Lucila escrita por Nucha Rangel Braga


Capítulo 11
XI - Doendo...!


Notas iniciais do capítulo

Capítulo que demorou um bom tempo para ser concluído, a primeira ideia é de que seria bem maior, mas acabaria enfadonho... Encurtei e modifiquei o título. E agora, o que você acha? Escreve para mim, adoro opiniões! Gratidão!



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 OLIVIA não quis ver, o som foi horrível; Plácido cravou a pistola da injeção veterinária na jovem, como se crava uma estaca no peito dum vampiro... E ficou surpresa de ouvi-la ressonar:
        – Não acredito! - Aproximou-se do carrinho.
         Os meninos chegaram perto, desconfiados. Sergio chorava; Plácido corta o susto:
       – Belo enfermeiro, hein...? – Disse a Sergio, sorrindo e piscando olho para o menino. – Cadê as tiras de lençol que eu lhe pedi? Vamos, vamos, vamos! Tratar de arrumar essa moça aqui!!

E, mesmo com todos aqueles complicadores, se movimentaram: os meninos juntaram os lençóis rasgados e com muito cuidado, os médicos começaram a conferir novamente a jovem. Ora, ela se movia sempre, então o melhor era imobilizar o pescoço e se possível, as costas. Tiveram que usar o pedaço torcido da escada e tiras amarradas. Plácido ensinou os meninos a amarrar dois lençóis juntos, improvisando uma maca para o tamanho dela. Olivia, ainda impressionada, conferia os sinais da moça. Percebeu os olhos dela grudados de sujeira:
             – Plácido, olhe isso... Precisam ser abertos.
           – Eu vi também. No momento, não aconselho abri-los, agora... Teremos que fazer isso com cuidado, agora veremos esses ferimentos. – Voltou aos rapazes: - Vocês a acharam agora à noite?
        – Sim. Mas a gente acha que ela estava lá fazia tempo. – Respondeu Rubem.
           – E estava em cima dum espinheiro, ela deve ter caído e ficado presa.
       – Mas ela não chamou por socorro? – Perguntou Olivia, enquanto arrumava a jovem usando as tiras, com Sergio ajudando. A moça agora, não se debatia. Apenas respirava, calma e sem reagir.
        – Não ouvimos nada – Disse o menino. – Achamos que foi na noite entre o feriado e o dia seguinte, quando choveu forte. E com os cachorros latindo sempre, não escutamos.
       – Por falar em não ouvir... – Lembrou Ricky, indo até as cortinas na grade da garagem, olhar escondido. Queria saber se haviam chamado a atenção de vizinhos. E sentiu o braço arder... Esqueceu dos arranhões naquela agonia de socorrer a moça. Não notou nada na vizinhança; Plácido percebeu o garoto olhando escondido as redondezas.
      – Tem razão de se preocupar, - Disse a Ricky – mas agora preciso de você aqui também, pode vir? Afinal, Rubem pode ser alto, mas maqueiros trabalham aos pares.

Olivia percebe os arranhões no braço do rapaz:
        – Ricky, o que foi isso?
        – Raspei o braço num espinheiro... – Respondeu o garoto, acanhando.
        – Venha cá.

Deu uma olhada nos três cortes, finos como risco de caneta, na pele dele; vermelhidão em volta, inchando, deviam estar ardendo. Apontou a ele sua valise:
     – Pegue meu termômetro, ali em minha bolsa. Vamos ver se você tem febre.
        Ele achou o aparelhinho e o pôs embaixo da axila alguns instantes. Mostrou à pediatra:
     – Trinta e oito... Não é grave, mas vamos limpar este estrago e você vai tomar antibiótico, entendeu?
     – Tá... – Ricky estava todo sem graça; nestas horas, parecia voltar a ser criança. Detestava tomar remédio, limpar machucado! Mas quem mandou usar camiseta sem manga num lugar daqueles?
   – Ande, vá tirar essa camisa lá no banheiro de cima, – Recomendou a pediatra – lave-se da cintura para cima. Tem sabonete antisséptico no armário de parede. – E vendo o olhar assustado do rapaz, argumentou como uma mãe:      - Ou isso, ou levo você assim que acabar aqui, para algum hospital e não garanto evitar pontos de sutura e uma antitetânica.
    E lá se foi Ricky, com a camiseta esmolambada na mão, sujo e fedorento, tentar a assepsia doméstica... Os outros dois nem viram o amigo subir. Prestavam atenção às instruções de Dr. Plácido para imobilizar a jovem.
     E o telefone tocava mais uma vez. Alguém insistia. Ricky notou o identificador: era de sua casa... E quase meia-noite! “Ah, m%rd@! ”, pensou. E se alguém viu quando eles passaram pelo oitão...? Atende ou não?
Da garagem, Plácido pede:
       – Alguém pode atender esse telefone? Não posso tocar em nada agora!

O menino pegou o fone, nervosíssimo! O que iria dizer? Atendeu calado e:
     – Alô, doutora, é a senhora? – Disse a vozinha acanhada do outro lado. Era D. Nena. Ufa! Quer dizer, ufa nada, ele ia mentir para ela de novo, tadinha...
     – Oi, D. Nena. Não, não é a tia Oli não. Sou eu.
     – Meu filho, que hora é essa na casa dos outros?! Tarde, tarde! Como é que vocês vão voltar para cá?
     – É, eu sei que a gente demorou muito, D. Nena, desculpe... – respondeu o rapaz, todo sem graça. Olhou para o lado e graças! A pediatra o ouvia, com uma cara daquelas de adulto entendendo tudo e pedindo o fone para consertar o problema – Er, só um minutinho, D. Nena, vou passar para a tia Oli.... Te amo. Beijo.
      E a coitada da médica, ainda teve que inventar uma voz calma:
   – Olá, querida, como tem passado? ...Bem, graças a Deus. ...E seu filho, notícias...? Mesmo? .... Que ótimo! Aahn, perdoe, Neninha. A culpa é minha e de meu marido, fizemos os meninos estenderem aqui em casa. .... Sim, vão dormir aqui sim – disse Olivia, fuzilando Ricky com o olhar – e amanhã mesmo eles vão para casa, mandarei um táxi leva-los, tá bem? Não por isso.... Tenho, tenho sim. Tudo certo. Até amanhã, minha querida. Beijo, boa noite.
     E desligando, deu bronca no rapaz:
   – NUNCA menti para ela, ouviu? E não o farei de novo! Ande já para o banheiro e tome um banho! Lave esse braço e traga o remédio que eu vou aplicar!

Ai dele se não fosse; a médica era um amor de pessoa, mas repudiava mentiras, por mais grave que fosse o motivo. Até uma moça albina gigantesca e alada no quintal dos pacientes dela. Mas estava com muita pena deles, também. Os rapazes passaram um susto enorme e enfrentaram toda a tensão sozinhos; pediram ajuda quando não podiam mais, e não pediram a estranhos. A ela e Plácido. E enquanto Ricky seguia para o banho com cara de quem foi posto de castigo, seus amigos encaravam um problema no terraço: Plácido tentava imobilizar o pescoço e coluna da garota, mas ela já saía da inércia e se agitava; sentia outros ao seu redor e se assustava, rosnando!
      – Sergio, tente falar com ela, precisamos de uma certa calma. – Disse o veterinário, impressionado com os rosnares da jovem – Senão, não consigo trabalhar.
        – Oi...? – Tentou o garoto, já com medo dela também – Somos nós. Fique calma, tá tudo...
      – RHAAAAAAAAAAARRR!! – Enfurecida pela dor e sem enxergar, a jovem rugiu, debatendo-se!
      – Sai daí, cara! – gritou Rubem, afastando o amigo. Agora todos estavam com medo!

Leitor, você no lugar dela...
        Seus olhos não abrem porque algo os trava...
        Você está apertado em algum lugar...
        Não sabe onde está...
        Sem roupas...
        Seu cheiro de suor e sangue...
        Sujo...
       Gigante...
       Sozinho...
       Vozes estranhas...
      Sons estranhos...
      Tudo o que encosta em sua pele dói... Muito.
      O tempo todo. Medo o tempo todo. Sem noção de tempo.
     Como você reagiria depois de horas?


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