Eternal escrita por Rausch


Capítulo 9
Capítulo 8 - The taste of her cherry chapstick


Notas iniciais do capítulo

"E morreria feliz apenas por estar descendo de vestido branco para jantar com Sally Seton." - Virginia Woolf



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Aquilo parecia um sonho, mas aconteceu tão perto, palpável, visceral. Literalmente visceral para Melanie. Seguro ua arma durante um tempo, e percebeu o rombo que deixou na mesinha de cabeceira de onde retirara o objeto. E então o transe acabou e o pai a olhou por longos minutos, até que teve coragem de retirar o revólver de suas mãos. Enquanto se explicava, ou pelo menos tentava sobre aquela adversa e insana situação, Melanie olhava assustada nos olhos de Will. A maneira com a qual o homem a assistiu contar o ocorrido a levava a acreditar numa punição, ou pior, numa ida ao psicólogo, ou até mesmo um psiquiatra. Estava tão confusa que quando ele a abraçou e disse que as coisas iam se resolver, a mesma não foi capaz de acreditar por um segundo.

“Eu preciso resolver isso, precisamos resolver. Não há segurança, e se o seu filho foi atacado, não vai demorar para os outros também serem. ” – A menina caminhou até a soleira da porta e viu o vulto solitário do pai no sofá da sala e esbravejando como se alguém conversasse com ele. Será que havia algum tipo de problema mental ao qual sua família herdara? Foi uma ideia que muito a apavorou, pois poderia ser uma coisa que a afastaria totalmente do sonho militar.

“Espero que tenha passado na prova, e não estou brincando, ainda vai voar comigo”.

Rachel

O número havia aparecido em seu armário pessoal, pouco depois do almoço no dia da prova. Um profundo receio tomou conta de Mel, no entanto, foi ela quem mandou uma mensagem, brava, mas foi. No primeiro momento estava irritada para com aquela atitude, achava a menina algo do tipo que força situações com os outros, sendo para ela um dos piores tipos de gente. Em sua mente estavam todos os tipos de respostas ofensivas para com ela, no entanto, sentiu que isto não conseguia sair, porque Rachel, de alguma forma, a cativou. Por vezes era o humor, ou a maneira levada com a qual observava o mundo e o comentava. Tirava de Melanie a seriedade e a fazia gargalhar com facilidade. O passar dos dias foi rápido, e as mensagens passaram a ser trocadas mais frequentemente.

Na última manhã havia gargalhado em pleno almoço e soltado o celular à mesa, os pais assustaram-se imediatamente, fora Rachel com uma série de memes que zombavam do tenente da 3º divisão da infantaria. Ela era um raio de sol, com longos raios abusivos, mas um raio de sol, ainda assim. O convite estendeu-se por muito tempo, porque Melanie sempre dava um jeito de rejeitá-lo ou de fugir. Apenas um simples lanche à beira do lago no qual todos faziam encontros numa área afastada do centro. A cabeça latejava, os pensamentos não a deixavam em paz quando pensava naquele menino perseguido. Tinha em seu íntimo a sensação de saber quem ele era, e por isso o instinto protetor se fez por notar.

Observando a janela do quarto e tendo fechado o notebook, Mel respondeu a última mensagem de Rachel sobre o convite, aceitando para a surpresa da outra. Se encontrariam em menos de duas horas, e com sorte, conseguiriam rir de metade da escola juntas. Já fazia tanto tempo que Melanie não se dava ao prazer de curtir os bens da vida sem todo o metodismo implantado em sua rotina, que pensar na possibilidade já lhe deixava feliz.

– Pai, olha, eu vou sair com aquela minha colega do colégio, a Rachel. Algum problema? – Perguntou descendo as escadas.

– Vão para onde? – A proteção de Will para com ela aumentara ao máximo depois dos episódios narrados e ela mais ainda custava a acreditar que ele acreditava nela, de certa forma.

– Só vamos no Park Houston, iremos fazer gordices e rir da vida. – A filha soava radiante.

– Desde que esteja de volta em casa às 7, está tudo bem. – O pai pegou a pasta com documentos na mão, certamente fichas de criminosos. Depois que foi promovido a delegado, a casa tinha se tornado um grande quartel e armário para arquivos da corporação.

– Eu volto na hora certa, pode deixar.

Melanie vestia seu short vermelho e uma camiseta dos Smiths, terminou pegando sua bolsa no gancho da porta. Quando conseguiu retirar a bicicleta da garagem, apressou as pedaladas para conseguir pegar ao máximo a sensação da brisa gostosa contra sua face. Mesmo podendo dirigir, pedalar lhe encantava ao extremo, da mesma forma que, o vento revolto que trazia a alusão de como a vida não deve ser tão calma quanto parece. O trânsito estava calmo, a locomoção foi simples e tranquila. A menina Gorski guiava seu pequeno meio de transporte e durante o percurso cantarolava algo qualquer. Livre do uniforme formal e da boina, bem, Melanie desejava muito da vida. Desejava que Warlock e ela tivessem dado certo, no entanto, ele era tão babaca e cheio de si.

Alguns finais amargos são necessários para achar o verdadeiro ganash, porque ele é o melhor chocolate amargo. Mel avistou os grandes gramado do parque próximo e segundo Rachel, estaria sentada embaixo do grande Ypê principal. Configurava-se como a árvore mais antiga do lugar, com o rio caudaloso um pouco além. Desceu da bicicleta e passou a empurrá-la com a mão na direção da parte mais densa do parque. Avistou o vulto de Rachel sentada de pernas cruzadas abaixo do arvoredo. Aproximou-se da menina a dizer:

– Parece mais além do que pontual.

– Eu convidei, eu devo dar o exemplo. – O sorriso largo de Rachel se escancarou quando viu Melanie. Esperava, sinceramente, que a outra não viesse.

– Devo voltar antes das 7. Você sabe, cuidado de pai. E para piorar, ele é delegado. – Melanie colocou a bicicleta encostada na parede. O movimento seguinte foi sentar ao lado de Rachel.

– Está explicado o motivo da filha ser tão centrada e obcecada na carreira.

– Não sou obcecada, sou determinada, é diferente. – Mel se defendeu e olhou para Rachel.

Teve a sensação de que era a primeira vez que encara a menina verdadeiramente. Não contava o fato do tropeço no corredor, porque fez com que perdessem totalmente o foco do conhecer. Ao reparar nos traços do rosto de Rach, certamente a imaginou rindo dos governantes ou fazendo aquelas mesmas piadas infames. A presença da outra menina lhe causou um sentir diferente, não sabia explicar, como não podia explicar o fato de ajudar aquele garoto estranho. Ela apenas se sentia um pouco mais preenchida por dentro, distante de todo estereótipo que ela mesma construiu de si mesma.

– Olha, te trouxe isto. Espero que goste – Rachel estendeu uma pequena caixa de chocolates na direção de Gorski – Sou diabética e não posso comer esses homicídios de carboidratos. E já que eu vinha ver alguém especial, pensei que talvez goste.

– Nossa, sério? Eu amo chocolates, mesmo, apesar de fazer um certo tempo que não os degusto. – Pegou o pacote de Rachel e o depositou no colo, abrindo-o imediatamente. Os segundos entre os atos simplórios a fez lembrar da revelação que a menina a fez. Diabetes. Seria tão egoísta comer ali e vê-la impossibilitada. Melanie, simplesmente fechou o pacote – Se você não pode comer, não serei descortês com você.

– Relaxa, Melanie. Estes trecos também engordam, não quero perder meu futuro corpinho de uma comissária gata. – Rachel indicou o corpo com um gesto debochado e ambas riram.

– Se é assim, eu te apoio e concordo.

– Seria uma ofensa se não concordasse que sou uma gatinha – Rach piscou para Melanie, trazendo seu lado tímido de dentro – Ei, gostei do seu esmalte!

A mão espontânea e curiosa da menina segurou a de Mel e olhou cuidadosamente para o tom dourado no qual as unhas de Gorski estavam pintadas. Naquela ação algo dentro de Melanie a fez olhar diretamente para Rachel, enquanto que o corpo correspondeu um tanto divergente de tudo que havia sentido. Com um sorriso desconsertado, disse em resposta:

– Obrigada.

– Ficou vermelha com esse elogio? Qual é, achei que fosse durona. – Rachel ficou de joelhos e passou encarar Melanie.

– Eu não sou durona, apenas possuo disciplina exacerbada. – Mel repousou as mãos nas coxas e observou a pouca altura a mais que Rachel ganhou ao estar de joelhos.

Em algum lugar do âmago do seu ser brotou um pouco de medo, embora não soubesse o motivo. O corpo da menina à sua frente, a voz comediante, mas boa de ouvir, a presença dela que que sobrepunha a qualquer coisa no momento. Lembrava-se de como sentiu assim durante os primeiros momentos em que achava que conhecia Warlock. Aceitou namorá-lo por acreditar que a melhor parte disto era de quem ela se tornava através das pequenas cosias que vivenciava com ele. Ali não era amplo, mas sim, raso, muito raso, todavia, tão profundo de uma maneira abstrata. O sentir tornou-se abstrato. Estar ali foi sua opção, responder o número de Rachel foi sua opção. Mas por que? Rachel era apenas uma menina com a qual esbarrou num corredor.

Enquanto sua mente tentava processar isto, o coração retomava-se em correntes que diziam para ela toda a verdade, ainda que, tão confusas. Rachel a ficou olhando e sussurrou:

– Exacerbadamente bonita também. Sabia?

– Obrigada! – Enrubesceu.

– Não se agradece pela verdade, se aceita a verdade. – A outra menina comentou ao tocar parte dos cabelos de Mel.

– É. – Encabulada e sem noção de nada, Gorski colocou a mão ao lado do pescoço em sinal disto.

A mão de Rachel subiu por seus cabelos e enquanto fazia isto, soprou levemente o rosto de Melanie, reproduzindo uma brisa semelhante a que lhe corria a face quando pedalava. Foi obrigada a fechar os olhos e sentir uma das mais proveitosas sensações do natural. E viu os cabelos esvoaçantes, a alegria que dominava o corpo, a sensação mais pura e simplória de estar viva. O calor que emanava de Rachel habitou sua pele temporariamente, arfou por um segundo através dos pensamentos condutores do maravilhoso instante. A todo aquele calor distante se tornou próximo, ou melhor, concentrou-se num único lugar. Seus lábios.

A outra menina os tocou com tanta gentileza e com tamanha delicadeza, que foi como se as nuvens estivessem acima do céu, e como se aquela sensação de uma brisa deliciosa se fundisse numa pintura. Os riscos coloridos, os tons vivos, a profundidade de uma simples respiração. O coração de Melanie bateu forte e ela se permitiu. A mão quente de Rachel lhe tocou o lado direito do rosto e o acariciou enquanto os lábios foram tão cuidadosamente explorados. Ela nunca havia feito aquilo com uma outra garota, e nas suas incertezas intrínsecas ela ponderou e acreditava que apenas o fato de ter respondido o número de Rachel naquela noite foi uma mensagem de que a vida requisitava que ela compreendesse algo, algo não, ela mesma.

– Eu disse que te faria voar. – Rachel sussurrou com os lábios próximos dos dela.

– Como um pássaro. – Melanie respondeu sem saber formular uma resposta melhor.

(...)

– Isto é arriscado, mesmo que seja uma saída. – Kala falou do sofá.

Os aspectos indianos tomavam conta da paisagem e todos eles se entreolhavam de diversos pontos do lugar. Alguns encostados nas paredes, e outros, como Sun Bak em posição de meditação ao chão.

– A imagem do meu filho ao chão com a arma e chorando é algo que não me sairá da mente. Claramente o homem foi mandado para leva-lo. – Lito disse da janela.

– Eu preciso resolver isso, precisamos resolver. Não há segurança, e se o seu filho foi atacado, não vai demorar para os outros também serem. – Will Gorski estava um tanto alterado. Talvez pela naturalidade com a qual alguns dali permaneciam, especialmente Wolfgang. Achava-se forte o bastante para proteger sua filha, porém, não seria para proteger todos.

– E o que sugerem? Não somos os Vingadores. Precisamos nos lembrar disso – Nomi Comentou ao lado de Kala no sofá – Isso foi a Amanita quem disse.

Teriam rido, caso a situação fosse outra, aquilo os teria feito gargalhar. No entanto, a angústia que habitava dentro de cada um deles pulsava com a mesma intensidade e partilhando do mesmo medo.

– Eles estão em diversas partes do mundo, quer fazer um milagre, Gorski? – Capheus perguntou.

– E se todos estivessem juntos, de fato? Junto todos poderiam estar protegidos até que conseguíssemos acabar com isso. – O palpite de Riley Blue fez todos olharem para ela. Os cabelos estavam presos num coque falso.

– Em que lugar? Não é uma ida ao spa. – Wolfgang soou irônico.

– Riley nos deu uma boa ideia, então, por que não Londres? – Will foi até a loira.

– A casa está aberta. – Ela disse.

– Tudo para ver meu filho bem. – Sun disse ao se levantar do chão. Lee não acreditava naquilo, mas a mãe o amava.

– Então iremos, Londres será o destino – Lito aproximou-se de Nomi – Mas antes, eu chegarei até você.

A loira acenou positivamente com a cabeça. Já era hora deles se encontrarem.


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Notas finais do capítulo

Eu espero que tenham gostado. Me desculpem a demroa, foram problemas pessoais. Porém , aqui veio um fresquinho para vós. Apenas 6 capítulos para a season finale. Deixem seus reviews, amarei lê-los.

Próximo Capítulo

Capítulo 9 - Just be true to who you are



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