Volta escrita por Miss Addams


Capítulo 1
01




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Mais do que querer você de volta, eu me quero de volta, quero a felicidade nos meus olhos mirados em você. Eu quero a gente, eu quero tudo de novo, eu quero as coisas antigas, as primeiras, todas! Me devolve seu sorriso? Parece que eu não te faço mais sorrir, assim eu desespero mesmo. É uma resposta simples pra uma pergunta simples: Você vai voltar?

Caio Fernando Abreu

Dulce

Vancouver, Canadá. Domingo.

Sempre pensei no Canadá como um país frio, mas, nunca imagine que esse tal frio pudesse congelar os ossos. Perdi as contas de quantos calafrios me cortaram a espinha em 5 minutos. Percebi que a água quente que lavou meu corpo há alguns minutos atrás de nada havia adiantado.


Enchi uma xícara com um café bem quente e me sentei na poltrona ao lado da porta da varanda, olhando a neve quase nostálgica cair. Suspirei e bebi um gole, o líquido quente rasgando por minha garganta, assim como o cansaço fazia com o meu corpo. Eu estava comprovando mais uma vez o quanto finalizar um CD pode cansar a alma.


Ajeitei o grosso, sobretudo que cobria meu corpo e tomei mais um pouco do café, pronta para me perder em pensamentos quando fui interrompida por batidas na porta. Ergui a sobrancelha. Quem seria àquela hora? Olhei no relógio e ele marcava exatamente 2:20 am.

Levantei-me da poltrona e deixei a xícara sobre a mesinha, caminhando em direção à porta. Dei uma rápida olhada pelo quarto antes de abri-la. Quando o fiz, meus olhos congelaram a cena, como se aquela fosse à última que eu veria antes de morrer.


Eu vi aquele alguém parado na minha frente, os olhos tão quentes quanto da última vez que o toquei. As mãos aconchegadas no bolso do casaco bege que ele usava. A barba descendo pelo rosto perfeitamente desenhado, o cabelo curto e alinhado. Tão bonito quanto o momento que o vi naquele aeroporto na manhã de ontem. Eu sabia que não era só uma coincidência. Eu podia resumir minha reação em “epilepsia” quando abri minha boca para dizer algo.


: - Poncho? – Levei a língua até os lábios secos e os molhei, concretizando que meu coração ainda se desesperava ao pronunciar aquele nome. Eu não sabia o que esperar.

-.-

Poncho

Vancouver, Canadá. Sábado.

Poderia negar para os outros, só não esconder isso de mim. O fato é que eu estava preocupado só não demonstrava para ninguém ou pelo menos tentava não demonstrar, eu só não sabia dizer o porquê dessa preocupação. Talvez fosse por isso que Perla achou bom fazer essa viagem.

Ela me ensinou que corrida é pode ser algo muito valioso na vida de alguém, além de se exercitar você entra em paz consigo mesmo. Por que se desafia a conquistar caminhos cada vez mais longos, fora que durante a corrida você reflete e entra em contato consigo mesmo. Isso era verdade e eu já estava viciado em correr.

Quando voltei do Brasil estranho, mesmo ela sabendo toda a história viu que eu precisava de um momento apenas para pensar sem pressão nenhuma a mais. Então o que era melhor do que uma meia maratona? Ou só fiquei surpreso por ser no Canadá. Topei é claro, sem pensar duas vezes eu precisava disso.

:- Poncho? Pronto já voltei. Vamos? – Perla falou comigo e eu voltei para a realidade.

Já tínhamos chegado ao aeroporto e estávamos em Vancouver, cidade onde aconteceria a maratona, Perla sempre reclamou da comida que davam nos aviões, eu já estava mais que acostumado por que já viajei muito. Ela foi ver onde estava o taxista que ela havia contratado e eu fiquei esperando por ela com as malas. Talvez não fosse nada cavalheiro da minha parte, mas eu não estava com a cabeça no lugar.

E ela gostava de cuidar de mim. E eu gostava disso.

:- Encontrou ele? – Perguntei enquanto via ela pegar a sua mala.

:- Sim, ele estava do outro lado do aeroporto. Vamos que eu mostro o caminho. – Me deu a mão e de mãos dadas formos para onde ela estava indicando.

:- Até parece que você conhece esse aeroporto! – Comentei soltando um riso implicando com ela.

:- Melhor que você sim. – Ela também riu. – Veja só ele está ali.

O homem estava vindo ao nosso encontro.

:- Hi! – Eu cumprimentei ele.

:- Hi, how are you?

:- Fine. – eu sorri fechado.

:- Poncho, John é mexicano me indicaram ele, trabalha aqui a muitos anos. – Perla me apresentou.

:- Prazer em conhecer você! – Mostrei minha mão e ele logo apertou.

Nesse dialogo rápido, nos conhecemos.

:- Venham meu carro está parado, logo ali, eu vou ajudar vocês. – ele pegou a mala de Perla e foi nos levando para o carro.

Não demorou para chegar até onde o carro estava estacionado nos esperando, era notável como o aeroporto estava tranquilo aquele horário. No Canadá sempre foi assim, apesar que eu visitei o país poucas vezes.

Por um momento eu senti minha garganta coçando e minha mão também, eu precisava fumar. Quando me afastei enquanto John colocava as malas no carro e Perla conversava com ele, ela me deu uma olhada me reprimindo por saber que eu ia fumar. Ignorei, eu estava com vontade.

Na verdade era muito mais para satisfazer meu vício por que estava claro que eu teria que jogar o cigarro fora logo, por que íamos embora. E foi o que aconteceu eu nem dei quatro tragadas no meu cigarro que Perla já me chamou para irmos, talvez ela tenha apressado as coisas para que eu não pudesse fumar mais. Só que eu não tinha como provar.

Foi então que aconteceu algo que eu não estava preparado, John já estava no carro e Perla me esperava eu soltei a fumaça e joguei o cigarro fora. Eu olhei ao redor do aeroporto, uma mania e eu fui algo que não esperava. Tanto que eu fiquei paralisado uns segundos.

Ela também parou com o carinho que carregava sua mala e ficou me olhando. Antes que qualquer pudesse fazer algo, Perla se aproximou e me deu a mão para me fazer andar para o táxi, eu até dei alguns passos, mas não deixei de olhar para onde ela estava. Totalmente surpreso.

:- Vamos Poncho? O que está esperando? – Ela me questionou, me olhando.

:- Nada! – Eu disse no automático. E fui com ela para entrar no táxi, deixei ela ir primeiro e deu uma última olhada para onde ela ainda estava parada me encarando assim como eu surpresa. Sua expressão mostrava isso.

Eu entrei por fim no táxi e Jonh saiu com o carro, poderia ter olhado para atrás para ver o que ela faria, mas eu estava tonto com o que sentia. O que Dulce fazia em Vancouver?

:- Jonh tente chegar logo ao hotel, eu estou morrendo de fome, essas comidas de avião são terríveis. Nunca me dou bem. – Perla começou a conversar empolgada com o taxista que nem percebeu que eu estava mais esquisito.

E a viagem toda até o hotel foi feita com Perla conversando com Jonh e eu respondendo com monossílabas. O que eu não conseguia tirar da cabeça era, o vermelho. Sim, por que essa foi a maior lembrança minha, ela estava com o cabelo mudado. Estava vermelho de novo. Não aquele vermelho que eu vi durante anos, um mais discreto. Ainda assim ficou bem nela, que sempre teve o poder de ser linda até desarrumada.

Eu me lembro de achar ela linda, apenas de pantufa, moletom e camisa. Apenas isso. Por Deus, há quanto tempo eu não via ela assim? De tão perto?

Eu não conseguia evitar as várias perguntas. Elas simplesmente vinham junto com as lembranças.

Recordações essas que me rondaram até que me vi com Perla me chamando novamente.

:- Sim?

:- Chegamos amor. – ela riu da minha lerdeza.

:- Já?! – Eu olhei para atrás e vi John já tirando as malas do carro.

A saída do carro, despedida de Jonh, entrada no hotel foram feitas no automático por mim. Até que eu já estava esperando Perla para descemos e para comer e finalmente irmos para a corrida que logo mais começaria.

:- Aconteceu alguma coisa Poncho? – ela me chamou a atenção. – Agora eu estou ficando preocupada com você.

:- Por quê?

:- Você está muito mais aéreo que antes.

Me levantei e fui até ela, começando a me sentir culpado pela forma que eu agia. Nesse momento eu decidi que disfarçaria mais, eu conseguiria esconder o que eu estava sentido. E o pior o quanto eu estava mexido.

:- Eu tenho os meus momentos assim, você sabe. Estou colocando tudo em uma balança e começando a organizar as coisas aqui dentro. – apontei para meu peito indicando meu interior.

:- Eu sei. É só que.. – ela se cortou.

:- O que foi?

:- Eu vou ser sincera com você, tenho medo desses seus momentos, mas ao mesmo tempo eu os entendo. Todo mundo se questiona alguma vez na vida. – ela deu os ombros e eu já a conhecia o bastante para saber que tinha algo a mais nisso tudo.

:- Do que você tem medo?

Ela até pensou em hesitar em responder, mas sabia que eu só ficaria satisfeito com a resposta, sempre foi assim em nosso relacionamento.

:- De que em algum momento você não me queira mais em sua vida. – ela disse com pesar. E eu deixei escapar um riso, como as mulheres eram inseguras...

:- Não tem o porque, em algum momento eu dei algum indício assim? – e vi ela negar com a cabeça. – Então não fique pensando besteiras, eu só estou tentando me reencontrar, reforçar o que eu realmente quero, você sabe que é preciso nesse mundo. – disse a abraçando. E tentando negar com a cabeça quando a lembrança do vermelho do cabelo de Dulce voltou. Aquele não era o momento.

:- Vamos comer e ir para a maratona, senão nos atrasamos. – chamei-a.

:- Ok, senhor pontual. – ela fez pouco caso da minha mania de pontualidade e isso me fez rir.

Não demoramos no restaurante comemos só o preciso, antes de ir para o local da corrida, passamos num supermercado para comprar nossa água e também montar um kit para a maratona.

Essa era leve, tinham apenas 25 quilômetros. Ainda assim era necessário um cuidado, o tempo não demorou para passar quando fui me dar conta já estávamos só esperando a largada. Todos estavam devidamente uniformizados com roupa para correr, era engraçado por que anos atrás eu nem imaginava que poderia correr. Imagine quilômetros, ainda mais para um fumante como eu.

Quando a meia maratona finalmente começou eu pude me desligar do mundo a fora, mesmo que tivesse correndo com Perla, ela logo disparou em minha frente, além de ter mais experiência que eu, era óbvio que queria me deixar sozinho. Eu logo liguei meu ipod e comecei a escutar música que nada adiantou por que mergulhei nas minhas lembranças.

Todas elas.

Quando eu tinha dito para a Perla que precisava me fazer um questionamento e colocar tudo numa balança, eu falava sério. A minha viagem ao Brasil me fez ver isso também, eu estava lá por uma causa social e para ver o futebol de perto e ao mesmo tempo estava de frente e convivendo com a euforia novamente, não estava mais acostumado aquilo. Eu sou o que eu sempre quis ser ator. E ultimamente com os meus últimos filmes, não tenho tanto contato com a grande massa.

Dizer que eu não me assustei com toda aquela euforia, seria uma mentira, mas também seria se eu dissesse que vez ou outra eu também sentia falta daquilo.

E claro ao pensar na banda eu me lembrei da cena de poucas horas atrás, ela no mesmo aeroporto que eu e da forma que nos encaramos. Dei uma olhada discreta par a minha frente e vi Perla de longe, bem na minha frente. Ela também deveria está se questionando. Eu tenho certeza que fiz a escolha certa, tanto para mim. Quando para Dulce, mas por que eu penso como poderia ter sido tudo diferente? Por que ela mexe comigo como hoje?

Acho que a última vez que a vi pessoalmente foi quando fui atrás dela em Miami e as coisas não acabaram tão bem, afinal eu sumi de propósito e ela ficou puta da vida comigo durante muito tempo. Até que simplesmente ela voltou a falar comigo, sem mais e nem menos como se nada tivesse acontecido com a gente, era como se ela tivesse superado e/ou ignorado tudo.

Eu tive a curiosidade de perguntar, mas nossa relação nunca foi à mesma, nos falávamos em momentos especiais. Datas comemorativas basicamente, o respeito por fim se fez presente com seu total significado e estávamos fiéis a ele até hoje que por casualidade nos reencontramos.

Para o meu desagrado a linha de chegada já estava próxima e Perla já estava me esperando com um sorriso, os quilômetros acabaram, mas os meus questionamentos não. O difícil era ter que fingir para a Perla que eu estava bem de novo.

:- Como se sente? – ela me perguntou feliz.

:- Bem. – Não menti, eu estava bem por ter corrido. – Mas, to cansado. – Nós rimos juntos.

Dali para a frente eu posso resumir o dia em recuperar meu fôlego, passear um pouco pela cidade que até então eu não conhecia e esconder de Perla que eu ainda estava aéreo, pensando no reencontro de manhã.

Eu tinha vontade de começar alguma pesquisa na internet para tentar descobrir onde ela estava, com quem e fazendo o que, mas não faria isso com Perla comigo, não mesmo. Tudo estava bem, até que Perla voltou a falar comigo depois que foi atender uma ligação do México.

:- Poncho? – me chamou.

:- Hm. – eu estava mais interessado em ver o jogo de Rocky que passava na televisão, aquilo era louco, como eles conseguiam jogar com aquele disco pequeno?

:- Tenho uma má notícia. – ela falou e só então conseguiu me fazer desviar o olhar da televisão.

:- Aconteceu algo grave?

:- Não. Não pense bobagens, está tudo bem. – sei que pensamos na mesma coisa. Túlia! Nossa cachorra não estava tão bem de saúde, ele tinha acabado de se recuperar de uma doença e tínhamos deixado ela sob cuidados no México, papai estava cuidando dela. – Eu só tive um contratempo de última hora, lembra da exposição que estou organizando há meses?

:- Lembro claro.

:- Deu um problema com um dos patrocinadores e eu tenho que resolver pessoalmente, tentei marcar uma reunião para segunda, mas não teve jeito. Ou é amanhã, ou não é. Eles têm viagem marcada.

Eu fiquei paralisado, sem saber o que fazer.

:- Então nós vamos voltar agora?

Ela ficou me olhando de uma forma estranha para o meu gosto, mas logo voltou a falar.

:- Eu vou. Você não. – disse decidida.

:- Como assim?

:- Eu tinha planejado essa viagem para você. Não é justo que eu peça para você ir comigo por conta do meu trabalho.

Sem saber o que fazer, com Perla aqui eu já pensava besteiras, sem seria pior ainda.

Eu fumei uns três cigarros até me decidir entrar na internet, assim como ninguém quer nada entrei no Twitter, essa fosse minha fonte de informação mais rápida. E eu estava mais que certo, não demorou para que alguém desse RT e eu tivesse o que eu queria. Por que sim, eu queria saber.

Um homem e ela, num lugar que não me era desconhecido, a não ser que eu estivesse muito paranoico. Havia uma fonte e também um pinheiro com alguns enfeites, eu sabia que tinha passado por ali, tentei procurar alguma outra foto que me dissesse algo a mais e encontrei outra foto de outro ângulo, no mesmo lugar. Mas, dessa vez eu tinha acesso à rua.

Comecei a procurar onde tinha algum hotel perto de alguma Starbucks, pesquisei e achei nome de 5 hotéis, todos próximos da onde eu estava. Dessa vez se foram mais 4 cigarros até me decidir sair e ir atrás dela.

Fui nos 5 hotéis investigando, comparando a foto com o lugar até achar o último, o que era certeza, estava tudo lá a loja, a fonte, o pinheiro. Agora só vinha o mais fácil, entrar no hotel o que não era difícil para mim. Que conheço o funcionamento desses locais, fora que dizer que eu sou irmão de Dulce facilitaria muito as coisas.

E foi assim que eu finalmente me vi diante de uma porta do qual eu demorei mais de dez minutos parado na frente sem saber se tinha o direito de tocar ou não. Eu não tinha ido tão longe para ficar aqui parado numa porta feito um garoto e não bater, certo?

Então eu bati.

Demorou um instante e eu a vi novamente ali na minha frente. Como há muito tempo não acontecia. Se eu não me conhecesse bem, ao menos meu corpo eu diria que estava doente, por que tinha partes do meu corpo geladas como os meus pés e tinham partes quentes como o meu rosto, meu peito. E tinha as minhas mãos que não se decidiam ainda, estavam geladas por eu ter saído sem luvas e estavam quentes de nervoso.

:- Poncho? – ela falou finalmente, coisa que eu não conseguia. E o meu coração e meu corpo imediatamente reagiu a escutar sua voz. Por que ela ainda tinha aquele efeito sobre mim?

:- Oi. – eu disse inseguro com voz falha. Abaixei a cabeça para ver se desviasse o olhar ela teria menos influencia sobre mim. Me enganei, e levantei a cabeça novamente. – Eu posso entrar?

Não me disse nada, apenas se afastou e me deu espaço para entrar em seu quarto.

-.-


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