Ele estava dormindo, descansando agora, Pássaro Negro descansava para continuar sua jornada. Com medo, sim, com medo! Não era sempre que ele tinha medo, mas estava com medo agora, o motivo era claro, eu saberia responde-lo. Acho que por si, você já deve ter a resposta. Pássaro Negro estava com saudades, da voz em sua cabeça, ele se sentia solitário. Sua Kensakebi estava calada faz tempo, ela não mais induzia-o a pensamentos felizes, a única coisa que existia em seus sonhos era apenas o sofrimento que a sua podre existência havia criado, só havia lugar para aquilo em seus sonhos. Sem mais nada o que fazer para fugir, ele tenta usar toda sua capacidade para fugir daquilo, mas é inevitável. Sua força total tenta esconder sua mente de um sonho, ele sabe que logo será pego por eles, fugir de seus sonhos é uma tarefa difícil, até para um Oniken.

Na verdade, ele acaba sendo pego por um deles, seus pensamentos esvaem-se na pequena rocha que estava encostado. Suas costas doem, mas nada tão ruim. Em seu único sonho, ele lutava contra outro Oniken, este era apenas um vulto negro carregando uma espada, eles lutavam cercados por todas as pessoas de sua jornada até agora Ibuki, Zaib, Fúria dos Ventos, Gigante da Montanha, O Assassino que o Capturou e o Espadachim da Névoa Vermelha.

Pássaro Negro conseguia dominar seu oponente com golpes precisos, sua espada parecia iluminar a área, e com isso ele vencia a luta contra o vulto, ele desaparecia, mas ele se sente mais fraco e cai no chão ajoelhado. O Guerreiro da Névoa Vermelha o ataca. Pássaro Negro consegue se levantar, ambos os dois tem uma luta pequena, Pássaro Negro não consegue se mover direito, sua espada é muito pesada, ele não consegue mais porta-la, até que finalmente ele a solta. Ela parece cair num vácuo que o chão se ligava. O ar fica com um cheiro podre, um cheiro de morte. Ele tenta alcança-la, sua Kensakebi sumindo lentamente, mas ele não consegue alcançar aquilo que queria, nunca conseguiu fazer isso.

Então ele se vê a mercê de um Oponente, a espada em sua garganta e ele quieto, pronto para morrer. Sua mente continua voando naquilo, ele não conseguia encarar seu oponente nos olhos, quando tentou, viu aquele olhar, o olhar dele! O olhar de Pássaro Negro! O seu próprio olhar, o olhar de quando iria matar, eliminar, destruir, cortar, espedaçar e esquecer. Aquele era Pássaro Negro, apenas de joelhos a um desafio maior.

Olhando a volta ele percebe que ninguém estava lá por ele, todos pareciam rir de sua cara, ninguém estava do seu lado, porém ele percebe alguém que não havia visto antes, alguém que se escondia nas sombras. Seu sorriso parecia voltar, sabia que ela estava lá por ele. O Grito de seu subconsciente.

— CHORO DOS CORVOS! - Ele acorda gritando, mas olha envolta, não... não tinha acordado, apenas estava em outro lado de seu sonho.

Ele se levanta, estava numa área totalmente negra, a sua frente andava uma criança, uma garotinha. Ela tinha longos cabelos loiros que voavam a cada passo, sua pele parecia como a de Pássaro Negro como se não tivesse vida nela, um vestido não muito longo, feito de penas de corvo. Ele não conseguia ver o rosto dela, e ela se afastava cada vez mais. Correndo atrás, suas pernas pareciam ganhar mais forças, e ele alcançava-a, mas antes de conseguir pega-la nos seus braços. Ela desaparece, e ele cai no chão. Seu rosto tenta se levantar, e ele vê a sua frente um pé encostar em sua face, era outra criança, outra garota. Fisicamente parecia muito com a garota anterior, porém seus cabelos eram negros, e suas vestes eram diferentes, trapos negros não muito largos, similares a de um Assassino de Akash. Ele vê o rosto dela, grandes olhos esboçando a vida que tinha, um sorriso incrível que parecia alegra-lo.

Pássaro Negro consegue sentir várias mãos tocarem em seu corpo e levanta-lo, coloca-lo em pé novamente, está cercado por cópias desta garota.

— Eu ouvi seu choro, grande corvo. - Indaga a Garota - Eu sou Murakumo, a espada das dez mil cópias.

— Fico feliz em ver você Murakumo, e obrigado por fazer-me lembrar de como era. - Fala Pássaro Negro, se ajoelhando perante ela, limpando lágrimas que começavam a escorrer de seu rosto.

— Você é poderoso hoje, grande Corvo, tem poder suficiente para alcança-la. - Diz Murakumo, tocando a face de Pássaro Negro. - Aceite-me como sua guardiã, e lutarei ao seu lado para procurar Choro dos Corvos.

— Eu não entendo Murakumo! Por que ela desapareceu? - Pergunta Pássaro Negro, tocando a mão de Murakumo.

— Ela não desapareceu. Quando sua espada foi tirada de você, um homem conhecido como Uroborus, separou sua Kensakebi da alma dela. - Responde Murakumo, sua mão parecia esquentar junto com a de Pássaro Negro.

— EU IREI SALVA-LA! - Ele grita, com toda a raiva que tinha em seu peito.

— Acalme-se grande Corvo. Você precisa me salvar primeiro. Junte três Kensakebis e chame meu nome, seu desejo será minha invocação. - Murakumo desaparece deixando Pássaro Negro sozinho, ajoelhado naquela escuridão.

— CHORO DOS CORVOS! - Um ultimo grito de Pássaro Negro, suas lágrimas voltam a aparecer enquanto ele soca o chão negro, suas lágrimas tocavam o chão lentamente e ele percebe que há vidro embaixo dele, refletindo a fera que ele é.

Uma fera sedenta por sangue que quer tudo! Impreciso! Ele servia para isso, para destruir, esmagar e despedaçar. Ele servia apenas para matança, mas tinha algo mais em sua patética existência que fazia com que os que estavam a volta acreditassem nele. Por mais que ele poderia parecer inútil, ele sabia ainda que poderia manter-se vivo apenas com toda a raiva do seu coração. Isso não bastava para ele! Ele precisava de algo que desejava a muito tempo. Ele desejava ser amado.

Percebe então, a primeira garota do outro lado do vidro, ela parecia chorar também e socar o chão tentando alcança-lo, e percebe a voz suave de sua espada passar pelo vidro, como se pudesse ouvi-la, nada mais que um sussurro, ele encosta sua cabeça no vidro tentando entender o que dizia.

— A Noite ele parece abrir seus olhos, a sua existência se chama solidão, ele é gelado e imóvel. Eu choro para tentar alegra-lo. Eu nem sei o seu verdadeiro nome, mas eu sei que ele existe! Eu sei que qualquer dia, ele me amará. Ele vem a mim todos os dias, não é algo que eu possa dizer, suas palavras soam como uma tortura, eu fico calada e finjo que não escuto. Eu entendo o que ele é e em meus sonhos ele é bom, sua paixão é um sussurro, e eu não consi... - Dizia ela do outro lado do vidro, era o que Pássaro Negro conseguia ouvir, seus olhos pesavam agora, ele parecia cair em um sono dentro de seus sonhos.

Por um lado estava feliz, ele enfim tinha achado aquela que o amaria? Mas por outro lado ela estava presa, e agora ele iria fazer tudo para salva-la e para isso precisava ajudar Fúria dos Ventos e manter seu acordo. Então por fim ele acorda, suas costas doíam, estava com sono ainda, seus sonhos tinham sido pesados. Agora ele sabia o que fazer, sua face voltava a ficar sem expressão, estava ali pronto para continuar.