Pássaro Negro estava indo, em direção ao leste acompanhado por Zaib. Durante algumas horas eles avançam naquela direção, sem mais nada além de árvores e vegetação em seu caminho. Já haviam saído do Vale quando a paisagem começa a se transformar, tudo começava a se esfriar a cada passo que eles avançavam, até que por fim chegam a um pequeno campo nevado, o fim da floresta. Imensas colinas de campina cobertas por neve, e do outro lado mais uma floresta se abria, pinheiros.

Zaib parece esperar Pássaro Negro falar algo, ou continuar o caminho, ele estava parado antes de adentrar as colinas.

— Você sentiu? Ooh... sim sentiu... É ela? Sim, é ela. - Indagava Zaib, soltando uma gargalhada. - Não irei me intrometer em seus assuntos.

— Não, você se enganou. - Diz Pássaro Negro friamente, enquanto retira sua espada da Bainha. - Estamos sendo seguidos a algumas horas já.

Zaib recua, ficando encostado em uma árvore ganhando uma boa posição de observador, Pássaro Negro avança alguns metros na neve. O chão era gelado para os pés descalços e o frio estava intenso, mas não deixava marcas no corpo dele. Percebe então que alguém avançava a frente, saindo da outra floresta um homem, ele Vestia uma roupa negra colada cheia de trapos velhos, como as de um assassino. Longos cabelos esverdeados, uma cor que chamava atenção, mas nada chamava tanta atenção quanto os olhos daquele ser, eram amarelados porém com apenas um risco negro passando verticalmente no centro, um predador perfeito, seus dentes eram parecidos com os de Pássaro Negro, fileiras brancas perfeitas porém rachadas em suas pontas. Aquele era Uroborus.

— Até enfim notou minha presença, Tsukuyo. - Fala Uroborus enquanto avança, ele sorri ao final fazendo uma pequena pausa para analisar Pássaro Negro. - Ou devo lhe chamar de Pássaro Negro?

— Este nome a muito tempo não é meu, Mamoru Kouji. - Responde Pássaro Negro apontando sua espada a ele. - Por que está me seguindo?

— Assim você me magoa Tsukuyo, só quis visitar um velho amigo. - Replica Mamoru. - Como está meu filho?

— Se você se importasse com ele, não teria o deixado para mim. - Pronuncia Pássaro Negro encarando atentamente os olhos de Mamoru.

— Agora entendo porque ela o abandonou, pobre Pássaro. - Após dizer isso, Mamoru avança contra ele rapidamente.

A espada de Pássaro Negro se choca com a bainha da espada de Mamoru, o golpe faz os dois recuarem um pouco. Voltando a avançar contra Pássaro Negro, Mamoru desvia da espada dele, e acerta sua barriga com a bainha da espada. Pássaro Negro é arremessado um pouco para trás, mas consegue se equilibrar porém ao ficar pronto recebe um golpe na face e cai no chão. Mamoru se aproxima colocando a ponta da sua espada, agora desembainhada na testa de Pássaro Negro.

O nariz de Pássaro Negro sangra, ele tenta encarar seu oponente mas seus olhos não aguentam mais. O frio estava tocando o fundo de seu corpo e agora ele não conseguia mais mexer-se, sua respiração lenta e ele não podia notar nada além da espada negra em sua testa. Zaib se aproximava lentamente, Mamoru o encara, ambos os dois trocam olhares.

— Terei que pedir que se retire. - Replica Zaib, retirando uma agulha de seus trapos.

— Eu iria pedir o mesmo. - Responde Mamoru, mas antes que Zaib pudesse fazer algo Mamoru avançava em sua direção.

Um corte da espada negra corta ao meio o vazio, Zaib havia desviado rapidamente, três agulhas avançavam a Mamoru, ele desviava para a direita.

— Chama isso de golpe? - Questiona Mamoru com um tom de sarcasmo, porém ele é perfurado pelas costas por uma espada.

— Meu alvo não era você. - Responde Zaib, gargalhando.

A espada se retira do peito de Mamoru, ele percebe que Pássaro Negro estava em pé em suas costas, as agulhas tinham acertado nele. Havia subestimado a força de seu oponente, sim havia. Seu sangue cai no chão e ele percebe que é hora de se retirar. Então desaparece em uma nuvem verde gasosa.

Pássaro Negro cai no chão novamente, tendo as agulhas retiradas de seu corpo. Zaib pega-o pelo braço e começa a arrastá-lo em direção aos pinheiros ao leste.

Longe dali, Ibuki voava até o ombro da Dama, ele estava como um corvo ainda, e parece sussurrar algo no ouvido dela. Sorrindo, ela acaricia a cabeça dele, e ele desaparece. A Dama avança ao leste, lentamente com o olhar fixo em seu único objetivo.

Durante isso, na escuridão vazia da sua prisão, a garota Choro dos Corvos, se mantinha chorando. Presa em seus próprios pensamentos sobre seu mestre, sobre ser resgatada. Ela percebe algo se aproximar, naquele imenso vazio, parecia vir alguém em sua direção. Não conseguia ver seu rosto, apenas uma mão estranha aproxima-se, ela é esverdeada, e sua pele parecia ser grossa, a mão toca seu rosto. A sensação era fria, e inquietante para ela.

— Tão linda. – Profere aquele que está nas sombras. – Está abandonada aqui, pequenina, mas não se preocupe. – Uma pequena pausa, um rosto se aproxima, ela não consegue ainda identificá-lo – Eu vou te ajudar.

— Suas palavras tem veneno! – Choro dos Corvos responde com fúria em seu olhar. – Afaste-se de mim!

— Uma donzela guerreira do mais alto nível. – Agora o rosto estava a centímetros de seu rosto, mas ela ainda não podia vê-lo. –Escondida atrás de um espadachim tão baixo.

— Não fale de meu mestre! – Ela empurra a sombra para trás, mesmo sem vê-la, porém percebe que agora a sombra, estava a agarrando pelas costas, como se envolve-se em um enorme abraço.

— Não lute, fique comigo... eu lhe mostrarei a luz. – Sussurra a sombra no ouvido dela, uma enorme língua parecia se formar, o corpo dela se apertava mais nos braços. – Tsukuyo te abandonou.