Coração feito de Noz escrita por Miss Addams


Capítulo 2
Guadalajara, México




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Poncho, 04h22 min pm, Guadalajara, México.

Eu estava nervoso tanto que no quarto de hotel que eu estava hospedado, ou melhor estava ali momentaneamente, por que eu só participaria de um evento e depois voltaria para minha casa, quer dizer casa da minha mãe balancei a minha cabeça com os meus pensamentos confusos sentia uma vontade absurda de fumar.

Poderia dizer que sentia um leve tremor em minhas mãos por conta dessa vontade, que eu estava controlando com a mesma firmeza e força que tive quando decidi parar de fumar. Mais como todo ex-usuário de uma droga autorizada pelo governo, haveria momentos de recaídas e esse era um deles, para suprir o meu antigo vício do fumo eu substituir por dois novos vícios.

Os exercícios físicos ou esportes e chocolate.

Sim, cada vez que eu sentia vontade de fumar, eu comia chocolate, uma pequena dose somente para aliviar minha tensão, como tem em minha família integrantes com tendências a obesidade, eu só comia um pouco de chocolate para não exagerar muito. E tudo se tornava um ciclo vicioso, quando batia vontade de fumar eu ou comia chocolate ou fazia exercício, se exagerava no chocolate eu fazia exercício para conter a gordura.

O fato é, depois dessa enrolação toda de pensamentos, eu lembrei justamente do que queria esquecer um pouco.

Dulce.

Sim, por que se ela me visse comendo tanto chocolate como eu estava agora certamente brigaria comigo, por conta dos casos de diabetes também na minha família. Ela tinha essa preocupação comigo e eu estava justamente comendo muito chocolate para tentar me conter, não só o nervosismo como a ansiedade. Tudo bem que poderia fazer exercício.

Mas, não poderia chegar suado num evento que não só seria a estreia de um filme meu como também ganharia um premio atrasado, por que no dia da premiação eu estava viajando precisamente com Dulce.

Bom o motivo do meu nervosismo e ansiedade era de expectativa, não pela estreia ou pelo premio e sim de saber se Dulce apareceria hoje para me apoiar ou não.

Acontece que faz quase uma semana que brigamos por causa de um imbecil que quer aparecer na mídia. Dulce fechou sua tour aqui no México e entre os últimos shows ela foi a programas de televisão divulgar o seu trabalho, um desses programas tinha jogos e um dos participantes que por sinal já foi ex de Dulce, se sentiu no direito de se aproveitar da entrevista que acontece com mais de um artista, forçando momentos constrangedores entre ele e Dulce.

Como se não bastasse ter que aturar isso, no mesmo dia a imprensa mexicana caiu em peso sobre esse caso inventando diversos motivos de suposto divórcio entre Dulce e eu, apontando o seu ex-namorado como motivo da separação.

A razão pela qual eu discuti com Dulce não foi por ele ser seu ex, pela imprensa cair matando com intrigas em nosso casamento e sim, por ela não cortar o mal pela raiz, o seu ex com suas asinhas soltas demais e o colocar em seu devido lugar. O resultado disso é ficar um clima chato entre nós dois desde a discussão e isso alimentou muito as suposições da imprensa.

Um estava dando espaço para o outro e por isso eu tinha dúvida se ela apareceria ou não hoje no meu evento, tanto que eu tinha perguntado para ela antes de viajar se viria. E sua resposta foi vaga o que me deixou chateado.

:- Poncho se comer mais um chocolate eu mando tirar todos eles dessa sala. – Escutei Oscar reclamar comigo, mas ele sabia do meu nervosismo.

:- Tem um cigarro aí? – o perguntei deixando de olhar a janela.

Ele me olhou espantado por que fazia anos que eu não fumava, por isso ele negou com a cabeça lentamente e eu soltei um riso com isso. Oscar cada vez mais ajudava na minha carreira, mais especificamente na divulgação dela como jornalista nato e de bons contatos.

:- Não tenho.

:- Então me deixar comer e não me enche. – suspirei pegando outro tablete de chocolate, dessa vez branco com nozes, me prometendo que dessa vez seria o último daquele dia. Depois descontaria tudo na academia.

:- Poncho? – Marina me chamou, era a RP que me acompanhava daquela vez. – Vamos descer o evento vai começar. – me avisou.

E com ela e Oscar eu desci de elevador para o espaço reservado para o evento. Marina falava com alguém no telefone não estava atenta a nenhum de nós, eu estava de frente para o espelho no fundo do elevador enquanto comia o chocolate e pelo reflexo vi Oscar me encarando com cara amarrada.

:- Se você quiser posso ligar para ela, já que você não deixa de ser orgulhoso e desconta tudo no chocolate. – ele desfez os braços cruzados e me sugeriu.

Como ele estava errado, desde que me casei com Dulce e não foram poucas vezes, porque além da igreja, nos casamos no civil e em cerimônias simbólicas que consideramos como casamentos já que além das alianças para cada uma delas, tínhamos feitos votos e juras de compromisso e amor. Se tivéssemos testemunhas convidados ou nós mesmos, desconhecidos como foi na Eslovênia até a natureza como foi a última vez na Grécia, considerávamos como casamento mesmo nesses quase cinco anos casados.

Nesses anos todos contando com nosso curto namoro por que logo noivamos e fomos morar juntos, eu aprendi a ceder meu orgulho em diversas situações por Dulce. Tanto que de ontem para hoje eu liguei para ela algumas vezes e não obtive resposta sua, bem que ela me disse que ficaria isolada compondo sua nova canção para ser trilha de uma novela. Nesse caso ela se isola do mundo, até mesmo do celular ás vezes.

:- Não precisa fazer isso, eu já liguei para ela e não tive resposta. – contei para ele.

:- Certo, então cara relaxa não é o momento de ficar pensando nos problemas, esse é o seu dia. Então aproveita. – ele posou uma mão em meu ombro e apertou em sinal de apoio e me aconselhou logo em seguida. – Mas, tenho o dever de te contar algo.

:- O que? – eu já tinha me virado para o seu lado e acabado meu chocolate, me sentia mais aliviado fisicamente ao menos a vontade de fumar tinha acabado.

:- A imprensa está em peso aqui em baixo. – ele apontou com a cabeça. – E claro é por que você é um artista talentoso e tudo mais, mas principalmente por que todos vão perguntar de Dulce.

Eu assenti a ele sabia que entre dez perguntas que me fizessem, oito seriam sobre Dulce, e ela não está aqui comigo só aumentaria o burburinho. Suspirei me olhando no espelho, eu teria que ter calma e tranquilidade aquele dia. No espelho vi a luz refletir algo muito importante, minha aliança. As duas. A de ouro do casamento na igreja e a de coco que representava a união tanto quanto a outra beijei as duas alianças e foi nesse momento que a porta do elevador se abriu.

:- Acabamos de chegar. – Marina informou para a pessoa que falava no celular e depois o desligou sorrindo. Eu escutava o burburinho de todos ali fora de dentro do elevador. – Boa sorte Poncho. – ela me disse sorrindo. E eu lhe sorri também por que agora era minha vez.

Sai com Oscar abraçado enquanto ele me contava como estava o esquema do evento, como seria a coletiva e tudo mais. Senti diversos flashes na nossa direção tanto que precisei ficar de costas para conseguir ver meu irmão sem nenhuma interferência na minha visão. Parece que eu seria a estrela daquele fim de tarde e começo de noite, só não sabia dizer se isso era bom ou ruim.

:- Entendeu Poncho, como vai funcionar tudo? – ele me perguntou. E eu afirmei, tinha entendido. – Ok, beleza então primeiro o tapete vermelho e depois entramos. – ele sorriu pra mim. E eu retribui. – Vá para a boca dos lobos maus, chapeuzinho. – ele ironizou e me fez rir.

Foi assim de bom humor que eu cumprimentei a todos e fiquei a disposição deles para trocarmos algumas palavras ou conversas, no tapete vermelho havia um esquema onde uma grade me separava da imprensa, eu fui até eles mostrando o profissional que era.

Respondia cada pergunta com paciência, em sua maioria eram sobre Dulce. “Ela não está presente, por que está trabalhando.”, “Não, de maneira nenhuma essa informação é falsa.”, “Não vamos nos separar.”, “Não conheço Juan Rodrigo para falar dele.”, “Não estamos brigados.”, “Não estou triste.”, “Eu entendo a razão por Dulce não está aqui, ela tem o seu trabalho e eu o meu, infelizmente não conseguimos conciliar tudo.”

Eu já estava cansado de falar sobre o mesmo assunto, tentei encontrar Marina que estava do meu lado para cortar o tempo desses repórteres, mas parece que ela tinha sumido e me deixado sozinho, foi o momento que eu agradeci a imprensa presente e fui me afastando para fazer as fotos finais e finalmente entrar para o verdadeiro evento e poder falar sobre o meu trabalho.

Escutava sempre alguém me chamando para que eu pudesse dar mais alguma palavrinha, ou seja, para que eu pudesse soltar algo que eles pudessem usar contra mim. Eu ignorava e sorria para as fotos, foi então que vi Oscar, mas foi rapidamente ele passou abaixado entre a imprensa e eu e depois sumiu, não deu tempo de chamá-lo.

O que aconteceu a seguir foi começo de um alvoroço o que me deixou preocupado por não saber o que estava acontecendo, primeiro Marina some, depois Oscar passa ligeiro e agora essa confusão no meio da imprensa, o que estava havendo que eu não sabia?

E eu tive a resposta, Oscar apareceu novamente entre os vários repórteres e junto com Marina fazia segurança e passava entre as pessoas com ela. Dulce.

Quando coloquei os olhos em sua face vi sua expressão de assustada, tive vontade de rir por que aquela expressão sua era de receio ao descer de uma vã e encontrar os fãs que são intensos, dessa vez eram todo o pessoal da imprensa que tentavam falar com ela.

Eu não me vi no momento em que ela conseguiu pela ajuda de Marina e Oscar, se livrar do assédio da imprensa e vir em minha direção, mas com certeza eu estava com cara de bobo por que ela estava linda.

E o que mais me surpreendeu e a todos também foi quando ela chegou perto de mim. Me beijou, um beijo firme, sem um contato maior, mas seguro de si. Eu senti os flashes baterem o recorde desde que sai do elevador, mas não estava mais me importando ela estava aqui comigo.

Com uma mão tocou minha bochecha e com o polegar me acariciou e depois partiu o beijo.

Ela me falaria alguma coisa, mas tudo o que eu fiz foi sorrir e ela retribuiu como só ela poderia fazer.

:- Cheguei muito atrasada? – me perguntou baixinho e eu ignorei tanto os chamados da imprensa como os de Marina e Oscar nos chamando atenção.

:- Chegou na hora certa. – sorri para ela.

:- Poncho falta você falar com alguns repórteres, ainda mais que Dulce chegou. – Marina se aproximou nos interrompendo.

:- Tudo bem? – Eu perguntei para Dulce, preocupado, não sabia se ela queria falar com algum deles, não era sua obrigação por mais educada que fosse.

:- Não tenho problema em responder algumas perguntas. – ela me respondeu e entrelaçou nossas mãos e voltamos para a boca dos lobos, só que dessa vez eu estava acompanhado.

:- “Dulce, por que demorou tanto para chegar?” – A primeira pergunta dirigida a ela, que roubou as atenções literalmente.

:- Eu estava trabalhando e demorei ainda mais por que quando cheguei ao aeroporto eu perdi meu celular, foi uma confusão até eu consegui encontrá-lo, não poderia perder mais um. – ela me olhou rapidamente.

Isso explicava por que ela não atendia minhas ligações.

:- “Dulce, Você e seu marido há algum tempo não tem a mesma relação de antes, estão entrando em crise?”

Assim que a repórter terminou sua pergunta, eu apertei a mão de Dulce e ela me olhou com sorrindo, essa pergunta se referia há algum tempo, a uma semana que estávamos dando o espaço um do outro para refletimos sobre nossa discussão.

:- Não sei da onde tiraram isso, é uma informação falsa eu e Poncho estamos bem.

:- “Qual é sua relação com o também ator Juan Rodrigo, Dulce?”

Acho que eu e ela sabíamos que essa pergunta viria de uma forma ou de outra, em algum momento, eu tentei não extravasar o meu incômodo o máximo possível, me lembrando que esse foi o motivo da nossa discussão. Mas, dessa vez quem apertou minha mão foi ela, estávamos nos comunicando por sinais como este.

:- Nenhuma. – ela foi firme o que me fez olhá-la e esquecer o mar de pessoas que estava em nossa volta, eu sabia pelo seu olhar lançando para mim. Rápido, porém significativo, aquela resposta era minha. – Além de trabalhamos para a mesma empresa, nenhuma atualmente. Eu e Juan já fomos namorados, mas nada demais isso ficou no passado. Hoje o meu presente é Alfonso Herrera – ela se virou e me olhou. – O homem que eu amo e que é o meu marido.

Trocamos sorrisos confidentes.

Não demorou muito para Marina chegar para cortar os repórteres que tinham sede e fome de respostas, fiquei feliz confesso pelo balde de água gelada que eles tomaram a cada resposta sagaz que Dulce e eu dávamos. Para finalizar eu e ela fomos até o tapete e tiramos as últimas fotos para entrar no evento onde também havia imprensa, mas era selecionada e estavam ali com o objetivo de informar não ter um destaque que daria ibope.

Entramos Dulce e eu de mãos dadas ainda, ela estava cumprimentando de longe alguns conhecidos seus, Marina e Oscar estavam na minha frente, eu tinha que ser rápido.

:- Oscar quanto tempo eu tenho? – perguntei ainda quando andávamos. Ele olhou para trás e logo entendeu o que eu quis dizer.

:- Não muito, no máximo 20 minutos, vocês ficaram muito tempo sendo sugados pelos sangue-sugas. – ele riu novamente com um trocadilho, o que me fez rir por que ele também era um jornalista.

:- Certo, eu vou para o banheiro avise Marina. – eu disse e tomei um rumo diferente, disfarçadamente junto com Dulce para o corredor onde estava o banheiro.

Chegamos lá depois que ela se apoiou na parede e eu em sua frente ficamos nos olhando. Eu mordia o lábio e ela tombou a cabeça de lado para finalmente depositar suas mãos em meu rosto.

:- Me perdoa? – disse com um olhar brilhante, entretanto culpado. O que me fez negar com a cabeça dando a ela o sentido errado por que ela se assustou e me fez rir antes de falar.

:- Não posso perdoar de algo que já esqueci. – e ela entendeu o que eu quis dizer.

:- Eu falo sobre tudo! – ela apertou o meu rosto. – Você estava certo em ficar bravo comigo, eu realmente fiquei tão surpresa pelas atitudes de Juan que não sabia como reagir e minha falta de reação só piorou os boatos da imprensa...

Cortei o que ela dizia com um beijo o que eu não tive de despedida antes de vir para Guadalajara e nem de reencontro no tapete vermelho.

Terminei tudo com alguns selinhos.

:- Eu já esqueci. – sorri para ela feliz em vê-la aqui, acho que agora eu sabia como ela se sentia quando eu viajava de surpresa para encontrá-la. – Vamos comigo jantar na casa de mamãe? É para comemorar esse evento, meu prêmio, você aqui comigo. – eu coloquei minhas mãos em sua cintura.

E ela arregalou os olhos.

:- Jantar com Dona Ruth?

:- Isso.

:- Só depois de você explicar que estamos resolvidos e não estamos mais brigados. – me colocou uma condição.

:- Está com medo das broncas de Dona Ruth, Maria?

:- Não. Só estou me prevenindo, não quero que ela fique com má impressão minha por uma bobagem. – ela fechou os olhos e fez uma cara de esnobe, sabia que no fundo ela se preocupava com o que minha mãe pensava dela, por pura bobagem já que Dona Ruth adorava Dulce. Se alguém tinha que ter medo de mãe aqui era eu, Dona Blanca não era brincadeira.

:- Vou fingir que acredito nessa história. Então aceita? Ou quer sair comigo para algum outro lugar e curti um pouco a noite?

:- Vamos primeiro jantar com sua mãe e depois se tivermos ânimo, saímos.

:- Você que manda. – sorri para ela. – Obrigada por ter vindo. – agradeci.

:- Não por isso essa noite é importante para você, para sua carreira, estou aqui para te apoiar. Viajar até aqui é pouco perto das viagens malucas que você faz para me ver. – ela riu e me fez lembrar da última que fui até Espanha, onde ela levou uma bronca por passarmos à manhã e inteira trancados em seu quarto de hotel.

Ela olhou para o lado pelo caminho de onde viemos e depois me abraçou forte.

:- Anda me beija que Marina está no meio do salão nos encarando furiosa, por termos escapado. Acho que temos pouco tempo juntos antes do evento começar.

Eu ri pela euforia dela, mas fiz o que ela pediu a beijei com vontade por que sabia que depois dali demoraríamos para ter um tempo sozinhos assim, fora que agora estava tudo bem, valeu a pena me entupir de chocolate, passar por um mar de repórteres, por perguntas desagradáveis se agora eu tinha ela ali nos meus braços.


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