Depois de Todo Esse Tempo escrita por Layla Glêz


Capítulo 1
Capítulo Único: Always


Notas iniciais do capítulo

Olá!Estou voltando às minhas origens postando fanfics de Harry Potter, essa One me veio na cabeça após reler Relíquias da Morte pela enésima vez. Eu compartilhei a ideia com a Yas e ela ficou dizendo que eu devia escrever. Então, meus agradecimentos a ela ♥É algo que ficou martelando minha mente após a morte de Snape.Espero que gostem.Boa leitura!



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— Olhe... para... mim... — sussurrou o bruxo.

Os olhos verdes encontraram os negros, mas em um segundo alguma coisa no fundo dos olhos de Snape pareceu sumir, deixando-os fixos, inexpressivos e vazios. A mão que segurava Harry bateu no chão e Snape não se moveu mais.

(Relíquias da Morte)

O professor sentiu o veneno de Nagini tomar suas veias, fechando sua circulação pouco a pouco. Agonizou mais por ele do que pelo sangue e por todas as feridas, pensava que houvesse assim alguma ironia poética, um brilhante Mestre de Poções morrer envenenado.

Um tanto quanto tragicômico, justo ele que dizia ser capaz de retardar a morte, não fora capaz de prever a sua própria. De um jeito patético até. Preferiria ter morrido com um lampejo rápido, verde e mortal, que o adormeceria em questão de segundos; ao invés disto, seu perecer foi lento e doloroso e de verde teve apenas os olhos de Potter... não, os olhos de Evans para lhe confortar, rodopiando em sua mente, fazendo-o relaxar diante dos braços da Morte.

Sequer notou que havia parado de respirar.

Quanto aos olhos, esperava encontrá-los do outro lado, se merecesse tamanha graça. Ele acreditou, numa brevidade, que fosse justo morrer daquela maneira, uma forma de compensar toda a dor que causara. Apesar de todos os anos a serviço de Dumbledore, de tudo o que tinha feito para salvar o "pirralho tão insolente quanto o pai", sentia que ainda devia a Lily e, também, ao maldito James Potter.

Tinha protegido o filho dos dois, mesmo que com toda a dor em seu peito, apenas para vê-lo como um porco para o abate.

E isto, por mais necessário que Dumbledore dissesse que era, ele não conseguia perdoar. Não retirar de si a culpa por ter marcado o garoto, por ter matado Lily. Por tudo aquilo que havia feito enquanto comensal. Tudo por uma sede de poder que o tinha posto cego, pelos ciúmes que sentia de Potter toda vez que o via próximo de sua amiga.

Seu primeiro e único amor.

Ele não se deu ao trabalho de abrir os olhos quando sentiu os ares ao seu redor. Não sentia mais o cheiro de morte, nem da batalha; sentia somente o vento, o perfume de uma campina familiar. Ouviu o farfalhar das folhas e sorriu consigo, relaxado. Notou que era a primeira vez que esboçava um sorriso em dezoito anos.

Entretanto sua alegria durou pouco, quando ouviu a inconfundível voz:

— Vista alguma coisa, Ranhoso. Será que depois de velho ficou tarado?

Snape ergueu a cabeça, arqueando uma sobrancelha vendo seu sorriso se desmanchar ao encarar o Potter a sua frente. O maldito e insuportável James. O outro jogou vestes em sua direção, as quais de maneira hábil ele capturou com o braço.

— Pelo menos está mais rápido.

— Potter — ralhou baixo, em total desaprovação. Será que nem na morte teria um momento de paz longe dele?

— Olá, Ran... — James se interrompeu com um suspiro e se corrigiu rapidamente — Snape.

Pareceu a Severus que o maroto fazia um imenso esforço para chamá-lo daquele modo. E ele admitiu, para si mesmo, que tinha gostado de ouvi-lo engolindo em seco para pronunciar o nome. Vestiu-se, notando que as roupas que lhe foram entregues eram simples réplicas do que se acostumara a usar toda a vida. Negras, esvoaçantes. Porém pareciam de qualidade superior, o tecido mais macio e leve. Perguntou-se se haveria como o tecido ser mais leve uma vez que estava morto e repreendeu o pensamento, parecia tolo demais para si.

— Já posso me virar? Não quero ter essa imagem gravada na minha morte — zombou James e sem esperar resposta se voltou para ele. Exalou um suspiro aliviado e concluiu: ­— Bem melhor.

— O que você quer, Potter? — perguntou, sem rodeios, pouco intimidado pela presença do outro.

James respirou fundo, era mais difícil encontrar as palavras do que pretendera e também era perceptível a irritação de Snape. Tentou organizar-se, mas apesar de extrovertido, era um orgulhoso de berço e como tal qualquer discurso pré-pronto que tivesse em mente para falar ao antigo rival tropeçava e terminava em alguma piada. Fazer alguma piada com o "ranhoso" sempre lhe parecia a saída mais fácil.

— Bem... Eu... — Sacudiu o cabelo, exatamente iguais aos do filho e terminou ajeitando o óculos antes de limpar a garganta.

— Ora, ora, o Potter perdeu a língua. Isto sim é novidade. — Snape não perdeu a oportunidade de alfinetar.

— Ranhoso, não me confunda com o Harry. Ele pode até suportar essas suas tiradas infantis, mas eu não sou assim.

— Sempre o mesmo arrogante.

— Sempre o mesmo...

O que quer que ele fosse proferir se perdeu quando uma terceira voz se fez presente no lugar.

— Será possível que vocês dois não podem parar de discutir nem depois de mortos?

Snape poderia jurar que seu coração tinha dado um salto, porém logo repreendeu-se. Era tolice pensar que seu coração podia fazer qualquer coisa uma vez que todos ali estavam mortos. Porém, ele tinha plena certeza que Lily era capaz até mesmo de fazer galopar um coração inexistente. Um coração etéreo.

Severus observou-a se aproximar, com seus cabelos alaranjados farfalhando. Estava ainda mais bela do que da última vez que a tinha visto — com vida obviamente. Trajava um vestido longo e claro, que parecia dançar a sua volta. O antigo professor a observou aturdido, como se preso a um encantamento, seus olhos se encheram de lágrimas e ele piscou para dispersá-las. Teria ficado imerso naquele torpor se não fosse James sorrir para ela e lhe dar um pequeno beijo dizendo com doçura atípica:

— Desculpe-nos, meu amor. Velhos hábitos são difíceis de mudar.

— James — começou Lily em tom de reprovação —, já falou o que me prometeu falar?

O Potter deu um sorriso torto, levando a mão a seus cabelos pela segunda vez, um sinal claro que se encontrava nervoso.

— Então... eu... — tentou argumentar, porém os olhos inquisitivos dela se estreitaram. Estava irritada, ainda que de uma maneira quase divertida.

— James Potter, não me diga que está implicando com o Sev.

— Eu não... — Pela segunda vez, James se viu tentando argumentar, mas sempre os olhos dela não permitiam que ele dissesse mais nenhuma palavra além de um murmurado "desculpe".

Contudo, para Snape, aquilo não interessava. Vê-la era o que mais importava no instante, mesmo com a companhia do Potter e ouvir aquele apelido carinhoso o fez abrir um sorriso de canto, como se seus lábios estivessem desacostumados a sorrir. Lily olhou para ele e em um instante tão breve que poderia ser eterno, ele se perdeu nos olhos verdes que o tinham guiado até ali.

— Olá, Sev! — ela falou, docemente, com seu melhor sorriso estampado.

— Lily. — O nome saiu como um sussurro, sua voz embargada pela emoção. Não se sentia tão emotivo desde aquele 31 de outubro, dia no qual viu seu corpo estendido. Engoliu as emoções e olhou ao redor, o cenário parecendo finalmente fazer algum sentido para si, ainda assim, perguntou: — Onde estou?

James riu, não um riso de deboche, um riso alegre apenas.

— Não sei, ra... Snape. — Trocou ao receber um olhar de Lily, emendando com maestria — Diga-nos você! Aqui costumamos dizer que a festa é sua.

Severus olhou ao redor, dando passadas para longe do casal, via uma árvore, grande, cheia de galhos retorquidos; um lago, de águas calmas e escuras, virou-se para trás e se deparou com o castelo. Porém era como se a cena estivesse com pequenos detalhes alterados, analítico, terminou respondendo:

— Parece-me Hogwarts... com a rua da Fiação.

— Que criatividade, Ranhoso! Imaginar Hogwarts com aquele lugar...

Snape não sabia se havia deboche ou surpresa em sua voz, porém de relance viu Lily beliscar James e isso lhe trouxe uma felicidade discreta. Entretanto, depois daquelas poucas palavras, os três ficaram em silêncio, o maroto parecia desconfortável sob um olhar ou outro que Lily lhe dirigia e Severus não podia deixar de ficar também, principalmente ante a menção de que o Potter tinha algo para lhe falar.

— Diga logo o que tem de dizer, Potter.

— Está bem. Não tem jeito fácil de falar isso. — James deu uma risada seca e esboçou um sorriso — O seguinte, Ranhoso, agradeço por ter protegido meu filho nestes anos. Apesar de tudo.

Snape ergueu uma sobrancelha, olhando para James. Já era surpreendente o fato dele ter agradecido, fazê-lo de maneira tão obviamente sincera o tinha posto desconfiado.

— Só isso? — Lily perguntou, cruzando os braços.

— Qual é, lírio... Não força.

— James...

— Tá bem. Eu agradeço por você ter cuidado do Harry, apesar de ter sido um professor detestável durante esses anos, tê-lo perseguido, assustado, se mostrado um metido rancoroso de...

— James! — repreendeu Lily, praticamente gritando com ele.

— Ok. Desculpa, tá?

A essa altura, Snape já não entendia mais nada. Estava confuso com as palavras do Potter, aturdido com a atitude. De tudo o que ele esperava ouvir, as palavras de agradecimento, ainda que rudes, eram estranhas demais vindas da boca dele. Inusitadas, no mínimo.

— E...? — incentivou Lily, para um suspiro pesaroso do bruxo. Snape os olhou, parecia que a personalidade desinibida do rival tinha sido alterada drasticamente, era palpável seu desconforto. Entretanto, Severus sabia, ele jamais tinha sido capaz de esconder o que sentia e o que pensava. Sinceridade era uma das maiores qualidades, e piores defeitos, de James Potter.

— E nos desculpe por todas as peças pregadas durante os tempos de Hogwarts. Por tudo o que fizemos você passar, ranhoso. Digo... Snape.

A voz de James saiu como se proferisse uma sentença terrível, pesada em sua própria língua. Ele olhou para Severus em um momento e o antigo professor procurou as marcas de alguma piada que não estava compreendendo, porém tudo o que encontrou entre os óculos redondos e os olhos castanhos foi uma completa sinceridade. E, talvez, um pontada de arrependimento.

Arrependimento que Snape conhecia muito bem.

Lily olhou para ele, procurando sinal de alguma reação. Sabia que o sonserino escondia muito bem todas as emoções e pensamentos de sua cabeça, e este traço tão característico não escapava nem naquele estado. O Potter tampouco parecia contente, esperava alguma reação, porém depois de um tempo apenas deu de ombros, como se não importasse mais.

— É isto. Vou me reunir com o Sirius e o Remus. Não demore, Lily.

Acenou, porém antes que desaparecesse no ar, Snape se ouviu chamá-lo:

— Potter.

A surpresa atingiu os dois, o maroto olhou para Snape em expectativa; de fato, esperava que o antigo rival dissesse algo. Lily admirou os dois com um sorriso mínimo nos lábios, queria vê-los se reconciliar, mesmo que eles tivessem precisado morrer para isto.

— Desculpe-me — o sonserino proferiu, fazendo James arquear uma sobrancelha. Antes que perdesse a coragem, o antigo professor de Poções emendou — Eu não queria que vocês tivessem morrido... Eu não...

As palavras morreram em sua garganta, mas de alguma forma James entendeu. Na verdade, tinha entendido há muitos anos. Ele não culpava Severus ou Peter por suas escolhas, as pessoas erram, era o que repetia a si mesmo, não se pode julgar alguém por um deslize.

— Todos erram, Snape, como decidimos seguir com isto é o que nos define.

O príncipe mestiço se surpreendeu com o tom estranhamente sério de James, porém nada seria mais surpreendente do que o sorriso do Potter a seguir, somado a frase:

— Às vezes acho que Hogwarts seleciona os alunos cedo demais. Você teria dado um excelente grifinoro, ranhoso. — Ele olhou para Lily, calada até então, e falou com calma — Não demore, lírio... Você sabe que Harry irá nos chamar e eu quero olhá-lo uma última vez.

Então, como se tivesse aparatado, sumiu no ar. O sorriso e os óculos sendo as duas últimas coisas a sumirem. Snape desabou, era demais para absorver, afundou o rosto entre as mãos e se ouviu dizer, exasperado:

— Ajudei a mantê-lo vivo apenas para que morresse na hora oportuna.

— Ele não irá morrer — Lily afirmou, repleta de convicção.

— Como...?

Ela deu um sorriso breve e respondeu à sua pergunta incompleta:

— Intuição materna.

— Lily... eu... — Foi incapaz de continuar. Fitou aqueles olhos incrivelmente verdes e viu que eles resguardavam um brilho de compreensão.

— Não se culpe, Sev. Você logo vai perceber que para uma mente bem estruturada, a morte é só a próxima aventura.

Foi um silêncio breve e confortável o que veio a seguir, ocupado pelo som suave do vento. A paz os atingia com calma avassaladora, era como um sonho bom, do qual eles jamais acordariam.

— Sabe, Sev, nós os acompanhamos durante esses anos. O Harry, o Dumbledore, o Sirius, o Remus e você. Até mesmo o Peter eu diria, James mantinha esperanças nele, assim como eu sempre depositei as minhas em você. No fim, os dois não nos decepcionaram. — Ela falava olhando para frente, para nenhum ponto em específico, e Snape ouvia, como se necessitasse de suas palavras, como se a próxima frase fosse capaz de fazê-lo voltar à vida. — Eu queria ter poupado o Harry de tudo que ele passou, porém não posso reclamar, ele se tornou um grande homem e ainda irá ser melhor.

— Como pode ter tanta certeza que ele não irá morrer? Que tudo isto não será em vão?

Com um sorriso, ela o olhou, tinha naqueles olhos verdes o incrível dom de transmitir tranquilidade, eram um lago profundo, límpido. Diferente dos olhos de Dumbledore, que esquadrinhavam analiticamente quem os fitava, os de Lily apenas hipnotizavam que os admirasse. Como se fossem capazes de expor a alma dela mesma.

— Nada que fazemos é em vão. E Harry voltará, Dumbledore está bem certo disso e eu não tenho motivos para discordar.

— Irão recebê-lo?

O sorriso dela desmanchou um pouco, mas seguiu firme quando disse:

— Não. Acreditamos, o James e eu, que se nós fôssemos recebê-lo ele decidiria ficar. E não queremos isso. Ele ainda tem uma vida inteira pela frente.

Vocês também tinham, pensou Snape, amargurado, porém nada disse. Permaneceram de novo em silêncio, até que em um instante, Lily se levantou.

— Devo ir agora. Nos veremos de novo, em breve.

Ele a observou, em um misto de medo e fascínio. Não desejava ficar só, porém sabia que ela devia ir e se sentia estranhamente calmo ao saber que ela estava bem. Em um instante, compreendeu o que sempre tentava desmentir para si, amar Lily Evans significava deixá-la fazer suas próprias escolhas. Amá-la era deixá-la ir, vê-la feliz com quem quer que fosse. E, após as breves palavras com James, percebeu que ela e ele tinham algo que ele só poderia respeitar e almejar. Uma espécie de admiração e compreensão mútuas.

— Ah, Sev, eu sempre acreditei em você — ela falou e a frase ficou pelo ar, rodopiando em sua mente. Ele piscou diversas vezes, aturdido, os olhos derramando lágrimas que era incapaz de conter.

— Mesmo... depois de tudo o que fiz?

Ela sorriu. Um belo e carinhoso sorriso. Um sorriso repleto de significados. E ao sumir, sua voz ecoou pelo lago, serpenteando por sua mente como uma cantiga doce e linda.

— Sempre.

O par verde foram a última coisa a sumir, deixando-o hipnotizado. Então ele fechou os olhos e se permitiu dormir, estando certo, pela primeira vez, de que era um homem agraciado.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixe-me saber!Espero que tenham gostado. Eu sempre imaginei que Severus e James faziam as pazes do modo deles... E aquela cena de Kings Cross ficou na minha mente. Deixei os apelidos em português, porque sempre foi mais fácil para mim associá-los assim e os nomes em inglês, diferente dos apelidos, jamais vi motivo para eles terem sido traduzidos (exceto, talvez, a vontade de tornar mais compreensível para crianças).Não vou nem me alongar demais. Até os comentários (assim espero).Beijos,Layla.