Eternal escrita por Rausch


Capítulo 5
Capítulo 4 - I was born to be brave


Notas iniciais do capítulo

"Vou encontrar novos hábitos, novos pensamentos, novas regras. Vou ser outra coisa." - Divergente

Queria dedicar este capítulo ao Dann, vulgo Jordan, porque creio que a mensagem de uma cena aqui vai dar para ele a luz que precisa, mostrando-o que o corpo, ou qualquer coisa superficial não interfere na pessoa maravilhosa que ele é.

Dedicarei também apra a Tatiane, minha tudo, que mesmo sendo uma Little monster louca, aprendeu e me ensinou a amar apesar de sermos gatos e monstros.



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Robbie Marks gostava quando os 3 se reuniam em família, pois era o ápice de que eram uma boa família. Sempre tinham aqueles que os olhavam torto na vizinhança, mas com o passar do tempo, o número foi reduzindo. Como as heroínas das HQ’s que lia compulsivamente, o rapaz via Nomi e Amanita como as personagens salvadores do mundo. Parecia uma visão infante, porém, para Robbie, as mães se encaixavam perfeitamente em Harley e Poison. Bem, ele era o Coringa, pois tinha lá o seu lado sádico, que na verdade, era mais cômico. As quintas eram sagradas para a família, uma vez que, deixavam qualquer coisa que não focasse na unidade e dispunham de momentos únicos juntos. Não havia motivo melhor para conversar ou comemorar especificamente naquela noite, do que a aprovação do rapaz e sua conclusão dos estudos em ensino médio.

Robbie trabalhava numa loja de conveniência durante o dia, estudava a tarde e a noite podia assistir TV ou fazer qualquer outra coisa de seu desejo. As mães sempre o ensinaram a manter as responsabilidades acima da diversão, por mais que a segunda fosse irresistível. Com o fim da escola, o menino poderia trabalhar mais um turno enquanto escolhia o destino de seu curso superior. A família tentava ser flexível em tudo, inclusive em acolher os objetivos e anseios do menino. Robbie sentia forte empatia por física, amava robótica, e engenharia mecatrônica lhe soava formidável. Nomi apaixonou-se pelo futuro do menino, afinal, ligava-se um pouco à sua nobre arte da informática.

Foi ela quem o deu seu primeiro vídeo game, quando o menino tinha 5 anos de idade, e desde então, Robbie desenvolveu paixão por tudo voltado ao mundo eletrônico. Podem até achar que ele é completamente a mamãe loira, no entanto, em sua garra e em sua determinação, os traços de sua mamãe de cabelos coloridos mostravam-se ainda mais aflorados. Tinha alguns amigos, mesmo que poucos, sem incluir Julian. Com certa idade, especificamente 16, decidiu que Julian não era somente seu amigo, era como um namorado, era seu menino.

Em tantos momentos ele tentava dizer para si mesmo que ele podia ser só mais uma ilusão, como todos (poucos) que o ouviam falar dele diziam. Crianças tem amigos imaginários, adultos não. Sabia que seu nome era Julian, que morava no México, e que o conhecera quando tinha 6 anos e que brincavam nos jardins de sua casa, todavia não era tão real como a relação de suas mães para com ele. Deixou de tentar falar do menino para elas com medo de soar como louco, por mais que Amanita algumas vezes parecesse intrigada acerca de tudo, e Nomi mais posteriormente. Tinha passado o resto do dia preocupado com Julian, a cena do rapaz chorando o matou por dentro. Não entendeu o que havia acontecido, nem tampouco teve oportunidade de perguntar por conta do local no qual se encontrava para averiguar algo da faculdade. Por este motivo, estava tão aéreo naquela mesa:

– E você sabe, amor, eles têm aquelas ideias estranhas de tatuagens macabras. Parecem o Robbie querendo desenhar aquele amigo dele na perna quando fez 15. – Neets sorriu ao comentar com a esposa.

– Nem me fale, Neet. E quando me lembro do Robbie querendo fazer essa como primeira tatuagem, não aguento. Não é, filho? – Nomi olhou par ao menino. Notou sua distância e o tocou no braço.

– Oi, mãe, é, claro, sim! – Saiu do transe.

Tá tudo bem, Rob? – Perguntou Amanita.

– Sim, estava só pensando sobre algo da faculdade. Besteira. Mas estão rindo por causa da minha tatuagem do Julian. Que maldade, senhoras Marks. – Ele fechou a cara de mentira, elevando a sobrancelha.

– Mas foi engraçado, filho. Queria desenhar sem nem ter a foto, imagina, iria ser uma arte de Van Gogh. – Nomi comentou gargalhando.

Amanita possuía um estúdio de tatuagem, o que motivou ainda mais o filho a querer colocar em sua pele a imagem que mais marcou a sua infância, para elas, mas a vida para ele. Lembrava-se do porquinho cheio de dinheiro e dizendo que ia pagar pelo desenho, e da cara de riso das duas mães com a situação. Ele não fez aquela tatuagem, embora tenho feito outras 3 depois do pedido. Com a modelagem do corpo, que mudara totalmente de franzino para um rapaz forte, logo passou a ser visto pelas garotas e alguns garotos a escola, sem contar nos lábios chamativos e no cabelo claro.

– Ainda bem que amigos imaginários passa um dia. – Amanita comentou ao dar uma garfada no frango e olhar para o filho.

Robbie assentiu com preocupação, a palavra esquecer era uma que ele não gostaria de aplicar à cachinhos. Nem mesmo quando morresse. Preferiu deslocar de assunto:

– E vocês viram? A concorrência para mecatrônica está menor este ano. Li numa revista lá da loja. – Disse satisfeito para com o que havia lido num artigo qualquer. Mais chances para que conseguisse adentrar a Universidade.

– Coisas que requerem o cérebro ao extremo são privadas de pessoas. – Nomi ironizou ao colocar os cabelos para trás e tomar um pouco do suco em seu copo.

– Essa garota de todos os acessos é uma figura. Estou do lado não privado. Sofrimento puro. – Nita riu da afirmativa em resposta à Nomi, que mostrou a língua e aproximou os lábios dos dela dando um beijo.

Robbie olhou para a frente, via a mesa, mas não por muito tempo, até que a imagem da outra pessoa surgiu em sua frente.

(...)

A camisa não lhe servia, era maior do que o corpo, devia ser alguma do pai que pegava quando sentia muito frio, ou quando simplesmente não desejava vestir muitas coisas. Os cabelos estavam de qualquer jeito, apenas o sangue havia sido tirado, deixando-o jogado de uma maneira aleatória. O chão frio, quão longe encontrava-se do tapete próximo de sua cama, parecia tornar-se mais gelado conforme o tempo prosseguia sua caminhada imparável e impetuosa. A cabeça estava baixa, os punhos fechados e equilibrados nas pernas dobradas em modo de meditação. Sentia em si as dores que as pancadas haviam causado, mas já não ousava chorar, tal qual fizera momentos atrás. Poderiam secar-se tão aparentes lágrimas de uma dor profunda? Não sabia.

Aquela posição repetia-se há exatos oito anos, quem sabe, até mais. Montava os castelinhos de lego, algumas vezes com os pais, outras com a mãe a qual chamava de tia, e na maioria delas sozinho. Conforme foi crescendo, foram-se os legos e chegaram as dores. Quando os sons os saíram pela boca a primeira vez na harmonia, não era difícil lembrar das piadas dos colegas as quais deseja que fossem embora tal qual as notas entoadas quase tão silenciosamente. Tudo era tão singelo, tão verdadeiro, melodia. Esperava que os pais dormissem, esperava apenas que a noite lhe desse um momento para ser uma criança feliz, quando verdadeiramente estava sentindo o que deveria.

– Salvame de la soledad. – Pronunciou fracamente e num tom baixo e melodiosamente tristonho.

Puxou levemente parte da camisa, depois o outro lado, deve ter repetido o gesto enquanto cantava e sentia a crescente vontade de algo diferente. O atraia o diferente, mas assustava-lhe a mudança. Julian levantou do chão frio e foi na direção da porta do seu quarto, acabava de se lembrar da estreia do novo filme de Lito, mas com tantas coisas ruins, havia esquecido. Será que já haviam ido embora? Será que desistiram por causa do infortúnio que o filho causara. Viu a transição do sol para lua pela fresta da janela do seu quarto, e supôs que devi sair.

Abriu cuidadosamente a porta do quarto e deu um passo calmo no chão. Estava descalço e não tardou a descer as escadas até a sala. Pensou na fome que sentia, no entanto, no que sentia em maior quantidade, a vontade de que as coisas fossem diferentes. Marchou silenciosamente e sem ouvir ruídos de ninguém dentro do apartamento. Terminou por chegar na velha academia e varanda que dava para as ruas abaixo de si. A resplandescência das belas lamparinas iluminava cada pedaço do lugar, e não pôde deixar de sentar nas cadeiras acolchoadas e cruzar as pernas. Uma pequena rajada de vento percorreu por sua derme, passando pelo rosto e serena o fez fechar os olhos. Uma lágrima singela escorreu-lhe pelo canto esquerdo do rosto.

– Oi – A voz o fez dar um sobressalto. Julian se assustou, porém, não respondeu – Ei, garoto!

– Eu só quero estar sozinho, por favor? – Virou-se e quase caiu da cadeira.

Quem era aquela garota e de onde ela tinha vindo? As roupas eram um tanto simples, sua pele era negra como ébano e os cabelos estavam soltos e cacheados. Encarou o rapaz sentado e sua expressão de perdida era notável.

– Eu quem deveria perguntar que lugar é esse. Onde eu estou? Há um minuto atrás eu estava em meu quarto, meu pai já havia me dado uma bronca horrorosa. Está chorando? – Perguntou ao menino e se aproximou.

– Não. – Enxugou a lágrima pertinente.

– Estava sim. Eu também estava há pouco tempo, acho que não sou uma boa filha. Meu pai acabou de me dizer isso – A menina encostou-se na grade de proteção e olhou lá par abaixo. – Isso deve ser sonho, eu não sei quem você é, mas isso é real.

– Não há sonhos na minha vida, exceto os que eu deixei para trás. – Pensou em conhecer Robbie pessoalmente e sabia que nunca tinha deixado aquele sonho para trás, no entanto, preferiu calar.

– Qual seu nome? – A menina perguntou ao virar-se para ele.

– Julian Rodriguez. E o seu?

– Zanna, vai achar estranho, mas, Zanna Van Damn. Não ria do meu nome ou te bato. – Ela ameaçou ele com o punho.

– Eu nunca sorrio, fica tranquila.

De algum modo aquilo desestabilizou Zanna, fosse por uma besteira ou apenas pelo pai contando piada, a garota estava costumeiramente rindo e pela primeira vez ouviu alguém dizer que não sorria. Como seria a vida de alguém que não tem a maravilhosa sensação do esticar de lábios e da alegria que preenche o ser? Abaixou os punhos e encarou direito a expressão do rapaz. O rosto estava par abaixo, marcas de choro pelos olhos e os cabelos não eram dos melhores. Aquele menino não estava num bom dia como ela. Zanna sentou ao lado dele e já havia desistido de tentar entender o que se passava:

– Pode me contar o que aconteceu, se isso for sonho, vai acabar quando o momento de descanso ou sei lá o quê terminar.

– Eu não preciso chorar nada para ninguém, já acabou, Zanna. – Recusou-se Julian e mais uma vez contemplou as lamparinas.

– Talvez a sua história seja mais interessante que a minha. O que faria um garoto que me parece legal chorar?

– Eu não sou legal e não estou chorando, Zanna. – Falou mais convincente.

– Zanna? Quem é Zanna? – Julian sacudiu a cbaeça e Zanna não estava mais lá, porém, Hernando estava.

– Não era ninguém, era uma música. – O rapaz olhou par ao outro lado para que ele não visse as marcas do choro.

Sentiu os passos do pai se aproximarem e depois outros passos atrás dele. Quando a mão de um o tocou o ombro, não virou, respirou apenas fundo. Deveria estar na estreia do filme, não ali.

– Achei que estariam na estreia do filme. – Sussurrou baixo.

– Eu e seu pai decidimos que talvez fosse melhor ver como estava. Estamos preocupados e você nem o menos nos diz nada. – Hernando disse com a voz serena.

– E nenhum filme é mais importante que meu filho estar bem. – Disse a voz do outro pai, que levemente o tocou as costas.

Julian sentiu vontade de chorar, mas virou para a frente e encarou os dois. Estavam tão elegantes em seus ternos bonitos. Eles faziam o seu casal favorito.

– Não se preocupem comigo, apenas vão. Vou ficar esperando as novidades, via estar em tudo quanto é jornal amanhã, pai. – Olhou para Lito.

– Não, cariño, não vou sair daqui enquanto não me contar o que aconteceu.

Cercado por dores emocionais e físicas, Julian colocou as mãos nos joelhos nus e juntou as pernas. A voz longínqua, inesperada, pesarosa, começou a contar:

– Começou quando eu tinha dez. As crianças me olhavam estranho, e acho que lembram quando eu falava disso – Olhou para Lito que confirmou – Havia sempre um grupinho me provocando e dizendo que eu não tinha uma família normal e que era como Frankstein, uma aberração construída com partes dos corpos de outra pessoa. Apenas começou aos oito, mas ficou pior aos nove, e muito pior aos dez. Aos dez eles começaram a me empurrar no corredor e quebrar as minhas coisas, eu escondia para que não vissem, pois não queria ´reocupar nenhum dos dois. Papai inteligente tinha seus livros para escrever, papai estrela tinha seus filmes para filmar, e até mesmo a tia Dani tinha a vida dela com o Gabriel.

Já fazia tanto tempo que Julian não os chamava pelo nome de infância, que ao ouvir aquilo, ambos os pais o olharam mais atentos e preocupados:

– Eu costumava ignorar essas pessoas, porque não dava em nada brigar, a menos que você fosse um ídolo do cinema. Eu era apenas pequeno demais para eles. Eu reclamei na escola algumas vezes, no entanto, jamais achei que tudo podia ficar bem mais pior. Quando estava na 8º série, Marcelo, o maior líder da classe abriu o meu caderno e viu uma frase que tinha escrito sobre amar Robbie – A expressão de Lito se escancarou – E depois disso as cosias tomaram proporções que eu não consegui mais aguentar, ou melhor, em silêncio. O que viram hoje é a minha saída da escola. Eles disseram que eu sempre fui a Carrie, aquela do Stephen King, deles. E sim, eles me deram banho de sangue e me bateram no corredor – Os olhos de Julian lacrimejaram, assim como, o dos pais estava – Eu estou tão cansado da vida sendo assim, que não quero mais voltar naquela escola.

– Eu vou naquele lugar amanhã, e além de processar eles, meu advogado irá atrás desse rapaz. – Lito levantou com raiva e com a mão na testa.

– Calma, Lito. – Hernando tentou controlar a situação.

– Não, papa. Pode me ouvir. Um segundo a mais – A voz de Julian foi tão calma que o pai não pesou duas vezes antes de abaixar junto dele. Julian virou as duas palmas das mãos, uma para cada um. Hernando segurou primeiro, Lito depois – Foram oito anos, e sabe? Eu faria tudo outra vez. E não aceitaria viver num muno em que os meus pais estariam tristes por amar. E u percebi que a única dor que vale a pena, é aquela que você sente por quem ama. E eu não sei o quanto de sentido isso tem para vocês, mas para mim é enorme – Enquanto apertavam a mão do filho, ambos se entreolharam com algumas lágrimas nos olhos. Quando os dois abraçaram Julian, ele tentou não chorar, no entanto, não segurou seu eu mais profundo de dizer tantas cosias em formato de lágrimas.

– Eu amo você, cariño. Eles eram monstros, e você é um anjo. Um anjinho renascentista, lembra? – A alusão ao artístico clássico que Hernando fez, o lembrou de Da Vinci, um pintor que amava.

– Isso não vai mais acontecer, Julian. Nunca mais. Eu não vou deixar. – Lito disse o apertando forte contra si.

– Não, não vai, papa. Porque eu decidi que eu nunca mais seria uma vítima – O menino soltou deles e secava os olhos – Acho que temos uma grande estreia para ir, não acham? Eu preciso ser fotografado.

Hernando e Lito gargalharam por cima das lágrimas e abraçaram o menino mais uma vez.

– Decidiram ficar mesmo? Não acredito – Dani apareceu na porta da academia e vestia um lindo vestido de cor azul. Encarou o filho e fechou a cara – Eu vou agir como mãe e te dar tapas se não for ficar bonito para as câmeras, Julian.

(...)

Robbie começou a rir sem motivo algum na mesa e Amanita e Nomi pararam a observar o filho. Ver o sorriso no rosto do filho as faziam sentir-se até mais felizes, pois ele se tornara seu mundo.

– Por que está sorrindo, Rob? – Perguntou Nomi.

– Porque o amor é lindo, mãe. O amor de vocês é lindo, o amor é tudo que há de mais lindo. Vem cá. – Correu e com os braços fortes o menino tomou Nomi e chamou Amanita com uma expressão de convite no rosto.

Os três se abraçaram forte:

– Sim, Rob, o amor é a força mais linda. – Neets deu um beijo em sua bochecha e depois um em Nomi.

(...)

– Ok, agora uma última pergunta, Lito, mas eu queria fazer ela para o seu cariño. – A repórter apontou para Julian.

O menino trajava um terno de corte fino e elegante, a cor cinza e a gravata borboleta de cor negra se contrastavam. Naquele imenso tapete vermelho encontravam-se todos os atores do filme “Um homem sem medo”, e claro, Lito Rodriguez encabeçava a produção. Ele e Hernando sorriam para as câmeras e o mesmo colocou os braços no ombro de Julian, que exibia sua expressão contente e agradável para os flashes:

– Se ele quiser responder, tudo bem. – Olhou par ao menino.

– Vamos lá, gatita, pergunte.

– Já devem ter perguntado isso, eu sei que sim, mas precisamos saber, vai seguir o ramo do seu pai e nos deixar maravilhados nas telas? Porque claramente é muito bonito. – A moça estendeu o microfone.

– Eu não acho que as pessoas possuam um talento tão igual. E bem, o meu pai é o meu pai e ninguém seria sucessor de nada. Vai, papa! – Virou e deu um beijo na bochecha de Lito – Acho que sou alguém que não sabe o que fazer da vida. Brincadeirinha, eu provavelmente vá mexer com arte, eu amo arte. Um outro beijo, licença – Beijou Hernando ao citar arte e encarou a câmera. Todos riam do momento de carinho entre eles – Um dia vou trabalhar para Lady GaGa, podem esperar. Ok, está feito – Julian piscou o olho direito e deu um último sorriso para a foto.

Com todo o alvoroço das perguntas finalmente chegando ao fim, Julian e os pais marcharam até o grande pavimento no qual a festa ocorria, ou pelo menos, deveria. Dani os acompanhava e ao chegarem no meio de tantas mesas bem ornamentadas e decoração bem feita, o diretor chegou em polvorosa.

– Eu não acredito, a porra do vocalista está doente. E agora estamos sema banda para o show. A festa fodeu, Lito. Fodeu! – Passou as costas da mão no rosto e enxugou o suor, certamente decorrente da raiva.

– Como assim? Nem mesmo daria tempo de contratar um DJ qualquer? – O ator partilhou do desespero do chefe.

– Estamos arruinados, as pessoas já estão entediadas, e não estranharei se forem embora. Merda, merda, merda! – O diretor bateu duas vezes na cabeça.

Julian teria dito que poderia resolver tudo, mesmo com todo aquele medo dentro de si, mas o que fez em seguida foi a morte para ele. Soltou-se dos átrios de Hernando e Dani e puxou o diretor com ele. Não podia deixar que o momento especial para Lito acabasse daquela maneira, pois tinha exorcizado os próprios demônios para estar ali.

– Não me sigam! – Advertiu os pais. E no desespero em que Lito estava, Hernando tentava acalma-lo.

– A banda está completa, então? – Julian perguntou ao diretor temeroso. Puxava-o violentamente para o centro do espaço. Um pequeno palco fora montado em destaque e quatro caras estavam lá.

Um baterista, um guitarrista, um baixista e um tecladista. Todos estes se entreolhavam com expressões desconfiadas.

– Sim, o miserável deve ter tomado um porre e adoecido. Ele é assim. E por que está me puxando, pequeno Rodriguez? Eu devia em esconder de vergonha.

– Estou tentando dar para você a porra de algo digno. E deveria sentir vergonha de usar esta camisa laranja que parece que foi feita das sobras dispensadas dos monges tailandeses. – Julian reclamou, os nervos se elevavam.

– Não precisava humilhar, Litinho. Mas o que pretende? – Perguntou o diretor.

– Você vai ver. – Correu na direção e subiu no palco.

Ao fazer isso, Julian viu quatro pares de olhos a encarem ele como se não o conhecessem ou simplesmente estivessem analisando a figura:

– Ok, eu estou tentando quebrar o galho de vocês e fazendo com que recebam devidamente o cachê, além do que, não posso deixar a estreia do meu pai virar um fracasso. – Julian olhou os 4 homens – Apenas toquem.

– Tocar o que? Nós tínhamos um repertório e quem o canta não está aqui. – O guitarrista pareceu assustado.

– Conhece Born This Way, da Lady Gaga?

– Essa eu conheço, é aquela que tocamos na festa de 15 anos daquela menina na semana passada. – O Baterista confirmou.

– Sabemos essa. – O Baixista completou.

– Apenas toquem. – Julian olhou para todos e ao virar para a frente, eis que ele notou a multidão de pessoas que ali estavam.

O diretor havia colocado Lito, Hernando e Daniella sentados na mesa de destaque e mais perto do palco, e na verdade, Julian duvidava muito que estivessem calmos quanto o encaravam. Existia neles um tom de dúvida, e o menino sabia o motivo disso, pois estava duvidando de si mesmo por dentro. Recorreu-lhe que aguentou mais do que aquilo dentro de si por 8 anos, e seria injusto que algo que significava tanto par ao pai pudesse acabar pela irresponsabilidade, ou não, de um profissional. Juntou as duas mãos e foi até um pedestal posto na ponta do palco.

– Olá, eu sou Julian Rodriguez – A plateia o encarou também curiosa. Notou a tal repórter sentada numa mesa afastada e com uma câmera – Devem estar se perguntando o que estou fazendo, acreditem, eu também. Só peço que quando verem isso, não me atirem nada, o terno foi caro, mas podem vaiar se quiserem. Eu não sou o melhor super-herói. Obrigado.

O menino estalou os dedos da mão direita e as luzes caíram como um breu dominante. Duas luzes iluminaram apenas o mini palco. Julian olhou para os músicos da banda e engoliu seco, sinal de partida. Com a voz natural e trêmula, o menino recitou as palavras iniciais da estrofe primeira. Mesmo escuro ele viu o temor no rosto dos pais, bem como, incredulidade. Quando a canção iniciou em si, Julian apenas encarou a frente:

– Quando eu era jovem meu pai me disse que todos nascemos superstars. – O menino abaixou e retirou duas armas invisíveis dos cantos das botas, também inexistentes. Apontou para a frente e atirou como o pai sempre fazia nos filmes. Atirou quatro vezes com o ritmo da bateria e deu um giro para o outro lado – Ele penteou o meu cabelo e desenhou meu rosto em frente à sua penteadeira – Julian simbolizou um par de óculos invisível e o empurrou com o dedo encostado no nariz, assim como, fazia o outro pai, Hernando – Não há nada de errado em amar quem você é (...) Então levante a sua cabeça, garoto, e você irá longe. Me ouça quando eu digo. – Segurou, então, uma garrafa de espumante, a marca registrada da mãe biológica ao cantar isto e ao elevar a voz sem pensar, explodiu a casa com os instrumentos que se juntaram.

Quando o refrão irrompeu pelos amplificadores Julian se encaminhou para a frente do palco e deixou de mão o microfone. Utilizava também da dança. O corpo passou a se mover ao seu gosto, de maneira que, a voz alta e perfeitamente afinada soasse para as pessoas. Ele espantou-se de não receber nenhum lixo ou coisa parecida, do contrário, chocou com a imagem de pessoas cantando com ele. Olhou para a mesa dos pais e seus componentes encontravam-se com as respectivas expressões sem reação, aliás, Dani estava em esquema de surta com uma taça na mão. Durante a execução da música, a quantidade de pessoas que passou a cantar com ele, fez com que seu maior temor da vergonha interior não se concretizasse. Sem pensar em mais nada, Julian pulou do palco e foi na direção da mesa dos pais e a resposta imediata de Dani ocorreu. Dançou com o garoto e dava para ouvi-la gritar:

– É meu filho, lidem com isso.

No monólogo de maior poder na música, Julian finalmente teve certeza de que a música não era sua coincidência, ela literalmente retratava o quão importante é se orgulhar de quem é. Lembrou dos pais, lembrou do bullying, e como um grito de rebeldia, cantou em meio as pessoas, que animadas e eufóricas o olhavam:

– Não se esconda, simplesmente seja uma rainha. Quer você seja quebrado ou um milionário. Se você for negro, branco, amarelo ou latino. Se você for libanês ou oriental. Não importa se os obstáculos da vida te deixaram afastado, assediado ou importunado. Alegre-se e ame-se hoje. Pois, baby, você nasceu assim. – Cantava enquanto coreografava com o corpo, sentiu uma breve dor na costela esquerda, deveria ser das pancadas.


Não importava sua dor, o que importava foram as cosias que começaram a surgir diante dos seus olhos. Eram 7. A garota girou o sari um pouco afastada, sim era um sair indiano e colorido. Dançava maravilhosamente e com habilidade. Do outro lado ele viu uma menina estranha e trajando uma farda militar, parecia olhar para um espelho, mas o encarava e bateu continência respeitosa. Sentado numa mesa afastada o garoto oriental pulou e simulava algum tipo de comemoração. Ele estava jogando algo. Um rapaz loiro estava sem camisa e com o peitoral à mostra, a expressão estava carrancuda e fechada.

– Não importa se você é gay, hétero ou bi, lésbica ou se é transexual. Eu estou no caminho certo, baby. Eu nasci para sobreviver. Não importa se você é negro, branco ou amarelo. Se é latino ou oriental. Eu estou no caminho certo, baby. Eu nasci para ter coragem. – Julian bateu forte em seu peito ao recitar a última parte.

A garota negra que o falara antes da festa se materializou próxima e se materializou à sua frente, trazia um livro nas mãos e no rosto um largo sorriso e apontava para o garoto mexicano. Mexeu o corpo como numa dança diferente. O último vulto que ele viu, foi aquele que o observou a vida toda. De dentro daquela multidão de pessoas ensandecidas, Robbie Marks estavam com as mãos dentro da calça de moletom e sua camisa dos Lakers. Fez uma negativa com a cabeça e fechou os olhos ao contrair a face em um sorriso orgulhoso. “Eu sabia que você conseguia um dia. É um dom.” – Os lábios se mexeram e Julian foi levado par ao meio intenso de pessoas que cantavam o refrão final. Como num grande flash mob, o menino liderou os movimentos das pessoas e os movimentos fluíam comuns. Observou uma garota ao seu lado que quebrava uma moldura no chão, era loira e parecia zangada. Mas o que era estar zangado perto daquilo? Enquanto a canção finalizava-se duas pessoas o ergueram no ar surpreendentemente e Julian ao ser elevado em meio aquelas pessoas, sussurrou acabando:

– Same D.N.A. But born this way. – Respirou fundo, fechou os olhos. Acabou.

Ao ser devolvido ao chão, o rapaz passou a ser esmagado pelas pessoas e só conseguiu respirar quando alguém o puxou:

– Por que nunca me disse, cariño? Podia ser a sua vocação, sua voz. – Lito o abraçou.

– É como a Alice, papa. Eu mudei muitas vezes desde que acordei.

– Ei, garoto, Litinho, você está pronto para isso não está? – O diretor puxou seu braço.

– Para?

– A menos que não queira uma boa bolada e um nome famoso, você vai ser a estrela da minha nova produção. E que seu pai não me ouça, mas você é a chave para meu novo curta. Já se imaginou fazendo Thriller? Pois é, baby zumbi, você está engajado e não ouse me dizer não. Julian Rodriguez, você não é um atirador, mas você vai ser o novo astro del México. – O diretor, entusiasmado, acabou dando um beijo na bochecha do garoto confuso.

“Eu não serei mais uma vítima. ” – Pronunciou para si mesmo. E Julian encontrou a primeira parte do seu caminho.

(...)

Nomi e Amanita observaram a cena com os olhos arregalados. A figura do filho dançando sentado na mesa as deixou sem reação. Robbie girava os braços e movia os quadris, mesmo que numa posição não muito favorável, até que se deu conta do que fazia.

– O que está fazendo, Rob? – Nomi perguntou.

– Está dançando sem música, como se estivesse numa festa ou algo parecido. – Amanita mexeu num dos dreads.

– Mas eu estou, ele conseguiu. Ele venceu o medo. – Robbie disse apontando para frente.

– Ele quem, Rob? – Nomi e Amanita perguntaram juntas.

– Julian.

– Ele não existe, filho. Quando vai deixar no passado e seguir em frente? – Nomi segurou a mão do filho.

– Existe, mãe. Ele é do mesmo jeito de quando criança, mas agora tem barbinha. Ainda tem os cachinhos. Ele se chama Julian Rodriguez, ele tem dois pais, como eu tenho vocês, e ele é do México. E um dos pais dele é famoso.

A mãe loira retirou os óculos e olhou para Amanita. Ambas havia notado algo e parecia fazer sentido.

– Nomi, eu me lembro de você assim. Amor, isso está acontecendo de novo com o nosso filho. – Amanita comentou preocupada.

– Robbie, por acaso, esta pessoa famosa se chama Lito Rodriguez? – Nomi perguntou, profundamente esperando que não.

– É, ele sim. Você sabe quem ele é? – Robbie nutriu a esperança de ser um ponto a favor para poder chegar à Julian.

Estava tudo claro, o amigo imaginário de infância, a tatuagem de Robbie, o amor e a devoção. Para Nomi e Amanita estava claro. Ele estava amando uma pessoa que existia, mas que estava ligada a ele à milhas de distância.

– Eu o conheço, filho – Comprovou Nomi com pesar – Eu o conheço de um tempo que achei que não fosse precisar lembrar.


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Notas finais do capítulo

Uou, que capítulo complicado para mim. Este dmeorei mais do que os demais, no entanto, eu deveria deixar vocês com o primeiro vulto dos 8. E agora parece que uma verdade vem surgindo. Será que a sensitividade se tornara uma maneira de serem perseguidos como seus antecessores? O que acham? Deixem seus comentários. Eu espero ver vocês no próximo capítulo. Até lá, queridos.

P.S: Gostaria de agradecer as designers que fizerma este modelo de instagram para o fórum RPG The American Dreams. Não sei vossos nomes, mas se passarem por aqui, meu muito obrigado e me deixem MP para eu creditar. Se preparem para os isntagrans



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