Lendas Renascidas escrita por 2Dobbys


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

N.A.: Oi pessoas! Não, não vou fugir das maldições que aí vêm, eu sei que as mereço -.-' ... afinal, demorei HORRORES a postar este capítulo... que é o ÚLTIMO (oficialmente)... sim, oficialmente, porque vou depois apenas postar um epílogo... cheguei a ponderar na hipótese de o colocar aqui, mas depois apercebi-me que iria ficar um pouco fora de contexto misturá-lo aqui...

Bem, mas pra compensar a demora o capítulo ficou beeeem grandinho... bem, pelo menos para o que eu costumo fazer ^^

Este cap tem 12 páginas Word! huhuhu *autora excitada de alegria e orgulho em si própria feita louca*

bem, não vos vou fazer perder mais tempo com as minhas loucuras... =^.^= ENJOY!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/62798/chapter/17

XVII

Os dois YinYang estavam de mãos dadas, sentindo-se a vaguear no nada, espaço completo e absoluto. O tempo não existia, mas as sensações eram o que dava vida àquele lugar, onde quer que fosse.

Kiwi ia à frente deles, como que liderando o caminho para o seu mundo, a sua realidade, a sua solitária e vazia existência. Bem, talvez vazia não; afinal, aquele mundo parecia ser criado apenas de puras sensações. Era um local confortável à sua maneira.

Kiwi pareceu murmurar alguma coisa ininteligível para si mesmo. Logo depois disso, o casal começou a sentir algo meio sólido sob os pés, algo translúcido; assim poderiam andar. Kiwi aclarou a voz.

- Estamos mesmo a chegar… olhem para diante. – disse ele apontando.

Eles seguiram-lhe o gesto e ficaram sem fala.

Estavam a aproximar-se de uma espécie de ilhota suspensa no vazio, mas detinha uma beleza extrema, completamente fora do comum. Continha muitas árvores e todo o tipo de vegetação; no entanto, as árvores eram… diferentes. Os seus novos sentidos, principalmente o olhar, estavam totalmente alerta e super apurados. Notaram que muitas das árvores tinham troncos retorcidos - não castanhos, mas com cores frias, como roxo, violeta e grená. As folhas variavam entre o azul, verde e laranja, algumas delas com riscas transversais a vermelho ou mesmo preto e branco. Eram lindas.

- Aqui é onde passo a maior parte… huh… bem, daquilo a que vocês chamam Tempo. Ele aqui nunca se sente, só no vosso mundo.

Eles estavam maravilhados. Sentiam-se… em casa. Estranhamente, estavam completamente à vontade. Draco chamou a atenção dela.

- Hermione… olha ali. – disse apontando para o espaço entre duas das árvores estranhas.

Ela sorriu abertamente. Entre um tronco e outro, encontrava-se ao que pareceu inicialmente ser uma espécie de xaile entre o esbranquiçado e o translúcido. Rapidamente se deram conta que tinha o mesmo papel que as redes atadas a árvores no mundo muggle, muitas vezes associado a locais paradisíacos, como as ilhas do Pacífico. Sempre lembravam as praias desertas, muita areia branca, águas cristalinas e quentes, muito Sol, quietude, tranquilidade…

- É onde ele dorme…? – questionou-se Draco.

Hermione olhou-o com carinho – Pelos vistos… é fantástico! Já viste o cuidado com que este material foi manuseado? – atentou ela ao olhar a "cama" com mais atenção. Parecia feita de algum material parecido com teias de aranha, mais muito mais atraentes e resistentes. Quase parecia feita de… algo como… cristal líquido maleável. Seria possível?

- Aí é onde de vez em quando me deito e me perco em pensamentos e ponderações… - disse uma voz atrás deles. Viraram-se.

Kiwi estava, ao que parecia, radiante por compartilhar aquele espaço com eles. Afinal, sempre estivera sozinho durante milénios.

- De que material é feito? – perguntou a morena.

- Não existe no vosso mundo… chama-se Silkapondaryus.

Draco assobiou baixinho, surpreso - Uau, belo nome! Como é que…?

Calou-se. Um estranho odor começara a impregnar o ambiente, fazendo as suas narinas dilatarem de agrado. Não conseguia identificar aquele odor, mas sentia-se bem com ele. Olhou para a morena, que estava exactamente como ele. Olharam-se e viraram-se para Kiwi, olhando-o interrogativamente. Ele olhou-os com um dos seus típicos sorrisos estranhos.

- Sigam-me. Irão descobrir as repostas às vossas perguntas por vocês mesmos…

Voltaram a entrar naquela espécie de matagal com vegetação completamente estranha para eles. Era incrível como tudo aquilo lhes era estranhamente familiar. À medida que avançavam, o cheiro ficava mais forte. Ao passarem por um quase-túnel de algo muito parecido com bambu (mas de uma cor verde-alface), Kiwi estacou, sendo seguido pelos outros dois que fizeram o mesmo. Eles abriram a boca, maravilhados.

- Isto é… - começou ela, mas não conseguiu acabar de falar. Draco também decidira não se pronunciar, pois temia que a voz lhe falhasse.

Estavam a ver o tal lago que Kiwi lhes falara. Era bastante grande, completamente rodeado de vegetação, que formava uma espécie de cúpula aberta ao centro, deixando ver o que pareciam ser um grande aglomerado de galáxias distantes, nebulosas mais perto e pequenos pontos brilhantes das estrelas. O líquido que o lago continha era totalmente prateado, sendo que algo o fazia borbulhar levemente no centro (como se fosse uma nascente), provocando pequenas ondas até à margem. Aquela prata líquida reflectia os mais variados espectros de cores, incluindo algumas que nem eles sabiam existir. Aquele lugar era completamente hipnótico para eles os dois. Tudo era simplesmente estranho e acolhedor. Kiwi interrompeu os devaneios de ambos.

- Podem entrar lá dentro… aliás, convém que o façam o mais rapidamente possível. Os vossos membros já se estão a retesar com este ambiente, precisam de se libertar…

Eles olharam-se, e era verdade: os seus braços, pescoço e couro cabeludo estavam a ficar roxos de tão sufocados pela pele humana. Precisavam rapidamente de a destruir.

Deram as mãos, dirigindo-se solenemente para o lago. Aquele líquido provocava-lhes arrepios de frio e calor, não conseguiam discernir exactamente qual. Lentamente, dirigiram-se para perto do centro do lago, sendo que agora o líquido lhes dava pelo peito. Começaram imediatamente a arquejar.

Aquela prata líquida era muito mais forte do que as lágrimas de Kiwi, sendo mais corrosivo ainda para aquela pele que os sufocava aos poucos. Mesmo fazendo-lhes bem, isso não significava que o processo de destruição fosse isento de dor; bem pelo contrário. A antiga pele a ser destruída fazia-os silvar de dor e agarrarem a mão um do outro com mais força.

A voz metálica de Kiwi parecia longínqua – Mergulhem por inteiro! Mergulhem por inteiro!

Eles olharam-se com a dor espelhada nos seus rostos. Tinham de o fazer, de qualquer maneira. Ou era dor insuportável, asfixia e morte ou era dor no limite do suportável e sobrevivência. A escolha era óbvia.

Respiraram fundo e submergiram, desta vez já com as duas mãos dadas, de frente um para o outro.

Só lhes apetecia gritar: todo o pedaço de pele que estava em contacto com o líquido irritante lhes ardia enquanto se desfazia. Muito lentamente, a dor foi desaparecendo, dando origem a um certo alívio e, sem que se dessem conta, inspiraram fundo. O líquido encheu-lhes os pulmões, parecendo dilatá-los. Ao contrário do que esperavam, não houve dor, apenas uma dormência em todo o peito; abriram os olhos, e o contacto do líquido prateado com o couro cabeludo e com a película ocular fez com que a dormência passasse também para a cabeça. Já não tinham a mínima noção de onde estavam e de quem eram, como se estivessem em transe profundo, numa espécie de coma momentâneo. Apenas se deixaram levar, mais uma vez, pelas sensações de mudança.

Lentamente, a dor foi sendo substituída por uma familiaridade elementar. A nova pele apreciava aquele líquido, como se fosse um bálsamo. De alguma maneira, eles pertenciam àquele lugar, àquela essência. De alguma maneira, eles eram parte integrante e incomensurável daquele elemento. Eles eram o elemento.

Eles sentiam que poderiam ficar ali dentro eternamente. Felizmente, mas para frustração dos outros dois, sentiram uma mudança naquele ambiente, algo que mudava as suas correntes habituais e sincronizadas: Kiwi entrara no lago.

Emergiram do transe quando uma mão pequena tocou no ombro de cada um, fazendo-os dirigirem-se à superfície. Quando o fizeram, não precisaram de inspirar uma única vez. Aquele líquido era tudo o que precisavam.

Olharam-se quase em choque. A sua pele estava bem mais pálida e brilhante do que antes, mais macia e mais resistente. Os cabelos tinham agora dupla força e graciosidade (qualquer movimento fazia-os quase flutuar), e os olhos… Merlin, os olhos!

Aproximaram-se. Ambos os pares de olhos reflectiam o amor devoto de cada um ao outro, e pareciam mais brilhantes e bem maiores. Apresentavam a profundidade e complexidade de cada um, coisa que seria quase impossível antes. Era impossível mentir por estes olhos.

Não conseguiram resistir ao ímpeto de se aproximarem mais e de se beijarem ternamente.

Wow! Pensaram os dois.

A sua nova pele era também muito mais sensível. Qualquer toque ou brisa era imediatamente sentida. O beijo que partilhavam agora era um turbilhão de sensações para as suas almas sequiosas. Não demorou muito tempo até o aprofundarem mais, quase que se fundindo.

Kiwi interrompeu-os imediatamente – Parem! Se continuarem assim podem unir-se mesmo! Podem fundir-se!

Eles estacaram – Fundir? A sério?

- Creio que sim, na altura certa… pelo menos tenho essa impressão… - continuava ele todo nervoso – Parem, a sério, agora têm de tomar mais cuidado com esse tipo de coisas.

Eles olharam-se. Tinham chegado à mesma conclusão: Kiwi estava com um pouco de ciúmes. Tão querido! Pensava a morena, enternecida. Aproximou-se dele e deu um grande beijo na bochecha da pequena criatura, que corou fortemente. A pele do pequeno era ligeiramente adocicada, sendo muito parecida à deles. Draco riu, pegou nele e andou com Kiwi às voltas, como se ele fosse uma autêntica criança. Kiwi estava radiante mais uma vez; para além do sorriso rasgado, via-se no seu olhar, que estava ligeiramente mais vivo do que o que normalmente parecia. Quem os visse diria que eram uma 'família feliz' a brincar num lago prateado.

Hermione sentiu-se subitamente tonta. Aproximou-se da margem, para se sentar e tentar acalmar-se. Algo de mau se passava… mas não era ali.

- Draco…! – chamou ela baixinho, embora com uma pontada de urgência.

Draco parou imediatamente de sorrir. Aproximou-se dela com Kiwi ao colo, reparando que ela estava com o olhar desfocado – O que se passa?

- Não o sentes? Quero dizer… abre a tua mente… sente…

Draco fechou os olhos em concentração, tentando abstrair-se daquele local maravilhoso. Franziu o sobrolho; o seu semblante ficou ligeiramente carregado.

- Há qualquer coisa de errado, sim… porque é que não notei antes?

Ela parecia estar prestes a desfalecer – Porque… sou eu que… detenho a parte mais negra de nós os dois, lembras-te…?

- Hermione…? – chamou ele preocupado enquanto pousava a pequena criatura no chão.

Kiwi olhou-a penetrantemente – Está a acontecer… ela está a sentir os efeitos…

- Que efeitos? – perguntou o loiro enquanto a abraçava para que ela não caísse para o lado de repente. Os efeitos também se começavam a fazer sentir nele.

- Os efeitos de sentirem quando precisam de vocês… da vossa ajuda. Quando o merecem… - e virou-se para ela – Tenta absorver essa energia negra e transformá-la em energia em teu proveito… tu és capaz de o fazer. Concentra-te…

Hermione fez um esforço para tal. Passado um tempo, sentia aquele tipo de energia a preenchê-la, dando-lhe algumas forças. Por seu lado, Draco estava a enfraquecer com a sua exposição às radiações daquele tipo de energia.

Hermione entendeu o que tinham de fazer – Temos de voltar imediatamente… Kiwi, por favor, leva-nos de volta.

Ele acenou-lhes e colocou uma mão em cada ombro dos outros dois – Não se esqueçam que agora que estão puros devem passar o mínimo de tempo possível no vosso antigo mundo, pois só aqui conseguem obter energia para ambos simultaneamente… mas sei que terão de o fazer até ao limite das vossas forças. Bem, sempre que precisarem de uma maior dose de energia… ou… se me quiserem vir visitar… podem vir sempre que quiserem. – e voltou a olhá-los com um sorriso misterioso – Bem, mas não vos vou demorar mais. Vejo-vos em breve! Boa sorte!

Hermione agarrou Draco com mais força ao sentir que entravam por um buraco espacial, que unia as duas realidades. Estavam quase a chegar.

oOo

Quando se deram conta, estavam nos campos de Hogwarts. Hermione não entendeu imediatamente o porquê de lá estarem até avistar um pequeno grupo de pessoas.

Hermione sentia-se muito melhor, o que já não se poderia dizer do estado do loiro. Mesmo assim ele não estava demasiado mau, sendo que conseguia andar por si mesmo. Mesmo assim, ela não lhe largava a cintura nem tirava a sua mão da dele.

Ao se aproximarem, viram que Ron, Neville, Luna, Lockhard e o próprio Dumbledore faziam um círculo em torno de Harry, que estava sentado no gramado, com Ginny no colo. Embora ainda estivessem longe, conseguiam ver que o moreno tinha a cara brilhante das lágrimas e os olhos vermelhos. Dava a sensação que todos os queriam separar, mas que o Rapaz-Que-Sobreviveu criara uma espécie de protecção à sua volta, o que impedia qualquer pessoa de se aproximar mais do que um metro. Ginny estava tremendamente pálida e não se mexia. Aliás, tanto Draco como Hermione conseguiam ouvir o bater fraquíssimo do seu coração.

Os outros só se aperceberam da sua presença quando eles estavam a cerca de cinco metros do grupo. Abriram-lhes imediatamente passagem, com os olhos esbugalhados com a sua mudança.

Conseguiam ouvir o murmurar de Harry, que os chamava sem dar por isso. Quando ele os viu soltou um pouco do ar que continha nos pulmões de surpresa, mas soltou imediatamente um enorme suspiro de alívio – Vocês voltaram… vieram… graças a Merlin…

Aproximaram-se dele; sabiam que agora não era a melhor altura para perguntar o que acontecera. Draco recompôs-se o melhor que pôde e falou, olhando-o directamente nos olhos – Potter, precisamos que nos passes a Weasley… ela está mesmo muito mal. Porque não a levaste à enfermaria? – perguntou curioso.

Harry encolheu os ombros, abalado – Não sei… apenas… senti que ela precisava de estar cá fora, sem ser tocada por ninguém… estava apenas à vossa espera, embora não tivesse a certeza de que voltariam tão depressa…

Hermione deu um ligeiro sorriso. Ele sabia, embora inconscientemente, que aquele local seria importante para a recuperação da namorada. Eles também o sabiam, embora ainda não percebessem como.

Ela dirigiu-se ao amigo – Harry, passa-nos a Ginny… por favor. Ela precisa de nós e tu dela.

Com alguma relutância, passou-a para eles, que a deitaram imediatamente no chão. O coração estava mesmo muito fraco e ela deveria estar gelada. Deveria, sim, porque eles não conseguiam ter a certeza disso… afinal, agora eram praticamente imunes à temperatura.

Draco avisou-o – Não temos a certeza do que fazer. Achamos que apenas podemos fazer parte do processo… o resto vai ter de ser ela própria a dar o passo de voltar.

Harry, que já estava ligeiramente pálido, ficou completamente lívido - … Apenas… façam o que puderem por ela… - e acrescentou num tom baixo, como se falasse para si mesmo – Ginny, por favor… não me deixes. Volta.

O loiro e a morena voltaram a sua atenção de novo para Ginny. Ambos colocaram uma das mãos na cabeça da ruiva inconsciente e a outra em cima do coração. Fecharam os olhos em concentração. Tinham de se abstrair de tudo o que fosse suplementar.

Subtilmente, deixaram de ouvir. Escutavam o simples nada. Aos poucos, foram "sentindo" o levíssimo bater de coração, a suave brisa, o marulhar das folhas das árvores da Floresta Proibida, os pequenos e singelos sons que as mais variadíssimas criaturas que lá viviam provocavam. Cada movimento modificava o ambiente em redor. Era na floresta que eles mais sentiam a vida pulsar. Para fazer bater um coração humano, seria necessária muita energia, energia que nenhum dos YinYang detinha ainda. No entanto, podiam canalizar essa energia, esse pulsar, para o corpo e mente de Ginny.

Já não existia o tempo. Tudo parara, a não ser esse tremendo pulsar de vida. O coração de Ginny teria de se guiar pelo mesmo pulsar da floresta; mas essa escolha não poderia depender apenas deles. Eles poderiam fazer a ligação entre esses dois factores, mas Ginny é que escolheria seguir esse caminho ou não.

oOo

Estou perdida… onde estou?

Ginny encontrava-se perdida no espaço vazio. Não discernia absolutamente nada. Havia ainda outro problema: tinha perdido a noção de realidade, já nem sabia quem era. Não sabia absolutamente nada e isso assustava-a.

Sei que me deveria lembrar de alguma coisa, mas não consigo… o que está a acontecer?

Abraçou-se aos joelhos enquanto se enrolava em si própria. Decidira esquecer. Estava bem! Sim, é certo que faltava algo… mas estava bem.

Estava assim há algum tempo quando começou a sentir e a ouvir alguma coisa, algo ritmado. Começou baixinho, mas o tom foi aumentando de intensidade. Ela sentiu uma energia gigantesca vibrar por todo o lado. Por um lado, sentia-se imensamente bem com esta energia… por outro, queria que ela se afastasse dela. Aquilo parecia chamá-la.

Repentinamente, notou uma pequenina luz mesmo à sua frente. Ao se aproximar dela, algumas imagens vieram à sua mente: um rapaz moreno de olhos verdes com um sorriso que ela gostava, um rapaz de cabelos vermelhos e sardas no nariz, um casal em que ele tinha cabelo castanho e era forte e ela era loira e tinha uma aparência frágil e sonhadora… viu também um pequeno flash em que lhe pareceu ver uma rapariga morena de mãos dadas com um loiro mais alto, ambos com algo nas costas… ambos a olhavam com atenção, a sorrir levemente. Pareciam dizer-lhe alguma coisa… e a sequência de imagens voltou a mostra a primeira: o belo rapaz moreno de olhos verdes brilhantes… ela gostava especialmente desta imagem… Espera lá… ela tinha a sensação que o conhecia de algum lado, e muito bem. Mas de onde?

Analisou melhor o pequeno ponto de luz, que agora se tornava maior. O que seria aquilo? Ele deveria investigar mais? Iria dar esse passo?

Voltou-se a concentrar na energia pulsante que era emanada pela pequena concentração de luz. Ela gostava… se ficasse, provavelmente nunca mais a sentiria… ela estava confortável… mas aprendera a gostar daquelas pulsações. E, além disso, a imagem do rapaz de cabelos negros revoltos de olhos verdes… ajudava a convencê-la. Sorriu para si mesma. Já sabia que decisão tomar.

oOo

Eles acordaram do transe quando ouviram a voz de um certo moreno a gritar de felicidade – GINNY! OH, GINNY, ESTÁS BEM! ACORDASTE!

Abriram os olhos. Sentiram-se imediatamente tontos com o esforço aplicado a tentar convencer a ruiva a seguir o pulsar que a tinham feito ouvir.

Ginny olhava tudo à sua volta com espanto – Onde estou? Não… não devíamos estar… - e lembrou-se de tudo o que acontecera – Oh Merlin! Aquele homem! Aquele vazio… - e olhou para as duas criaturas ainda tontas – Hermione… Draco… estou-vos imensamente agradecida…

Draco sentiu uma lufada de energia benigna, que lhe ia restituindo as forças aos poucos.

Harry olhou-os com curiosidade – O que lhe fizeram? Mal se conseguia ouvir o seu coração a bater…

- Apenas fizemos com que ela se lembrasse do quanto gostava da vida que esse pulsar lhe dava. – responderam os dois enquanto se punham de pé.

Harry e Ron ajudaram Ginny a se erguer também.

Dumbledore olhava-os com uma certa nostalgia – Vão então… à aventura?

Todos os outros olhavam do mais velho para a dupla, sem entenderem. Harry e Ginny, no entanto, entenderam de imediato.

- NÃO! Nem pensem que se vão embora assim, sem mais nem menos! Nem vos agradecemos o suficiente por tudo o que fizeram, nós… - dizia atabalhoadamente a ruiva com lágrimas nos olhos.

Hermione abraçou-a com um sorriso – Ginny, temos de o fazer. É a nossa natureza. É daí que conseguimos arranjar energia suficiente para nos mantermos neste mundo…

- Arranjam energia a andar de um lado para o outro? Sem estarem ao pé de nós? É isso? – perguntava um Harry a tender para o desesperado.

Draco revirou os olhos – Continuas a ser um cabeça dura, Potter. É claro que não é por nos afastarmos de vocês que conseguimos a energia! – e aproximou-se perigosamente do moreno, que agora tinha de olhar bem mais para cima se o queria olhar nos olhos – Eu, neste momento, detenho o Yang, e ela o Yin. Que eu saiba, Dumbledore já falou disso contigo. Estou certo?

- Certo… - dizia o moreno a resmungar para si mesmo.

- Então sabes que ela precisa de se aproximar mais das pessoas que têm problemas que possamos resolver, que precisam de nós, para conseguir esse tipo de energia mais negra para a sobrevivência de Hermione. Quando as ajudamos, eu recebo um pouco dessa energia benigna que as pessoas emanam. Se vocês estão todos bem…

- Apenas tu irás sobreviver. – concluiu Neville com um suspiro. Draco acenou e o outro continuou – Harry, como tu bem percebeste, eles não conseguem viver um sem o outro… têm de encontrar energia suficiente para os dois! Isso só pode acontecer se eles procurarem as fontes dessas duas vertentes de energia.

Dumbledore ergueu uma sobrancelha. Neville Longbottom estava verdadeiramente diferente. Bem mais maduro.

Embora com voz aérea, Luna finalmente disse a conclusão óbvia que ninguém queria admitir – Então vocês têm mesmo de se ir embora, e o mais rapidamente possível… creio que essa vossa nova pele não se dê tão bem nesta atmosfera como a anterior… com esse corpo enorme que agora têm, tenho a certeza de que terão de andar constantemente à procura de novas fontes de energia… ao mesmo tempo que ajudam as pessoas. Acho que, no final de contas, o que vocês fazem é bom.

Todos olhavam para ela. Os seus grandes olhos azuis acinzentados estavam sorridentes, mas tristes. Ela ia sentir também muito a falta deles.

Hermione olhou para Harry e Ron. Ambos estavam devastados com a revelação. Ela não se sentia muito melhor, mas sabia que era o necessário a fazer. Para além disso…

- Não te irias sentir bem aqui, Hermione… - disse a voz de Draco na sua mente.

- Eu sei… - respondeu ela da mesma maneira – Mas vou sentir a falta deles à mesma

- Nunca nos disseram que seria fácil… ou pelo menos muito fácil.

- É mais fácil para ti, não é?

- Sim… embora eu saiba que estás menos triste com isso do que eles… - ao ver a cara que ela lhe fez acrescentou muito depressa – Atenção, não estou a dizer que não vais sentir a falta deles… mas eles vão ficar piores com isso do que tu.

- Eu sei… nestes últimos tempos apercebi-me de algumas coisas que antes me estavam vedadas. Fiquei a conhecer as pessoas a um nível que não gostaria… - e depois de um tempo de silêncio concluiu – Sim, Draco, tens toda a razão. Eu não me iria dar bem com eles durante muito tempo… adoro-os a todos, muito mesmo, mas este sentimento fraternal que nos une não iria durar muito tempo. Deste modo, talvez o consiga preservar.

Harry interrompeu a "conversa" que eles estavam a ter mentalmente – Então… isto é um adeus?

Hermione sentiu-se um pouco mal ao ser a responsável pelas lágrimas que surgiam nos olhos de cada um dos amigos. Mas foi Draco quem respondeu.

- Potter, creio que isto pode ser um "até qualquer dia".

Ginny ficou esperançada – Então… vamos poder voltar a ver-vos?

- Provavelmente, mas não num futuro muito próximo… - respondeu a morena, mas vendo a expressão desalentada da ruiva acrescentou com um pequeno sorriso – Talvez quando nos convidarem para o vosso casamento e para virmos ver os vossos onze filhos, possamos fazer uma pausa no carregamento de energias e vir fazer uma pequena visitinha…

Eles deram uma gargalhada seca, um pouco mais animados.

Para sobressalto de todos, Dumbledore falou. Já ninguém se lembrava que o ancião lá estava também.

- Bem, crianças, tenho coisas a fazer e creio que se querem despedir convenientemente sem um pendura por aqui… - e dirigiu-se às duas criaturas – Menina Granger, é uma honra conhecê-la, tal como a si, senhor Malfoy. Isto pode soar terrivelmente, mas há males que vêm por bem. A morte dos vossos pais permitiram-vos alcançar o vosso legado, por muito que isso vos tivesse custado. Admiro a vossa persistência, paciência, e coragem. Agora… - e dirigiu-se a todos os outros – Cheguem aqui.

Todos se aproximaram com os passos vacilantes, e Dumbledore explicou – Se eles vão embora, temos de nos assegurar que ninguém consiga obter qualquer informação deles através de nós, que agora somos os únicos que sabemos deste segredo. Senhor Malfoy, poderia…?

- É para já, professor. – respondeu ele prontamente. Tanto Draco como Hermione se tinham imediatamente apercebido do que o Director falava. Precisavam de fazer um Juramento Inquebrável.

Enquanto Dumbledore, Neville, Luna, Harry e Ginny davam a mão a Hermione, Draco estava posicionado de lado, com as palmas das mãos na direcção deles. Nunca mais iria precisar de varinha.

Ninguém falou. Hermione tinha entrado na mente de todos ao mesmo tempo, obrigando-os a jurar os votos que ela formulava inconscientemente. Sim, inconscientemente. Tanto ela como Draco estavam novamente numa espécie de transe, sendo que os votos por ela proferidos não poderiam ser propriamente 'verbais'. A cada voto jurado, um elo de energia aparecia em torno das mãos deles, a partir de Draco. Quando tudo aquilo terminasse, nenhum deles se lembraria exactamente de quais os votos que tinham jurado nunca quebrar.

Quando abriram os olhos, todos os que tinham submetido ao juramento se sentiam zonzos. Dumbledore foi o primeiro a recuperar.

- Bem, meus jovens… até à próxima! – e abraçou-os aos dois. É claro que agora eles estavam mais altos que ele, mas não tinha importância. Ele olhava para eles como netos que nunca tivera., e eles sabiam disso.

- Muito obrigado, Albus Percival Wolfric Brian Dumbledore – agradeceram os dois – Muito obrigado por nos ter ajudado a sabermos quem somos. Obrigado por ter acreditado em nós.

Dumbledore ficou com lágrimas nos olhos. Acenou com a cabeça – Sempre às ordens! – e afastou-se, indo na direcção do castelo.

- Bem… - suspirou Ginny cabisbaixa – Agora nós…

Calou-se. Ambos os YinYang se inclinaram a abraçaram ternamente a ruiva ao mesmo tempo. Ela não aguentou, começou a chorar, abraçando-os de volta. Entre soluços, tentava falar – Prometem que vêm visitar-nos, certo?

- É claro que sim. – respondia a morena sorrindo levemente. Não conseguia chorar. Seria um efeito colateral da mudança?

Fizeram o mesmo a Luna. Na vez de Neville, apenas Hermione o abraçou; Draco deu-lhe um aperto de mãos. Neville nunca vacilou. Os tempos de escola e de rivalidades já lá iam.

Quando chegou a vez de Harry e Ron, ela abraçou-os aos dois ao mesmo tempo, ficando naquela posição bastante tempo. Cálidas lágrimas caíam-lhes pelas faces, silenciosas. Hermione detestava vê-los assim, mas sabia que era o melhor para eles… e para ela.

- Adeus, Hermione. – disseram eles – Até à próxima!

- Adeus, Harry… Ron… prometo que nos voltaremos a ver.

Quando se afastaram, foi a vez de Draco se aproximar deles.

Ron aceitou a mão do loiro, embora ainda relutantemente. O ruivo ainda teria de crescer mais um pouco. Mas foi Harry que surpreendeu todos: aceitou imediatamente a mão dele, sorriu levemente e puxou-o para um abraço. Hermione quase que gargalhou com a expressão desnorteada do seu companheiro.

- Obrigado por cuidares dela, Malfoy… obrigado por ajudares a trazer a Ginny de volta… obrigado por… - suspirou - Simplesmente por tudo. Obrigado.

Draco continuava atarantado com a atitude do moreno. Ginny continuava a chorar audivelmente, Luna sorria, tal como Neville, e Hermione… estava feliz. O que mais queria era que os amigos aceitassem Draco. Finalmente Harry dera o passo em frente. Nunca tinha estado tão orgulhosa dele. Nunca chorou naquele dia, mas sentia os olhos húmidos.

O loiro finalmente reagira, pondo os braços por sua vez em torno do moreno, embora relutantemente – Sempre às ordens, oh Rapaz-Que-Derrotou-O-Maior-Feitceiro-Negro-De-Todos-Os-Tempos! – brincou ele.

Harry deu uma gargalhada, afastando-se. Tinha um estranho brilho nos olhos – Se não fossem vocês nunca teria conseguido.

Draco escarneceu afectivamente – É claro! O que seria feito de ti sem nós?

Harry deu-lhe um murro no ombro alto, na brincadeira. Parecia que, embora o loiro tivesse mudado bastante a sua maneira de ser, ainda sentia algum prazer em chatear alguns elementos do grupo. Era assim que as coisas deveriam de ser; era impossível que Draco tivesse mudado a 100%... se tal tivesse acontecido, de certeza que aquele rapaz não era Draco Malfoy.

O loiro sorriu para todos. Ambos os YinYang olharam demoradamente para cada um deles, memorizando cada traço daquelas caras, daquelas personalidades únicas.

- Até à próxima… - murmuraram eles.

Subitamente, vislumbraram um leve movimento na copa de uma árvore. Era Kiwi, que lhes sorria alegremente, fazendo-lhes sinal para que fossem ter com ele. Tinha qualquer coisa na mão, algo fino e comprido… com a sua visão apurada, puderam perceber que era uma espécie de flauta. Ele sorriu e levou o objecto aos lábios… e começou a tocar.

Todos ficaram maravilhados com aquele som transcendente. Nunca tinham ouvido nada igual, nem nunca mais ouviriam – todos, excepto Draco e Hermione.

Subtilmente, todos os outros entraram numa espécie de transe, sentando-se no gramado; primeiramente ficaram com os olhos desfocados, e de seguida fecharam-nos, deleitados com aquela melodia. Pareciam ter esquecido a presença dos dois YinYang. E esses perceberam: era o contributo de Kiwi para ajudar a separação.

Eles sorriram de imediato. Antes de começarem a vaguear pelo mundo, iriam ter umas pequeninas férias do mundo no local onde aquela pequena e solitária criatura vivia há milénios.

- Obrigado, Kiwi…

E desapareceram ao mesmo tempo que o pequeno para aquela realidade à parte, o seu pequeno oásis. Os outros não iriam sofrer tanto com a separação… além disso, o tempo não era sempre igual. Por vezes, pode passar mais depressa do que seria natural. Mas nunca ninguém repara nisso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero poder postar o Epílogo o mais cedo possível... ^^

Bjoooooooo