulo

N.A.: eu adorei fazer este capítulo hahaha, foi hilariante escrevê-lo!