E então, a Lua escrita por Giu


Capítulo 2
Ilusões, antigas ilusões.




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Dessa vez, ele acordou animado. Ao escutar o despertar do relógio, pulou da cama. Deu aquela aquecida de sempre. Enfiou a roupa, desceu as escadas. Pôs a coleira em Zeus. Engoliu uma barrinha de cereal, e saiu. Seu coração batia muito rápido. Matt estampou um sorriso no rosto. Um sorriso que ele não havia dado há muito tempo. Um sorriso oprimido. Havia sonhado com ela, pensado nela. Que mulher diferente. Ele sentia cada vez mais vontade de conhecê-la.

Correndo pela rua com seu cão, esperou que ela aparecesse na altura que eles haviam se encontrado no dia anterior, então desacelerou o ritmo. Correu mais um pouco e olhou para os lados, esperando encontrá-la, mas seu sorriso foi sumindo aos poucos. Ele parou, sentou-se na calçada, na frente de uma casa da vizinhança e esperou. Observou em seu relógio de pulso que ficara lá plantado por dez minutos. Zeus estava inquieto, andando de um lado para o outro, então Matt acariciou o cão, esperando que ele se aquietasse por alguns momentos. Até que cansado, o cachorro deitou-se ao seu lado e apoiou o focinho em seu colo.

Matthew esperou. Até que quando checou novamente seu relógio, os ponteiros diziam que ele havia esperado quarenta minutos. Quarenta minutos passados, ele sentiu-se o mais idiota possível. Quarenta minutos e um dia inteiro criados de expectativas inúteis. Odiou-se naquele momento. Odiou-se por viver, por pensar nela, por imaginar coisas impossíveis, por estar irritado por ela. Que merda ele pensou que estava fazendo?

Então ele gritou. Socou o ar, jogou-se no chão. Zeus começou a latir e uivar, sem saber o que fazer. Matt soltou a coleira dele, e arrancou o lixeiro mais próximo que tinha. Socou o chão, esperou nós sangrarem, e então ouviu gente falando. Portas se abrindo, crianças rindo. Olhou para os lados e enxergou abominações. Monstros vinham para cima dele, e ele se afastava, arranhando os dedos no asfalto, sentindo a carne sendo rasgada. Mas ele não queria saber. Estava com medo. Então tentou agarrar um desses monstros. Eles riam de sua situação, e quanto mais riam, Matt ficava mais explosivo, destrutivo. Tentou pular em cima das criaturas, querendo agarrá-las, mas elas eram intocáveis. Criaturas infernais. Eram feios como fantasmas cinzentos. Panos caídos ao redor de seus corpos sem vida. Rostos horrendos, e esqueléticos. Suas órbitas eram fundas e vermelhas. E toda vez que Matt via isso, fechava os seus olhos. Ele chorou, esperneou mais. Berrou, tentou espantar aquelas alucinações, mas de nenhum jeito ele conseguiu.

Até que ele piscou duas vezes, e começou a voltar para a realidade, novamente. Sua vista desembaçou. Então percebeu que estava deitado no chão, com braços e pernas esticadas. Pessoas estavam nas portas de suas casas o observando estranhamente. Suas feições eram de pura dúvida, ou de puro medo. O que havia acontecido? Por que ele estava daquele jeito? Quando ele já estava se prontificando para levantar-se, um demônio veio em sua direção. Pegou velocidade e correu à toda no sentido onde Matt estava deitado. Então ele gritou, e deu um chute quando o demônio já estava em cima dele.

A criatura voou, e caiu no chão gritando de dor. As pessoas que antes o observara, andaram para o local, olharam o demônio e ajudaram-no a se levantar. Matthew queria poder falar, perguntar o que estava acontecendo. Queria pedir explicações porque estavam ajudando àquele indivíduo, mas não a ele. Porém, tudo o que saía de sua boca era gemidos e arfadas.

Por que nada estava fazendo sentido? As pessoas começaram a olhar pra ele e chamá-lo de aberração. Jogaram-lhe pedras, e ele se contorceu. As pessoas estavam segurando o demônio, para que não o atacasse. Nisso, Matt levantou-se e correu. Correu sem olhar para trás, e sem ouvir os insultos sendo proliferados pela multidão que assistia ao espetáculo.

****

Chegando em casa, percebeu que naquele tumulto todo, havia esquecido alguma coisa, mas ele não conseguia lembrar-se. Imaginou a cena ocorrida novamente. Então ele gritou por Zeus. Ele havia se esquecido do cão, e não sabia onde ele estava agora. Então, o cachorro apareceu correndo direto da cozinha, e Matt agradeceu por isso.

Acabado daquele dia, olhou-se no espelho mais próximo. Suas roupas estavam ensanguentadas. Os nós de seus dedos não possuíam mais a carne, nem na ponta de seus dedos. Suas mãos estavam ensopadas de sangue, assim como seu rosto sofrido estava. Chegou mais perto do espelho e viu como seu rosto estava sofrido. Ele não conseguia compreender o porquê dela não ter aparecido. Então culpou-a por tudo o que estava sentindo, e lavou o pouco das mãos que ele ainda possuía. Era um ardor diabólico. Ele gemia enquanto lavava os dedos, as palmas e seus pulsos.

Tendo terminado, ele alimentou Zeus e alimentou-se com um pão que estava lá há não-se-sabe-quanto-tempo, e tomou água. Estava bastante preocupado. Depois do que havia acontecido naquele dia, ele sabia que mandariam-no novamente para a reabilitação, ou que a polícia viria atrás dele. Então ele andou até a sala, deitou-se no sofá e ficou lá, observando o teto. Como sempre, sentiu-se vazio. Quer dizer, naquela vez, ele estava mais vazio do que tudo. Só queria morrer logo, mas não tinha coragem de se matar. Ele ficava pensando o porquê da vida ser tão difícil para ele em questões psicológicas. Por que ele via coisas? Por que ele se descontrolava? Por que ele tinha nascido? Por que ele estava ali?

Pingo, por pingo, a chuva começou a molhar as janelas da casa dele, fazendo barulhos com o atrito. Matt fez um café quente para ele, sentou numa cadeira, e ficou observando a chuva por horas. Então aquele dia cinzento começou a escurecer, e ele pôde ver o alaranjado que as nuvens não permitiram que o sol se mostrasse. Ele estava sozinho, mas sentia-se sozinho. Não havia ninguém que gostasse dele, que se importasse com ele além de sua mãe, que vivia infernizando sua vida, com informações totalmente desnecessárias. Será que alguém, algum dia iria amá-lo como homem? Como amigo, ou como algo a mais? Matt havia se cansado desse vácuo que existia em seu coração.

Matt sabia que isso era porque ele era diferente. Não conseguia conter seus atos. Era conhecido na cidade, como Matthew, o Psicopata. E ele queria ser conhecido por mais que isso. Queria ser conhecido pelo que ele sabe fazer, pelos seus bons atos, mas sua doença não permitiu que isso acontecesse.

Subiu as escadas para tomar uma ducha e para clarear as ideias. Ao terminar, fez uns curativos com antissépticos e remédios para cicatrizar as feridas nas mãos. E quando descia as escadas, ouviu um barulho na porta. Ele parou de frente para a saída, mas pensou ter escutado errado, ou não ter sido ali; portanto, continuou andando em direção à cozinha. E daí que foi a prova final: três batidas. "Toc, toc, toc." Naquela hora, seu coração parou. Seria a policia? Seria seu terapeuta levando-o novamente para a reabilitação? Essas três batidas repetiram-se rapidamente. Matt tomou fôlego e abriu a porta.

Quando colocou a cabeça para fora, havia uma mulher de cabelos longos escuros. Ela era magra, e estava toda molhada. Seus braços a abraçavam para que ela conseguisse manter a temperatura do corpo. Ele ouvia o bater de dentes. Ela estava tremendo e com frio. Quando ela levantou a cabeça, ele a viu.

Era ela.


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