A Filha de Roma e Grécia escrita por Wondy


Capítulo 26
Hayley - Mortos vivos não tão vivos assim


Notas iniciais do capítulo

Hey divosas! Estou usando o roteador do meu celular para postar esse cap, para vocês verem como a coisa ta feia aqui. Eu sei que muita gente que quer me matar – e com razão – por causa do último cap. Mas, é assim que a história fica melhor, então me perdoem.
Infelizmente, a primeira temporada de A Filha de Roma e Grécia está chegando ao fim. Maaaas, ano que vem tem A Filha de Roma e Grécia – A Casa do Sr. H! (aceito sugestões de nomes, os que eu pensei são horríveis). Sim, a segunda temporada só vai estar disponível ano que vem, pois é, escritoras também tem férias. Mas, quando AFRG 1ª temp. acabar, vou postar apenas o epílogo da 2ª temp., okay? Pra torturar vocês um pouquinho, muahahahaha!
Enjoyyy



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LEIAM AS NOTAS INICIAIS!

LEIAM AS NOTAS INICIAIS!

LEIAM AS NOTAS INICIAIS!

Sabe quando sua vida já está uma merda e subitamente piora?

Quer dizer, eu tinha uma maldição, uma culpa enorme e duzentas e trinta e seis cicatrizes em meus ombros. Bem, na verdade as cicatrizes estavam nos meus braços, mas você entendeu!

Então, tudo piora com a chegada da última pessoa que eu gostaria de ver na minha vida e morte. Sarah Bennet, minha mãe, estava ali, viva. Oh Zeus, poderia piorar?

Sim, poderia.

Ela, além de deixar completamente óbvia sua insanidade, contou para todos o que havia acontecido comigo. As cicatrizes, eu tê-la matado, eu ter morrido, eu ser uma alma. Minha maldição. Revelou tudo o que eu tanto me esforcei para esconder.

E o pior: ela havia vindo me buscar. Ela queria que eu fosse junto dela para se ajoelhar diante de Gaia. Sabe quando que eu vou me ajoelhar em frente da Cara Suja? Nunca!

E então, Sarah diz que os cortes eram ara o meu próprio bem! Para me tornar fria e calculista, totalmente desprovida de sentimentos. Idêntica à ela. Bem, eu me tornei assim, mas Arthur e Eileen me transformaram numa pessoa altruísta e divertida. Sempre preocupada com os outros. Nunca comigo mesma.

É como se eu tivesse duas personalidades. A má e a boa. O yin e o yang.

Sempre achei estanho como me senti quando a matei. Era como se eu estava apenas vendo o que fazia, como se não fosse eu quem estava se mexendo. Não consegui sentir nada. Nem dor, nem alívio, nem raiva. Isso me assusta, mas acho que foi o meu lado calculista e frio tomando conta. Um lado que não sei se consigo controlar.

Me vingar? Por você ter me matado? Por que iria querer me vingar disso? Foi o momento que eu mais tive orgulho de você, minha filha!

Ela sentiu orgulho de mim quando a matei. Dentre tantos sentimentos que ela poderia ter sentido, ela sentiu orgulho. Orgulho. Que tipo de pessoa conseguiria sentir orgulho quando a própria filha a mata? Sarah é completamente e incondicionalmente louca. Louca não, psicopata. É isso o que ela era. É isso o que ela é.

Não posso ficar daquele jeito. Eu não aguentaria. Eu não vou.

É o que a maldição faz com você, querida”

Sim, é o que maldição faz. Nos leva à loucura, à insanidade. A maldição é ativada quando você causa a morte de alguém que você ama. E, quando ativada, temos uma breve amostra de como é, de como dói.

Arthur morreu antes de mim. E, por alguns segundos (que mais pareceram horas), eu gritei, não por causa das chamas queimando meu corpo, mas sim por causa do que eu sentia. Eu conseguia sentir minha sanidade sendo corroída pela maldição, eu sentia todo meu corpo querendo puxar uma faca e torturar a primeira pessoa que aparecesse apenas para ouvir seus gritos de dor. Eu sentia um insaciável desejo de matar.

Quando a sensação acabou, desejei mais do que tudo nunca experimentá-la novamente.

Só contei isso para uma pessoa durante toda minha existência na terra e no andar de baixo.

Lindsay.

Ela era a única para quem eu contei a história completa. Nem para Nico, nem para Freddie, para Lindsay.

Lindsay, que contava piadas em francês pois insistia que ficavam muitos mais engraçadas daquele jeito. Que cantava maravilhosamente bem. Que dormia no meu quarto todas as noites por causa de pesadelos. Que tagarelava tanto que seu sotaque francês tornava suas palavras indecifráveis. Que odiava Hades com todas as suas forças. Que eu tanto sinto a falta. De sua risada, de suas piadas, do sorriso malicioso que pairava seus lábios todas as vezes que fazia piadas sobre eu e Nico.

Lindsay, como eu sinto sua falta. Agora, mais do que nunca.

*****

– Ah, qual é? – Lindy reclamava. – Obviamente o Kurt Cobain está no Elísio!

Nico soltou um suspiro cansado.

– Mas ele não está, Lindsay! – retrucou. – Ele veio para os Campos Asfódelos! – falou pela décima terceira vez.

Lindsay assumiu uma expressão ofendida. Ela era completamente louca pelo Nirvana e jurou que iria conhecer o Kurt Cobain, seu maior ídolo. Tenho certeza de que Nico se arrependeu profundamente por ter lhe dado um vinil deles.

– Por favor, vamos observar os fatos, Lindy – pedi, atraindo sua atenção para mim. – Ele era um drogado, alcóolatra e cometeu suicídio. Isso soa Asfódelos para mim. – falei dando de ombros e tomando um gole de café.

Estávamos na cozinha da Resistencia Asfodeliana, discutindo sobre para onde nossos artistas favoritos foram, Campos de Punição, Asfódelos ou Elísio. Nico estava quase estrangulando Lindsay, pois ela continuava insistindo que Kurt Cobain havia ido para o Elísio. Algo que obviamente não era verdade.

– Para mim isso soa Elís...

– Michael Jackson – interrompeu Nico.

– Elísio – Falamos em uníssono.

– Punição – falou Asher ao entrar na cozinha.

Asher Nealthe era um novato que havia chegado há poucos meses, então ainda estava se acostumando. Sua pele escura estava ensanguentada, provavelmente por causa de algum treino. Ele era da polícia, se não me engano. A arma que veio junto com ele para Asfódelos continuava em sua cintura. Não importava quantas vezes eu dissesse que aquilo não surtia efeito nenhum aqui, ele se recusa a desfazer-se dela.

– Punição? – perguntou Nico, com a testa franzida.

Asher deu de ombros. Ele deveria ter uns dois metros de altura.

– Michael Jackson era um pedófilo de merda e racista que não suportava a idéia de ele próprio ser negro – Sua voz grave parecia criar ondas sonoras em meu café. Ele me dava arrepios, mas ninguém mexia com Michael Jackson.

Em um momento, Asher estava de pé no meio da cozinha e, em outro, estatelado no chão por causa do escorregão que levou. A água que outrora estava no chão, agora havia evaporado.

– Mas o que... – ofegou Asher, levantando-se do chão. – O que diabos foi isso?

Lindsay, que estava reunindo todas as suas forças para não rir, respondeu:

– Acho que você escorregou, Ash – observou, inocentemente.

Asher, completamente confuso, saiu da cozinha murmurando algo como: “Eu não deveria ter saído da cama hoje”.

Quando calculou que Ash já estivesse longe, Lindsay explodiu em gargalhadas.

– Nossa, você parece uma lunática rindo desse jeito – comentou Nico, porém eu sabia que ele estava se segurando para não rir também.

Lindsay parou de rir no mesmo instante, olhando com raiva para Nico.

– Lunática seu...

– Lindsay! – repreendi.

– Olho – completou, olhando para mim com as sobrancelhas arqueadas.

O canto do lábio de Nico tremeu, como se ele estivesse juntando todas as suas forças para não rir.

– Anda logo – falei para ele. – Eu sei que você está louco para rir.

– Não estou, não – retrucou, porém, quando o fez, o canto do seu lábio subiu imediatamente.

– Ai, meus deuses – exclamou Lindy, colocando a mão no peito. – Nico sorriu. Vai nevar em Asfódelos – brincou.

Nico revirou os olhos, porém não parou de sorrir, como se conseguisse fazê-lo.

– Cale a boca, Bellanger! – exclamou, jogando um pano que estava em cima da pia nela. Lindsay jogo-o de volta e Nico o pegou no ar.

Eu já havia visto Nico sorrir, mas foi há muito tempo, quando um experimento de Freddie explodiu, deixando seu rosto completamente azul por semanas. Toda vez que Nico o via, caía na risada.

Freddie passa a maior parte do seu tempo tentando – com sucesso – misturar ciência com magia. Ele desenvolveu um soro que nos permitia lembrar de quem somos, para que assim não precisemos ficar revivendo nossas piores lembranças só para não esquecer da nossa vida. Tudo o que precisávamos fazer era tomar o soro (chamado Remindus) todos os dias. Eu costumava misturar o meu com café. Lindsay não o toma, não precisa. Ela é uma sortuda, pois esse soro é a pior coisa que eu já bebi na minha existência.

Por ser tão focado na ciência, Freddie não sabe lutar. Não importava o quanto eu insistisse para ele aprender pelo menos o básico, ele se recusava, afirmando que havia coisas mais importantes do que força bruta. Ãh, hello, eu sou uma neta de Atena, sei muito bem disso. Porém, isso não me impede de lutar, ao contrário de Freddie. Ele chega a ser quase anoréxico.

Ele era o líder, ou seja, precisava pelo menos saber se defender.

Já Nico começou a treinar aqui na resistência há algum tempinho. Tipo alguns meses, e está se saindo muito bem. Ele aprende rápido, e só não é melhor do que eu pois ninguém me supera. [Wondy: Que modesta]

Quando Nico entrou para a Resistencia, a maioria não gostou muito da idéia, pois ele era um vivo e não uma alma. Mas, depois de algum tempo, ninguém mais se importou muito, com exceção de alguns, claro (Se você pensou “Freddie”, parabéns!). Na verdade a metade dos Resistentes tinham medo dele, embora não admitam em voz alta. Por que, vamos combinar, Nico é sinistro. Até Asher tem medo dele. Mas ele é bem legal depois que você o conhece melhor.

Não sei porque, mas nunca tive medo dele. Confiei em Nico desde o início, por mais que esse fato ainda seja um mistério para mim.

Um dia, Nico me contou que não poderia voltar por algum tempo, pois Cronos estava atacando lá encima, e ele precisava ajudar.

– Talvez eu não volte, pelo menos não vivo – avisou. Isso foi como uma facada no meu coração. Eu sabia que se ele morresse, iria para o Elísio. Asfodelianos não podiam visitar o Elísio e vice e versa. Eu nunca mais o veria.

– Você vai para o Elísio se morrer – sussurrei.

O canto do seu lábio subiu.

– Não se eu morrer de uma forma totalmente idiota – brincou. Dei um tapa forte em seu braço.

– Não faça piadas sobre isso, seu idiota, isso é sério! – exclamei, assustando-o.

– Tudo bem, me desculpe – murmurou, tocando minha bochecha.

Suspirei, fechando os olhos.

– Eu não quero que você morra – sussurrei, quase inaudível.

– Eu não vou – sussurrou de volta, e o senti aproximando-se de mim. – Prometo.

Abri os olhos e encarei os seus. Com a proximidade que nos encontrávamos, eu podia notar que seus olhos não eram completamente negros, mas sim um marrom bem escuro.

– Não pode me prometer isso.

– Tarde demais. Eu vou voltar.

– Talvez não.

– Cadê o seu otimismo irritante? – perguntou. – O pessimista aqui sou eu. – falou, fingindo estar ofendido.

Uma risada escapou dos meus lábios.

– Idiota.

Nico olha para mim e vejo que ele está desesperado.

– Você confia em mim, Bionda? – pergunta.

– Sim. – respondo sem nem hesitar.

– Eu. Vou. Voltar. – repete, enfatizando cada palavra.

Então o beijo. O beijo pelos simples fato de que sei que ele está falando a verdade. O beijo pois pode ser a última vez que posso fazê-lo. O beijo pois preciso disso.

Ele parece surpreso no início, mas logo retribui. Nico passa as mãos pela minha cintura, enquanto eu afundo as minhas em seus cabelos. Ele me puxa mais pra perto dele, até que eu não consiga distinguir qual corpo é o meu e qual é o dele.

É disso o que eu preciso. E é o que ele precisa também.

Sei que enquanto ele estiver ali, beijando-me, todas as minhas preocupações desaparecerão. Ele sabe que enquanto me beijar, nada mais é importante.

Nós dois precisamos disso desesperadamente. Mas, sabemos que isso desaparecerá quando nos soltarmos. E não queremos isso, embora seja preciso.

*****

Eu só havia conseguido dormir por causa do cansaço, até a infeliz hora em que acordei. Agora são 4:27, e eu não consigo parar de pensar em Sarah. E em Nico. E em Percy, em Annie, em Hazel, em Lindsay, em todo mundo.

Droga.

Não conseguia tirar a expressão de Percy da minha mente. Ele se sentiu traído por eu não ter confiado nele o suficiente. Eu só não queria que ele me visse como um monstro. Por que é isso que eu sou: um monstro. Uma psicopata que matou a própria mãe, e vai acabar se tornando igual à ela.

Cadê o seu otimismo irritante? A voz de Nico soou em minha cabeça. O pessimista aqui sou eu!

A lembrança me fez rir. Nico sabia ser engraçado quando queria, e eu gostaria que ele o quisesse mais vezes. Estremeço quando percebo que pela manhã já iremos embarcar na missão de procurá-lo. O que eu vou dizer quando o ver? Talvez, baseado no que ele está passando, ele nem ao menos se lembre de mim. É, isso seria mais fácil se ele não se lembrasse de mim. Então por que não gostei nem um pouco da idéia?

Suspiro cansada, vendo que não conseguirei dormir de jeito nenhum. Ligo o abajur do criado mudo. A luz me cega, mas consigo notar meu caderno sendo iluminado pela lâmpada. Pego-o, abrindo em uma página onde não tem nenhum desenho e pego meu lápis.

Antes que conseguisse notar, eu já havia desenhado quase todos os traços de Lindy. Os olhos negros me encaravam por baixo dos cabelos lisos escuros. Sua boca estava torcida num sorriso debochado – o que era realmente comum dela – deixando sua pequena e quase imperceptível cicatriz no queixo mais longa.

Lindsay era a garota mais bonita da resistência, deixando várias filhas de Afrodite iradas. Ela costumava ter um ar charmoso e culpava seu país natal – a França – por isso. Lembro-me de todas as vezes que tive que resolver seus “problemas amorosos”. Em outras palavras, eu tinha que dar a notícia para todos os seus namorados que estava tudo acabado entre eles. Isso quando não eram namoradas. Eu precisava ouvi-las chamando Lindsay de nomes que eu nem sabia que existiam.

Minha mãe me mataria se soubesse, mas ela não está aqui e eu não conheci meu pai, então tanto faz se eu beijo garotas ou não. Não é como se eu não gostasse de garotos também. Ela falava, dando de ombros.

Lindy era corajosa e não ligava para o que os outros pensavam dela. Ela fazia o que queria a hora que queria, e dava uma bela resposta para quem tentasse impedi-la ou repreendê-la. Eu era a irmã mais velha, a que a salvava quando ia fazer besteira, a responsável por ela.

Acho que eu passava a maior parte do tempo a impedindo de cometer as maiores merdas que já havia feito. E foram muitas.

Arranquei a página e colei o desenho de Lindsay na parede ao lado da minha cama, com a esperança de que com isso eu conseguisse dormir. Eu teria de lutar pela manhã, então seria muito bom eu estar totalmente descansada.

O desenho conseguiu fazer com que eu tivesse a impressão da presença de Lindy, o que me ajudou a mergulhar na minha primeira noite sem sonhos que eu tive desde que cheguei à superfície.

*****

Eu encarava boquiaberta a paisagem que estava abaixo do Argo II. Estávamos sobrevoando Roma, procurando algum lugar para pousar, embora ninguém realmente se preocupava com isso. Roma era linda, mais do que eu jamais pensei ser. Sempre quis visita-la, mas eu e Arthur costumávamos evitar a Itália o máximo possível. Não havíamos passado bons tempos ali, embora Eileen fora uma exceção.

Roma era, sem dúvida, a cidade mais incrível que eu já vi – e eu já vi muitas cidades lindas em toda a Europa –, com os prédios comercias envidraçados, parques que cortavam a cidade. Em alguns bairros, antigas villas de estuque com telhas vermelhas cobriam as ruas de pedra, fazendo-me lembrar o caminho que eu costumava andar para voltar da escola em Veneza. A lembrança me fez estremecer.

Logo depois que acordei – por causa de algum milagre eu consegui dormir essa noite -, Percy pediu para conversar comigo. Ele me pediu desculpas por ter gritado comigo ontem e disse que ele só estava chocado. Mas, ele não esqueceu de me dar um sermão sobre como eu podia confiar nele, e que se houvesse outra coisa que eu estivesse escondendo, era para mim contar. Me senti culpada por não contar sobre Nico, mas não julguei ser muito importante no momento.

Quando cheguei no refeitório hoje de manhã, todos me olharam receosos, como se eu fosse me desmanchar em lágrimas a qualquer momento. Fiz uma cara de tédio e rolei os olhos, fazendo-os suspirar aliviados. Basicamente, se eu fizer cara e tédio e rolar os olhos, é por que estou super bem.

– Vamos pousar naquele parque – anunciou Leo, que parecia ser o único preocupado com isso, pois os outros nem ao menos pareciam tentar encontrar um lugar de pouso. – Torçam para a névoa nos transformar em algo que não chame muita atenção. Não estou com vontade de ser confundido com um alienígena. – Então agravou a voz, parecendo um velho falando. – E.T. Telefone. Casa. Viram? Não sei imitar o E.T.

Eu fazia a menor idéia de o que era o E.T., mas segui o exemplo dos outros e ri.

O Argo II aterrissou pesadamente no campo verde e os remos se retraíram.

– Então – começou Frank. – Alguém aí sabe onde estamos?

Todos olharam pra mim.

– O quê? – perguntei confusa.

– Você é italiana – respondeu Percy, dando de ombros como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

– Eu sou de Veneza – informei. – Nunca vim para Roma.

Percy fez uma careta.

– Veneza? – perguntou ele. – Engraçado, você não é nada romântica.

Olhei para ele, confusa.

– O que isso tem a ver? – perguntei.

Percy arqueou as sobrancelhas.

– Veneza é a cidade mais romântica depois de Paris... não é? – perguntou, virando-se para Annie, que olhava boquiaberta para a arquitetura romana.

– O quê? – perguntou ela, olhando para ele.

– Esquece – falei. – Romanos, algum de vocês sabem onde estamos?

Frank e Hazel negaram com a cabeça.

– Acho que aquela é a Tumba dos Cipiões – informou Jason.

Percy franziu a testa.

– Cipião... o pégaso de Reyna?

– Não – interveio Annabeth, que – por algum milagre – estava prestando atenção na conversa ao invés de observar Roma. – Era uma família romana nobre e... Wow, olha aquela catedral – exclamou, começado a murmurar coisas sobre arquitetura para si mesma.

Eu até posso ser neta de Atena, mas nunca me interessei muito por arquitetura. Embora, eu tivesse que admitir, Roma tem, na minha opinião, a arquitetura mais linda que eu já vi.

Jason assentiu.

– Sempre quis vir aqui. Nunca pensei que algum dia eu realmente o faria.

– Planos? – perguntou Hazel. – Nico tem, se tivermos sorte, até o pôr do sol. E esta cidade será destruída hoje também.

Suspirei. Ou salvamos Nico, ou chegamos tarde demais. E ainda temos que nos preocupar com a destruição da cidade. Mas, a prioridade para mim agora era levar Annabeth até a Marca de Atena.

– Annie... você localizou aquele ponto do mapa de bronze? – perguntei.

– Sim – Notei que sua voz estava um pouco trêmula, mas era quase imperceptível. – Fica no Rio Tibre. Acho que eu posso encontra-lo, mas eu deveria...

– Me levar com você. – concluiu Percy. Ele estava pedindo para morrer? – É, você está certa.

Annabeth o fuzilou com os olhos.

– Isso não é...

– Seguro – completou ele novamente. - Uma semideusa andando por Roma sozinha. Vou com você até o Tibre.

Annabeth olhou para mim e sua expressão se iluminou.

– Hayley já vai ir comigo – avisou. – Ela quer fazer algumas perguntas à Tiberino sobre Eileen Rogers – Isso era verdade.

Percy abriu a boca para responder, mas eu o interrompi.

– Tenho outro lugar para ir, mas poderia encontrar vocês dois no Rio Tibre daqui uma hora – falei, ignorando o olhar mortal de Annie.

Freddie havia me contado que Christopher McGee estava em Roma. Na resistência, ele era nosso fornecedor de tudo o que tínhamos. Conseguia contrabandear o que quiséssemos, e eu nem queria imaginar como. Era ele quem fornecia os ingredientes do Remindus, embora eu não faça a menor idéia de quais são. Chris era meu amigo. Eu gostava muito dele, embora nunca tenha contado nada sobre a maldição nem sobre minha mãe. Ele era como uma segunda Lindsay para mim. E – acreditem se quiserem – era amigo de Nico.

Percy arqueou uma sobrancelha.

– Onde você vai?

Suspirei.

– No Mundo Inferior, eu e Freddie criamos a Resistência Asfodeliana – informei. Todos pararam de observar Roma para me ouvir. – Tínhamos achado um jeito de não nos esquecermos sem ser filho de Hades. Juntamos todas as almas que conseguimos e as ajudamos. Construímos a Sede, uma casa feita da madeira das árvores que ficavam em torno e Asfódelos. – Todos me ouviam, até mesmo Leo. – Tínhamos vários filhos de Hefesto, e com a magia de Freddie e outros filhos de Hécate, conseguimos fazer com que a Sede parecesse pequena por fora, mas imensa por dentro. Mais de mil almas viviam lá.

“Quando Tânatos foi acorrentado, eu fugi de Asfódelos, mas não sabia que praticamente toda a Resistência também fugiu. Eles estão espalhados pelo mundo, Percy. Eu tenho que encontrá-los. Tânatos deve estar caçando-os, eu tenho que ajudar.”

Percy parecia estar assimilando minhas palavras.

– Então, essas... almas... quantas são? – perguntou ele.

– Quase três mil almas – respondi.

– Cara – interrompeu Leo. – Poderia ser uma cidade.

É, poderia. Era quase isso que a Resistencia era: uma cidade. A magia que Freddie e seus irmãos colocaram na Sede, fazia com que um novo quarto se construísse sozinho quando uma nova alma chegava e a mudança nem ser notada pelo lado de fora. Por fora se via uma casa de dois andares, onde no máximo cinco pessoas poderiam morar. Por dentro se via um prédio de trinta andares, onde cada andar tinha o tamanho de um estádio. Era o maior orgulho de Freddie, logo depois do Remindus, é claro.

– Freddie e eu estávamos procurando os outros quando viemos para cá – informei. - Eu estava no Alasca procurando cinco resistentes. Eu havia achado quatro até então, mas o quinto simplesmente desapareceu. Então eu encontrei vocês. – falei, olhando para Hazel Frank e Percy. – Tem uma alma aqui em Roma. O nome dele é Christopher. Vou manda-lo para Freddie, onde ele pode se esconder de Tânatos e...

– Pera aí – interrompeu Percy, levantando um dedo. – Isso é muita informação e eu já estou bem satisfeito com o que eu já sei, muito obrigado. Agora vai encontrar essa alma maravilha e depois a gente se fala, você está perdendo tempo.

Soltei uma risada. Percy era mesmo uma figura.

– Tudo bem – concordei. – Lembrem-se do que eu disse, me esperem no Rio Tibre.

– Pode deixar – assegurou Annabeth. – Te mandamos uma Mensagem de Íris.

*****

Chris estava no meio de um dos parques de Roma. Encontra-lo não havia sido tão difícil quanto eu pensei. A única coisa que eu fiz foi perguntar para a primeira pessoa que vi se ela o conhecia. Aparentemente, todos os romanos o conhecem (não me pergunte o porquê, pois nem eu entendi isso ainda), então não foi tão difícil acha-lo.

Quando me viu, Chris abriu um largo sorriso e me envolveu num abraço de urso.

– Vejam se não é a semideusa mais esquentada da Itália! – exclamou, colocando-me no chão. – Hayley Amélia Bennet, o que a senhorita está fazendo aqui? – perguntou, assumindo uma falsa expressão rabugenta que eu reconheci como uma imitação de Freddie.

Gargalhei diante da sua imitação.

– É igualzinho a ele! – exclamei.

– Caramba, seu cabelo tá in-crí-vel! – exclamou, pegando uma mecha azul.

– O seu também – observei, olhando para seus cabelos pintados de rosa.

– Eu sei – Falou, convencido, passando um mão pelo cabelo. Chris era um dos resistentes mais legais que eu já conheci. Havia morrido em 1985 com apenas dezenove anos em um acidente de carro. – Ah, querida Hay, amei essa cidade. – suspirou, sonhador. – A maioria aqui nem liga para o fato de eu ser gay, e o número de caras que deram encima de mim...

– Me poupe das suas aventuras, por favor – pedi. O ruim do Chris era que ele não só contava, ele dava detalhes. E eu não estou muito interessada em saber esses detalhes.

Chris rolou os olhos de forma teatral. Praticamente tudo que ele faz é teatral.

– Tudo bem, desculpe – desculpou-se. – Agora, o que você faz aqui? Tenho a impressão de que não é por que sentiu saudade.

Suspirei.

– Vim aqui a mando de Freddie – informei. – Tânatos foi solto. Você precisa ir para um lugar seguro.

Chris pensou no que eu disse (de modo teatral, claro).

– Qual é o problema se a morte vir atrás de mim? – perguntou, dando de ombros. – Aí chegou a minha hora. – ele não aguentou a própria mentira e começou a ficar ofegante. – Hay, eu não quero voltar pra lá – ofegou.

Puxei ele para um abraço. Chris partilhava a mesma coisa que todas as almas fugitivas têm: medo. Medo de voltar para o Mundo Inferior. Medo de que se voltar vai ir para os campos de punição. Medo de abandonar a superfície par sempre.

Chris começou a tremer em meus braços.

– Chris, olha pra mim – chamei. Seus olhos estavam vermelhos. – Você não vai voltar para lá, entendeu? Não vai. Aqui – entreguei-lhe um papel com o endereço que Freddie me deu. – Vai para esse lugar o mais rápido que pode. Estará seguro lá.

Ele assentiu, esfregando as costas da mão nos olhos.

– Obrigado, Hayley.

– De nada.

Chris deu um sorriso fraco e olhou para o banco onde outrora estava sentado antes de me ver. Ele andou até o banco e pegou uma mochila camuflada. Era grande demais para ser escolar, mas pequena demais para ser uma mala.

– Aqui – falou, entregando-me. – Combinei de entregar isso à um cara, mas ele não veio – informou-me. – Deve ter morrido. Aí tem coisas que acredito que serão úteis na sua “missão” – ele fez as aspas com os dedos.

Franzi a testa.

– Que missão?

Chris bufou, afastando uma mecha rosa dos olhos como uma verdadeira diva.

– A missão de encontrar seu namorado perdido, é claro! – exclamou. – As notícias correm rápido para alguém como eu – Deu uma piscadela.

Senti meu rosto esquentar.

– Ele não é meu namorado – murmurei. – Ele me usou. E eu vou mata-lo quando o encontrar.

Chris coloca uma mão em meu ombro direito e me olha no fundo dos olhos. Uma rara expressão séria cobria seu rosto.

– Confie no que vou te dizer agora, Hayley, e quero que se lembre disso depois – pediu. – Não confie em tudo o que Freddie diz. Ele não é exatamente honesto.

Franzi a testa.

– Do que você está falando?

Ele imita meu gesto.

– Como pode ser tão ceguinha? – pergunta retoricamente. – Freddie falaria qualquer coisa para te deixar contra Nico.

– O quê?

Christopher havia ficado louco? Freddie é como um irmão para mim, tudo bem, ele odeia Nico, mas isso não lhe dá motivos para querer me deixar contra ele.

– Freddie é a pessoa em quem eu mais confio depois de Lindsay! – exclamei.

– Também te amo, querida – Chris resmungou. – Nico não usou você!

– Sim, ele usou! – interrompi, ouvindo minha voz ficar cada vez mais alta. – Ele me usou para coletar informações sobre Remindus, para o pai dele, Hades!

Christopher põe as mãos na cintura.

– Então por que ele não se aproximou de mim? Afinal, era eu quem trazia os ingredientes. Por que não se aproximou de Freddie? Afinal, era ele quem fabricava o Remindus. Por que ele se aproximou de você? Afinal, você não sabe nada sobre o soro, nunca quis saber. Por que, Hayley?

Não sei. Nunca havia visto por esse lado.

– Ele me usou para entrar na Resistência, pois assim teria acesso direto ao soro...

– Você sabe que isso não é verdade – ele me interrompe.

– Então o que é verdade? Por que ele ficou lá por dois anos?

– Nunca nem ao menos passou pela sua cabecinha dura que ele poderia ter ficado na Resistência por você?

– Por que está defendendo ele?

– Por que ele é meu amigo – falou como se fosse a coisa mais óbvia do planeta. – Na verdade, Nico é o único cara que eu já conversei sem ter nenhum interesse amoroso ou sexual. Depois do meu pai, é claro. E eu também era bem próximo de você e ele queria saber mais sobre a misteriosa e enigmática Hayley Bennet. Tudo bem que você não me contou sobre sua maldição nem sobre sua mãe, mas eu te perdoo por isso.

Como você sabe disso? – Minha voz ficou mais fina pela histeria.

– Por favor, linda, eu já sei disso desde antes de Nico chegar, muito antes.

– Como...? Lindsay – Quando eu a ver novamente, ela será uma francesa morta viva não tão viva assim.

– Lindsay – concordou ele.

– Por que você nunca me falou isso?

Chris dá de ombros.

– Achei que me contaria quando estivesse pronta.

Uma parte do meu cérebro agradeceu imensamente por isso, mas logo foi silenciada pela raiva.

Chris pareceu ter visto isso, pois se virou e saiu correndo, deixando-me para trás.

– Obrigado por isso! – gritou, levantando o papel onde estava escrito o endereço. – Lembre-se do que eu te falei!

– Christopher McGee, você é um homem morto! – gritei, ouvindo-o gargalhar ao longe.

Bufei, afastando uma mecha azul do rosto.

Hayley! – A voz de Annabeth me fez dar um pulo de susto. Olhei em volta procurando-a. – Aqui na fonte.

Olhei para a fonte ao meu lado. Encontrei Annabeth em uma mensagem de Íris.

– Annie!

Sua expressão não era das boas.

Está na hora.


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Notas finais do capítulo

E então? Estou perdoada?
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