Uma pequena nota da narradora.

Sinto muito, apenas agora as Parcas avisaram-me que havia começado pela parte errada, estou quase no fim quando deveria estar contando o por que de estarmos aqui, me desculpem é que às vezes o destino é muito zombeteiro.
Elas me falaram o que deveria contar, no entanto não me definiram exatas palavras, é complicado conversar com as Parcas e gravar a conversa delas, e depois de tudo o pior é conseguir filtrar o que elas realmente querem que eu saiba das dezenas de brigas dobre quem deveria ficar com o olho naquele dia e quem iria falar naquele momento, no fim tufo acabou com um emaranhado de discussões, brigas e um olho quase perdido (e podem ter certeza que não foi o delas).
Você que está lendo agora pode não gostar, ou não se importar com o que comecei a contar, contudo estou aqui apenas para findar minha missão, que no meio de tudo não tem importância alguma.
Antes de continuar quero agradecer pela sua futura compreensão e peço que tenha paciência, o passado não é algo agradável de remexer, mesmo que não seja o seu, pode abrir feridas há muito cicatrizadas e esquecida, continuemos então.

...

Em algum lugar no inicio das civilizações.
" Hoje no décimo quinto dia de meu nome, eu Ártemis, irmã gêmea de Apolo, filha do senhor dos céus Zeus, comprometo-me em ser rainha da caçada, comandar a lua e estrelas na escuridão em uma vigia eterna, renego o amor dos homens e prometo proteger as florestas e todos os seres que nelas há até o último de meus dias para que quado eles cheguem minha alma imaculada viva e fiquem nas árvores que cercam os bosques até que os mesmos acabem, e que eu esteja sempre ao lado das donzelas protegendo-as. Prometo com meu corpo e sangue, com lagrimas e tudo que exigem, e serei leal aos deuses, juro permanecer casta pelo bem das donzelas que habitam e protegem as florestas ao redor do mundo."
Ártemis ainda podia se lembrar de Apolo ao lado de Zeus com os olhos baixos, lembrava-se de Zeus a olhando com admiração enquanto falava, Apolo levantou os olhos apenas nas últimas palavras, ele tinha lagrimas nos olhos, não entendia o por que de ela estar fazendo aquilo, na verdade nem ela entendia direito, Ártemis estava em sua forma humana, sempre a achou mais confortável, mas Apolo e Zeus estavam como deuses, o que a deixava aterrorizada, ela queria correr dali, fugir para que eles nunca a encontrassem, mas eles são deuses, é claro que a encontrariam era apenas uma questão de tempo.
—Tenho um pedido pai — Ártemis disse depois da jura.
—O que deseja? —Zeus perguntou.
—Companhia, quero caçadoras para que não me sinta sozinha na eternidade - ela pediu. - Desejo que sejam imortais, para que possam ficar comigo para sempre.
—Se lhe aprouver ter seguidoras, as terá, mas não posso dar imortalidade a elas, todos os humanos morrem um dia — Zeus lhe respondeu, não havia o que ela dizer em reposta, nenhum humano viveria para sempre.
—Conceda-lhes então uma pseudo-imortalidade Zeus — Apolo sugeriu. — Elas podem viver para eternamente, desde que não se apaixonem e não podem se curar de ferimentos graves como nós. Dê isso a ela Zeus, Ártemis nunca lhe pediria algo se não fosse importante.
—Concedo-lhe então, elas se comprometerão contigo da mesma forma que se comprometeu comigo — Zeus decidiu. — Podes ir Ártemis.
Ela se curvou e saiu da sala, ali costurou o último ponto que ornava seu destino.
O Olimpo havia sido projetado para os deuses na sua forma humana, apenas a sala dos tronos tinha o tamanho ideal para os deuses em sua forma natural, Ártemis seguiu para seu templo suas ninfas estavam todas paradas e enfileiradas na frente da porta.
—Algum problema? — Ártemis perguntou.
—Lorde Apolo a espera em seus aposentos, senhora — a mais velha respondeu.
Ártemis foi para seu quarto a passos largos, nos últimos tempos não estava gostando da presença de Apolo, mesmo que fossem irmão gêmeos, ele discutia com ela cada vez mais, dizendo que havia nascido primeiro, por causa de humanas que ele humilhava depois de fazê-las se apaixonarem por ele e também por que ele conseguia constrange-la a todos os momentos e em todos os lugares.
—O que quer?—Ártemis indagou ríspida abrindo as portas prateadas.
—Por quê fez isso? — Apolo perguntou em resposta.
—Era meu destino Apolo, sabe bem disso, e eu não podia negar isso ao nosso pai.
—Mas tu podes arrepender-te—ele segurou as mãos da garota e a olhava profundamente com seus olhos azuis como um lago, ele sempre era tão quente, ao contrário dela que parecia um cubo de gelo, Ártemis sempre gostou disso nele, mesmo quando ela era muito pequena, as únicas coisas que ela se lembrava de quado era bebê era do nascimento de Apolo e de seu calor, até pouco tempo antes de ela lhe falar sua decisão eles dormiam juntos na cama dela para que ele pudesse a aquecer.

—Não vou Apolo, não se preocupe — ela tirou suas mãos das dele e passou sobre seus cabelos loiros, ele tinha uma expressão devastada, de repente veio à mente de Ártemis que quando ele tinha cinco anos negava-se a cortar o cabelo eram cachinhos dourados que iam até seus ombros, ela e Afrodite procuraram ele por todo Olimpo, e o encontraram escondido no templo de Héstia, ele se mexeu tanto enquanto a deusa da beleza tentava cortar o cabelo dele, que a noite antes de irem dormir Ártemis teve de raspar o cabelo dele, depois disso o cabelo dele nunca mais cacheou, ela não se arrependia de ter raspado o cabelo dele, era inegável o quanto Apolo havia ficado charmoso com os fios lisos. — Eu nunca me arrependo.
Apolo juntou as testas dele como sempre fazia quando sabia que ia demorar algum tempo para eles se verem de novo Ártemis sentiu seu rosto ruborizar como sempre fazendo ele sorrir, mas dessa vez ele se despediu de una forma diferente, ele colou os lábios dele aos dela fazendo-a fechar os olhos e sentir seu coração errar o compasso.
—Eu espero que seja por mim Ártemis — Apolo desapareceu deixando no ar seu característico cheiro de verão.
No mesmo dia ela saiu do Olimpo e foi morar em uma floresta, construiu com a ajuda de aldeões e sátiros um grande castelo e foi acompanhada por suas ninfas para que cuidassem do mesmo.
Ártemis passava os dias andando pelas florestas, visitava aldeias e quase nunca parava no castelo, acabava dormindo no meio da mata, achava mais confortável.

* * *

Já faziam sete anos que Ártemis havia saído do Olimpo, já não via Apolo na mesma quantidade de tempo, ela caminhava por um lugar distante, já faziam semanas que não voltava para sua "casa", ela observava a paisagem quando escutou alguém chorar, Ártemis caminhou rapidamente na direção que o som vinha, ela a encontrou debaixo de um velho carvalho, seus longos cabelos negros estavam emaranhados e seu vestido sujo com lama vermelha.
—Senhorita — a deusa chamou aproximando cautelosamente, a pele da jovem tinha cor de oliva. —Está machucada?
—Ele me deixou — a garota secava as lagrimas e fungava. - Eu o ajudei, enganei minhas irmãs e ele me deixou, acabei sendo expulsa.
—Acalme-se criança —embora elas parecessem ter a mesma idade Ártemis sempre a tratou como criança. —Como se chama?
—Lucinda —ela respondeu e delicadamente a deusa se sentou ao lado dela. —E você quem seria?
—Ártemis, a senhora da noite —assim que falou isso Lucinda levantou e se afastou.
—Não gosto de deuses —disse rancorosa.
—Por que? O que fiz a ti para me odiar de tal forma?
—Meu amado é um semideus, apenas me usou para conseguir o que queria e me abandonou. Deveria saber por ser uma deusa
—Não moro no Olimpo jovem tola —ela se levantou e limpou seu vestido.— Moro na mata. Gostas de caçar?
—Nunca o fiz na minha vida —o olhar que Lucinda lançava era duro, mas Ártemis sorria docemente.
—Por falar em vida, gostaria de ter a sua para sempre?
—Já vivi por tempo demais.
—Você não viveu, seu coração batia, nada além disso. Junte-se a mim Lucinda —Ártemis estendeu a mão, com hesitação Lucinda aceitou. —Jure a mim que nunca mará ninguém e que não me abandonará.
—Eu juro minha senhora.

Por mais que você não queira meu bem, um dia você se arrepende.