Eternal escrita por Rausch


Capítulo 8
Capítulo 7 - And it was called yellow


Notas iniciais do capítulo

"- Você sabe o que eles dizem sobre os loucos, certo?

— Hã?" - Esquadrão Suicida



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Se tivesse de voltar naquela escola, ela certamente o bateria outra vez, desta tiraria sangue para que aprendesse a se defender sem precisar fazer qualquer tipo de encenação para o diretor. O castigo que a restringia de poder viajar durante as férias era a pior coisa que lhe podia ter acontecido, sem contar no fato de que ela havia sido a vítima de toda a história. Zanna cruzou as pernas na cama e mexia em sua página do facebook, colocando indiretas e revoltas a cada cinco minutos. Havia deixado o cabelo amarrado num coque discreto e se recusou a tirar os pijamas da noite passada, permaneceu o dia assim, a tarde, e provavelmente o faria na noite.

“Eu não te aguento mais, Zanna. Eu não sei mais o que fazer com você, você não é uma boa filha, nem agradece pelo que tem!” – As palavras reverberavam por sua mente como se o pai ainda gritasse de frente para ela. O fato de nunca chorar ou demonstrar sofrimento aumentava ainda mais o nível das broncas, pois era como se a garota estivesse indiferente, como se não sentisse nada. A moça não deixava que uma lágrima lhe caísse pela face, do contrário, observava seriamente, isto quando ela não argumentava e a discussão ficava pior. Mas de todas as coisas que Capheus havia dito para ela na vida, aquela tinha sido de longe a pior delas, e ainda que não demonstrasse, ela estava sentindo mais do que deveria.

Fechou a tampa do notebook chateada e olhou pela janela, o clima ainda estava abafado e se chovesse não lhe seria de total espanto. Zanna apoiou as mãos na janela e ouviu o chamamento para jantar da mãe, mesmo não se dando ao trabalho de ir até lá.

– Nós temos visita, Zanna. Saia deste quarto. – A mãe tornou a gritar.

Não queria visita nenhuma, tampouco seu ânimo estava pronto para isso. Estava difícil demais manter a classe e os bons modos, quando tudo que ela queria era mandar o mundo para a puta que pariu. Bem, como se tratava de uma visita, foi necessário que ela balanceasse os dois lados da situação, concluindo que provavelmente a visita não tinha anda a ver. Deveria ser uma das melhores amigas da mãe, vez ou outra vinham jantar com a família e passavam horas conversando. Os maridos iam para a lareira e lá ficavam falando, normalmente sobre futebol.

Zanna levantou da cama e tirou os pijamas, eis que vestiu-se em verde, um vestido nada chamativo, porém, que lhe valorizava a beleza estética. Ao calçar uma sapatilha, a menina soltou os cabelos e saiu do quarto. Tendo cruzado o caminho até a sala de jantar, viu-se diante de uma figura que há muito não via, 2 anos, para ser mais exata. O rosto da pessoa se iluminou em alegria, e o mesmo ocorreu da surpresa na reação de Zanna.

– Amondi! Ai meu Deus. – Correu na direção da mulher a abraça-la.

– Pequena Zanna, ou melhor, grande Zanna. Você está uma mulher, querida. – Amondi circundou a garota com os braços.

A grande modelo Amondi Kabaka era um ícone para o povo do Nairobi, principalmente por em sua trajetória ter curado-se de um câncer durante a infância. Zanna sabia que seu pai tinha uma história com o pai dela de trabalho, apesar de os detalhes lhe serem obscurecidos. A ligação entre Mondi e seu pai era enorme e ela tinha a filha do herói como sua boneca quando criança. Amondi mudou-se para a África do Sul quando promovida por uma grande agência e quando se viam, somente ocorria em momentos raros, sua agenda era muito cheia. Os cabelos de Amondi estavam lisos e caiam-lhe os ombros, e seu vestido negro e bem desenhado era puro luxo.

– Para ser mulher é melhor ser grande, sempre penso isso. – Zanna comentou, evitando olhar o pai.

– Está muito bonita, na verdade, eu estava dizendo aos seus pais que tenho visto umas fotos suas no facebook. Está incrível. – Mondi comentou ao tomar um pouco do suco.

– Obrigada, Mondi. Bem, acho que de beleza você realmente entende, ou não estaria onde está. É uma surpresa que tenha vindo. – Zana sentou-se na cadeira livre.

– Eu tenho negócios a tratar por aqui, principalmente as propriedades do papai. O deixei em casa com uma tia, está na fase caducar da vida e aprontar bastante – Ela mexeu no cabelo bonito e tornou a encarar Zanna – Mas para sua casa eu vim com um propósito especial.

O olhar de Zanna encarou Amondi, estava totalmente confusa e curiosa, pois o tom de voz da outra para com ela não era exatamente de algo costumeiro entre ambas. A mãe olhou a menina e havia um sorriso nos seus lábios, como se nada tivesse acontecido, e até mesmo o pai a dirigia um olhar de dúvida. Não sabia ao certo, porém, Amondi tinha jogado algum tipo de sortilégio na sua família, coisa até pior, talvez.

– Ah é? Então por que não fala?

– Você sabe, Zanna, o mercado fotográfico tem investido cada vez mais na juventude. Lá na capital isso tem ocorrido muito, inclusive para empresas internacionais que fixam filiais aqui, sobretudo de moda. Sobre as fotos que vi suas no facebook, eu não tenho dúvidas que seria uma linda modelo, e isto inclui crescer no ramo e me acompanhar nas coisas, entende? O que me diria de fotografar para uma campanha? – Esperançosa, Mondi olhou Zanna.

– Eu? Modelo? Fotografando? – A surpresa se intensificou nos olhos da bela garota.

– É, como aquelas da TV.

– Não, não, Mondi, acho que não. É tão diferente do que eu espero para mim, e eu fico até lisonjeada com os elogios e o convite. – Sem jeito, ou totalmente apavorada, foi difícil medir a expressão e reação de Zanna Vandamn.

– Mas por que não? Seus pais me disseram que você escolheu o direito, e isso não significa que não possa cursar, entender? Pode muito bem conciliar ambas as partes e fazê-las muito bem. – Amondi não desistia fácil, era um dos muitos aspectos que Zanna conhecia dela.

E em meio a sua dúvida e o medo crescente, Zanna olhou para os pais. Foi como se por um momento a briga de antes nunca tivesse existido. Porque a primeira coisa em que pensou foi o fato de estar longe da família.

– Eu não sei, Mondi, e a minha família? Meu irmãozinho vai nascer, vão precisar de mim. – Disse serenamente, pois até mesmo a garota forte tinha seu lado doce.

– E quem disse que não vai vê-los? Vai ter os momentos em que vai poder passar inteiramente com eles, Zanna. Eles poderão ir até você, e eu me certificarei estritamente disto. O que me diz?

De relance, Zanna olhou para os pais e para sua mãe, que acima de todos estampava um alegre sorriso na face, enquanto colocava uma das mãos na barriga.

– Posso fazer um teste antes?

– Minha querida, os testes se foram, apenas olhe seu facebook. Você é uma beleza que as pessoas vão gostar. E ouvi dizer que você fala muito sobre feminismo, não acha que seria a fama uma boa condutora dos seus ideais? – Persuasiva, direta e com uma piscadela com o olho direito, Amondi finalmente convenceu Zanna.

– Sim. Eu aceito!

(...)

Robbie,

Eu sei que poderia estar te chamando no whatsapp, te chamando no Skype, ou simplesmente te procurando pelo facebook. Eram infindas as minhas possibilidades para te dar apenas “oi”. No entanto, eu quero fazer as coisas de uma maneira diferente agora, pelo menos diferente de todas as vezes com as quais costumamos nos falar. Eu quero ser como Shakespeare, ao menos uma vez, e poder usar as palavras da melhor maneira que elas podem ser usadas, com a tinta sobre o papel, e com marcas que podem ficar gravadas como aquela tatuagem que você queria fazer minha e suas mães te impediram. Estou escrevendo neste papel do meu caderno do ano em que os garotos descobriram seu nome nele, porque além de todas as coisas, significa que mais alguém além de mim sabia o quanto você significava em minha vida. Tenho todos os meus cadernos dos anos guardado, e mesmo destroçado, consegui guardar um pouco do velho que ainda abrigava parte das folhas limpas, e das quais retiro esta com a qual escrevo.

Ontem aconteceu algo incrível, eu cantei na frente das pessoas. Eu sei que você me diz há tempos que eu deveria fazer isso, e foi uma coincidência enorme, eu apenas queria ajudar meus pais e era a única forma de fazer isso. Enquanto eu cantava eu sentia um medo enorme, como se meu corpo e minha mente fossem explodir, como se aquelas pessoas fossem me atacar da mesma forma que os garotos do colégio o faziam, e para minha surpresa, eles não só prestaram atenção, como também, passaram a cantar comigo, e sabe? Eu nunca senti um preenchimento tão forte quanto naquela hora. Meu problema com pessoas existe desde os meus oito, eu tenho medo do ser humano, eu passei a teme-lo da pior maneira, porém, naquela hora, foi como uma luz do céu que iluminou tudo ao meu redor, foi como Cinderela no baile, foi um desejo silencioso que meu coração fazia. E como na meia noite, eu vi todas aquelas pessoas dançando comigo, gostando do que eu fazia, me parabenizando.

Diante de um momento de tanto êxtase, eu poderia simplesmente até ver alucinações, e julgo que as vi. Havia até uma garota dançando com sari indiano e um rapaz com um computador estranho numa mesa qualquer. A alegria que encobriu minha visão não me permitia mais processar todas as coisas que aconteciam. Mas quando eu vi você, parado lá, me olhando, eu notei que queria ser aquilo, pois eu gostaria de ser a pessoa pela qual você levanta e observa cada passo e comemora cada simplória coisa. Ser bom significou que nem tudo em minha vida estava perdido. Eu cantei Born This Way da Lady GaGa, e tenho certeza que aquela música se tornou o hino para cada coisa que eu ousar pensar sobre a vida, acima de tudo na coragem que preciso para viver, amar, ser. Afinal, não há nada de errado em amar quem você é. Eu apenas nasci assim, isso independe da maneira como a qual meus pais vivem, das pessoas ao meu redor, depende unicamente da minha essência.

E por falar em essência, eu tenho absoluta certeza de que a minha não existiria sem você. Mesmo com tantas justificativas superficiais de estar escrevendo ao invés de digitando, existe uma que se sobrepõe a todos as outras nesta empreitada tão simplória de caneta ao papel. Eu sempre acreditei que cartas transmitem uma essência, algo totalmente intrínseco e que os motores jamais conseguirão produzir. Um formato de papel, uma textura, uma cor, algo disforme, palavras de maneira diferente e em sua mais pura materialização. Há uma caligrafia fina ou grossa, bem delineada ou somente chamuscada, e pode haver um cheiro ou um perfume. Espero que quando sinta o meu cheiro nesta carta, saiba que eu sou real como sei que você é. E que quando o fizer, seja a coisa mais real que já tivemos nestes anos todos. No momento as nossas vidas estão ligadas ao computador ou ao Iphone, mas de verdade, espero muito poder abraçar você de verdade, e espero conseguir que digamos todas as coisas que já dissemos virtualmente, olhando um nos olhos do outro. Não há anda que eu deseje mais do que poder ser a única pessoa que terá seu coração.

Estou fazendo isso enquanto Yellow do Coldplay toca no meu computador, e sempre que eles tocam essa música, lembro-me dos eternos sóis fortes da sua casa quando brincávamos no jardim, além de todas as vezes que passeamos pela grande ponte, ou quando apenas ria da sua mãe por me procurar e nunca me ver. “Olhe para as estrelas, olhe como elas brilham por você. ” – Isso é tão verdade, porque geralmente quando eu as olho, não há ninguém na minha mente que possa fazer aqueles belos corpos celestes brilharem de tamanha forma, quanto você. Percebi que não quero te dar motivos para não desistir de mim, quero te dar razões. Há uma diferença enorme entre estes dois, pois motivos são rasos, como desculpas para algo que se faz de errado, e se existe uma certeza que eu tenho, é que nunca vai ser errado amar você. As razões estão mais ligadas ao concreto, como comprovações de um compromisso importante, uma constatação. Apesar de que estas constatações nunca irão, de maneira alguma, provar-te parte do meu sentimento e do quanto eu queria que estivesse aqui, verdadeiramente. Do fundo do coração, jamais desista de mim, porque eu não vou desistir de você.

Com amor,

Cachinhos.

Enquanto os últimos acordes de Yellow terminavam de tocar, Julian colocou um ponto final no findar da frase de encerramento da carta. Tendo colocado a data e nome da Cidade do México ao fim, colocou a mesma dentro de um envelope branco e escreveu todas aquelas informações que o Robbie o havia passado tanto tempo atrás. Jamais tivera coragem para escrever, uma vez que, havia se convencionando a trocar mensagens virtuais. No entanto, diante do pouco de coragem demonstrado na última celebração, foi o motor suficiente para que conseguisse fazer aquela carta. Depois que chegaram da festa, nenhum deles dormiu cedo, ficaram na varanda, inclusive Dani, que após dois chandons já estava performando tão bem quanto o calouro das artes. Sorriram e conversavam como há muito não faziam, pelo menos de forma tão genuína.

As manchetes amanheceram espalhadas em todos os jornais, a sua foto, o vídeo na internet. “O novo Rodriguez”, “Mais uma futura estrela da família Rodriguez”, “Você conhece Julian Rodriguez, a futura voz de ouro do México?” – E em pensar que há meses atrás o seu nome saíra no jornal da escola por uma conquista no campeonato de xadrez, e todos os exemplares foram pintados e os colegas fizeram piadas infindas com sua imagem. Pegou-se rindo um pouco da forma com a qual Dani se abraçou a ele e disse que abraçaria o filho pela noite toda e Hernando foi obrigado a puxar a mesma, isso quando ela havia dormido em seu ombro.

Após colocar um casaco do esquadrão suicida, totalmente inspirado na Harley Quinn, Julian sentiu-se diferente de todas as vezes com as quais desceu a escada de casa, porque pela primeira vez as desceu com uma expressão diferente de conformidade. Não sabia exatamente o que acontecia consigo, mas começava a mudar-se, sim, era uma mudança. “Daddy’s Lil Monster” estava escrito na jaqueta vermelha e azul. Ao terminar os lances, eis que o rapaz viu os pais e Daniella. Deu um sorriso quando viu três sorrisos para ele. Segurava firme o envelope nas mãos:

– Bom dia.

– Bom dia, cariño. Não vai comer? Onde está indo? – Lito perguntou curioso.

– Eu estou indo no correio, preciso enviar algo.

– E o que é isto? – Perguntou o outro pai curioso.

– Sonhos. – A forma genuína com a qual o menino respondeu aquilo fez o próprio rosto incandescer diante da pronúncia.

– Isso me cheira a namoros. Eu só acho que sim – A mãe disse com sua expressão engraçada. Ei, está usando a jaqueta que eu te dei há um ano atrás, sabia que gostava da Harley. Achei que nunca usaria porque sempre estava com aquelas suas roupas hippies ou indie – Completou.

– Oi? Vou relevar isso, Dona Chandon. É para alguém especial, preciso fazer isso.

Os olhos de Lito estreitaram-se diante do que o filho disse, pois ele sabia perfeitamente quem era a pessoa especial. Seria o filho de Nomi Marks.

– Gente, calma, não é para o Coringa. Não fico para ser torturado duas vezes. – Julian riu ao ironizar e dirigiu-se até a mesa. Deu um beijo na cabeça de cada um e disse - Vocês sabem o que eles dizem sobre os loucos, certo?

– Hã? – Dani exprimiu ao imitar a falar seguinte.

– Exatamente, Dona Chandon. Tchauzinho. – E despediu-se dos presentes, e deixou a casa.

Julian depositou o envelope dentro de uma enorme caixa no recinto e após o fazer, olhou para a grande praça e o chafariz à sua frente. A filial de paletas estava aberta, não parecia uma má ideia refrescar-se com algo doce. Julian atravessou a rua e foi até a pequena loja.

– Eu gostaria de uma paleta de chocolate. – Disse ao retirar o dinheiro do bolso e colocar no balcão.

– Claro, rapaz. Ei, você estava na TV ontem, não estava? Julian Rodriguez, não? Cara, é o filho do Lito Rodriguez. Me dá um autógrafo?

– Sim, tudo bem. – O atendente colocou uma pequena caderneta e uma caneta preta no balcão e foi buscar o pedido do menino.

Ele nunca havia assinado nada além das fichas do colégio. Seria sempre daquele jeito? A sensação de frio na barriga e de corpo gelado porquê alguém o conhecia e admirava? Não sabia, no entanto, segurou a caneta e rabiscou o nome em cima do papel em branco. O atendente logo retornou com o seu pedido e pegou o bloquinho:

– Seu pai é fantástico, obrigado. – Disse admirando a caligrafia.

– Ele está olhando para você. – Uma voz lhe sussurrou misteriosamente ao ouvido e Julian a conhecia, era Robbie. Virou-se rapidamente a tempo de ver a figura perto dele.

O homem deveria ter 2 metros de altura e usava roupas que assemelhavam-se aos que seu pai utilizava nas gravações dos filmes. Uma figura apareceu entre Julian e o homem. O chute que Robbie deu entre suas pernas e o soco na barriga o fizeram gritar de dor e cachinhos de susto. A paleta caiu ao chão e Julian notou a arma elétrica na mão do homem que deu dois passos com a mão na virilha:

– Ele te segue desde a segunda esquina de sua casa. Corre, Julian. – Robbie denunciou.

Por a loja ser de pequeno porte, o que restou ao menino foi pular em cima das mesas laterais da esquerda e passar a pular de uma para a outra. Os atendentes entraram em pânico, acreditavam que era alguma espécie de roubo. Ouviu o pequeno barulho daquela máquina a chocar as correntes elétricas e Robbie sumiu de sua visão. Julian ganhou a visão do centro da cidade erguendo-se para ele. Não sabia o que era aquilo, porém, estava sendo perseguido. Gritos de pessoas ecoavam pelas ruas e o menino corria desenfreado. Prendeu o casaco contra o corpo e escutou o grito:

– Eu te pego, pequeno sensate. Alma vai ficar feliz em ver você.

Uma das poucas coisas avançadas que Julian sabia fazer era pilotar motos de pequeno porte, e foi justamente um modelo deste que surgiu em sua frente. A chave estava engatada e provavelmente a pessoa proprietária estaria por perto, no entanto, o desespero da perseguição inesperada foi tão grande, que sentou na moto e deu partida. Acelerou ao máximo a velocidade e deu partida. Outros gritos do homem ecoaram as suas costas. O vento batia violentamente contra seu rosto. Ele o havia despistado.

Tendo cruzado duas avenidas e com o coração em disparada, Julian finalmente teve a comprovação de que o pior pesadelo não havia se encerrado por completo. A Ferrari negra surgiu cortando entre os outros buracos no trânsito. Os tiros começaram da mesma forma que a sua corrida imprudente em meio aos outros veículos. Buzinas soavam revoltadas e alguns gritos de susto eram ouvidos. Consegui use livrar do trânsito revolto e pegou um caminho mais deserto, achando novamente que o havia deixado para trás e então o reluzir negro da capota surgiu. O combustível chegava ao fim e a moto ia desacelerando. Julian mordeu o lábio inferior com medo e aquela viela sem saída o condenou. A moto parou subitamente e o jogou no asfalto, nenhum machucado havia sido grave e ele levantou e encarou o carro e a figura parados próximos a ele. A garota com a arma surgiu, mas ao mesmo tempo, Julian segurou aquela arma. Melanie Gorski estava em contato, ainda que não entendesse como, mas estava.

– Não seja tolo, rapaz. É melhor se entregar. – Ele se aproximava.

– Eu vou estourar sua cabeça, me deixa em paz! – Disse Julian.

– Você não fará isso, é um menino bonzinho. Eu sei que é, sei que na escola apanha dos garotos.

– Eu estou avisando.

– Deixa disso. – E o homem investiu contra Julian, o fazendo saltar para trás e chutar um punhado de areia em seus olhos.

Em desespero e dor ele gritou, relutando contra o empecilho e vindo com a máquina de choque na direção do menino. Da mesma forma que o homem relutava em deixar-lhe, Julian relutava em apertar aquele gatilho. A voz lhe dizia que se não o fizesse estaria morto. A arma de choque encontrou sua barriga e o eletrocutou brevemente, gritou. E com a coragem que não tinha para aquilo, disse:

– Eu te avisei, idiota! – E atirou a primeira vez contra o tórax da figura. Deu para se esquivar e mirar em outro ponto, o lugar prometido. Atirou novamente e a cabeça do homem foi atingida pelo tiro, deixando um buraco no centro da testa e o fazendo tombar para trás.

Ver o homem caindo fez Mel olhar com desdém. Eram poucas as vezes em que ela encarava alguém daquela forma, mas aquele homem mereceu. A arma do pai que ficava na gaveta foi útil pela primeira vez em sua vida. Pouco a pouco a figura deixou Julian em seu devido lugar. Com a arma ainda em mãos e o corpo paralisado no chão, o menino terminou deixando as pernas cederem de nervosismo. Soltou a arma do crime e buscou o celular dentro do bolso da jaqueta:

– Cariño!? – Lito atendeu o telefone.

– Papa, eu estou apavorado. Eles tentaram me matar, alguém tentou – Começou a chorar – Papa, eu matei uma pessoa, eu não queria. Por favor, pode me buscar? Por favor?

– Meu Deus, Julian. Eu não estou processando nada, onde você está?

– Numa das ruas velhas da cidade, a de indústrias. Eu não fiz nada para ninguém, ele queria apenas me matar. – Julian chorava desmedidamente e tremia.

– Eu e seu pai estamos indo pegar você, por favor, não saia desse lugar. – A voz preocupada do pai foi notada.

O menino ficou com a cabeça baixa e de joelhos permaneceu, tentou não olhar o corpo inerte próximo. O medo e a culpa o tomaram. O barulho de outro carro aproximando-se momentos depois o fez levantar a cabeça temeroso. Hernando e Lito saíram do carro e correram até ele:

– O que foi que aconteceu, cariño? – Lito abaixou junto dele.

– Ele me perseguiu desde a loja de paletas. Eu nunca vi esse homem. Eu peguei essa moto na rua e simplesmente fugi, e então uma garota com uma arma era eu, ela apareceu e me fez atirar nele. – Estava tão desesperado que falava rapidamente.

Hernando, com olhos chocados, levantou e analisou o corpo. Lito envolveu o filho com os braços protetores. Ele sabia de tudo, e aquela foi a sua chamada para acordar. Foi um aviso.

– Quando eu corria, ele gritava que alguém queria me ver e me chamou de “pequeno sensate”. Eu não sei o que é isso. Eles vão me prender, não é? – O menino olhou apavorado o corpo.

– Não, cariño, eles não vão. Eu sei que é isso, e agora precisamos voltar para casa, acho que iremos fazer uma viagem.

– Eu serei um criminoso fugitivo? - Perguntou o menino.

– Não, você será quem verdadeiramente você sempre foi e nunca foi claro o suficiente. E para isso, vamos ter de encontrar uma outra pessoa. – Lito explicou e fez o garoto levantar do chão.

– Onde?

– San Francisco.

E dentre o mais profundo pesadelo que assolava o pensamento de Julian, San Francisco o fazia lembrar da única pessoa que o ligava aquele lugar, Robbie.

– É a cidade do Robbie.

– Robbie Marks, filho de Nomi Marks. Agora eu acredito em você, cariño.

Os olhos de Julian mudaram de desespero para algo indecifrável, talvez uma mistura de medo e aflição, Robbie estava mais perto da sua vida do que jamais pensara.


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Notas finais do capítulo

Pois é, leitores, eu avisei que as coisas definitivamente ficariam piores. E com esse final eu deixo para vocês algumas coisas no ar, principalmente para os shippers de Julie. Do México para San Francisco? E vocês, o que acharam? Deixem seus reviews. E sim, teve muita Harley nesse capítulo, e sim, Margot me fez fazer isso. Vejo vocês logo.

Próximo capítulo( Capítulo 8 - The taste of her cherry chapstick)