I Told You So escrita por QueenSWaldorfBass


Capítulo 5
O Agora




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Were you really surprised when she left all your memories behind

(Você estava realmente surpreso quando ela deixou todas as suas memórias para trás)

She never said she was hurting but what girl means it when they say they’re fine

(Ela nunca disse que estava doendo, mas que garota quer dizer que esta bem quando diz isso?)

Faz um mês que o Cobra e a Jade terminaram. Os dois estão miseráveis, mas nenhum deles dá o braço a torcer.

Eu entendo a Jade, quer dizer, ela aguentou muita coisa pra ficar com o Cobra e uma hora cansa. E por que ela o procuraria de novo sabendo que tudo o que conseguiria seriam mais lágrimas?

And she’s crying and she’s dying for you to take her home

(E ela está chorando e ela está morrendo para você levá-la para casa)

And she doesn’t want space, she just wants to be chased

(E ela não quer espaço, ela só quer ser procurada)

And for you to show her she’s not alone

(E que você mostre que ela não está sozinha)

– Já ligou pra ela? – Pergunto a Cobra.

– Por que ligaria? – Pergunta ele.

– Porque você quer voltar pra ela e sabe disso.

– É, até quero, mas ela vai me ligar.

– Por que ela ligaria, Cobra? – Suspiro.

– Porque foi ela que terminou. – Ele responde. – Quando fui eu quem terminou, eu fui atrás dela, agora ela que venha atrás de mim.

So don’t wait and let her go cause I don’t want to be the one

(Então, não espere e deixe-a ir, porque eu não quero ser a aquela)

Who has to say, I told you so

(Que tem de dizer "eu bem que te avisei")

I told you so

(Eu bem que te avisei)

– Mas é completamente diferente, Cobra. – Alerto. – Você terminou com a Jade, porque VOCÊ não queria nada sério. A Jade terminou com você porque, bem... porque VOCÊ não queria nada sério. Então é você que tem que ir atrás dela e dizer que a ama.

– Que “que a ama”, Karina, se toca. – Discute Cobra. – Já falei que aquela garota não significa nada pra mim, ela só é gostosa.

– Olha, a Jade deve ser muito boa MESMO de cama pra você ficar com ela por um ano.

Cobra me olha com aquela cara de “não enche”.

– Aquela garota é a sua alma gêmea. – Digo. – Você sabe que não tô dizendo nenhuma bobagem, sabe que eu tenho razão. Vai atrás dela, não perde ela por um orgulho besta. Para de bancar o idiota.

– Karina, não precisa se preocupar, a Jade VAI voltar pra mim. Ela só precisa de um tempo.

Of course she wants attention cause you never mention

(É claro que ela quer atenção porque você nunca diz)

How much she means to you

(O quanto ela significa para você)

It shouldn’t be news that she wants to be important to you

(Não deveria ser novidade que ela quer ser importante para você)

So don’t play the fool

(Então não banque o idiota)

– “TEMPO”? – Rio. – A Jade não precisa de tempo, Cobra, ela precisa que você vá atrás dela e diga o que sente, precisa ser perseguida pra se sentir amada, desejada. Precisa saber que significa alguma coisa pra você.

– Ka, a Jade é louca por mim, não vai ser surpresa quando ela ligar implorando pra voltar. Na verdade a grande surpresa foi ela ter terminado comigo.

– Você tá realmente surpreso? Depois de tudo o que ela passou, a grande surpresa foi ela aguentar tanto tempo. É claro que ela quer deixar toda essa história de vocês pra trás.

Cobra vira os olhos.

– Vai ficar tudo bem. – Ele repete.

– Você sabe que isso não é verdade, então por que fica repetindo isso?

– Porque é a verdade. A gente vai dar um jeito nisso.

– O único jeito é me ouvir, levantar essa bunda dessa cadeira e ir atrás dela.

And she’s crying and she’s dying for you to take her home

(E ela está chorando e ela está morrendo para você levá-la para casa)

And she doesn’t want space, she just wants to be chased

(E ela não quer espaço, ela só quer ser procurada)

And for you to show her she’s not alone

(E que você mostre que ela não está sozinha)

– Pra que tanta resistência? – Questiono. – Você sabe que eu estou certa.

– De que lado você está afinal? – Ele se exalta.

– Do seu, Cobra, eu tô do seu lado. – Juro. – E é por isso que eu tô te dizendo tudo isso, porque acho que você só vai ser completamente feliz com ela.

Cobra não responde.

– Quem você quer que esteja ao seu lado quando seus sonhos se realizarem?

Ele me olha.

– Você. – Ele diz. – Eu só quero você.

Eu nego com a cabeça.

– Para de mentir, Cobra, só está enganando a si mesmo.

Ele abaixa a cabeça.

But you already know that so why are you sitting back and waiting for her to change her mind

(Mas você já sabe disso, então por que você senta e espera para que ela mude de ideia?)

And telling yourself it’ll be just fine, when you know I’m right

(E fica dizendo a si mesmo que vai ficar bem, quando você sabe que estou certa?)

– Cobra...

– PARA, KARINA, PARA. – Ele me interrompe. – Eu não quero mais falar sobre isso, tá?

– Ela é linda, inteligente, sexy e te ama, é tudo o que você pediu e muito mais. – Digo. – Ela é tudo o que você podia querer.

– Você nem gosta dela, por que fica dizendo isso?

– É verdade que eu e a Jade não somos fãs uma da outra, mas eu sou a SUA melhor amiga e ela te faz bem.

– Nós tínhamos um relacionamento autodestrutivo, você me disse isso uma vez, nós éramos piores do que o Duca e a Bianca, então por que você quer que eu volte pra ela?

– Eu não quero, VOCÊ quer. E ela não te fazia mal, você é que fazia mal a ela. Tudo se resolve se você mudar.

– Mas eu NÃO QUERO mudar.

– Prefere perder a Jade?

– Eu não vou perder a Jade. – Ele nega. Acho que está em estado de negação.

– Vai sim e sabe disso. Se não fizer nada, vai perdê-la.

And she’s crying and she’s dying for you to take her home

(E ela está chorando e ela está morrendo para você levá-la para casa)

And she doesn’t want space, she just wants to be chased

(E ela não quer espaço, ela só quer ser procurada)

And for you to show her she’s not alone

(E que você mostre que ela não está sozinha)

So don’t wait and let her go cause I don’t want to be the one

(Então, não espere e deixe-a ir, porque eu não quero ser a aquela)

Who has to say, I told you so

(Que tem de dizer "eu bem que te avisei")

I told you so

(Eu bem que te avisei)

– Não fica aí sentado, dizendo pra você mesmo que vai ficar tudo bem. Reage, toma uma atitude, vai atrás dela. Você tá A-PAI-XO-NA-DO por ela.

Cobra vira o rosto em outra direção.

– Não espera ela mudar de ideia, Cobra, porque só vai servir pra deixá-la ir e aí quando você for atrás dela, já vai ser tarde demais e eu não quero ser aquela que tem que dizer “eu bem que te avisei”.

Eu levanto, beijo o topo da cabeça de Cobra e saio do quarto.

Eu suspiro e saio de casa.

– E ai, Esquentadinha. – Pedro aparece em seu skate.

Ele começou a me chamar assim depois que eu me estressei com uma das cantadas dele. No começo me irritava, agora até que eu gosto.

– E ai, Pe. – Sorrio.

– Tudo bem? Parece meio chateada. – Ele para de frente pra mim.

– Tudo, eu só tava conversando com o Cobra. – Suspiro.

– Ah, o Cobra. – Pedro vira os olhos.

– Ei não faz assim, ele é o meu melhor amigo.

– É, seu melhor amigo. – Pedro resmunga.

Eu e ele nos sentamos no banco da praça.

– Como está a Jade? – Pergunto.

– Péssima. – Ele suspira. – Ela chorou sem parar por uma semana inteira, minha mãe ficou super preocupada, a gente disse que a cachorra da Vicki tinha morrido e a Jade gostava muito dela. Minha mãe não acreditou muito não, mas não tinha o que fazer. Acho que a Jade ainda chora toda noite, de vez em quando, eu ainda ouço os soluços abafados quando passo pelo quarto dela.

– O Cobra também tá péssimo, mas ele não admite.

– Mas a culpa é dele, aquele cretino idiota.

– Ei. – Repreendo. – Segura a língua aí, o Cobra pode ter vacilado, pisado feio na bola, mas ainda é o meu irmão.

– Seu irmão arruinou com a vida da minha irmã.

– Se serve de consolo, ele arruinou com a vida dele também. – Suspiro.

Pedro e eu apoiamos os cotovelos nos joelhos e os rostos nas mãos e ficamos um minuto em silêncio.

– Por que o amor tem que ser tão difícil? – Rompo o silêncio.

– Sei lá. – Ele dá de ombros.

– Às vezes me pergunto pra que tentar, sabe? Pra que perder tempo?

Pedro se senta direito e sorri pra mim ao dizer:

– Porque vale a pena.

– Como você sabe? – Também sento direito.

– Ah, deve valer se mesmo correndo o risco de se machucar, as pessoas resolvem tentar. Não acha?

– Não sei não.

– Eu perguntei pra Jade do que ela mais se arrependia no relacionamento com o Cobra e sabe o que ela me disse?

– De tudo?

– De nada.

– Como assim “de nada”? – Eu me surpreendo.

– Pois é, ela disse que não se arrependia de nada. – Garante Pedro. – Ela disse que SEMPRE soube que se machucaria, desde o momento em que ela conheceu o Cobra, mas que isso não importava, porque ela o amava demais. Disse que por mais difícil que tenha sido, o Cobra a fez feliz, ela aproveitou os bons momentos com ele e são esses que ela vai levar pro resto da vida. E ela também não se arrepende de ter terminado, porque a partir daquele momento, ela não ia ser mais feliz, daí quando acabasse, ela não conseguiria nem guardar as boas lembranças.

– Você sabe que tudo isso é muito louco, né?

– Eu sei, mas também sei que a Jade tava sendo sincera em tudo o que estava dizendo. Ela até sorriu. – Pedro sorri com a lembrança. – Então acho que apesar da dor, o amor vale o risco.

– Ainda não sei.

– Talvez você devesse tentar. – Pedro pisca pra mim.

– Vou pensar. – Eu sorrio e sinto as bochechas queimarem.

– Você fica linda corada, Esquentadinha.

– Para, Pe. – Eu rio e coro ainda mais.

Minha mente
Nem sempre tão lúcida
É fértil e me deu a voz
Minha mente
Nem sempre tão lúcida
Fez ela se afastar
Mas ela vai voltar
Mas ela vai voltar

Ela não é
Do tipo de mulher
Que se entrega na primeira
Mas melhora na segunda
E o paraíso é na terceira
Ela tem força
Ela tem sensibilidade
Ela é guerreira
Ela é uma deusa
Ela é mulher de verdade

Ela é daquelas
Que tu gosta na primeira
Se apaixona na segunda
E perde a linha na terceira
Ela é discreta
E cultua bons livros
E ama os animais
Tá ligado, eu sou o bicho

A música alta começa vindo da minha casa e interrompe minha conversa com o Pedro.

Eu suspiro e olho pra cima, pra janela da sala.

– Acho que é a minha deixa. – Lamento.

– Tudo bem, a gente continua essa conversa depois. – Pedro sorri e pisca pra mim novamente.

– Até mais, Pe. – Eu me levanto.

– Até mais, Esquentadinha. – Ele acena.

Subo até minha casa e assim que abro a porta, encontro Cobra largado no sofá.

– “Ela Vai Voltar” é sua música de fossa? – Pergunto acima do som alto da música e desligo o rádio.

Cobra senta no sofá e sorri.

– É. – Ele concorda sorrindo. – “Todos os Defeitos de uma Mulher Perfeita”.

– Bem apropriado. – Rio.

– É. – Ele lamenta.

Eu sento ao seu lado no sofá.

– Você tem visto ela? – Ele me pergunta.

– Só de vista. – Respondo. – Se você quer saber dela é melhor perguntar pra Sol, ela com certeza sabe.

– Não. – Nega Cobra. – Eu não quero saber, só perguntei por perguntar.

– Você sabe a minha opinião sobre isso, Cobra, não quero mais discutir esse assunto com você.

– Nem eu, então o melhor que temos a fazer é mudar de assunto.

– Só me deixa dizer mais uma coisa? – Pergunto.

Ele assente.

– Se você não pode deixar seu orgulho de lado, Cobra, então o melhor que tem a fazer, é esquecer a Jade. – Suspiro. – É o melhor pra vocês dois se esquecerem.

– É, concordo.

Nós assentimos um pro outro, eu dou umas batidinhas em seu ombro e vou pro meu quarto.

O problema é que acho que Cobra e Jade não vão conseguir se esquecer tão facilmente.

–X-

Dois dias depois, eu estou na academia treinando e vou até o banheiro. Assim que abro a porta vejo Jade de frente ao espelho. Ela está tentando retocar a maquiagem, mas não está tendo sucesso com isso, pois fica secando lágrimas que rolam insistentemente por suas bochechas.

Ela seca uma lágrima e passa a esponja com o pó compacto na área debaixo dos olhos, mas outra lágrima escorre. Ela suspira, fecha os olhos deixando mais lágrimas caírem e umedecendo seus cílios, então ela se apóia na pia.

– Jade? – Chamo.

Ela me olha rapidamente e depois guarda suas coisas. Volta-se pra mim e caminha na minha direção.

– Me achou bonita, Maria Macho? – Ela me desafia. – Tira uma foto, já que vai ficar olhando tanto.

Eu já parti pra cima de muita gente por muito menos, mas eu sei que a Jade está vulnerável, então eu deixo pra lá.

– Desculpa, Jade. – Digo.

Ela levanta a cabeça com superioridade e sai do banheiro.

Eu suspiro.

–X-

Mais tarde naquele mesmo dia vou até a Ribalta ver o Pedro e encontro Cobra espiando uma das salas.

– Cobra.

Ele fecha a cortina depressa e me encara com ar culpado.

– Ka, oi, o que você tá fazendo aqui?

– Ia te perguntar a mesma coisa.

– Eu tava procurando a Bianca. – Ele coça a cabeça.

– A Bianca? – Rio. – Conta outra.

Caminho até ele e abro as cortinas, obviamente, encontro Jade dançando. Olho pra Cobra, ele suspira.

– Eu só tava olhando. – Ele diz.

Eu assinto.

– Ka, olha...

– Não precisa me explicar nada, Cobra. – Interrompo. – Só estou preocupada que você não tenha entendido bem a ideia de esquecer ela.

– Eu entendi. – Ele garante.

– Então boa sorte, Cobra. – Suspiro.

Então o deixo sozinho com a função de decidir se voltaria ou não a espiar a Jade.

–X-

Naquela noite eu faço uma loucura.

Eu engulo o meu orgulho, pelo meu MELHOR amigo, e vou até a casa da Jade.

Eu respiro fundo e bato na porta.

– Quem é? – Pedro pergunta.

– É a Ka. – Respondo.

Ouço o barulho de algo se chocando e Pedro grita.

– Cuidado, Pedro. – Briga Lucrécia. – Se machucou?

– Não, tô bem.

Pedro abre a porta sorridente, mas com uma pitada de dor no sorriso, e sem camisa.

– E ai, Ka.

– E ai, Pe. – Sorrio. – Tá tudo bem? Eu ouvi um barulho.

– Ah, tá tudo certo, não foi nada demais. – Ele mente e aumenta o sorriso. – E ai, a que devo a honra da sua visita?

Ele se afasta pra que eu possa entrar.

– Na verdade, eu vim ver a Jade. Ela tá aí? – Entro na casa.

– Pô, que saco, só a Jade recebe visitas interessantes.

Dou risada e vejo a mãe dele na sala.

– Dona Lucrécia. – Cumprimento.

Lucrécia me olha.

– Mãe, esta é a Karina, filha do Gael, Ka, essa é a minha mãe. – Pedro faz as apresentações.

– Muito prazer, dona Lucrécia. – Estendo a mão.

Ela aceita e sorri.

– Muito prazer, Karina. Você tá procurando a Jade, né?

– Isso.

– Ela tá no quarto dela.

– Eu levo você lá. – Pedro se oferece.

Ele aponta a direção e eu o sigo.

Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro!

Eu o sigo e ele me deixa em frente a porta do quarto. Eu teria achado o quarto mesmo sem ele. A porta é cheia de adesivos de balé e do Barão Vermelho.

Pedro acena e sai e eu bato na porta.

– Entra. – A voz da Jade atravessa a porta.

Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver

Eu entro no quarto e vejo Jade deitada na cama encarando uma parede completamente preenchida de CDs.

– Sua música de fossa é “Ideologia”? – Brinco.

Jade olha pra mim e sorri. Ela se senta na cama e desliga o som.

– Não, Cazuza é meu amigo de TODAS as horas. – Ela brinca.

Eu rio.

– O que você está fazendo aqui, Karina? – Ela me encara séria.

– Eu vim saber como você está.

– Por que?

Eu suspiro.

– Não sei. – Admito. – Acho que fiquei preocupada. Você não parecia bem hoje.

– Eu não pareço bem há muito tempo. – Ela confessa cabisbaixa. Então olha pra mim e continua: - E acho que não te tratei bem também.

– Tá tudo bem. – Dou de ombros. – Eu entendo. Sou a melhor amiga do Cobra e de um jeito ou de outro você acaba me ligando a ele.

– É, mas não é só isso. – Jade morde o lábio com culpa. – Acho que nunca gostei muito de você.

– É, eu já tinha percebido, só não sei o porquê.

Jade suspira.

– Você sempre foi legal comigo e me tratou bem, a prova disso é você aqui depois do que eu te fiz. – Jade faz uma pausa e continua: - Mas eu sou ciumenta e você é a melhor amiga do Cobra, a primeira garota a significar alguma coisa pra ele e a única que o conhecia de verdade, a única pra quem ele se abre e desabafa. E eu ainda acredito naquilo que te disse há um milhão atrás, de que talvez você seja a mulher pra mudar o Cobra.

– Eu acho que essa pessoa pode ser você. – Dou de ombros.

– Não. – Jade lamenta. – Eu tentei de verdade ser essa pessoa, Karina, mas eu não sou forte o bastante pra isso.

– Eu acho você muito forte.

– Toda minha força não adianta de nada se não sou valorizada, mas você é, Ka. O Cobra valoriza você e MUITO.

– Jade, eu não sou uma ameaça pra você.

– Não mais. – Ela abaixa a cabeça. – Se você veio aqui me falar do Cobra, perdeu seu tempo.

– Eu não sei se ajuda em alguma coisa, mas ele tá péssimo, acho que ele está realmente apaixonado por você.

– Isso realmente não me importa.

– De todo modo não foi pra falar do Cobra que eu vim até aqui. – Suspiro. – Eu só queria saber como você está.

– Obrigada, é muito legal da sua parte, Ka, mas não precisa se preocupar, eu vou ficar bem.

Ela disse “eu vou”.

Jade suspira e me olha.

– Obrigada, Ka, MESMO.

– É uma bela coleção de CD. – Sorrio e aponto.

Jade olha pra parede orgulhosa.

– Eu tenho todos os CDs do quarteto sagrado do rock brasileiro, todos os do Raul Seixas, Titãs, Os Infernais, Raimundos, Los Hermanos, Ultraje a Rigor, Os Incríveis, Engenheiros do Hawaii, Os Mutantes, Jota Quest, Charlie Brown, Skank, Detonautas, CPM22, Pitty e mais uma pá.

– Eu tô vendo, isso é incrível. – Não controlo minha excitação e sento perto de Jade na cama. – Você tem uma coleção e tanto e só música boa.

– Você é fã de Legião, né? – Ela pergunta sorrindo.

– Eu sou louca por Renato Russo. – Confesso.

Ela pega um dos CDs da estante e me entrega.

– Esse é meu favorito.

– “Dois”. – Sorrio. – Esse é ótimo.

– “Eduardo e Monica” e “Tempo Perdido”, não precisa dizer mais nada. – Jade vibra.

– Adoro gente que curte boa música.

Jade ri.

Pedro bate na porta e a abre.

– E ai, Ka, tá com fome, quer comer alguma coisa? – Ele abre aquele sorriso. – Talvez você queira beber alguma coisa, qualquer coisa pra minha Esquentadinha.

– Não, Pe, eu tô bem, valeu.

– Qualquer coisa é só me chamar. – Ele pisca e sai.

Eu me volto pra Jade e ela está sorrindo.

– Que que tá rolando entre você e o meu irmão?

– Nada.

– Não foi o que pareceu. – Ela ri.

– Seu irmão e eu somos só amigos.

– Tá legal. – Ela arqueia as sobrancelhas.

–X-

Jade e eu conversamos bastante e ironicamente acabamos ficando amigas.

Eu volto pra casa e encontro meu pai, Dandara e meu irmãozinho, que acho que esqueci de dizer que obviamente nasceu, no sofá assistindo a um filme.

– Cadê todo mundo? – Pergunto.

– Olha, acho que o João está com a Vicki e o Henrique no Perfeitão. – Diz Dandara.

– E o Cobra e a Bianca estão no quarto da Bianca. – Completa meu pai.

– Juntos? – Estranho.

– É, juntos. – Meu pai dá de ombros.

– Sozinhos?

– É, Karina, juntos e sozinhos no quarto da Bianca. – Meu pai se irrita.

– E o que eles estão fazendo lá?

– Ah, não sei, estão lá desde que chegaram.

Beijo o topo da cabeça do meu irmão e vou até o quarto de Bianca e assim que abro a porta, encontro ela chorando abraçada a Cobra na cama.

– O que aconteceu? – Pergunto me sentando na cama.

– O Duca terminou com ela. – Responde Cobra.

Bianca chora ainda mais e se agarra a camiseta de Cobra. Ele aperta ainda mais o abraço e acaricia o cabelo dela.

– Relaxa, vai ficar tudo bem. – Ele consola.

Olho pra ele questionando, ele suspira e me diz:

– Ele admitiu que tá apaixonado pela Nat e disse que não pode mais ficar com a Bianca.

Eu assinto e Bianca soluça com a cabeça no peito de Cobra.

– Eu vou falar com ele, não se preocupa, ele vai te pedir desculpas. – Ele promete.

Não sei o que me deixa mais surpresa, o fim definitivo de Duca e Bianca, que tiverem um namoro ioiô por três anos ou o fato de Bianca estar se consolando com Cobra e ele estar dando colo a ela.

Suspiro e abraço Bianca.

Alguém bate na porta e João aparece na abertura. Ele não hesita e entra no quarto, se senta ao meu lado na cama e acaricia o braço de Bianca.

Bianca chora até dormir e nós três permanecemos ao lado dela. Eu durmo no quarto com ela e velo seu sono por um bom tempo, até embarcar em meus próprios sonhos.

–X-

Na manhã seguinte Cobra arrasta Duca até em casa, antes mesmo do café.

Bianca e eu estamos deitadas na cama, quando os dois entram no quarto.

Eu me levanto e paro ao lado de Cobra enquanto Duca se senta ao lado de Bianca. Ele tá com um olho meio avermelhado, o que me faz pensar que Cobra bateu nele.

– Bi, eu sei que te magoei e eu sinto muito de verdade. – Ele começa. – Mas eu não posso mais mentir e dizer que não sinto nada pela Nat, eu tô apaixonado por ela. E não é justo com nenhum de nós ficar com você sabendo disso, você não merece ficar com uma pessoa que não esteja cem por cento com você. Você é uma garota maravilhosa e eu sinto muito por ter te enrolado por todo esse tempo. Você significa MUITO pra mim. Você, minha vó, a Ka, o Cobra e o Gael são a minha família. Eu odeio de verdade ser o causador de tantas lágrimas, mas tem um cara lá fora que vai te fazer muito feliz e eu não posso mais impedir você de encontrar ele. Eu quero que você seja feliz.

– Eu também quero que você seja feliz, Duca. – Bianca diz com a voz marejada. – Mas eu queria que você pudesse ser feliz comigo.

Duca suspira.

– Eu também queria. – Ele acaricia o cabelo dela. – Mas não dá e você tem que seguir em frente agora, eu tô aqui pra me desculpar, mas não vou mais voltar pra você.

Bianca assente e olha pra baixo secando as lágrimas.

– Eu te adoro, Bi.

– Eu também te adoro.

Eles se abraçam e ela chora.

– Me desculpa. – Ele pede.

– Tudo bem. – Ela seca as lágrimas e se separa dele. – Você tem razão, não dava pra gente continuar do jeito que tava. E de verdade, Du, eu desejo que você e a Nat sejam felizes.

– Valeu, Bi. – Duca sorri. – E eu desejo que você seja feliz com quem quer que você escolha.

Eles se abraçam de novo e Cobra e eu sorrimos.

Bianca olha pra Cobra e sussurra:

– Obrigada.

Cobra assente.

Eu puxo a camiseta dele e aponto pra porta, nós saímos.

– Você bateu no Duca?

– Ah, ele é meu parceiro, mas ela é minha irmã. – Ele suspira. – Eu precisava fazer isso, ele entendeu.

Assinto rindo.

Nós tomamos café e depois vamos pra academia.

Quando a Nat chega, vem direto na minha direção pra treinarmos juntas.

– E ai. – Ela sorri.

– E ai. – Sorrio de volta.

– E como tá o Cobra hoje? – Ela pergunta.

– Como sempre, pelo menos agora ele arranjou alguma coisa pra se distrair além da Jade.

– Ah é. – Estranha Nat. – O que?

– Essa história do Duca e a Bianca.

– Que história do Duca e a Bianca?

– Ei, Marrenta. – Duca chama por Nat do ringue.

– O que? – Questiona ela.

– Sobe aqui. – Ele sorri.

– Por quê?

– Porque eu tô chamando, anda logo.

Nat estranha, mas vai até o ringue.

Cobra e eu vamos para perto de Bianca. Todo mundo na academia parou para assistir.

Duca e Nat começam a lutar e ele faz sua declaração em meio aos socos:

– Então, já tá sabendo que eu e a Bianca terminamos? – Ele ataca.

– Não tô sabendo de nada. – Ela defende.

– A gente terminou ontem. – Ela ataca de novo.

– E por quê? – Ela se esquiva e ataca.

– Não consegue imaginar? – Ele defende.

– Ai, Duca, você e a Bianca vivem terminando e voltando, eu nem tento acompanhar os motivos de vocês. – Ela ataca várias vezes.

– É, mas dessa vez é definitivo. – Ele se defende.

– Ah é, por quê? – Ela ataca de novo.

– Eu terminei com a Bianca por sua causa. – Ele defende.

Nat para de atacar e olha pra ele chocada.

– Que que eu tenho haver com isso?

– Eu te amo, Marrenta, por isso.

Nat fica calada com a surpresa e todos na academia começam com comentários causando o maior burburinho. Eu seguro a mão de Bianca, ela suspira.

– Olha, você fica bonitinha calada. – Duca ri.

– Como assim? Do que você tá falando?

– Que você fica bonitinha quando não fala nada.

– Cala boca, seu idiota, você entendeu o que eu quis dizer.

– Eu quis dizer que te amo, Nat. – Duca abre os braços e suspira. – Eu tô louco por você e eu quero ficar com você, pra valer, é de verdade dessa vez, eu até me arrisco a dizer que é pro resto da minha vida. Isso se você me quiser, é claro.

– E o que te faz pensar que eu quero?

Duca sorri malicioso.

– Você é um idiota, sabia? – Ela se irrita. – Enrola a coitada da Bianca por anos, me passa a perna, daí chega aqui e se declara pra mim na frente de todo mundo e abre esse seu sorriso cafajeste e acha que eu vou cair aos seus pés? Você é um tremendo de um otário, Duca.

– Eu sei. – Ele assente. – Mas você gosta mesmo assim.

Nat sorri maliciosa.

– É, até que eu gosto.

Duca ri e a puxa pra si. Ele a beija e toda a academia aplaude.

– O que que tá pegando aqui? – Pergunta Henrique parando ao lado de Bianca.

– O Duca e a Nat tão namorando. – Bianca lamenta.

– Vocês terminaram? – Surpreende-se ele.

Bianca assente.

– Eu queria dizer que sinto muito, mas aí seria mentira. – Henrique brinca.

Bianca abre um sorriso fraco.

– Acho que ele é um idiota. – Continua Henrique. – Ele tinha a garota perfeita, se eu tivesse você, nunca a deixaria ir.

Bianca sorri e cora, Henrique sorri, pisca e depois vai embora.

– Iou. – Meu pai bate palma. – Chega agora, já deixei fazer o seu showzinho, agora todo mundo de volta pro treino, tão pensando que vão me enrolar? Quer me enganar, me dá jujuba.

Todos rimos e Duca e Nat descem do ringue e se aproximam de nós.

– Bianca, eu só quero que você saiba que eu nunca tive nada contra você. – Diz Nat. – Você é irmã da Karina, que é a minha melhor amiga, e eu te respeito muito, nunca te desejei mal.

Bianca assente.

– De verdade, Nat, eu desejo toda a sorte do mundo pra vocês dois. – Bianca sorri.

– Obrigada. – Nat agradece.

– Fiquei sabendo que teve luta com pegação, verdade? – João se aproxima de nós.

– Verdade. – Assente Duca. – E agora a Bianca está livre pra você conquistá-la.

João pensa por um minuto e diz:

– Bem, eu sempre vou ser meio apaixonado por você, Bianquinha e é realmente tentador a ideia de correr atrás de você agora, mas acho que nós dois vamos concordar que tentamos uma vez e não deu certo. Então acho que o melhor que eu tenho que fazer é amadurecer e encarar a realidade que a minha fantasia com você é só isso, uma fantasia e me arrastar pra Vicki pedindo perdão pra ver se consigo ficar com ela.

Bianca pensa por um minuto e diz:

– Acho digno, João.

Todos rimos e Duca diz:

– Quem diria, nosso Johnny amadurecendo.

– Foi isso mesmo o que eu ouvi, Brasil? – Sol e Wallace se aproximam. – O João amadureceu, desistiu da Bianca e o Duca assumiu a Nat?

– Isso mesmo, Sol. – Confirma Cobra.

– Olha só, tamo crescendo. – Brinca Wallace.

Nós rimos outra vez.

Meu celular toca e eu vejo o nome Jade na tela.

– Oi, Jade. – Eu atendo e me afasto de Cobra que me olha intrigado.

– E ai, Legionária. – Ela ri.

– Fala, Baronista. – Eu brinco.

– Tá aí, acho que eu sou mesmo baronista, gostei, cunhadinha.

– “Cunhadinha”? – Rio. – Pensei que tivesse acabado pra você e o meu irmão.

– E acabou, eu só acho que não seria tão ruim se o meu irmão namorasse com você.

– Não se anima muito, tá?

– Tá, mas deixa eu dizer a razão de ter ligado.

– Estou esperando.

– Neste final de semana, vai ter um festival de música na praia e eu vou com o pessoal e quero saber se você tá afim de ir? Acho que você vai gostar, porque vai ser uma homenagem a história do rock brasileiro, então vão tocar muitas músicas do quarteto sagrado.

– Nossa, parece incrível mesmo. – Vibro.

– E o meu irmão vai.

Eu rio.

– Então você vai? – Ela pergunta com expectativa.

– Vou. – Rio de novo.

– Eeeeeeeeee. – Ela comemora. – A gente vai sair às nove horas no sábado. Encontra a gente na frente da minha casa, a gente vai no carro do Henrique.

– Tá bom.

– Mas olha o convite não se estende ao seu melhor amigo.

– Tá, saquei.

– Então até mais, cunhadinha.

– Tchau, Jade. – Eu rio e desligo o celular.

Quando me viro, dou de cara com Cobra me encarando com os braços cruzados.

– O que você tava falando com a Jade? – Ele questiona.

Eu suspiro.

– Você vai saber de qualquer jeito, então é melhor que seja por mim. – Faço uma pausa antes de continuar: - A Jade me chamou pra ir com ela e os amigos em um festival de música este final de semana e eu topei.

– Vocês são amiguinhas agora? – Ele se irritou.

– Nada a ver, Cobra, ela só me convidou porque sabe que eu sou fã de Legião Urbana.

– E daí? O Renato Russo vai ressuscitar e fazer um show?

– Para de ser ridículo, vão ter covers, é claro. E eu não te devo explicações não, mané. E se eu quiser ficar amiga da Jade, qual o problema?

– Você teve um ano pra isso e resolve ficar amiga dela agora que a gente terminou? Que espécie de melhor amiga é você?

– Eu não planejei nada, Cobra, aconteceu. – Eu me defendo. – Eu procurei a Jade pra falar de você e nós acabamos nos entendendo.

– Você não tinha nada que ter ido falar de mim, já disse que eu e a Jade nos entendemos, você não precisa ficar de conversinha com ela pelas minhas costas.

– Tá, Cobra, eu só queria ajudar, mas acho que eu estava equivocada, me desculpa.

Ele me olha com raiva, mas suspira e baixa a guarda.

– Tá, desculpa, eu não devia ter falado assim com você.

– Tudo bem. – Dou de ombros.

– Iou. – Meu pai para do nosso lado. – Tão pensando que isso aqui é o que? Voltem pro treino agora.

Eu viro os olhos e Cobra e eu nos separamos e voltamos para o treino.

– Quer moleza? Mastiga água.

–X-

No sábado, eu encontro Jade e os outros na frente da casa dela. Ela e os outros estão dançando e rindo.

– Kaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. – Ela grita quando me vê.

Ela está usando a camiseta do Barão Vermelho.

– Bela camiseta. – Elogio.

Ela olha pra baixo e sorri.

– Era do Pedro, mas eu roubei, como você já sabe, sou obcecada por Cazuza. – Ela aumenta o sorriso. – Olha, não liga, mas a gente vai ter que dar uma apertada, porque a gente ia no carro do Henrique, mas ele vai sair com a sua irmã hoje e pulou fora, daí a gente vai no carro do Lírio, que é um pouco menor, mas você pode ir no colo do Pedro.

– Pode mesmo. – Pedro sorri.

Eu rio e coro.

– Então vamos, galera? – Chama Lírio. – Já que já está todo mundo aqui.

– Vamos sim. – Diz Vicki.

– Eu vou na frente. – Anuncia Joaquina.

– Não, não, não, Jo, a Jade vai na frente. – Lírio segura Joaquina e a empurra pro banco de trás.

– Mas, mas, mas... – Joaquina protesta.

– O Lírio é tipo afinzaço da minha irmã desde que a gente se mudou. – Pedro cochicha a explicação pra mim.

Eu fico surpresa, é uma coisa que eu não sabia.

No fim Jade realmente acaba indo na frente com Lírio e vou no colo de Pedro, dividindo o banco de trás com Vicki e Joaquina.

No festival fico ao lado de Jade e de Pedro e curto muito as músicas dos meus ídolos tocadas por excelentes músicos.

Depois Jade e eu saímos pra tomar alguma coisa e nos sentamos em uma mesa do lado de fora de um barzinho.

– E ai, tá curtindo? – Ela pergunta.

– Muito. – Eu sorrio. – E você?

– Também, fazia tempo que eu não me divertia assim. Aliás, acho que faz tempo que eu não sorrio de verdade.

– O Cobra fez um estrago, não é?

– “E o meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria”. – Ela suspira. – “Ah meu Deus era tudo o que eu queria”.

– É, os nossos heróis sabiam o que diziam. – Lamento. – E infelizmente “morreram de overdose”.

Jade ri.

– Os nossos no caso morreram de AIDS. – Completa ela.

– É. – Concordo. – Jade, eu sei que não tem defesa e não vou tentar justificar as atitudes de Cobra, também não vou te pedir pra perdoar ele e voltar, porque eu sei que seria muito humilhante pra você, mas tenta não se torturar com a ideia de nunca ter sido correspondida. O Cobra amou você, ama. Mas se não dá pra dar certo entre vocês, o melhor é superar, mas vai sem essa bagagem. Você é ótima, Jade, um cara teria que ser louco pra não amar você, ele amava.

– Valeu, Ka. – Jade sorri com alivio.

– E ai, princesa, sumiu. – Lírio se aproxima de nós.

– Eu tava aqui tomando um refrigerante com a minha amiga, Karina. – Diz Jade.

– Então que tal ir até lá dançar comigo agora. – Ele pisca.

Jade hesita por um segundo e depois diz:

– Quer saber, por que não? Dá licença, Ka.

– Tá, vai lá. – Sorrio.

Jade segura a mão de Lírio e os dois saem juntos.

Acho que sem querer disse a Jade o que ela precisa ouvir pra deixar o Cobra pra trás.

Eu não fiz de propósito, eu realmente me tornei uma shipper de Cobrade, mas não podia ficar calada deixando a Jade sofrer.

Por um lado foi bom ela ter resolvido superar, assim os dois paravam de sofrer. Mas por outro lado foi ruim, assim eles nunca ficariam juntos de novo.

– E ai, Esquentadinha. – Pedro se senta no lugar de Jade.

– E ai, Pe. – Suspiro.

– Tudo bem? – Ele se preocupa.

– Acho que acabei de fazer besteira. – Confesso.

– Que foi?

– Acho que convenci a sua irmã a esquecer o Cobra.

– E isso é ruim por quê?

– Você não entende, Pedro, e eu entendo você não entender, porque a Jade é a sua irmã e você a viu sofrer por esse cara, mas o Cobra é o MEU irmão e eu sei que ele ama a Jade e ele nunca amou ninguém antes e nem sei se vai amar de novo um dia. E se a Jade desistir dele, eles não vão ficar juntos de novo e ele nunca mais vai amar outra pessoa.

– Tá, daí você quer que a MINHA irmã fique sofrendo por ele o resto da vida?

– Não. – Suspiro.

– E relaxa, Ka, você não tem como saber que o Cobra nunca mais vai achar outra pessoa.

– É. – Eu minto, porque no fundo eu sei.

Pedro sorri pra mim e eu tento sorrir de volta, então ele me puxa de volta pro show.

–X-

Quando chego em casa, Cobra está me esperando no meu quarto, deitado na minha cama.

– Ué, o que você está fazendo aqui? Não foi pra balada? Não saiu com ninguém? – Pergunto.

– Tava te esperando. – Ele responde com raiva e se senta na cama. – E então se divertiu?

– Sim e muito. – Assinto.

– É, eu vi umas fotos suas e da minha ex no Facebook.

– E você tava stalkeando a mim ou a ela?

– Você. – Ele admite envergonhado. – Ela me bloqueou.

Prendo o riso.

– Qual é, Ka?

– Desculpa, Cobra, mas você queria que eu mentisse? Foi divertido, pô.

– E o que rolou?

Suspiro.

– Preciso te contar uma coisa. – Hesito e me sento ao seu lado na cama. – A Jade e o Lírio ficaram e acho que vão ficar de novo, o Pedro me disse que o Lírio é mó a fim da Jade desde que eles se mudaram.

Eu consigo ver a raiva ferver dentro de Cobra. Ele começa a ficar vermelho e prende a respiração.

Eu procurei em outros corpos encontrar você
Eu procurei um bom motivo pra não, pra não falar
Procurei me manter afastado
Mas você me conhece eu faço tudo errado, tudo errado

Fim de semana, eu sei lá, vou viajar
Vou me embalar, vou dar uma festa
Eu vou tocar um puteiro
Eu vou te esquecer, nem que for

Só por uma noite
Só por uma noite
Só por uma noite
Só por uma noite

Mas só de ouvir a sua voz
Eu já me sinto bem
Mas se é difícil pra você tudo bem
Muita gente se diverte com o que tem

Cobra saí do meu quarto batendo a porta como um furacão e eu fico sentada na cama assustada.

Eu hesito por um momento e depois vou atrás dele. Eu entro no quarto dele e ele está tirando a camisa e escolhendo outra no guarda-roupa.

Eu procurei abrir os olhos e enxergar você
Eu procurei um bom motivo pra não, pra não estar lá
Eu procurei me manter afastado
Mas você me conhece eu faço tudo errado, tudo errado

Fim de semana, eu sei lá vou viajar
Vou me embalar, vou dar uma festa
Eu vou tocar um puteiro
Eu vou te esquecer, nem que for

Só por uma noite

– O que você vai fazer? – Pergunto hesitante.

– SEI LÁ, KARINA. – Ele grita. – Eu vou pra balada, vou ver o Duca, vou comer alguém, sei lá, sair de casa, passar a semana fora, TOCAR O PUTEIRO, não interessa, MAS EU VOU ESQUECER AQUELA VADIA.

– Nem que for só por uma noite, né, Cobra?

Ele suspira e começa a se acalmar aos poucos.

Se diverte com o que tem
Só por uma noite

Cobra se senta na cama, eu suspiro e me sento ao lado dele.

– Você pode realmente culpá-la por tentar seguir em frente?

– Não. – Ele admite.

– Ela te amou como nenhuma outra jamais amou, Cobra, mas você não soube amá-la de volta. Agora ela quer alguém que possa amá-la também, se você não pode ser essa pessoa, deixa ela ir, Cobra, e encontre alguém que queira só se divertir assim como você.

Ele assente e suspira.

– Eu vou sair, vou ver se o Duca e a Nat não tão a fim de ir pra uma festa ou coisa assim.

Ele levanta e saí antes que eu possa dizer qualquer coisa.

–X-

O Cobra não aparece em casa durante o resto do final de semana e só vou vê-lo no café da manhã de segunda-feira.

Depois disso estou de boa na academia treinando com a Nat.

– Alguém aí viu o Cobra? – Questiona meu pai.

Todos negam. Ele desapareceu há um tempo.

Eu e Nat nos entreolhamos e depois olhamos para Duca, ele nos vê e dá de ombros, damos de ombro também e voltamos a treinar quando a Bianca aparece correndo no topo da escada.

– Karina, sobe aqui rápido. – Ela diz e sai correndo de volta pra Ribalta.

Todos olham pra mim e sem entender, eu subo as escadas. Algumas pessoas me seguem, entre elas meu pai, Duca e Nat.

Assim que termino de subir as escadas, ouço os gritos de Jade.

Imediatamente entendo o que está acontecendo e corro na direção dos gritos.

– VOCÊ SEMPRE FICA FALANDO DOS ERROS QUE EU COMETI, MAS NUNCA FALA DOS SEUS. ACHA QUE NÃO COMETEU NENHUM? – Cobra grita.

– EU NÃO ESTOU ME ISENTANDO DE ERROS. – Jade grita de volta, ela está chorando. – A culpa foi toda minha, porque eu sabia onde eu tava me metendo. Eu sabia que você era a maior definição de problema que eu já tinha conhecido, mas eu quis ficar com você assim mesmo. Eu passei por tudo aquilo, por minha culpa, mas eu fiz tudo o que eu fiz por amor.

Eles estão parados no meio de uma das salas da Ribalta, com vários alunos ao redor deles assistindo a cena. Pedro e Vicki estão parados perto de Jade, mas ninguém, além de Bianca e da Ruiva, se atreve a chegar perto de Cobra.

– Eu amei você mais do que qualquer um no mundo, mas EU CANSEI. – Jade chora. – Eu cansei de mendigar amor, mendigar carinho, mendigar um pouquinho de atenção.

Jade soluça e Cobra se aproxima dela hesitante. Eu vou até Cobra e Duca me acompanha. Cobra estende o braço na direção de Jade.

– Jade...

– Não. – Ela empurra o braço dele e começa a lhe estapear o peito. – Não chega perto de mim, eu te odeio.

– Jade, não. – Diz Cobra.

Jade continua batendo nele e Cobra permite.

– Eu odeio você, EU ODEIO VOCÊ. Fica longe de mim, eu odeio você.

– Jade. – Lamenta Cobra.

– Tá bom, Jade, já chega. – Pedro segura a irmã e a afasta de Cobra.

– EU ODEIO VOCÊ. – Ela grita nos braços do irmão.

– Jade... – Cobra implora.

– Tá legal, Cobra, já deu. – Eu seguro o braço dele. – Acabou, tá bom? Vamos.

Eu puxo Cobra de leve e ele não se move, então empurro o peito dele para trás e ele se mexe devagar. Puxo o braço dele e o tiro dali.

– O que você tava pensando? – Pergunto. – O que você pretendia, Cobra?

Mas ele não olha pra mim. Ele continua olhando pra dentro da sala, pra onde deixou Jade.

– COBRA.

Ele finalmente me olha e dá de ombros.

– EU NÃO SEI, KARINA.

– Mas o que acabou de acontecer aqui? – Meu pai se aproxima com Duca e Nat.

Duca olha pra Cobra e eu e coloca a mão no braço do meu pai.

– Mestre, a gente deixou os lutadores todos sozinhos lá em baixo, sem qualquer supervisão. – Ele diz olhando pra Cobra. – Vamos descer e depois a gente te explica tudo.

Meu pai se irrita, mas deixa Duca o arrastar pra academia e Nat vai com eles.

– Então, Cobra, quer me explicar o que aconteceu?

– Eu só precisava ouvir da boca dela, tá?

– Ouvir o que, Cobra?

Cobra suspira e sai sem responder.

Eu o sigo.

– Ouvir o que, Cobra? – Repito.

Ele se vira pra mim.

– Que ela me superou, tá? – Ele se irrita. – Que ela já não me ama mais, que me esqueceu e que tem outra pessoa.

– E?

– E ela disse. – Ele suspira. – Eu sempre soube que o Lírio era a fim dela, mas desde que ela me amasse, não importava. Mas agora ela tá com ele, ela olhou nos meus olhos e disse que me odiava.

Minha vontade é perguntar: “E você acreditou?”, mas ao invés disso, eu digo:

– E você tá feliz agora? Era ISSO o que você queria?

– Não. – Ele confessa. – Não era isso o que eu queria.

Suspiro.

– E o que era, Cobra?

– Eu não sei, Ka, sinceramente, eu não sei. Mas não era a Jade sofrendo, gritando pra quem quisesse ouvir que me odiava e ficando com outro cara.

– Você ama essa garota, Cobra, faça alguma coisa.

– Fazer o que, Karina? – Ele questiona. – Ela já me deixou, ela já tá com outra pessoa. Acabou pra nós.

– Então é isso?

– É, é isso. – Ele suspira. – Eu só precisava ouvir da boca dela que acabou pra esquecer ela também.

– Cobra. – Eu lamento.

Eu estendo minha mão pra ele, mas Cobra sai e me deixa sozinha.

Eu tento segui-lo, mas ele entra no banheiro masculino. Eu suspiro e me viro dando de cara com Duca.

– Deixa que eu falo com ele.

– Valeu.

Duca entra no banheiro atrás de Cobra e eu suspiro.

Então, sem muito ânimo pra voltar ao treino e muito preocupada com Cobra, eu entro no banheiro feminino e encontro com Jade chorando desesperadamente em frente ao espelho.

– Jade. – Chamo hesitante.

Ela se vira pra mim e então vem na minha direção e me abraça. Eu a abraço de volta e a deixo chorar por algum tempo.

Então me separo de Jade e tento secar suas lágrimas, mas ela continua chorando incessantemente, então aperto um pouco seus braços e acaricio o seu cabelo.

– Espera aqui um pouco. – Peço.

Ela assente chorando e eu saio do banheiro.

Subo as escadas correndo e entro na sala da Ribalta.

Vicki e João estão abraçados conversando com Pedro, Henrique, Lírio, Joaquina, Bianca e Ruiva.

– Foi muito chato mesmo. – Comenta Ruiva.

– Eu achei incrivelmente romântico. – Joaquina vibra.

– Que romântico, Jo? – Vicki se exalta. – O cara foi um troglodita.

– Ei. – Bianca intervém. – Vamos com calma, ele pode ter sido um cretino, mas ainda é meu irmão.

– É, Bi, mas ele tá magoando a MINHA irmã. – Lembra Pedro.

– Eu sei, Pe, mas ele só fez isso porque tá muito apaixonado por ela. – Garante Bianca.

– Belo jeito de demonstrar. – Reclama Vicki.

– Eu consegui ver a demonstração. – Joaquina se empolga. – O modo como ele chegou tão másculo e...

– Tá bom, Jo, nós já entendemos. – Interrompe Lírio.

– Eu queria que alguém fizesse isso por mim. – Joaquina comenta.

– Mas ninguém vai fazer isso por você, Jo, aceita que dói menos. – Zomba Lírio.

– É, e nem tem que fazer. – Diz Ruiva. – O que o Cobra fez foi uma grande demonstração de agressividade e machismo, a Jade não tinha que passar por aquilo, ela fez bem em terminar com ele. Eu nunca ia permitir que um cara fizesse isso comigo.

– Mas você é uma garota em um milhão, né, Ruiva. – Elogia Lírio. – Você é linda, inteligente, divertida, politizada, pra um cara ficar com você, ele tem que merecer.

– Obrigada, Lírio. – Ruiva sorri constrangida e com surpresa.

Ele sorri de volta.

– Gente, sério, por favor, vamos parar de falar mal do meu irmão. – Pede Bianca.

– Ah você vai defender ele agora, Bi? – Questiona Ruiva.

– É que vocês não conhecem o Cobra. – Defende Bianca. – Ele é assim, mas ele AMA a Jade de verdade. Ele sofreu muito quando ela terminou com ele.

– A Bianquinha tá certa. – João se pronuncia. – Vocês não moram com o Cobra, não sabem como é, mas ele tá arrasado de verdade, devastado.

Eu me aproximo e todos param de falar e me olham.

– Vicki, posso falar com você um minuto? – Peço.

– Claro, Ka. – Ela concorda e se solta dos braços de João.

Nós saímos e eu me volto pra ela.

– É a Jade. – Digo.

– Você achou ela? – Preocupa-se Vicki. – Procurei por toda Ribalta.

– Ela não tá na Ribalta, tá no banheiro lá da academia.

– Me leva lá então. – Pede Vicki.

Eu assinto e a levo até o banheiro. Quando entramos, encontramos Jade sentada no banheiro chorando horrores.

Vicki se senta ao lado de Jade e passa o braço ao redor dela. Jade olha pra ela e deita a cabeça no ombro da amiga. Vicki a abraça e a deixa chorar.

– Eu assumo daqui, Ka, brigada. – Vicki diz.

Eu assinto e saio do banheiro. Deixo a Jade com a melhor amiga dela e vou atrás do meu melhor amigo.

Bato na porta do banheiro masculino.

– Tá ocupado. – Diz Duca.

– Sou eu. – Respondo.

Duca abre a porta.

– Eu só quero saber como ele tá. – Dou de ombros. – Falar com ele se der.

Duca olha ao redor e depois me deixa entrar. Eu entro e Duca tranca a porta.

Cobra está sentado no chão abraçado as pernas com uma cara de derrota de dar dó.

Eu me sento ao lado dele.

– Não diz nada, Ka. – Ele pede com a voz embargada.

– Eu não ia dizer. – Garanto. – Só ia te abraçar.

Eu passo o braço ao redor dele e o puxo pra perto de mim, ele deita a cabeça no meu ombro sem soltar as pernas.

Duca se senta de frente a nós, segura o braço de Cobra com companheirismo e suspira.

– Eu a perdi. – Cobra se dá conta.

– É, perdeu. – Eu concordo com pesar.

– E a culpa foi toda minha. – Ele percebe.

– É, foi. – Duca suspira.

Cobra deixa algumas lágrimas escaparem, mas não diz mais nada.

Duca e eu ficamos com ele até que ele consegue se recompor.

–X-

Um mês se passa e pela primeira vez tudo parece estar QUASE nos conformes.

Os meninos estão se preparando pro Warriors, Duca e Cobra são as grandes apostas masculinas e Nat a maior feminina. Já eu, meu pai diz que ainda não estou pronta, que tenho que esperar. Eu não fiquei feliz com isso, mas aceitei a decisão dele.

O pessoal da Ribalta tá organizando outra apresentação, dessa vez uma de dança, O Lago dos Cisnes. Obviamente Jade é a protagonista.

Ela foi contratada por uma companhia de dança e ainda arranjou uma nova paixão, enfermagem, pra quando ela não puder ser mais dançarina. Ela e eu nos tornamos grandes amigas e minha amizade com o Cobra ficou inabalável.

Bianca acabou arranjando vários serviços de modelo fotográfica e de atriz de comercial e agora está numa novela. A carreira dela nunca esteve tão agitada.

O João acabou se agarrando a veia cômica dele e virou comediante, até foi contratado por uma companhia de comédia.

O Pedro, a Sol, a Vicki e o resto do pessoal estão fazendo o maior sucesso com a Galera da Ribalta. Eles estão abrindo shows no Brasil todo pra bandas incríveis.

Meu pai e Dandara se dividem entre trabalhar, tomar conta/sufocar os filhos e babar pelo novo lutador/artista da família.

Sobre os casais, estavam quase todos nos eixos. A Sol e o novo “segurança” dela, Wallace, estavam de casamento marcado, assim como o Jeff e a Mari. Duca e Nat estavam bem firmes e acho que logo eles se casam também. O João e a Vicki assumiram o namoro e são um dos casais favoritos da mídia, o comediante e a cantora. Assim como Bianca e Henrique, que também começaram a namorar e até estão fazendo par romântico na novela. Eles têm uma legião de fãs que shippam o casal na ficção e na realidade. Minha irmã nunca esteve tão feliz, e acho que boa parte disso se deve ao Paulista. Até o Zé e o Marcão se arranjaram. O Zé tá com a Guta e o Marcão com a Fabí. A Jade acabou dispensando o Lírio, ela percebeu que ainda não tava pronta pra outra pessoa. O Lírio tá ficando com a Ruiva, por mais que eu ache isso estranho e surpreendente.

Os únicos casais que ainda não se resolveram somos o Pedro e eu e o Cobra e a Jade.

O Pedro e eu, honestamente, acredito que é uma questão de tempo. Ele continua investindo em mim e eu gosto dele também.

Já o Cobra e a Jade é um caso complicado. Ele voltou pra vida de pegador e cada semana sai com uma garota diferente. Enquanto a Jade tá começando a sair com um cara chamado Thawik.

E precisou tudo isso acontecer pro Cobra entrar no meu quarto, sentar na minha cama e me dizer:

– Eu brochei ontem à noite.

– Cobra, eu sei que eu sou a sua melhor amiga, mas esse não é o tipo de conversa que você devia ter com o Duca?

– Eu nunca tinha brochado antes da Jade. – Ele continua como se eu não tivesse dito nada. – E eu não consegui ficar com nenhuma garota depois que a gente terminou.

– E o que isso quer dizer? – Pergunto.

– Quer dizer que você tinha razão.

– Sobre?

– Eu tô apaixonado pela Jade.

Eu abro a boca tentando dizer alguma coisa, mas não consigo pensar em nada.

– Eu preciso dela de volta. Eu amo aquela garota e eu nunca amei ninguém. Acha que eu consigo ela de volta?

– Eu vou ser honesta, Cobra, não vai ser fácil. – Jogo a real. – Ela não vai se convencer por qualquer pedido de desculpas, você precisa provar que REALMENTE a ama. Ela tá muito magoada, mas ela ainda ama você, você pode tê-la de volta, mas vai precisar de alguma coisa GRANDE.

Cobra assente.

– Eu pensei em uma coisa, mas vou precisar de ajuda. Você me ajuda?

– Se você prometer não machucar mais a Jade.

– Eu prometo que nunca mais vou machucar a Jade de propósito. – Ele é sincero. – Mas vou precisar de ajuda.

– Tá, eu te ajudo. – Concordo.

Cobra assente.

– Mas eu vou precisar de mais ajuda.

– Tá, a gente pede pro Duca, a Nat, o João, a Sol e o Wallace, acho que até a Bianca topa.

Cobra faz careta.

– Só que eu vou precisar de mais ajuda do que isso.

– O quanto mais? – Estranho.

– Muito mais.

Olho para Cobra intrigada.

–X-

Eu tô em cima do palco da Ribalta e todos os alunos dela e da academia tão sentados olhando pra mim com curiosidade esperando o que tenho pra dizer.

– Olha, gente, eu chamei vocês aqui, porque tem alguém que precisa MUITO da ajuda de vocês. – Eu explico. – E eu queria pedir pra vocês pensarem com carinho antes tomarem uma decisão.

Todos estranham e eu faço sinal para Cobra.

Ele sobe no palco e fica ao meu lado. Faço menção de sair, mas ele me impede segurando meu braço. Então permaneço ali, porque sei que ele vai precisar de todo o apoio possível, ele vai precisar de mim.

– A Ka chamou vocês aqui, porque eu pedi. – Ele começa hesitante. – Eu sei que boa parte de vocês não gosta de mim.

– Se sabe, então por que chamou a gente aqui? – Questiona Rico.

– Eu chamei, porque preciso de um favor.

Começam protestos de todo o auditório.

– EI. – Grita Bianca. – Gente, deixa ele falar.

Todos ficam em silêncio.

– Continua, Cobra. – Bianca incentiva.

– Valeu, Bi. – Cobra agradece. – Olha, eu sei que vocês não gostam de mim, mas quem não gosta de mim, pelo menos gosta da Jade, bem, alguns gostam. Enfim, mesmo não gostando de mim ou da Jade, vocês precisam me ajudar, porque pelo menos, acreditam no amor.

– Do que você tá falando, Cobra? – Estranha Ruiva.

– Eu quero voltar pra Jade. – Confessa Cobra. – Eu preciso reconquistar ela, mas pra isso preciso da ajuda de vocês.

– E por que a gente te ajudaria a reconquistar a minha irmã? – Indaga Pedro.

– É. – Concorda Vicki. – Você magoou muito a minha amiga.

– Eu sei. – Admite Cobra. – Mas eu AMO a Jade.

Há um minuto de silêncio em que todos tentam digerir a informação.

– Eu sei que é difícil de acreditar. – Diz Cobra. – Eu sei que eu não agi direito com ela, que eu magoei a Jade, a fiz sofrer, que eu fui um cretino e um perfeito idiota. – Ele suspira. – Mas eu AMO a Jade, eu a amo de verdade, mais do que qualquer um no mundo e eu nunca amei ninguém antes, mas eu sou completamente apaixonado por ela.

Ninguém diz nada. Cobra suspira, então tomo a palavra:

– Gente, eu sei que é difícil aceitar, eu sei que o Cobra nunca foi um cara muito legal e que a Jade é arrogante, então muitos de vocês não têm motivos pra gostar de qualquer um dos dois, então por que teriam motivos PRA AJUDAR os dois? Mas o que o Cobra tá querendo dizer é que a Jade é a mulher da vida dele, ele só vai ser feliz com ela. O Cobra AMA a Jade e ela o ama também. Então vocês vão deixar de ajudá-los, de dar uma força pro amor verdadeiro porque o Cobra é meio escroto?

Todos pensam por um minuto.

– Tá. – Pedro se pronuncia novamente. – Vamos supor, SUPOR, que a gente tope ajudar você. Quem garante que você não vai dar uma de idiota e magoar minha irmã de novo?

– Eu entendo completamente sua hesitação, Pedro. – Diz Cobra. – Mas eu juro pra você que eu mudei. Eu amo a sua irmã e tudo o que eu quero é fazê-la feliz. Depois que você ouvir a minha ideia você vai ver que estou falando a verdade. – Cobra faz uma pausa e continua: - Eu juro que nunca mais vou machucar a sua irmã de novo, não de propósito.

Há mais um minuto de silêncio e eu retomo a palavra:

– Então, quem está com a gente?

Duca imediatamente levanta a mão, eu não esperava outra coisa dele, Nat, João, Sol e Wallace o acompanham. Bianca levanta a mão logo em seguida, depois há um minuto de hesitação. Então para a surpresa de todos, Pedro levanta mão, eu sorrio, Cobra sorri também. Vicki levanta a mão e depois dela, Joaquina e aos poucos todos os lutadores concordam e depois vários alunos da Ribalta também, entre eles, Henrique, Mari e Jeff e por fim, para a minha surpresa, Ruiva e Lírio.

Olho para Cobra e sorrio, ele sorri pra mim.

Então ele se volta para os outros e diz:

– Então o plano é o seguinte...

–X-

É a noite da estreia da peça de Jade. Todos já estão prontos e apostos.

Estou do lado de fora do teatro ajeitando a roupa de Cobra. Ele está muito nervoso.

– Relaxa, vai dar tudo certo. – Digo.

– E se a gente fizer tudo isso e ela ainda assim não voltar pra mim?

– Ela vai, ela te ama.

– E ai. – Duca se aproxima com Nat. – Tá pronto?

– Não, eu preciso falar com o Pedro. – Diz Cobra. – Preciso ver se está tudo certo. Você falou com ele?

– Não. – Respondo. – Mas vou lá com você.

– Então vamos. – Ele me puxa.

– Ei, calma. – Chama Nat. – Não esquece as flores.

Nat pega as flores em cima da cadeira e entrega a ele.

– Valeu. – Ele pega as flores correndo e sai.

Nós encontramos Pedro no teatro e vamos direto a ele.

– Tá tudo pronto? – Cobra pergunta sem rodeios.

– Desculpa, ele tá um pouco ansioso. – Digo.

– Tudo bem. – Pedro ri. – Tá tudo pronto sim, cunhado. Não tem com o que se preocupar já tá tudo nos trinques e quando esta noite tiver terminado, minha irmã vai ser sua namorada de novo.

– Valeu mesmo, Pe. – Cobra coloca a mão no ombro de Pedro e depois volta-se pra mim: - Vamos sentar então?

– Tá, vai indo que eu já vou. – Respondo.

Cobra olha pra mim e depois pra Pedro e então pra mim de novo e sorri.

– Tá. – Ele ri. – Até depois então.

Ele sai e Pedro e eu ficamos sozinhos.

– Ele tá nervoso mesmo, hein? – Pedro ri.

– É. – Eu sorrio nervosa.

Eu percebo que tudo o que eu podia fazer por Cobra e Jade, eu já fiz, agora é com eles. Então se dependia unicamente de Cobra e Jade se acertar e não estava mais nas minhas mãos, eu só podia seguir com a minha vida. Agora Pedro e eu também estava unicamente nas nossas mãos. Eu ajudei Cobra e Jade e eles me deram o apoio deles, agora dependia de mim.

– Por que você tá me olhando desse jeito? – Pedro sorri.

– Eu só tô pensando que agora que eu ajudei o Cobra com a namorada dele, eu posso pensar em conseguir um namorado pra mim.

– Ah é? – Pedro aumenta seu sorriso.

– É. – Eu digo.

Então tomo a atitude mais corajosa que já tomei em toda a minha vida e beijo Pedro. Ele se assusta, mas logo me beija de volta.

– Tá, isso foi incrível. – Diz Pedro quando nos separamos.

– É. – Concordo.

– Então, o que isso significa? – Pedro pergunta sorrindo.

– Você me procura depois da apresentação e me diz. – Eu sorrio e saio.

Eu me sento ao lado de Cobra que bate o pé nervoso.

– Tá pronto? – Pergunta meu pai.

Cobra assente.

– Olha lá hein, garoto, não vai estragar tudo desta vez. – Alerta meu pai.

– Gael, não assusta ainda mais o garoto. – Repreende Dandara.

Eu seguro a mão de Cobra que respira com dificuldade.

Assim que as cortinas se abrem, nos concentramos no espetáculo.

A Jade está tão linda como sempre esteve e dança divinamente. Cobra fica hipnotizado até as cortinas fecharem no fim do espetáculo.

Neste momento Bianca chega correndo e entrega um microfone a ele.

– A hora é essa, meu irmão. – Ela sorri. – Estão todos torcendo por você, arrebenta.

Cobra pega o microfone e sorri hesitante. Bianca o beija no rosto e diz:

– Boa sorte.

– Valeu. – Cobra respira com dificuldade.

Bianca corre de novo e as cortinas se abrem apresentando todos os artistas que participaram do show de mãos dadas. Eles agradecem e fazem uma referência. Neste momento a Galera da Ribalta começa a tocar a introdução de “Exagerado” do Cazuza e todos olham pra trás para a banda. Os artistas olham para eles e sorriem, exceto Jade que fica imensamente surpresa.

Então finalmente Cobra se levanta e começa a cantar.

Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade

Paixão cruel, desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas

A surpresa de Jade não podia ser maior.

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Cobra sai da fileira de cadeiras e vai até o corredor.

Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar

E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Cobra caminha até o palco com as flores em um braço e o microfone na outra mão. Ele está todo arrumado, tá até usando terno. Mas ele continua nervoso.

E canta muito mal, ainda bem que Sol e Vicki estão fazendo backing vocals, mas mesmo isso não ajuda muito.

Só muito amor na causa.

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

E por você eu largo tudo
Carreira, dinheiro, canudo
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais

Cobra sobe no palco e para de frente para Jade que a esta altura já tá com o rosto todo molhado com as lágrimas que caem.

Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado

Jogado aos teus pés
Com mil rosas roubadas
Exagerado
Eu adoro um amor inventado

Cobra se ajoelha na frente de Jade e canta as últimas estrofes no chão.

Quando a música termina, ele entrega as flores pra ela. É o buquê mais lindo e ENORME que eu já vi na minha vida, um lindo arranjo de rosas, astromélias e lírios.

Jade pega as flores chorando de tanta emoção.

– Jade, eu sei que eu vacilei com você. – Ele começa. – Mas eu tô aqui cantando e pagando o maior mico de toda a minha vida e fazendo todas estas pessoas sofrerem, porque eu canto mal pra caramba, pra me redimir com você. Eu aprendi a cantar sua música favorita e ensaiei com o pessoal, convenci o seu irmão e toda essa gente a me ajudar, só pra te pedir desculpas e pra te dizer que eu te amo.

Jade chorou ainda mais depois dessa e Cobra segurou a mão livre dela.

– Eu te amo e não porque você é super gata, uma dançarina super gostosa, a melhor transa da minha vida...

– Ow. – Interrompe Pedro.

– Xiiiiii, Pedro, deixa ele continuar. – Repreende Bianca.

Cobra e Jade riem e Cobra continua:

– Eu te amo não porque você se dá bem com todos os meus amigos e porque minha melhor amiga te adora e ela nunca gosta de nenhuma das minhas namoradas.

Jade e eu nos entreolhamos e rimos.

– Eu te amo porque você é divertida, inteligente, carinhosa, talentosa, porque você me ama como ninguém me amou, porque você me entende, porque você tem uns olhos incríveis e o sorriso mais lindo mundo, mas especialmente, eu te amo, porque você me faz querer ser uma pessoa melhor. Quando eu tô com você, eu quero ser um homem que merece ser visto com você.

Vários alunos da Ribalta e da academia levantaram cartazes com fotos Cobrade e com frases do tipo, “Jade + Cobra = Amor Eterno”, “Cobrade Pra Sempre”, “A Dama e o Vagabundo”, “Jade, o Cobra te ama” e “Dama, perdoa o Vagabundo”.

Henrique joga as luzes dos holofotes em cima deles e Cobra pisca pra se acostumar com a claridade.

Pedro e a Galera da Ribalta voltam a tocar “Exagerado”, mas desta vez com Sol e Vicki oficialmente no vocal e a música bem mais baixa, só como trilha sonora.

– Eu mudei, Jade, eu tô arrependido de tudo que eu fiz e quero te compensar. Eu tô te pedindo perdão e sei que pisei na bola, mas desta vez, eu quero te fazer feliz, eu vou fazer de TUDO, QUALQUER COISA pra te reconquistar e te ter de volta. Eu prometo nunca mais te magoar. Eu quero passar o resto da minha vida com você, Dama. Eu quero te ter do meu lado quando eu realizar os meus sonhos e quero estar do seu lado quando você realizar OS SEUS sonhos. – Ele faz uma pausa e retoma o fôlego, então continua: - E pra provar que eu mudei, eu trouxe aqui pra você conhecer, o meu pai.

Cobra aponta pro meu pai e Jade acompanha com o olhar, meu pai sorri pra ela e acena com a cabeça.

– Aquele é o meu padrinho, Gael Duarte. – Cobra continua. – O meu pai verdadeiro morreu há alguns anos, mas o Gael tem feito o trabalho muito bem desde então, ele é um verdadeiro pai pra mim. Aquela do lado dele é a Dandara.

Dandara sorri e acena para Jade.

– Ela é a mulher do Gael e é tipo minha madrasta, mas tá mais pra mãe adotiva. – Cobra sorri. – Ela faz o papel maternal muito bem quando a minha mãe não tá por perto. E aquela do lado da Dandara é a dona Quitéria Cobreloa.

Cobra sorri e sua mãe acena para Jade com os olhos marejados de emoção.

– Ela é a minha mãe, a mulher mais guerreira que eu conheci na vida, aprendi muito com ela. – Cobra volta-se pra Jade. – Você me faz lembrar um pouco dela, vai ver é por isso que eu gosto tanto de você.

Jade sorri e chora.

– Os dois moleques do lado dela são meus irmãos Robinson e Reinaldo. – Cobra aponta.

Robinson sorri e Reinaldo acena empolgado.

– Meus outros irmãos você já conhece, todos eles. – Cobra suspira. – E eu também trouxe aqui mais duas pessoas pra quem eu me apresentei formalmente, pedi sua mão em namoro e milagrosamente, consegui que me descem a benção deles. – Cobra aponta pro outro lado da platéia. – Dona Lucrécia, sogrona, Edgard, Ed, sogro, sei lá. – Ele ri.

Jade olha pra mãe e pra Ed e eles sorriem para ela e assentem.

Eu não sei como isso é possível, mas Jade chora ainda mais.

– E pra completar, eu trouxe mais uma coisa. – Cobra levanta o dedo e solta a mão de Jade.

Então ele abre o terno e começa a procurar alguma coisa no bolso interno, depois ele começa a apalpar o próprio corpo com um olhar preocupado.

Eu entendo imediatamente e olho pra cadeira do lado e depois pro chão e vejo a caixinha. Eu a pego e a levanto bem alto.

– TÁ AQUI, COBRA. – Grito.

Eu corro até o palco e me inclino sobre ele entregando a caixinha a Cobra.

– Valeu, Ka. – Ele agradece com alivio.

Fico parada ali mesmo em baixo do palco, mas um pouco mais pro canto, assistindo a cena.

Cobra abre a caixinha e mostra as alianças de compromisso a Jade.

– Pra todo mundo saber que eu me entreguei. – Ele explica.

Jade ri.

– Então, o que me diz, Dama, você pode me perdoar e voltar pra mim? – Ele pergunta. – Aceita ser a minha namorada?

– Sim. – Jade diz sem hesitar entre lágrimas e risos. – Sim, Vagabundo, sim.

Cobra finalmente se levanta e a beija.

– Eu te amo. – Ele diz.

– Eu te amo também. – Ela responde.

Eles se beijam de novo e ele a levanta do chão.

Todos aplaudem e eu sorrio.

Então eu olho pra Pedro, ele pisca pra mim e eu sorrio pra ele.

Volto o meu olhar pra Cobra e Jade.

Ele a gira no ar e depois a beija de novo.

E assim começa mais uma história de Cobra e Jade. Mas eu realmente acredito que a quarta vez é definitiva.

Desta vez Cobrade é pra todo sempre.


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Notas finais do capítulo

The End.

E ai gostaram?

Desculpem por esse capítulo ter sido meio grande, mas era o último, tinha que ser definitivo, rsrs.

Ah, mas voltem amanhã pro epílogo.

Errar é humano, então me perdoem pelos meus.

Eu reparei que nunca perguntei uma coisa, mas eu quero muito saber, o que vocês acharam do Pedro ser irmão da Jade?

Beijos, reviews e até a próxima fic. :*



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