A Filha de Roma e Grécia escrita por Wondy


Capítulo 27
Annabeth - A Marca de Atena


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEEEEEYYYY DIVOSAS!!!!!!!!!!!! I AM BACK BITCHES! Eu sei que pedir desculpas pela demora não é o suficiente, então eu estou adicionando esse super gigante cap no meu pedido. Me perdoam agora? Aconteceram algumas coisas, problemas familiares, férias, praia. Vocês acham que isso é bom, mas eu garanto que não é para mim. Praia significa mar (o meu maior terror), Férias significa tédio e problemas familiares são problemas familiares. Sem falar no natal e ano novo e que a praia não tinha wifi. Mas eu sou sobrevivente (como diria o Hook de Onde Upon a Time). Falando em feriados, feliz natal e ano novo! 2016 já chegou e um monte de idéias novas também! A segunda temporada de AFRG vai sair esse ano!
Esse cap era para ser mais longo do que isso, mas eu achei que iriam acabar me matando se demorasse mais um pouco, então aqui está! Ah, e obrigada á Isa di angelo Bennett(QUE NOME DIVO!!!), por me mandar mensagem privada todos os dias me cobrando caps (isso ajudou muito na decisão de dividir esse cap em duas partes, pois a busca pela Marca de Atena era para ser em um só). Gente, eu nem acredito que tem gente que gosta tanto assim da fic!
Bem, eu já estou falando há muito tempo, então vá ler logo e não esqueça de dar sua opinião no final!



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O passeio não foi muito animador.

Claro que era um alívio poder passar um tempo com Percy antes de eu ir para minha possível morte, mas era meio difícil focar num assunto que não fosse “vou morrer hoje”. Pois ele também poderia acabar tendo o mesmo destino que eu hoje.

Não quero que ele morra. Não suportaria se isso acontecesse.

Hayley me contou algumas coisas antes de sairmos. Aparentemente, vou ter que passar por lugares não muito legais e enfrentar a mãe do meu maior medo existente. Vai ser moleza.

Estou apavorada. Posso não aparentar, mas estou surtando de pavor. Nunca pensei que seria tão difícil recuperar uma estátua.

Existem poucas coisas que podem me distrair num momento como esse: ler, discutir estratégias, arquitetura e Percy. Andamos por Roma de mãos dadas, desviando de carros e pilotos de Vespas enlouquecidos, conversando sobre qualquer coisa. Era quase como um passeio normal de namorados, se não contasse com o fato de que poderia ser a última vez que nos víamos.

A arquitetura de Roma ajudava muito. Percy encarou sorridente todos os meus ataques ao ver catedrais, prédios e – o maior ataque eu já tive – o Coliseu. Ele ouvia atentamente todas os comentários sobre a arquitetura que eu soltava e parecia se divertir com meu ânimo elevado, embora seus olhos passassem por todos os romanos alertamente, como se pudessem nos atacar a qualquer minuto.

Bem, ninguém nos atacou. Até estranhei.

Quando chegamos ao Coliseu, vimos uma dúzia de sujeitos com fantasias de gladiador baratas brigando com a polícia. Eu não fazia ideia do que se tratava e, embora fosse engraçado ver espadas de plástico vs. cassetetes, eu e Percy continuamos andando. Ás vezes os mortais eram mais estranhos que os monstros.

Paramos algumas vezes para pedir informações, mas – dã - as pessoas só falavam italiano ali. Mas, me surpreendendo completamente, Percy resolveu o problema. Sim, ele falou italiano. Eu também fiquei surpresa.

— Como você...? – perguntei confusa. Percy passou o braço pelos meus ombros, abrindo um sorriso triunfante.

— São as vantagens de ter uma irmã italiana – falou ele. – Pedi para Hay me ensinar como pedir informação para chegar ao Rio Tibre antes de sairmos – explicou, dando uma piscadela. – E também me deu trinta euros. Dói na alma lembrar que vou ter que pagá-la em dólar depois. – comentou, fazendo uma careta.

Soltei uma risada. Hayley estava sendo meu anjo da guarda naquela viagem. Me contou o que eu deveria fazer, por onde ir e que técnicas usar enquanto procuro a Marca de Atena.

Depois de algum tempo andando debaixo de um sol escaldante, Percy e eu começamos a ter sede. Felizmente, achamos uma lojinha de lembranças que vendia refrigerante. Percy comprou três refrigerantes, pois achou que Hayley o mataria se não comprasse uma Coca-Cola para ela. Desde que ela experimentou o refrigerante, compra sempre que pode.

Os refrigerantes ajudaram, mas não solucionaram o problema. Quando chegamos ao Tibre, estávamos cansados e ofegantes. Paramos um pouco para descansarmos, e, depois de algum tempinho, mandei uma mensagem de Íris para Hayley.

Ela estava em um parque, conversando com um cara de cabelos cor-de-rosa. O rosto de Hay estava vermelho (estranho, ela nunca cora), e não parecia ser uma conversa amigável. De repente, o garoto de cabelo rosa – que eu julguei ser Christopher McGee – saiu correndo.

Christopher McGee, você é um homem morto! — gritou ela, confirmando minhas supeitas.

— Hayley! – chamei.

Annie? — chama ela, olhando para os lados, como se me procurasse.

— Aqui na fonte!

Hay finalmente parece me ver. Seu rosto já voltando à cor normal.

Annie! – exclamou ela, ajoelhando-se, fazendo com que seu rosto ficasse mais nítido.

Estranho. Nunca havia visto seus olhos tão azulados assim. Hayley pisca e seus olhos voltam à cor normal. Deve ter sido o reflexo da água da fonte. Lembrei-me de quando estávamos indo ao Forte Summer. Quando Hayley teve aquele ataque, eu podia jurar que seus olhos haviam ficado azuis.

“Pegue o mapa” ela havia dito. “O tão esperado se aproxima”. A última frase ela havia falado tão baixo, que se eu não estivesse ajoelhada ao seu lado, não teria conseguido ouvir. Aquela frase havia ficado na minha mente, assim como seus olhos azuis quando ela olhou para mim. Seus olhos não eram os mesmos. Além de estarem de outra cor, estavam frios e calculistas. Eu havia visto aqueles olhos antes, só não me lembrava onde.

— Está na hora – aviso.

Sua expressão fica ilegível, como se uma lembrança ruim passasse por sua mente.

Onde você está?— pergunta ela.

Olho ao redor. Tem uma pizzaria chamada Bueno Pizza perto de onde estamos.

— Perto da Bueno Pizza— informo.

Ela assente.

Chego aí em cinco minutos.

*****

Exatamente cinco minutos depois, avistei a jaqueta de couro e os jeans rasgados se aproximando. Hayley carregava uma mochila camuflada nas costas, e eu tinha quase certeza de que ela não estava com ela quando saiu do Argo II.

Quando ela se aproximou, pude ler o que estava escrito em sua camiseta. “All The Best People Are Crazy”. Todas as melhores pessoas são loucas. Alice no País das Maravilhas. Engraçado, Hayley até que se parecia com a Alice.

— Aqui – disse, entregando-me a mochila. – Para você. Feliz quarta-feira.

— Obrigada – agradeci, tentando não rir. – O que é isso?

Hayley apenas deu de ombros.

— Não faço idéia – admitiu, encarando a mochila como se estivesse usando visão raio-x para ver o que tinha dentro. – Chris disse que seria útil em sua missão.

— Chris? – Percy perguntou confuso.

— A alma que fui procurar – explicou.

Percy estreitou os olhos.

— Não me lembrava que era um cara – observou, fazendo uma careta.

Hayley rolou os olhos, fazendo cara de tédio.

— O namorado dele também é um cara – informou.

— Ah – murmurou Percy, a careta esmorecendo no mesmo instante. – Legal.

Não consegui resistir. Comecei a rir. Percy ficava tão fofo quando dava uma de irmão protetor. Imagino o que ele faria com o pobre futuro namorado de Hayley. Já posso até ver a manchete na TV Hefesto: “Percy Jackson, o grande filho de Poseidon, mata namorado da irmã mais nova no refeitório do Acampamento Meio-Sangue”. Coitado desse cara.

— Eu fico com isso - avisou Hayley, pegando a lata de Coca que Percy estava abrindo.

— Era para você mesmo.

— Então por que você estava abrindo-a? – perguntou, desafiadoramente.

— Ãh... eu... – começou Percy, mas desistiu de procurar uma desculpa quando viu o rosto da irmã se contorcer adoravelmente num sorriso divertido. Então os dois mergulharam em uma conversa sobre como Percy deveria aprender a formular desculpas mais rápido.

Eu os ouvia atentamente quando senti meu estômago roncar de fome. Quando havia sido a última vez que eu havia comido? Ontem? Talvez. Não conseguia me lembrar de ter comido algo antes de sair do Argo II.

— Vamos comer algo? – perguntei. – Estou faminta.

— Eu também – concordou Percy. – Pizza italiana? – sugeriu, forçando um sotaque italiano. Então franziu a testa como se algo o ocorresse. – Por que você não tem sotaque? – perguntou para Hayley.

Hay deu de ombros.

— Em casa, eu falava mais inglês do que italiano – informou. Dor brilhou em seus olhos como se a lembrança não fosse boa. - A linhagem Bennet, na verdade, é nova-iorquina. Sarah se mudou para Itália com vinte anos.

Daquele momento, eu vi que não conseguiria tirar o que aconteceu no Forte Summer sem conversar com Hayley a respeito disso.

— Percy, vai indo na frente – peço à ele, que me lança um olhar interrogante. – Quero conversar sobre a Marca de Atena com Hayley. Traçar estratégias, você sabe.

Ele apenas assente fazendo uma careta e entra na pizzaria. Percy não gosta muito de traçar um plano, mas sim de seguir um já pronto. Imagino o que seria dele sem mim.

Hayley franze a testa ao olhar para mim. Já havíamos conversado tudo o que podíamos sobre a Marca há dias.

— Hayley – chamo assim que Percy desaparece dentro do local. – Do que se lembra do Forte Summer?

Ela parece surpresa com a minha pergunta.

— Você quer dizer depois do... – ela não consegue terminar a frase.

— Sim.

Ela franze a testa, parecendo se concentrar.

— Dor. – diz ela. – Lembro de uma dor excruciante e... – ela para, hesitante. Deve ter algo a ver com seu passado. Ela precisa confiar em mim.

Olho para ela, tentando transmitir confiança.

— Você sabe que pode confiar em mim, não é? – assegurei-a.

Hayley respira fundo e olha para mim, como se estivesse revisando os prós e os contras quanto a me contar do que ela lembrava. Os prós venceram.

— Ouvi Sarah, Arthur e Eileen. – ela finalmente diz. – Ouvi eles berrando na minha cabeça, causando a maior das dores que já tive o desprazer de sentir. - Sua voz é cortante, como se fizesse esforço para pensar em outra coisa enquanto falava.

— Você se lembra do que falou antes de desmaiar? – perguntei, esperançosa.

Ela franze a testa.

— Quer dizer aquela coisa de “pegue o mapa”? – pergunta ela, respondendo antes que eu pudesse responder. – Não.

— Não isso – digo, balançando a cabeça. – Você disse “O tão esperado se aproxima”. Sabe o que isso significa?

Ela balança a cabeça.

— Não.

Suspiro pesadamente.

Ela não se lembra. Não irá adiantar, Hayley já tem muita coisa da qual se preocupar, não vou acrescentar mais uma à sua lista.

O tão esperado se aproxima. Pode ser a destruição de Roma, o despertar de Gaia, a guerra entre os gregos e os romanos, uma pizza de queijo com leite condensado. O quê? É muito bom! [Wondy: É verdade, eu recomendo! ]

— Tudo bem – cedi. Preciso me focar em coisas mais importantes agora. A estátua é muito importante para acabar com a xenofobia entre gregos e romanos. Mas, o principal agora é comida, pois meu estomago já está cantado ópera. – Vamos comer?

Hayley torce o nariz.

— Não curto muito pizza – admitiu. – Acho que vou ficar por aqui, sabe, para se Tiberino aparecer.

Muito bem, espera um pouco. Como alguém pode não gostar de pizza?! É a oitava maravilha do mundo! Pizza é a melhor coisa que existe, como pode existir alguém que não goste?

— Como assim você não gosta de pizza?— Minha voz saiu mais fina devido à minha perplexidade.

Hayley começou a rir.

— Ah, sei lá, nunca gostei muito – justificou-se, encolhendo os ombros.

Suspirei.

— Okay, vamos fazer o seguinte, quando eu voltar vou te levar para uma pizzaria em Nova Iorque. A pizza de lá é impossível não gostar – informo, andando de costas até a pizzaria.

— Combinado! – gritou ela, levantando o polegar para mim. A última coisa que vi antes de entrar no estabelecimento, foi seu sorriso brilhante esmorecer, e seu rosto ser tomado pela preocupação ao olhar para o Tibre.

*****

Percy estava sentado em uma mesa ao lado de uma janela com vista para o Tibre. Ele tomava uma Coca-Cola, e em sua frente tinha uma água com gás. Exatamente o que eu pediria.

— Traçaram estratégias? – perguntou Percy, quando me sentei.

Assenti com a cabeça, observando o garçom se aproximar. Percy pediu mais uma Coca-Cola e uma pizza – o garçom fez uma careta quando ele fez o pedido -, enquanto eu acabei por escolher um panini.

Quando o garçom se afastou, Percy comentou:

— Não sei por que ele estava com aquela cara de comeu e não gostou. Eu nem pedi uma Coca azul.

Sorri e me inclinei para frente.

— Acho que os italianos comem bem mais tarde, e não colocam gelo nas bebidas. E só fazem pizza para os turistas.

— Ah. – Percy deu de ombros. – A melhor comida italiana, e eles não a comem?

Dei de ombros.

— Vai ver eles não gostem muito – opinei, lembrando de Hayley. – Hayley, por exemplo, não gosta de pizza.

Percy se engasgou com a Coca-Cola.

Ela o quê? – perguntou perplexo. Segurei o riso. – É a oitava maravilha do mundo!

­— Foi exatamente o que eu pensei! – exclamei, sorrindo.

Percy retribuiu o sorriso. Ele ia falar algo, mas foi interrompido pelo garçom com nossos pedidos. O panini estava delicioso, mas acho que Percy não pensava a mesma coisa sobre sua pizza.

— Acho que entendo o porquê dos italianos não gostarem de pizza – comentou. – As pizzarias de Nova Iorque são muito melhores - Olhou para a pizza em seu prato por alguns segundos. Deu de ombros e comeu mais um pedaço.

Sorri, notando que era exatamente isso que eu iria querer se fosse a última vez que eu o visse. Percy e eu juntos, ele fazendo piadas e eu rindo e o beijando quando ele as fazia. Só o fato de ele estar ali já fazia aquele momento se tornar perfeito.

Depois de algumas garfadas, notei que ele estava incomodado com algo. Sua testa estava franzida e ele várias vezes observou o mar com uma expressão aflita. Notei instantaneamente o que ele estava pensando.

— Você não deveria ficar se perguntando se Hayley realmente confia em você – comentei, atraindo sua atenção. – Ela só estava assustada, pensando que você a julgaria um monstro se te contasse.

— Como você faz isso? – pergunta ele. – Sempre sabe o que estou pensando.

Encolho os ombros.

— Eu conheço você – respondi, como se fosse óbvio, talvez por que realmente era. – Percy, você não pode se encarregar de querer proteger a todos nós. Por isso somos sete, com Hayley oito, mas, vamos combinar, ela sabe se defender sozinha melhor do que ninguém. E eu também, por isso precisa me deixar procurar a Atena Partenos sozinha.

— Senti sua falta – confessou ele. – Fiquei me remoendo durante meses sentindo sua falta, sendo que nem ao menos me lembrava do seu sobrenome e apenas tinha uma lembrança com você, mas foi o bastante para quase me deixar maluco. Se eu perder você de novo... não sei o que aconteceria comigo.

Fiquei sem ar com a declaração.

— Também senti sua falta. – confessei. – Procurei você por todos os lugares possíveis. Contatei semideuses em todo o mundo para nos ajudar a te encontrar. Quase enlouqueci quando você praticamente desapareceu no ar.

Percy segura minha mão por cima da mesa, como se tivesse pedindo desculpas. Não era culpa dele se Hera resolveu lhe tirar a memória e colocá-lo num Acampamento romano.

Ficamos um tempo em silencio, apenas aproveitando a companhia um do outro. Quando julgamos ser tarde o bastante, pedimos a conta.

— A conta dos senhores já foi paga – informou a garçom.

— Por quem? – perguntei, confusa.

— Uma mulher, trinta anos, loira e olhos azuis, por quê? – descreve ele.

Olho para Percy.

— É a Sarah – digo.

Seus olhos se arregalam ao pensar no mesmo que eu.

Hayley.

Corremos para fora do restaurante no mesmo instante.

— Hayley! – chamei, ao notar que ela não estava ali.

Percy e eu começamos a chama-la enlouquecidamente. Não, ela não podia ter sido capturada por Sarah. Teria gritado ou dado uma bela surra nela.

Eu não deveria tê-la deixado sozinha. Não deveria, por que a deixei?

O arrependimento tomou conta do meu peito. Eu deveria ter insistido para ela entrar conosco, fazê-la experimentar a pizza, ou ter sugerido de irmos para outro restaurante. Não deveria tê-la deixado sozinha.

Olho para o Tibre, vendo a trirreme de Sarah ao longe. Aproximo-me da margem.

— Não – murmuro, sentindo meus olhos marejarem. – Isso não pode estar acontecendo.

Não pode estar acontecendo.

Por favor, que seja apenas um pesadelo.

— Annabeth! – Ouço Percy me chamar. Corro em direção à ele, o alívio enchendo meu peito quando vejo que ele está ao lado de uma Hayley inconsciente. Sua bochecha esquerda está vermelha e sua boca sangrando, manchando sua camiseta. Sua espada está à poucos metros do seu corpo, toda ensanguenta.

— Ela está bem? – pergunto ajoelhando-me ao lado dela.

— Receio que sim, minha querida – Uma voz doce e feminina diz atrás de mim. Olho para a mulher no mesmo instante, sentindo o ar sair dos meus pulmões assim que o faço.

Audrey Hepburn me encarava docemente na garupa da Vespa de Gregory Peck. Ai, meus deuses.

— Audrey Hepburn? – perguntei, perplexa. – E Gregory Peck? Eu conheço esse filme – exclamei, revirando meu cérebro. – A princesa e o plebeu. Mas ele é da década de cinquenta! Como...?

Percy olhou para cima pela primeira vez. Ele parecia desesperado.

— Olha, eu não faço idéia de quem vocês são, mas por favor ajudem minha irmã! – Ele parecia completamente desesperado. – O pulso está fraco, ela está morrendo!

Audrey Hepburn desceu da vespa com uma graça que eu nunca havia visto antes, talvez em Afrodite, não sei. Então se ajoelhou ao lado de Percy.

— Ela é uma filha do mar – constatou depois de um tempo, olhando para Gregory Peck.

Ele desceu da Vespa no mesmo instante.

— Deixe-me cuidar dela – pediu, olhando para Percy, que imediatamente saiu do caminho.

Estava tão preocupada com Hayley, que nem ao menos ouvia o que ele dizia. Consegui entender que ele havia dito que era Tiberino, mas o som saiu abafado aos meus ouvidos. Era culpa minha. Hayley estava morrendo e a culpa era minha. Por que a deixei sozinha?

— Annabeth Chase – Tiberino chama, pondo a mão em meu ombro. – Abra sua mochila e tire o cantil que está lá dentro.

Levo algum tempo para processar suas palavras, mas, quando o faço, obedeço, pescando o cantil de dentro da mochila camuflada. Era forrado com couro e as letras C e M bordadas em dourado. Entrego à Tiberino, que o abre e pinga o liquido na boca de Hayley.

Ela acorda no mesmo instante, tossindo, engasgando e cuspindo o liquido. Depois de alguns segundos, ela para olhando para os lados assustada.

— Onde ela está? – perguntou ela, ofegante, como se esperasse que Sarah saísse de trás de uma árvore e atacasse a todos.

— Sarah já foi embora – informou Percy, sorrindo. Ele puxa Hayley para um abraço e suspira aliviado. – Fiquei preocupado.

Quando ele a solta, Hayley me puxa para um abraço também.

— Me desculpe – sussurro contra seu ombro. – Eu não deveria ter deixado você sozinha. Foi culpa minha.

— Ei – diz ela, se afastando. – Não foi culpa sua. Se eu estivesse com vocês, ela poderia ter atacado você e o Percy.

Ouço um suspiro exagerado e me viro para ver de quem veio.

— Que momento lindo – Audrey Hepburn diz, limpando uma lágrima.

Hayley franze a testa, olhando estranhamente para os dois.

— Quem são eles? – sussurrou ela, sem tirar os olhos deles, como se a qualquer momento pudessem nos atacar.

— Ah querida, eu sou Reia Sílvia – Apresentou-se, Audrey Hepburn. – A mãe de Rômulo e Remo. E esse – completou, pondo a mão no ombro de Gregory Peck. – É Tiberino, deus do Rio Tibre.

Tiberino estendeu a mão para Percy, que não tardou em apertá-la.

— Obrigado por salvar minha irmã – agradeceu.

— Falando nisso – interrompeu Hayley. – O que é isso? – perguntou, levantando o cantil.

— Fogo líquido – informou Tiberino.

Hayley soltou o cantil como se tivesse levado um choque e se afastou até encostar em uma árvore. Seu rosto estava à beira do pânico.

— F-fogo – gaguejou ela, ofegante. Lembrei que ela havia morrido em um incêndio. Fogo. Ela tem medo de fogo.

Percy deve ter notado isso também, pois pegou o cantil e o enfiou dentro do bolso. Hayley relaxou no mesmo instante.

— Você tem medo de fogo? – perguntou ele.

Hayley fez que sim com a cabeça.

— Como não tem medo do Leo? – perguntou, com a testa franzida.

Hayley dá de ombros.

— Ele nunca pegou fogo perto de mim. – Então olhou para Tiberino. – Está aqui para ajudar Annabeth, não é?

— Minhas náiades me disseram que vocês estavam aqui. – Tiberino olhou para mim. – Você tem o mapa, minha querida? E a carta de apresentação?

Vasculhei meus bolsos, tirando de lá o disco de bronze e a carta de apresentação que Hayley havia me dado. Entrego-lhe os dois. Tiberino examina o disco e a carta, então sorri quando nota que está tudo certo.

— Ótimo – diz ele, sorridente. – Vamos?

— Espere – pede Hayley. – Você se lembra de uma filha de Atena chamada Eileen Rogers? – pergunta ela. – O senhor provavelmente a viu em 1931.

Tiberino franze a testa, pensando um pouco. Mas Réia parece se lembrar instantaneamente.

— A pequena Eileen? – pergunta ela. – Mas é claro! Ela foi a que chegou mais longe!

— Mais longe? – pergunta Hayley. Seus olhos brilham, como se estivesse imaginando.

— Oh, sim! – exclama Tiberino, finamente se lembrando. – Ela conseguiu escapar por pouco. Embora, a guardiã tenha lhe causado danos permanentes.

Lembrei de quando Hayley contou que Eileen andava de muletas. Um calafrio sobe minha espinha com o pensamento.

Hayley continuou fazendo perguntas à Tiberino e Réia, seus olhos brilhavam cada vez mais como se estivesse orgulhosa. Naquele momento eu percebi que Hayley admirava Eileen mais do que eu pensei. Era como se ela fosse uma fã.

— Bem! – exclamou Tiberino, batendo palmas e interrompendo Hayley, o que a fez estreitar os olhos de forma letal. Ela odeia que a interrompam. – Temos que levar a Srta. Chase até a Marca de Atena, vamos logo! Que eu saiba, vocês também têm uma missão – completou, olhando para Hayley e Percy.

Hayley olhou para mim por alguns segundos antes me puxar para um abraço.

— Volte – pediu ela, então se afastou.

Tiberino e Réia já estavam montados na Vespa, me chamando.

— Annabeth... – começou Percy.

O interrompi com um beijo.

— Eu vou voltar, prometo – sussurro e então subo na Vespa.

No mesmo instante, Tiberino dá partida, conduzindo-nos para as ruas de Roma. Ao longe consegui ver Percy abraçando Hayley, ela com a cabeça afundada em seu ombro. Era até engraçado, levando em conta que Percy é praticamente 20cm mais alto que ela, mas a cena me fez querer chorar e não rir. Eu estava deixando-os. Mas eu vou voltar, eu vou conseguir. Vou conseguir.

Vou conseguir.

*****

O passeio inteiro poderia se passar rapidamente se não fosse pela necessidade de Reia comentar toda a hora o como a cidade havia mudado com os anos. Eu até que poderia tentar ignorá-la, mas ela continuava fazendo perguntas como: “Você acredita nisso? ” e “Não era incrível?”, o que são consideradas perguntas retóricas, mas Reia queria uma resposta. E era bem difícil me concentrar no que ela dizia depois do que acabou de acontecer.

Sarah estava lá. Por que ela estaria lá se disse que só voltaria no aniversário de Hayley? Espera aí. Quando é o aniversário da Hayley? Eu deveria ter perguntado antes. Mas acho que ela não gostaria de ter mais alguém contando os dias até que ela enlouqueça. E eu também já tenho muito com que me preocupar.

— Aqui estamos – anunciou Tiberino, parando em frente a uma construção de mármore, a facada bonita apesar de suja. Vários deuses feitos de gesso estavam entalhados nas paredes. Grandes portões de ferro estavam selados com vários cadeados. Eu bem que poderia ter trazido um dos alicates do Leo, ajudaria muito se eu tivesse que entrar ali dentro.

— Preciso entrar ali? – pergunto, descendo da Vespa.

Reia cobriu a boca com a mão e soltou uma risada.

— Não, querida – respondeu, para o meu completo alívio. – não. Debaixo.

Lembra do alívio que eu comentei antes? Pois é, ele se foi completamente com aquela palavra.

Debaixo? Se antes eu achava essa missão difícil, agora eu a acho impossível. Desejei ter a capacidade de Hazel de se locomover pelos subterrâneos, ou um dos sensores de Leo, até mesmo a capacidade de Percy e Hayley de conseguirem sentir quando tem água por perto seria útil. Eu não tenho nada disso. Eu sou inteligente. Grande superpoder!

Se Roma é caótica encima, imagino debaixo.

Tiberino apontou para uma espécie de degraus na lateral da construção. Pelo menos o aceso era fácil.

— Você deve descer para a cidade subterrânea, Annabeth Chase. Lembre-se do que você e sua sobrinha discutiram e vai conseguir. Espero que sobreviva.

Que discurso motivador, eu nem estou com vontade de sair correndo com o que acabei de ouvir. Mas eu consigo. Vai ser fácil, é só me lembrar do que Hayley me contou. É, moleza.

O pavor sobe meu peito. A mochila pareceu mais pesada em meus ombros. O que será que verei lá embaixo? Claro que Hay me contou muito, mas muita coisa pode mudar em noventa anos. Monstros pequenos podem se transformar em gigantes, pequenas ameaças podem se transformar em perigos eminentes.

— Algum dos meus irmãos conseguiu chegar ao santuário? – perguntei, minha voz tremeu um pouco o que me deixou com raiva. Preciso ser forte. Me preparei para isso.

— Apenas uma – respondeu Tiberiano.

— Eileen Rogers – adivinho.

— Sim. – concordou Reia, um semblante sério tomando conta de seu rosto. – Ela enfrentou a guardiã. Poderia ter ganho, mas perdeu.

A imagem de uma mulher loira de meia idade com muletas vem à minha mente. Ela poderia ter ganho, mas filhos de Atena não são bons em lutar. Então notei. Eileen enfrentou a guardiã com sua inteligência. Tentou enganá-la, mas ela descobriu e a fez se arrepender.

— Você sabe quem é a guardiã, não sabe? – Tiberino perguntou.

Lembro-me de quando estávamos em Forte Summer, as aranhas subindo as paredes, os sussurros de Gaia. Engulo em seco.

— Sim – Minha voz não tremeu e desta vez.

Reia Sílvia olhou para o marido.

— Ela é corajosa e forte. Me lembra muito a Eileen, talvez seja tão forte quanto ela.

— Espero que sim. – disse o deus-rio. – Boa sorte, Annabeth Chase.

Audrey Hepburn e Gregory Pack partiram em sua Vespa azul-bebê.

Olho para a escadaria, hesitante. Posso fazer isso. Eu sou Annabeth Chase, filha de Atena e arquiteta oficial do Olimpo. Eu posso fazer isso. Repetindo isso várias vezes como um mantra, desço a escadaria escura.

A filha da Sabedoria caminhava solitária em direção à sua possível morte.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Me contem nos Reviews, pls!



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