Volta escrita por Miss Addams


Capítulo 2
02


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma pequena Songfic, baseada na música Volta interpretada pela cantora brasileira, Ana Cañas.

Aqui está a música para acompanhar a escrita: https://www.youtube.com/watch?v=CfrKurPuW1k



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/627528/chapter/2

Dulce.

Depois de me afastar para que ele pudesse entrar, tranquei a porta e fiquei alguns segundos de frente para ela, apenas criando coragem para encará-lo ali, tão de perto. Minhas mãos suavam e tremiam, eu queria poder controlar aquela euforia tola, mas, não podia. Colocando um sorriso tímido no canto dos lábios em me virei, o encontrando logo atrás de mim, calado e... Nervoso?

: - Desculpe vir a essa hora, espero que eu não tenha lhe acordado. Eu... Eu posso ir embora caso tenha fe...

: - Poncho? – Chamei com o mesmo sorriso no rosto, levando os braços embaixo dos seios. – Calma. Fale devagar, sim? Já são pra lá de 2 da manhã e o meu setor de processamento já encerrou serviço.

Ele riu sem graça, coçando a barba levemente.

: - Desculpe. – Pressionei meus lábios, lutando para não prender meus olhos na barba que ele ainda coçava em um gesto aleatório. - Então, eu sei que é tarde para aparecer do nada, mas é que realmente só tive tempo de procurar onde você estava, agora. Ache graças a uma foto. – Eu observei atentamente quando ele sacou seu Iphone de dentro do bolso do casaco, se aproximando um pouco mais para me mostrar a foto. – Eu sei que estou parecendo um pouco um agente do FBI, mas, não pude resistir.

Não pude impedir a risada que saiu pela minha garganta, fazendo Poncho abrir um sorriso maroto no canto dos lábios. Não sei dizer como, mas, meu corpo reagiu a aquele ato.

: - Você é maluco. – Neguei com a cabeça colocando uma mecha solta de cabelo atrás da orelha. Erguendo seus olhos ele ficou observando meu cabelo por longos segundos, e eu sabia o que ele deveria estar pensando. “Vermelho, vermelho, vermelho.” Sorri sem graça. – Mas, já que está aqui, ao que devo a visita?

Querendo fugir de seu olhar intimidador, virei a costas e andei até a mesinha onde minha xícara de café repousava, junto com o bule.

: - Quer um? – Perguntei enquanto despejava o café.

: - Sim, por favor. – Alfonso respondeu minha pergunta sobre o café, menos a minha sobre a honra de sua visita. Eu estava incomodada, não pelo fato em si dele estar ali tão perto, mas, sim pelo fato dele estar no Canadá com Perla. Eu queria perguntar onde ela estava, queria perguntar por que diabos ele apareceu e voltou do nada, queria explodir em perguntas e queria minhas mil respostas, mas... Estava tudo tão bem no momento, não queria acabar estragando tudo.

: - Então, posso saber o porquê da visita? – Estendi minha mão com a xícara e ele logo pegou, roçando seus dedos nos meus sem intenção. O local ficou quente e eu bebi um gole para calar o suspiro que sairia da minha garganta. A presença de Poncho era perturbadora demais. Afastei-me alguns passos. Depois de beber um gole ele sorriu, um pouco sem graça, passando seus olhos pela varanda antes de colocá-los sobre mim novamente.

: - Queria te ver. – Seus olhos verdes me acertaram em cheio, junto com sua sinceridade. – Faz tanto tempo que não nos vemos desse jeito, de perto, que não conversamos... Não resisti e decidi procurar por você, depois de te ver mais cedo no aeroporto.

Lembrei-me rapidamente do momento em que o vi no aeroporto, meu coração acelerando, minha cabeça latejando em duvidas, vê-lo depois de tanto tempo e não poder me aproximar havia sido consideravelmente estressante.

: - Você dá um bom detetive. – Rimos juntos. – Bom, sente-se. Não liga pra cama desarrumada, eu... – Cocei a nuca sem graça enquanto me sentava na poltrona ao lado da cama. – Eu estava forrando para dormir.

: - Desculpe por isso. – Ele disse incomodado, sentando-se na cama e dando mais um gole em seu café.

: - Pare de se desculpar por isso, eu estava indo dormir, não dormindo. – Dei língua rapidamente e ele abriu aquele sorriso que tanto me fazia prender a respiração. Ah, Poncho...

Depois daquela minha tentativa de piada, ficamos em silêncio por um bom tempo, os dois empurrando o café pela garganta abaixo, enquanto ele olhava ao redor do quarto a minha cabeça explodia com lembranças da ultima vez que nos vimos em Miami. Fechei os olhos com força e me impedi de pensar, me impedi de revirar historias, me impedi de trazer a mágoa, eu não precisava daquilo, nós não precisávamos. Ele estava tão lindo, aqueles olhos... Eu tinha que canalizar meu foco em outra coisa antes que me visse completamente perdida.

:- E o que você veio fazer aqui? - ele me perguntou.

E eu me foquei a respondê-lo.

:- Eu vim a trabalho. - dei os ombros observando por cima da xícara enquanto bebia meu café, que ele me observava atento.

:- A trabalho? - ele ficou confuso.

:- Sim, o meu cd esta quase finalizado, eu só precisava terminar uma música resolvi me encontrar com Paul, um produtor canadense.

:- Sério? - ele abriu um sorriso tão lindo e contagiante que eu fiquei desconcertada. Eu consegui ver mesmo de longe, as rugas que tinham se formada e só mostrava o quanto ele tinha ficado feliz por mim. - E agora tudo está pronto?

:- Sim. Eu estou nervosa, sabe o que isso significa para mim. - eu soltei um riso nervoso, para depois sorrir para ele.

:- O que foi? Tem mais alguma coisa?

:- Sim. Me convidaram para participar de uma novela.

:- Você participando de uma novela? - ele ficou tão surpreso que deixou a xícara de café no seu colo.

:- Assim é, depois de tanto tempo. Eu estava precisando voltar, conversei com Pedro e Luisillo. Vai ser uma participação especial.

:- Que bom eu fico feliz por você. - ele foi sincero em suas palavras, eu pude notar. - Eu posso fazer uma pergunta?

Estranhei o pedido.

:- Pode, claro.

:- Você viajou sozinha para cá? - ele deu os ombros e vi que ele voltou a ficar nervoso. - Eu me lembro de te ver no aeroporto sozinha.

:- Não deu para ninguém vir comigo. - justifiquei.

Ele poderia não ter lembrado do aeroporto, só me fez lembrar que ele estava aqui sozinho e que venho com a namorada, fiquei por um momento em dúvida, mas decidi perguntar de uma vez.

:- E você o que faz aqui em Vancouver?

Ele abaixou o olhar. E eu aproveitei para observá-lo melhor, estava sem luvas e tinha as mãos geladas eu senti quando toquei sua mão quando fui entregar o café. Tinha um jeans um pouco mais solto, provavelmente tinha alguma outra calça por dentro. O tempo em Vancouver virou em pleno verão e agora a noite estava gelada.

Um casaco grosso bege o agasalhava também estava fechado eu não sabia o que ele tinha por dentro, balancei a cabeça me reprimindo por imaginar o que seria.

:- Não sei se você sabe.. - ele voltou a falar e me roubou a atenção. - Mas, eu fui para o Brasil recentemente.

:- Fiquei sabendo por alto. Como foi?

:- Estranho. - Me surpreendi pela resposta. - Eu fui pela primeira vez sem um trabalho, apenas divulgar a causa do projeto e também aproveitei para assistir alguns jogos, acompanhar a seleção. - ele fez uma careta.

E eu soltei um riso, México tinha perdido, ele deveria ter ficado bravo.

:- Eu fiquei de frente com toda aquele euforia, que só existe lá. Sabe? E ao mesmo tempo que eu gostei, eu fiquei assustado. Acho que fiquei muito tempo longe e me desacostumei a toda essa intensidade. E estou num tempo de reafirmar quem eu sou, estou me questionando. E para isso resolvi viajar para participar da meia maratona daqui.

Pensei sobre o que ele falou. Fazia tempo que ele estava afastado não sabia mais como era ter fãs assim, não foi o caminho que ele escolheu para si.

Só que uma coisa que não queria calar.

:- E onde está sua namorada? - eu perguntei. - Eu vi ela no aeroporto.

Poncho me encarou com uma expressão séria, parecia estar se lembrando da existência de Perla. Cruzei minha perna esquerda e me encostei na poltrona, segurando a xícara com tanta força entre as mãos como se fosse cair a qualquer momento.

: - Perla teve que voltar para o México. – Colocou a xícara ao seu lado sobre a cama e enfiou suas mãos no bolso do casaco. – Imprevisto de trabalho, sabe como essas coisas funcionam.

Concordei com a cabeça e suspirei. Aquilo significava que ele estava ali sozinho, assim como eu. Aquilo significava minha maldita cabeça formulando mil e um motivos para acabar com a nossa distancia, aquilo significava o meu desespero. Não, Dulce, não, lembre-se da última vez. Pedi para minha consciência

: - Entendo. E, quando você volta?

: - Domingo à tarde, ou à noite, ainda não sei.

Eu não disse nada, na verdade, eu não consegui dizer nada, apenas cheguei meu corpo para frente e coloquei a xícara com o café frio na mesinha ao lado da cama.

: - Está lindo... – O ouvi resmungar baixo, mas, no tom suficiente para eu ouvir. O encarei curiosa.

: - Lindo? O que?

: - Seu cabelo. – Senti minhas bochechas arderem. – Seu cabelo está lindo. Quando eu lhe vi com o cabelo vermelho novamente, mal pude acreditar. Eu sabia que tinha que ver de perto.

Ele dizia concentrado, os olhos vagando pelas minhas mechas de cabelo e meus olhos entorpecidos.

: - Obrigada. – Agradeci. – Eu disse que não voltaria com o vermelho, mas, não resisti...

: - Fez muito bem. Você fica bem com o vermelho. – Seus olhos brilharam, no canto dos lábios aquele sorriso tímido, mas cativante e desconcertante. – Sexy.

Ele não pode conter a risada calma ao observar a expressão que fiz depois de ouvi-lo. Eu não sei ao certo, mas, deveria estar mais vermelha que um tomate. Não sei se o pior era sentir vergonha de Alfonso, ou minha maldita mania de ficar em silencio quando não devia.

: - Você nunca foi muito bom com cantadas. – Eu disse a ele enquanto me levantava, rindo completamente perdida no clima que havia se formado.

: - Isso não foi uma cantada. – Ele disse divertido, erguendo a sobrancelha. – Foi um elogio.

: - E eu conheci você ontem, por acaso? – Poncho me mostrou os dentes brancos em uma gargalhada mágica, enchendo meu corpo de vibrações novas e conhecidas. Sorri de canto e fui andando em direção a porta da varanda, queria fechá-la, estava arrepiada demais para o meu gosto.

: - Ok, não consigo mentir muito bem. – Sua voz era alegre e nervosa, duas reações bem transparentes. Fechei a porta de vidro da varanda com pressa por conta do vento, observando a neve cair com fúria. Se eu estivesse sozinha, de fato estaria admirando aquilo, mas, minha cabeça me dizia que eu tinha outra coisa para admirar dentro daquele quarto.

Virei-me para ele e o vi se levantar, passando a mão pela cabeça. O observei fielmente mais uma vez, meus olhos traidores correndo seu rosto, o contorno do nariz, o desfecho dos lábios, a forma em que o verde se fazia vivo em seus olhos, a barba gostosa que tantas noites senti correr por meu corpo na procura do meu, do nosso paraíso. Ah, Deus... Fechei os olhos rapidamente e respirei fundo. Por que? Eu não podia, eu queria, não era certo, eu desejava, era pecado, mas eu amava.

Desviei meus olhos e abaixei a cabeça, sem saber o que dizer.

: - Acho que já vou indo, Dulce... – Ele disse frustrado, percebi na sua voz a vontade de ficar, assim como a minha de que ele ficasse. – A neve não para de cair, e, acho que você precisa e deve descansar.

: - Fica. – Eu disse no acaso, ficando assustada com a intensidade do meu pedido o tanto quanto ele ficou. Poncho me analisou atentamente, pressionando os lábios. Antes que ele recusasse o meu pedido, me adiantei para tentar explicar o inexplicável. – Está nevando demais, se você sair debaixo dessa neve eu não vou conseguir dormir direito de preocupação.

Bom, não precisei mentir, o que eu disse era a mais pura verdade, claro, escondendo a minha outra intenção debaixo da minha real preocupação.

: - Eu... Eu posso pegar um táxi, não quero lhe incomodar, Dul... – Eu via em seus olhos que ele realmente não queria me incomodar, mas, que queria ficar, estava gritante no seu olhar. Envolvi meu corpo com os braços e respirei fundo, levantando os ombros.

: - São quase 3 da manhã, os táxis já pararam de rodar faz um bom tempo. – Eu disse o mais calma que consegui. – Fica, por favor, não tem o porquê de você sair correndo daqui... Estou pedindo.

Poncho ficou em silêncio por um tempo, nosso duelo de olhares estava me rendendo bons tremores. O relógio pendurado na parede ao nosso lado batendo os ponteiros nostalgicamente, era como se eu estivesse sentindo o tempo passar petrificada sobre o tapete de pelos brancos. Estava nervosa, meu coração a 200 por hora contra meu peito quente.

: - Tem certeza? – Perguntou-me baixo, sem desviar nossos olhos. Eu percebi varias perguntas dentro daquela pergunta, e eu tinha a minha certeza de que se respondesse que sim, estaria respondendo o resto de todas elas.

: - Absoluta. – Respirei profundamente quando ele sorriu. Ah, Poncho... Apenas curvei a cabeça para o lado em um sorriso, desviando do seu olhar.

: - Eu estaria errado se lhe dissesse que senti algo por trás desse teu sorriso? – Perguntou calmo enquanto se aproximava, encurtando um pouco a distancia que existia entre nós dois até então. Larguei os braços ao lado do corpo e abaixei minha cabeça ainda sorrindo, mantendo o lábio inferior mordido quando voltei a olhá-lo.

: - Não, não estaria. – Suspirei quando ele estava perto o bastante para me fazer morrer naquela imensidão verde, que queimava, que me queimava, que me punia. – Absolutamente, não.

: - Você é tão transparente... – Admirando meu rosto ele correu dois de seus dedos por meu queixo. Pude sentir sua mão tremula. – Confesso que amo isso em você.

Eu queria confessar tantas coisas. Fechei meus olhos e prendi minha respiração quando senti a sua em meu rosto. Continuei com eles fechados quando Poncho correu seus dedos por meus fios de cabelo, desfazendo o nó mal feito que eu mantinha. Eu não sabia o porquê, mas, sempre soube que uma hora ou outra ele faria aquilo. Senti o peso dos cachos abertos caindo em minhas costas, minha franja caindo sobre um dos olhos, os lábios dele soprando a mesma. O encarei. Ele parecia flutuar.

: - Assim... – Sua voz saia baixa. Ele parecia encantado. – Eu prefiro eles assim. – Seus dedos longos iam descendo por minhas mechas ruivas, enrolando-se entre elas quando ele finalmente tocou as pontas. – Não prenda enquanto eu estiver aqui. Se você soubesse o quanto venero isso...

O que eu podia dizer? Queria olhar para baixo e me certificar de que ainda estava de pé. Tentei esquecer, mas, não havia conseguido tirar da minha cabeça o quanto ele me desejava.

: - Eu gosto quando você fala assim... – Coloquei pra fora sob uma respiração agitada, o vendo sorrir e se afastar um pouco para me encarar de corpo inteiro.

: - Eu gosto de te ver nesse moletom. – Ele riu carinhoso. – Estou me perguntando onde foi que você guardou as pantufas.

Envergonhada eu comecei a rir, fazendo careta. Alfonso me fazia sentir um misto de sensações.

: - Eu vou fazer 28 anos, Poncho, acho que não devo mais usar pantufas. – Eu disse negando com a cabeça quando finalmente consegui sair do meu lugar, andando em direção a cama.

: - Ainda lhe dou a mesma idade que tinhas quando viemos juntos para o Canadá, naquele 2004. O mesmo sorriso, a mesma pele, o mesmo jeito de menina, então, porque não as pantufas?

As palavras dele me fizeram parar e lembrar, lembrar daquele ano, daqueles momentos, daquele namoro repleto de beijos e sexo, sexo novo, amor gostoso, desejos, promessas, juras, um namoro intenso e quente. Fechei os olhos com força antes de encará-lo, me aproximando para tomar sua mão na minha.

: - O que? – Ele perguntando se fingindo assustado quando eu o tomei pela mão, o arrastando em direção a varanda, coberta por flocos de neve.

: - Vem, vamos relembrar. – Eu disse decidida e divertida, o fazendo rir intensamente. Abri a grande porta de vidro da varanda e me coloquei para fora, gemendo de frio assim que meus pés cobertos por uma meia grossa tocaram o chão quase congelado.

: - Nós vamos morrer congelados aqui fora, Dulce. – Ele disse enquanto ria, esfregando suas mãos sobre os braços. O topo de nossas cabeças estava começando a se encher de neve, o que me fez agitar os cabelos para que eles caíssem na frente de meu rosto. Poncho me encarava sereno, os olhos naquele brilho que me esquentava, os lábios separados, a respiração leve feito pena. Sorri para ele.

: - Não morremos naquele 2004, porque morreríamos agora? – Ergui a mão para tirar a franja vermelha de meus olhos. – Tenho seus braços pra me esquentar bem aqui, como tinha naquele ano.

Aproximei-me um pouco, onde ele me envolveu em seus braços, encostando minhas costas em seu peito coberto pelo grosso casaco bege. Fechei os olhos e suspirei, seu cheiro e seu calor corroendo meu corpo. Eu descobri que seus braços era o lugar que eu estava desejando estar a muito tempo.

: - Eramos loucos. – Ele sussurrou, largando seu queixo no topo da minha cabeça. – Eramos jovens e loucos. – Sorri, me perdendo em lembranças. – Que saudades eu sinto daquele tempo, Dul...

: - Que saudades eu sinto da gente... – Sussurrei e era para apenas eu ouvir, mas, ele ouviu também, senti seu corpo ficando rígido atrás de mim, seu abraço mais apertado, seu coração acelerando. A neve caia sem parar embaçando minha visão, e eu me permiti fechar os olhos quando senti a boca de Poncho descer por meu cabelo, seu nariz cheirando tudo o que podia, até seus lábios tocarem minha orelha, onde ele sussurrou com toda a devoção que eu pude definir.

– Que saudades de você. – Eu senti como brasas as lágrimas se acumulando em meus olhos, mas, não de tristeza, não de dor, sim de saudade. Meu corpo tencionado, arrepiado, reagindo a ele de uma maneira que eu havia me esquecido. - Saudades de te ter assim, saudades de 2004, de 2002, saudades de nós dois em todos os anos. Só saudade.

Eu só percebi que estava chorando quando abri os olhos, meu coração denso de tudo aquilo, de amor? Virei-me de frente para ele, minhas defesas morrendo mais um pouco quando vi o verde úmido que havia em seu olhar.

: - Preciso que me prometa uma coisa. – Poncho ergueu sua mão e tocou meu rosto, limpando as lágrimas que caiam. Ergui a minha e toquei seu braço.

: - Qualquer coisa, pequena, qualquer coisa... – Respirei fundo e esbarrei, esbarrei meus lábios na palma de sua mão, selando um beijo casto bem ali.

: - Me promete, me promete que aconteça o que acontecer aqui essa madrugada, não vai mudar nossas vidas quando voltarmos pra casa. – Pedi quase em suplica, o fuzilando com o meu olhar. – Me promete que vamos continuar como estamos agora, sem dor, sem ressentimento, sem fuga. Promete que não vamos estragar tudo como sempre, que não vamos nos ignorar e fingir que nada aconteceu. Promete.

Poncho sorriu, aquele sorriso que reflete amor, o meu amor, o nosso amor, e ele não precisava dizer que me amava, eu sabia, eu sentia. Correu sua mão por minha bochecha, pescoço, nuca. Eu estava voltando a fechar os olhos em deleite.

: - Prometo, eu prometo. – Respirei aliviada. – Só vamos viver, chega de pensar em fugir depois.

Eu não sei o que me fez esquecer o mundo no momento depois, não sei se foi a promessa feita, ou os lábios de Poncho que tocaram o meu ternamente, daquele jeito que eu conhecia muito bem e adorava, ajoelha no altar.

Suas mãos correram e se perderam em meus cabelos, enquanto as minhas entravam por dentro do casaco que ele usava. Eu estava ávida por tocá-lo, por sentir seu calor, sua pele. Seus lábios macios e vermelhos provavam os meus, sem usar a língua, apenas degustando, admirando. Nós não tínhamos pressa, pra que teríamos? Tínhamos a madrugada toda pela frente.

Puxando-me pela cintura, Poncho nos levou para dentro do quarto, fechando a porta da varanda e me encostando contra ela. Agradeci mentalmente pela falta do frio. Eu já estava abrindo seu casaco enquanto ele deslizava seu dedo indicador por meus lábios, me provocando, me instigando. Seu sorriso sacana me dizia que ele me maltrataria o quanto pudesse. Corri as mãos por seus ombros e deixei que seu casaco caísse no chão, revelando a preta blusa de mangas compridas que ele usava. Suspirei.

: - O que está fazendo? – Perguntei impaciente por um beijo molhado, sentindo sua boca se arrastar por minha bochecha, queixo. Suas mãos deslizando para baixo do meu moletom, tocando minhas costas.

: - Tocando você. Não posso? – Sua voz saia rouca e baixa, me excitando.

: - Você joga tão sujo... – Sorri nervosamente, subindo minhas mãos até sua nuca. – Me beija. – Pedi sob uma respiração forte, me arrepiando com a risadinha que o ouvi soltar em meu ouvido. – Me beija de verdade. – Fique mole quando sua boca foi parar na minha. – Me deixa louca.

Só tive tempo de sussurrar entre seus lábios antes de sua língua quente e aveludada invadir minha boca, buscando quase em desespero o contato com a minha. Coloquei-me na ponta dos pés e fiz o que ele queria e o que eu queria, o que eu devia. Nos beijávamos intensamente, as mãos quentes e grandes de Poncho apertando minha costas e meu quadril de um jeito que me fazia gemer baixo entre seus lábios. Nossas línguas travavam uma batalha intensa por espaço, o calor eminente queimando em direção a minha virilha.

Puxei o ar a todo pulmão quando nossos lábios foram separados por falta de oxigênio, minhas mãos apressadas subindo sua camisa, enquanto sua boca devorava a pele em chamas do meu pescoço. Ah, santo Deus, se eu pudesse dizer em palavras o quanto sentia falta daquela sensação... Mordi o lábio inferior com força.

Lutando um pouco, Poncho separou seus lábios de minha pele para que eu pudesse tirar sua camisa, revelando aquele peito nu que eu tanto desejava. Com os lábios separados, coração batendo no peito rapidamente por conta da minha respiração acelerada e a excitação crescente, levantei minha mão e acariciei os poucos pelos que havia em seu peito, o vendo fechar os olhos em um suspiro.

: - Seu toque me deixa febril. – passei as unhas, chegando minha cabeça para frente até que eu tivesse meus lábios em sua pele, distribuindo beijos molhados pelo ombro, braço, ao redor do mamilo, no próprio mamilo. O que rendeu a ele um pequeno gemido. Eu estava ardendo, fiquei pior quando senti a ereção que ele guardava pra mim. Poncho levou sua mão até meu cabelo, olhando-me. – Só você sabe como fazer isso comigo. – Minha boca estava em sua barriga, minha língua marcando rastros, minha garganta soltando suspiros ao ouvi-lo. – Hmm.

Ele gemeu rouco quando beijei abaixo do umbigo, e antes que eu pudesse pensar, estava completamente de pé novamente, tendo meu moletom sendo arrancado por cima da minha cabeça, expondo meu sutiã de renda vermelha.

E eu fiquei o encarando por um tempo já que ele ficou paralisado, me olhando. Uma vez tinham me dito que não havia melhor sensação do que ver alguém que você gosta, admirado por apenas te olhar. Era isso que acontecia agora. Eu sentia aquilo, Poncho paralisado apenas me encarando até que ele voltou a se aproximar.

:- Você pode até me julgar depois do que eu vou te dizer.. – ele começou falando com uma voz engasgada, agora olhando meu rosto. – mas, desde que eu te vi no aeroporto eu esperei esse momento. Eu imaginava como você estaria e você superou minhas expectativas. – tocou as pontas dos meus cabelos que estavam perto do meu sutiã e me dei conta do quanto eu mexia com ele, não que eu tivesse armado algum plano. Da combinação do cabelo com a cor do meu sutiã apenas aconteceu e por ver a forma como ele me olhava, não tinha me arrependido da escolha.

: - Imaginou como eu estaria por debaixo da roupa? – Sussurrei a pergunta com malícia, observando seu dedo indicador descer uma das alças do meu sutiã.

: - Ah, Dulce, mal posso dizer o quanto imaginei. – Depois de me responder, colou sua boca em meu ombro, beijando, mordendo, lambendo. Ergui a cabeça e curvei as costas, as tirando um pouco da porta gelada de vidro da varanda. Meus gemidos saiam com mais firmeza, e por mais que eu quisesse continuar com o jogo das perguntas, estava ficando cada vez mais difícil. Poncho passou para o outro ombro fazendo o mesmo. Desci minhas mãos por seu abdômen e abri o fecho de seu jeans, mantendo minhas mãos ali.

: - Me diz se gosta do que vê. – Passei a língua pelos lábios e lutei para abrir os olhos. A luz ambiente daquele quarto nos dava mais conforto do que já tínhamos.

Sem me responder de imediato, senti suas mãos correndo por minha coluna até alcançar o fecho do meu sutiã, abrindo-o calmamente. Usando a mesma calma ele o retirou de meu corpo, jogando a peça vermelha ao nosso lado. Eu estava nua da cintura pra cima, os olhos do homem a minha frente fuzilando a minha nudez. Senti meus mamilos endurecerem ainda mais sob a intensidade daquele olhar. Percebendo meu corpo reagir, Poncho soltou um gemido baixo e urgente, agarrando um de meus seios com a mão direito. Fechei os olhos e gemi em agradecimento por ele estar aliviando a vontade, o desejo.

: - Posso dizer que amo o que estou vendo agora. – Acho que minha calcinha já tinha ido pro além. Eu me sentia molhada e quente. Mole e ofegante. Excitada e domada. Maldição. – Também amo o que ainda não estou vendo, só imaginando.

: - Poncho. – Não pude evitar gemer o nome dele quando senti a língua quente correr meu mamilo, enquanto mãos afoitas e sábias se enfiavam dentro da minha calça, agarrando minha bunda antes de descer pelas minhas pernas as únicas peças de roupa que eu ainda vestia. Levei as mãos até sua cabeça e fiquei a lhe acariciar enquanto ele me provava, a boca sedenta maltratando meus mamilos doloridos pela excitação, a pele abaixo do meu colo, minha barriga. Mãos levemente calejadas afagando minha bunda, minhas coxas.

: - Não pare... – Implorei entre gemidos sôfregos, eu sabia que se ele continuasse eu teria um orgasmo sem nem mesmo tê-lo dentro de mim. Estava ansiosa pela sensação esquecida. Estava morrendo para relembrar como era sentir aquilo com ele, por ele. – Por favor, Poncho. Eu quero tanto...

Quase chorei pedindo para que ele não parasse com aquilo, para que não parasse de me apertar, de me afagar. O arranhei e implorei novamente para que não tirasse sua língua da minha pele, dos meus seios. Meu corpo todo vibrando, eu sentia meu sexo até então intocado por ele latejando em uma intensidade assustadora. Ele só precisou continuar com aquela tortura por mais alguns minutos até que meus músculos se contraíram dolorosamente, me fazendo gemer de uma maneira até então esquecida em minhas lembranças. Aquele orgasmo gostoso que só ele sabia me dá me acertou em cheio, meu corpo escorreu para baixo feito gelatina.

: - Deus. – Ronronei completamente perdida naquela sensação deliciosa, meu mundo, nosso mundo explodindo em cores. Os braços dele logo estavam em torno de mim, me segurando, me mantendo de pé. Sua boca beijando a minha, suas mãos puxando meu cabelo, seu corpo já nu colado ao meu. Aquilo era provação demais.

: - Eu vou morrer desse jeito. – Sussurrou entre meus lábios, sua coxa pressionando a região molhada entre minhas pernas. – Porra, Dulce.

: - Não resisti. – Eu disse sorrindo, gemendo, sofrendo. Sei lá o que eu estava.

: - Diz de novo. – Poncho pediu enquanto colocava meu cabelo sobre um de meus ombros, distribuindo beijos molhados. – Me chama de novo do que me chamou.

Separei os lábios para arfar, minhas pernas fracas para me sustentar. Fechei meus olhos.

: - Meu amor... – Repeti. – Meu... – Logo ele estava dentro de mim, me preenchendo daquele jeito único, aquele que ninguém mais fazia, daquele jeito que me quebrava. – amor...

O resto da minha frase saiu num gemido, se misturando com os gemidos dele, que com sua boca colada na minha orelha me deixava claro o quanto eu era dele. Seu quadril se chocando contra a minha bunda bem devagar, ele entrava e saia delirantemente devagar. Eu disse quando tudo começou que ele me maltrataria o quanto pudesse.

: - Tão quente... – Seu corpo estava pouco curvado sobre o meu, sua mão livre segurando meu seio direito, meus olhos fechados, meus lábios abertos, meu corpo suando, minha alma sofrendo. – Tão apertada em mim, só pra mim... – Poncho gemeu mais alto, largando uma mordida em meu ombro. – Ah, Dulce.

: - Poncho... – Levei uma de minhas mãos para trás e toquei sua nuca, apertando, arranhando. Eu estava perto, a um metro do topo. Seus movimentos se tornaram mais urgentes, mais fortes, mais rápido, seus dedos ágeis circulando meu clitóris. Até que tudo o que ouvíamos eram nossos gemidos, o barulho de nossas carnes se chocando e o som fino do vento soprando do lado de fora.

: - Eu quero você, pequena... – Sussurrou contra meu ouvido num fio de voz. – só você.

E não sei em que momento foi isso, só sei que me perdi alucinadamente em mais um orgasmo, onde ele me acompanhou com tamanha intensidade. Gememos alto e juntos, um som rouco e longo. Eramos um roçar de corpos, uma explosão de suor e sensações. Uma morte em amor e prazer. Era Poncho e eu, e nada mais importava.

–.-


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Volta" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.